O que é um cínico?
Um homem que conhece o preço de todas as
coisas sem lhes conhecer o valor.
(Oscar Fingall O'Flahertie Wills Wilde)
Amigas e Amigos,
Na capa do “Correio
Braziliense” desta quinta-feira, está em destaque que a Receita Federal vai
enquadrar senadores por calote. Pois no meio do bando de caloteiros, surge um
libertino metido a engraçado, conforme se pode observar no conteúdo da matéria,
onde ele afirma que “os políticos ganham pouco”. Diz o Correio que:
O senador Ivo Cassol (PP-RO), que defendeu publicamente o recebimento do 14º e 15º salários e alegou que os políticos ganham muito pouco porque gastam com medidas assistencialistas, tem um patrimônio declarado à Justiça Eleitoral de R$ 30 milhões. Empresário, dono de hidrelétricas e várias fazendas em Rondônia, é tratado com uma figura folclórica e bastante controversa nos corredores do Senado. Dinheiro, dizem os colegas, nunca foi problema para ele. “Se ele não quer abrir mão dos salários extras, deve estar com o bolso furado. Será?”, ironizou um senador que se posicionou contra o recebimento dos rendimentos adicionais. O parlamentar, autor de manobra na última terça-feira para adiar a votação do fim da regalia na Casa, conhece bem todas as esferas da Justiça. Em 2010, chegou a ter sua candidatura ao Senado barrada pelo Tribunal Regional Eleitoral de Rondônia em razão da aplicação da Lei da Ficha Limpa. Em 2006, o ex-governador foi acusado pelo Ministério Público Federal de compra de votos e abuso de poder econômico. Conseguiu se livrar. No entendimento do Tribunal Superior Eleitoral, no entanto, não havia indícios de que Cassol comandasse todo o esquema, apesar de a compra de votos ter sido comprovada.
Não
me espanta tanto o cinismo do senador, mas a atitude de pessoas que não hesitarão
em trocar seu voto por “agrados” deste e de outros com o mesmo perfil que, como
já foi feito, poderão novamente “contornar”, com algum auxílio dos principais
responsáveis, a Lei da Ficha Limpa.
Os
nossos representantes, dos quais o senador – que aparentemente se esforça para parecer
bufão – é apenas o porta-voz, serão multados em 75% sobre o Imposto de Renda devido
por sonegação, conforme detalhado, também, no Correio:
A Receita Federal, após 15 dias de investigação, não tem mais dúvida: os senadores da República vão ter que restituir o Fisco e serão multados em 75% do valor do Imposto de Renda devido por receberem o 14º e o 15º salários sem o devido desconto do tributo na fonte. Nessa quarta-feira (21/3), reservadamente, auditores fiscais comunicaram ao Correio que o maior trunfo utilizado pelo Leão é o fato de os deputados federais pagarem o IR normalmente no momento em que ganham exatamente os mesmos rendimentos adicionais. A natureza do pagamento, de acordo com os auditores, é idêntica.
Há
muito tempo que não participo de pescarias, mas lembro de que quando um peixe
muito graúdo ia parar na rede, quem acabava tendo problemas era a própria rede,
pois na maioria das vezes era estraçalhada pelo peixe. Por conta disso,
acredito que só com malha fina não será muito fácil segurar os predadores que
nem estão tomando conhecimento do que eles, talvez, julguem serem “brincadeiras”
do Fisco.
Penso
que para ninguém ser “sacrificado” por se sujeitar a parcos salários,
deveríamos, como cidadãos preocupados com seus semelhantes, brigar – de forma
sadia – para que em hipótese alguma submetêssemos nossos representantes ao
constrangimento de um segundo mandato. Pela dignidade de nossos representantes
a única solução que vejo para este enorme problema é que se acabe,
definitivamente, com reeleições para qualquer cargo público. Após o cumprimento
de um mandato – parcial ou completo – seria concedida a inelegibilidade por, pelo
menos 8 anos (para que nossos senadores, deputados e todos os eleitos possam
recuperar suas finanças no mercado.
Talvez pelo apropriado “desabafo” do senador, lembrei-me da música “O home que se
esqueceu de Deus”, de J. F. Gonzales e Talo Pereyra, que hoje faz parte dessa Galeria,
com a letra publicada abaixo.
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O HOMEM QUE SE ESQUECEU DE DEUS
José Fernando Gonzales e Talo Pereyra
Teu medo é o campo que
já não floresce
É uma semente que já não
germina
É uma vertente de que
não se bebe
É o que se atreve a nos
passar por cima
Meu medo é o medo do
animal aflito
Quando a rapina lhe
ameaça a cria
É um entrever de um
verso em rima pobre
Comprometendo os rumos
da poesia
Meu medo é a mata que
foi derrubada
É uma criança que não
foi parida
É a primavera que não
tem mais sol
É um rio que corre sem
levar a vida
Meu medo é o medo da
figueira grande
Quando o machado lhe
ameaça a queda
É um entrever de um
tempo sem poesia
Pras melodias de quem
não se entrega
Meu medo é o moço que já
não escuta
É o que falece a geração
dos meus
Meu medo é o medo dos
que já não comem
Meu medo é o homem que
esqueceu de Deus
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Nessa Galeria, a interpretação é de Priscila Olave Rodrigues.