sexta-feira, 27 de abril de 2012

GALERIA SERTANEJA – UMA LAMBANÇA E A ÚLTIMA LEMBRANÇA



Não existe outra via para a solidariedade humana

senão a procura e o respeito da dignidade individual.

(Pierre Lecomte Du Nouy)





Amigas e Amigos,


A bandidagem começa a ultrapassar todos os limites imagináveis. Ou talvez a máxima de que ladrão não rouba ladrão esteja sendo respeitada em toda sua amplitude, pois como entre os ricos está cada vez mais difícil identificar quem não esteja envolvido em algum “esquema”, os bandidos, na dúvida, estão buscando vítimas entre os mais pobres.


A matéria do portal G1 sobre um assalto a garis, no horário de trabalho, na Bahia é, no mínimo, chocante. Diz a notícia que:
Três garis que faziam a coleta de lixo na noite de quinta-feira (26) na cidade de Feira de Santana, a cerca de 100 km de Salvador, foram roubados por homens armados que cercaram o caminhão de lixo. Os suspeitos levaram dinheiro e pertences dos garis e do motorista do caminhão. O assalto ocorreu no Conjunto Feira Nove. De acordo com testemunhas, seis homens armados cercaram o caminhão de lixo e saquearam os garis. “Quando o condutor estava parado e os coletores estavam coletando o lixo, apareceram os bandidos do nada, eram seis bandidos fortemente armados, tinha um com escopeta, dois com um 38 [revólver], tinham dois com pistola”, afirmou uma testemunha que prefere não ser identificada. Segundo o delegado Ricardo Brito, chefe da Polícia Civil em Feira de Santana, o caso foi registrado na Delegacia de Furtos e Roubos da cidade. Por causa do assalto, parte da coleta não pôde ser feita na quinta-feira. O gerente operacional da empresa de coleta disse nesta sexta-feira (27) que os funcionários estão receosos de trabalhar nos bairros onde a violência é maior, e que já pediu providências à prefeitura da cidade. “Pra gente acionar toda vez que for necessário, a Guarda Municipal e a Polícia Militar para proteger os nossos funcionários”, disse Rodrigo Lopes, gerente da empresa de coleta de lixo de Feira de Santana. Segundo a Secretaria de Serviços Públicos do município, esta não foi a primeira vez que uma equipe de agentes de limpeza foi agredida. Em 2012, outras quatro situações de violência já foram registradas contra agentes durante o trabalho. A comunidade ficou assustada. “Eu acho um absurdo, nem os garis mais estão se livrando”, afirma a manicure Sandra Silva.



         Fico imaginando como os seis marginais repartiram a “féria” arrecadada junto a três empregados encarregados da coleta de lixo em Feira de Santana. Faz-se cada vez mais urgente uma resposta de quando este país deixará de tratar bandidos com tantas regalias, pois para esses tipos a grande motivação para o crime está na impunidade ou na certeza de que, mesmo recebendo pena máxima, passarão pouco tempo detidos, e, nesses períodos, serão sustentados pelos exagerados impostos cobrados de cada cidadão brasileiro.

          Como essa postagem é de Galeria Sertaneja, é necessário que, mesmo pensando nas “facilidades” oferecidas para a bandidagem, se separe um momento para um bom momento poético e musical. Para isso, a música escolhida hoje é de Luiz Meneses – poeta, autor, radialista, produtor e apresentador de TV, que nasceu em Quaraí-RS e morreu em 2005 – e tem por título “Última Lembrança”, com a letra logo abaixo.


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ÚLTIMA LEMBRANÇA

                                  Luiz Meneses


Eu hei de amar-te sempre, sempre além da vida


Eu hei de amar-te muito além do nosso adeus


Eu hei de amar-te com a esperança já extinguida


De que meus lábios possam ter os lábios teus.



Quando eu morrer permita deus que nesta hora


Ouças ao longe o cantar da cotovia


Será minh'alma que num canto triste chora


E nessa mágoa o teu nome pronuncia.



Eu viverei eternamente nos cantares


Dos pobres loucos que dos versos fazem o ninho


Eu viverei para a glória dos pesares


Onde quase sucumbi nos teus carinhos.



Eu viverei no violão que a noite tomba


Ante a janela da silente madrugada


Eu viverei como uma sombra em tua sombra


Como poesia em teu caminho derramada.



Eu viverei eternamente nos cantares


Dos pobres loucos que dos versos fazem o ninho


Eu viverei para a glória dos pesares


Onde quase sucumbi nos teus carinhos.



Nem mesmo o tempo apagará nossos amores


Que floresceram de uma ilusão febril e mansa


Eu viverei como uma sombra em tua sombra


Mas te levando em minha última lembrança.



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Nessa Galeria, a interpretação dessa valsa de Luiz Meneses é do grupo Os Fagundes, com destaques para as vozes de Neto Fagundes e Ernesto Fagundes.



         Um grande abraço e até a próxima!

quinta-feira, 26 de abril de 2012

TERTÚLIA NATIVA – O BEM, O MAL E O BAR DE FRUTAL



Arrogância: 

tendência para dominar os outros
para além dos próprios e legítimos direitos e méritos.
(João Paulo II)




Amigas e Amigos,


         No portal Folha.com encontrei uma matéria sobre o arquivamento de um processo que poderia averiguar indícios de corrupção envolvendo a prefeitura de Frutal-MG. Nada sei sobre a postura ética dos envolvidos nos supostos esquemas, mas me chamaram a atenção alguns aspectos – aparentemente exagerados – sobre a forma como os suspeitos e seus simpatizantes reagiram a notícias de rejeição da proposta de instaurar uma Comissão Processante.



        A matéria da Folha informou que:
Depois de a Câmara de Frutal (600 km de Belo Horizonte) arquivar na segunda-feira (23) dois pedidos de investigação de supostos esquemas de corrupção na área da saúde, o secretário responsável pela pasta, José Plínio dos Reis, chegou ao bar onde a decisão era comemorada de modo pouco tradicional: dirigindo uma ambulância. A Folha teve acesso a uma foto feita a partir de um telefone celular, que mostra o secretário no bar, de braços erguidos, com uma ambulância ao fundo. O fato foi confirmado à Folha pelo próprio secretário, que afirmou ter parado no local para "cumprimentar o pessoal". No início de abril, uma CEI (Comissão Especial de Investigação) denunciou um suposto esquema de desvio de dinheiro público envolvendo a prefeitura e duas fundações ligadas à área da saúde. Segundo a denúncia, a prefeita Maria Cecília Marchi Borges (PR) tinha conhecimento do caso. A prefeita também é acusada, desta vez pelo Ministério Público de Minas Gerais, de ter prevaricado ao não dar andamento regular aos processos movidos pelo município de Frutal contra seu marido e ex-prefeito, Luiz Antônio Zanto. Os dois pedidos de instauração de Comissão Processante não conseguiram maioria absoluta, em votação ocorrida na Câmara nesta segunda-feira (23), tendo sido arquivados. O secretário José Plínio dos Reis afirmou que dirigiu a ambulância anteontem de Belo Horizonte até Frutal e que a estacionou em frente ao bar, localizado ao lado da prefeitura, apenas por alguns instantes. "Na hora em que eu cheguei, estacionei, cumprimentei o pessoal e disse: 'eu vim trazer esta ambulância de Belo Horizonte'", afirmou. Segundo ele, que qualificou o encontro como "uma coincidência", a ambulância ficou em frente ao bar por poucos instantes. "Foi só o tempo de descer do carro e cumprimentar as pessoas. Logo em seguida, eu a estacionei dentro da prefeitura", afirmou o secretário, segundo quem a foto foi feita por pessoas "da oposição".


A denúncia de uma quantidade considerável de ilícitos deveria ser motivo para que os envolvidos como suspeitos de tais práticas buscassem formas de elucidar os cidadãos daquele município para dirimir todas as dúvidas sobre irregularidades no exercício de funções públicas. No lugar disso, o que se viu foi uma comemoração ostensiva, onde uma ambulância participa da “festa” como a demonstrar falta de preocupação com opiniões contrárias.

As declarações publicadas na matéria também dão idéia de que poderia estar sendo caracterizado um eventual desprezo para com a inteligência dos próprios eleitores daquele município. Esta hipótese esta associada, ainda, a publicação feita pelo jornalista Rodrigo Portari, de Frutal, que escreveu em seu site um comentário sobre o que chamou de “espetáculo armado na Câmara de Frutal, mais parecido com um verdadeiro circo” dizendo:
o que mais me preocupou nesse contexto, foi a cena que vi ontem em frente ao Bar do Gato. Pessoas ligadas à administração (inclusive médicos que viram seus nomes envolvidos na CEI) “comemoravam” o arquivamento das Processantes e, ao lado, uma mesa formada por jornalistas e pessoas de oposição. Em dado momento, uma ambulância, tocando sirene em “alto e bom som” chega até ao Bar do Gato, encosta ao lado da mesa e, dela, desce um médico também comemorando os arquivamentos. Essa foi a cena que gerou, pelo menos nesse articulista, um mal-estar enorme, digno de embrulhar o estômago. Cada um tem o direito de comemorar, mas utilizar uma ambulância para esse fim… é passar dos limites. Só me resta rezar para que o final do ano não seja marcado por extravasos como este que vi ontem. Sob pena de toda a cidade ser seriamente castigada.

         Esse acontecimento em Frutal-MG pode servir para que se pense sobre os relacionamentos entre os poderes constituídos, em todos os seus níveis – municipal, federal e estadual – que cada vez mais se revestem de arrogância como se estivessem acima da lei ou da avaliação dos cidadãos que representam. Como atos reprováveis tornam-se cada vez mais corriqueiros, acordos escusos passam a freqüentar com desenvoltura essas rodas de “negociações”.

         No decorrer da reflexão que possa surgir a partir dessas notícias, recomendo a leitura de outro conto recolhido por Câmara Cascudo (que fez parte da Tertúlia Nativa da última semana) sobre como pagar bem-feitos e malfeitos. No livro “Contos Tradicionais do Brasil”, C. Cascudo diz ter ouvido esse conto quando ainda era menino, em Natal-RN, e novamente lhe foi repetido no Recife-PE, quando estudava Direito.

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O BEM SE PAGA COM O BEM

                                                                  Luís da Câmara Cascudo


A onça caiu numa armadilha preparada pelos caçadores e, por mais que tentasse escapar, ficou prisioneira. Resignara-se a morrer, quando viu passar um homem. Chamou-o e lhe pediu que a libertasse.


— Deus me livre — disse o transeunte. Se você ficar solta, devorar-me-á.


A onça jurou que seria eternamente agradecida, então o homem desatou as cordas que seguravam a tampa do alçapão e ajudou a onça a deixar a cova. Logo que esta se encontrou livre; agarrou seu salvador por um braço, dizendo:


— Agora você é o meu jantar.


Debalde o homem pediu e rogou. A onça, finalmente decidiu:


— Vamos combinar uma coisa. Ouvirei a sentença de três animais. Se a maioria for favorável ao meu desejo, comê-lo-ei.


O homem aceitou e saíram os dois. Encontraram um cavalo, velho, doente, abandonado. A onça narrou o caso. O cavalo disse:


— Quando eu era moço e forte trabalhei e ajudei o homem a enriquecer. Qual foi o meu pagamento? Largaram-me aqui para morrer, sem um auxílio. O bem só se paga com o mal.


Adiante depararam com um boi. Consultado, opinou pela razão da onça. Contou sua vida de serviços ao homem e, quando julgava que ia ser recompensado, soube que fora vendido para ser morto e retalhado pelo açougueiro. O bem só se paga com o mal.


O homem, triste, acompanhava a onça que lambia o beiço, quando viram um macaco. Chamaram o macaco e pediram o seu parecer. O macaco começou a rir. A onça ia-se zangando:


— Por que tanta risada, camarada macaco?


— Não é fazendo pouco, — explicou o macaco — é que eu não acredito que o homem caísse na armadilha que ele mesmo preparou.


— Ela não caiu. Quem caiu foi eu, — contava a onça.


— Foi você? Então como é que esse homem fraquinho pôde libertar um bicho tão grande e forte como a camarada onça?


A onça, despeitada pelo macaco julgá-la mentirosa, foi até o alçapão e saltou para o fundo do fosso, gritando lá de baixo:


— Está vendo? Foi assim!


Mais que depressa o macaco empurrou o engradado de varas pesadas que fazia de tampa e a onça tornou a ficar prisioneira.


— Camarada onça - sentenciou o macaco — o bem só paga com o bem. E como você fez o mal, receba o mal.


E se foi embora com o homem, deixando a onça para morrer de fome na armadilha.



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         A música escolhida para esta Tertúlia é "A Palavra Ladrão", do saudoso compositor, de Itápolis-SP, José Fortuna, com a dupla de irmãos Zé Fortuna (José Fortuna) e Pitangueira (Euclides Fortuna).


 



Um grande abraço e até a próxima!

quarta-feira, 25 de abril de 2012

ORATÓRIO CAMPEIRO – O EVANGELISTA E A COMISSÃO DE JURISTAS



Entraram em Cafarnaum.
No sábado, Jesus foi à sinagoga e pôs-se a ensinar.
Todos ficaram admirados com seu ensinamento,
pois ele os ensinava como quem tem autoridade, não como os escribas.
(Marcos 1,21-22)




Amigas e Amigos,

         Por tudo que leio e escuto sobre a prática de ilícitos em nosso país, tenho cada vez mais clara a opinião de que não nos faltam leis, mas aplicação de leis. A possibilidade de pequenas penas ou a certeza de impunidade levam a um crescimento da desobediência a  leis como a observada nos noticiários de cada dia.
        
         A Folha de São Paulo noticiou em seu portal na última segunda-feira que:
A comissão de juristas que prepara anteprojeto da reforma do Código Penal no Senado aprovou nesta segunda-feira (23) a criminalização do enriquecimento ilícito. Significa que devem responder na Justiça os servidores, juízes ou políticos, por exemplo, que não puderem comprovar a origem de valores ou bens, sejam eles móveis ou imóveis. A previsão de pena varia de 1 a 5 anos. Além disso, o bem deverá ser confiscado. Para o relator da reforma, Luiz Carlos dos Santos Gonçalves, trata-se de 'um momento histórico na luta contra a corrupção no Brasil'. "Criminalizamos a conduta do funcionário público que enriquece sem que saiba como. Aquele que entra pobre e sai rico", afirmou. Segundo Gonçalves, não há qualquer previsão desta natureza hoje no Código. "O país está descumprindo tratados internacionais contra corrupção, que determinam a criminalização. Estamos levando essa proposta para o Senado e os representantes do povo vão discuti-la", completou. O texto prevê ainda que a punição seja aumentada em metade ou dois terços caso a propriedade ou posse seja atribuída a terceiros. Caso se prove também o crime que deu origem ao enriquecimento, como corrupção ou sonegação, por exemplo, o réu deixa de responder por enriquecimento ilícito e passa a responder pelo outro crime, que, em geral, tem a pena mais alta. A mudança do anteprojeto de reforma do Código Penal deve ser entregue até o fim de maio para votação do Senado. Em seguida, as modificações serão apreciadas pela Câmara dos Deputados.

         Com esse “momento histórico na luta contra a corrupção no Brasil” (conforme a matéria), vislumbro como grande mudança nas atitudes dos infratores a possibilidade de uma nova preocupação para seus advogados, que lhes poderão exigir maior remuneração por conta das novas penas estipuladas. Como o “enriquecimento” favorece o pagamento, o problema para o relacionamento dos meliantes com seus defensores estará praticamente resolvido.

         Se a infração for praticada por um parlamentar, a situação será simplificada, pois não haverá necessidade da contratação de defensores. Nesses casos, uma CPI se arrastará por longo tempo até concluir que não tem qualquer conclusão e o caso será encerrado.

         Pelo exposto, pode-se concluir que “o momento histórico” marca a criação de mais uma lei. E só! Veio-me ao pensamento que Deus precisou de apenas 10 leis para dar origem a um grande número de religiões que até hoje se submetem a essas mesmas leis e fiquei imaginando o que poderia ter acontecido se Ele tivesse solicitado a uma comissão de apóstolos juristas a criação de leis para os homens – talvez, continuassem criando leis até hoje sem qualquer resultado prático.

         Neste dia 25 de abril, celebra-se a Festa de São Marcos, o evangelista responsável pelo chamado segundo evangelho – apesar de ser o primeiro a ser escrito –, o mais curto e com uma abordagem especial da paixão de Jesus. Marcos, ou João Marcos, escreve para mostrar que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, a Boa Nova que Deus encaminha para todos nós.

São Marcos

         Como sugestão para esta semana, pode-se invocar a intercessão de São Marcos pelos que criam e aplicam leis neste nosso Brasil para que verdadeiramente tenhamos leis que nos permitam – como cidadãos – uma vida com qualidade.
        
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ORAÇÃO A SÃO MARCOS EVANGELISTA

Ó Deus,

Que concedestes a São Marcos,

Vosso evangelista,

A glória de proclamar a Boa Nova,

Dai-nos assimilar de tal modo seus ensinamentos,

Que sigamos fielmente os caminhos do Cristo,

Que convosco vive e reina

Na unidade do Espírito Santo.

Amém!

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         A música escolhida para este Oratório Campeiro é de Zé Vicente, interpretada pelo próprio Zé Vicente, "Pão em Todas as Mesas", nos chamando a uma reflexão sobre o tempo Pascal que estamos experimentando.


 


Um grande abraço e até a próxima!