terça-feira, 7 de agosto de 2012

ORATÓRIO CAMPEIRO – SÃO CAETANO, A COVARDIA E A INJUSTIÇA

Quanto aos covardes,
 infiéis, corruptos, assassinos, devassos, feiticeiros, idólatras e todos os mentirosos,
o lugar deles é o lago ardente de fogo e enxofre, ou seja, a segunda morte.
(Apocalipse 21,8)





Amigas e Amigos,

O Oratório Campeiro desta 18ª Semana do Tempo Comum nos lembra de que hoje festejamos São Caetano de Thiene, o fundador da Ordem dos Clérigos Regulares, conhecidos como Teatinos. Essa Ordem dos Teatinos Regulares surgiu pela vontade de fomentar uma renovação do clero, no tempo da reforma propiciada por Lutero.

Antes do Papa Clemente VII aprovar o plano de fundação do Instituto dos Teatinos, São Caetano participou, em 1522, da fundação do Hospital dos Incuráveis, na Itália. Sobre esse Santo, o portal das Paulinas diz que “desde muito jovem mostrava grande preocupação e zelo pelos pobres, abrindo asilos para os idosos e muitos hospitais para os doentes”.

Essa ligação do Santo do dia de hoje com esses pobres e enfermos faz recordar o estudantes de desenho industrial Vítor Cunha, de 22 anos, que foi espancado por cinco rapazes, em fevereiro deste ano, quando tentou impedir a agressão a um mendigo na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro. Segundo o portal do Estadão, a denúncia do Ministério Público, no dia 27 de fevereiro, da tentativa de homicídio – caracterizado inclusive pelas seqüelas deixadas no estudante, que teve 20 fraturas no crânio e um braço quebrado; colocou 63 parafusos, oito placas e duas telas de titânio na cabeça, além de receber um enxerto ósseo e se submeter a uma cirurgia de reconstituição facial – foi acompanhada pela requisição de conversão da prisão temporária em prisão preventiva. Disse o referido portal, no dia 28/02 que:
De acordo com a denúncia,  Tadeu Assad Farelli Ferreira, William Bonfim Nobre Freitas, Fellipe de Melo Santos e Edson Luis dos Santos Junior desferiram socos e chutes no corpo e na cabeça da vítima, de forma cruel e em superioridade numérica, com o objetivo de matá-lo. O quinto denunciado, Rafael Zanini Maiolino, participou da tentativa de homicídio ao impedir que um amigo da vítima interferisse, contribuindo para que o grupo continuasse as agressões, mesmo com a vítima já desacordada e indefesa, caída no chão. Os acusados vão responder por tentativa de homicídio qualificado por motivo torpe, tortura ou meio insidioso ou cruel e, também, por utilizarem recurso que impossibilitou a defesa da vítima.

O assunto dessa agressão voltou às manchetes com uma nova decisão do juiz Kieling, da 3ª Vara Criminal do Rio que, segundo a edição do Estadão do dia 3/08:
determinou, na sexta-feira passada, 27, o cancelamento da prisão preventiva dos acusados, abrandando também a natureza do crime,  que passou de tentativa de homicídio qualificado para lesão corporal. Além de serem soltos, os agressores serão julgados agora por um único juiz, em vez de um júri popular, o que costuma tornar mais fácil a absolvição.

Não é possível avaliar quais motivações levaram o juiz Kieling a liberar os acusados e abrandar a natureza do crime. Mas, para reflexão, temos concretamente um jovem que, aparentemente de forma muito covarde, foi espancado – e quase morreu – e um grupo de jovens acusados, sem questionamentos, de serem autores da inconseqüente ação. Existem, ainda, outras circunstâncias a serem observadas, conforme matéria sobre ser o jovem Vitor refém do medo, do Jornal do Brasil, também do último dia 3/08, que informa:
Vitor Suarez Cunha, de 22 anos, é um estudante que não estuda. Um trabalhador que não trabalha. [...] "O juiz (Murilo Kieling, da 3ª Vara Criminal) deu apenas uma pena de prisão domiciliar(das 20 às 06h) para os meus agressores, enquanto eu tenho que passar todo dia em um lugar diferente. Não posso mais sair de noite nem voltar para a Ilha do Governador. Parece que eu sou o criminoso. E os meus agressores, alguns com reicindência, estão por aí, livres. É um absurdo", dispara Cunha. [...] O estudante ainda conta detalhes assombrosos do encontro com os agressores na audiência de semana passada, ao ser perguntado sobre um improvável reencontro: "Minha mãe foi chamada de palhaça pela família deles. Mesmo algemados, me olhavam em sinal de desafio, fazendo sinais com a cabeça como que se me chamassem para a briga. Isso tudo dentro de um Tribunal de Justiça". [...] O jovem define a luta por justiça como um propósito maior em sua vida. "Acho que depois disso ganhei milhões de motivos para viver. Nada vem por acaso. Eu tinha duas opções: ou desistia ou lutava, e eu vou continuar lutando. Se nós aceitarmos as coisas erradas que ocorrem em nossas vidas, elas vão se perpetuar. Tudo o que eu quero é justiça. Não só no meu caso, mas para todos que passaram pelo que eu tive de passar", concluiu.
Parece-me oportuno sugerir para esta semana a Oração ao Santo venerado no dia de hoje, quando podemos pedir luz para os juízes serem justos acima de interesses pessoais; discernimento para entendermos as decisões judiciais; e força para as vítimas tantas vezes desamparadas por aqueles que deveriam ser responsáveis por ampará-las.

 
                                                                          "San Cayetano”, óleo sobre tela por Goya

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PRECE A SÃO CAETANO

Ó São Caetano,
Que conhecestes a fraqueza da Igreja
Principalmente em seus membros mais responsáveis,
E que trabalhastes pela reforma da vida
E dos costumes dos cristãos,

Olhai com muito amor e compaixão
Para as nossas famílias e comunidades. 
Lançai vossa mão poderosa
A fim de que reine entre nós
O espírito de fé, de amor e de justiça,
Segundo a vontade de Cristo.

Fazei que cada um de nós
Assuma suas obrigações,
Pois Cristo espera de cada um de seus seguidores
A fidelidade, o serviço
E a dedicação em favor dos irmãos.

Amém!

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A música para tornar nossa semana mais calma por meio deste Oratório é "Virgem do Silêncio", de Judson Nunes, com o grupo Cantores de Deus.



Um grande abraço e que a Paz de Cristo permaneça conosco!

domingo, 5 de agosto de 2012

COM O PÉ NO ESTRIBO – COMEMORAÇÕES E ENROLAÇÕES


Três coisas devem ser feitas por um juiz:
ouvir atentamente, considerar sobriamente e decidir imparcialmente.
(Sócrates)




Amigas e Amigos,


Conforme abordei na Tertúlia Nativa desta semana, começou o julgamento dos mensaleiros denunciados – provavelmente a lista de corruptos é bem maior dos que os 38 réus arrolados no processo – e alguns fatos associados a esses primeiros momentos são objetos de mais uma postagem.

No primeiro dia do julgamento desse escândalo que se apresenta como um dos maiores da história desse país – “nunca antes na história deste país se viu tanta corrupção” – os ministros do STF já deram início a rusgas que se apresentam como candidatas a constantes nos próximos passos. Por mais que se imaginasse grupos de magistrados cheios de “gratidão-quase-amor” ao ex-presidente, é pouco provável alguém já estar imaginando as primeiras manifestações claras desse sentimento aparecendo escancaradamente no primeiro dia.

Sobre o debate acalorado entre os ministros do STF, quando uma manobra do ex-ministro da Justiça foi rejeitada, o portal do Correio Braziliense informou que:
Começou com bate-boca o julgamento histórico do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), numa demonstração de que cada detalhe da Ação Penal 470 despertará debates acalorados. A briga deixou em lados opostos o relator, Joaquim Barbosa, e o revisor, Ricardo Lewandowski. Em tese, são os dois ministros que mais conhecem o processo. O motivo da discórdia, o pedido de desmembramento da causa, de forma que apenas os réus com foro especial fossem julgados no STF, foi suscitado pelo ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, advogado de José Roberto Salgado, ex-diretor do Banco Rural. Lewandowski apresentou um voto, preparado previamente, em que defendeu por uma hora e 20 minutos a divisão do processo, medida que beneficiaria 35 dos 38 acusados. Caso fosse aprovado o pedido, apenas três réus, os deputados João Paulo Cunha (PT-SP), Pedro Henry (PP-MT) e Valdemar Costa Neto (PR-SP), aqueles que têm foro no STF para ações criminais, continuariam a ser julgados pelos 11 ministros. A decisão reduziria a importância do julgamento no STF e poderia atrasar ainda mais o desfecho do caso, sete anos depois que o escândalo do mensalão veio à tona. [...] Apenas o ministro Marco Aurélio Mello seguiu o voto sustentado por Lewandowski. Nas argumentações, os ministros ressaltavam que o tema já havia sido analisado. [...] O ministro Joaquim Barbosa disse, em nota, que não fez ataques pessoais ao colega Ricardo Lewandowski. “Apenas externei minha perplexidade com o comportamento do revisor, que após manifestar-se três vezes contra o desmembramento, mudou subitamente de posição, justamente na hora do julgamento, surpreendendo a todos, quase criando um impasse que desmoralizaria o tribunal”, destacou.

A condução do processo já havia sido debatida e decidida e, ainda assim, a inoportuna intervenção do ex-ministro se tornou objeto de novo debate. Quem já havia se manifestado contra o desmembramento do processo tinha um voto, agora favorável, escrito previamente como se existisse um conluio articulado com antecedência entre defesa e júri.

Com a encenação, ou o que quer que seja, com a participação de Thomaz Bastos e Lewandowski se perdeu um dia de julgamento. E para os que pensam que foi somente um dia, o caderno Poder da Folha de São Paulo, estampava como manchete uma análise de petistas avaliando terem saído na frente, o que mereceu até comemoração. Diz a matéria da Folha que:
Alvo principal da ação do mensalão, o PT terminou o primeiro dia de julgamento com um sentimento de ter largado na frente. Em seus gabinetes, havia um certo clima de comemoração pelo desempenho protelatório de Ricardo Lewandowski e os embates com Joaquim Barbosa. A repetição desse cenário resultaria em sucesso numa das estratégias dos advogados: evitar o voto de Cezar Peluso, dado como contrário aos réus, já que ele tem de se aposentar até o fim do mês. [...] Lewandowski gastou mais de uma hora para votar pelo desmembramento da ação.Resultado: toda primeira etapa do julgamento, das 14h30 às 18h, foi consumida para derrubar a proposta do advogado Márcio Thomaz Bastos, que defende o Banco Rural. A atuação de Lewandowski, que levou Barbosa a sair do sério e até deixar o plenário, segue a linha esperada por alguns de seus colegas e agrada em cheio os petistas. Não só por atrasar os trabalhos como também por provocar uma tensão no STF. Na tática e nos sonhos do PT, o ideal é que seja criado um ambiente de divisão no Supremo. De preferência com ministros assumindo posições favoráveis às teses do partido. A expectativa entre petistas é que Lewandowski, indicado pelo ex-presidente Lula e amigo da ex-primeira-dama Marisa Letícia, seja um dos a assumir este papel.

Os sentimentos e as comemorações do Partido dos Trabalhadores podem passar uma ideia de estar o partido pouco preocupado com justiça. As citadas teses do partido parecem estar acima da ética e da moral, pois a uma vontade explicita de fazer de conta que não existe um foco de corrupção é maior do que a vontade de colocar eventuais párias da sociedade em lugares condizentes com suas mazelas.

Espero não pensar que o Circo Tihany Spetacular – armado na Esplanada dos Ministérios – possa estar relacionado ao julgamento do mensalão. Que o primeiro dia desse julgamento sirva para que os responsáveis pelo mesmo não se deixem envolver por artimanhas preparadas por pessoas que desejam permanecer recebendo benefícios indevidos a custa de dinheiro público. E que o PT possa se livrar de suas fétidas feridas para voltar a ser o partido que soube construir seu espaço combatendo a corrupção.

Para fechar a semana, na expectativa de melhores dias na próxima, fica a música “A la pucha, Tchê”, do Iedo Silva, interpretada pelo autour no DVD “Iedo Silva - 35 Anos de Carreira”, produzido pela gravadora Usadiscos .



          Um grande abraço e até a próxima!