quinta-feira, 2 de agosto de 2012

TERTÚLIA NATIVA – A PÂNDEGA DOS MENSALEIROS


Eu continuo a ser uma coisa só, apenas uma coisa - um palhaço,
o que me coloca em nível bem mais alto que o de qualquer político.
(Charles Chaplin)



Amigas e Amigos,



Está começando o julgamento do processo do mensalão com as mais variadas expectativas. Os ocupantes dos principais cargos nos poderes constituídos passam a idéia de que já organizaram uma grande torcida para que tudo faça parte de cobertura da pizza que estão preparando. Já os que acreditam em um estado democrático de direito esperam que os fatos sejam julgados com isenção, que os inocentes sejam absolvidos e que os culpados cumpram penas conforme seus ilícitos.

Como a designação de ministros para o STF (Supremo Tribunal Federal) é decidida com o critério único de indicação política, os integrantes daquela corte tendem a ter um relacionamento que pode beirar a gratidão para com o poder executivo. No STF hoje, o ministro Dias Toffoli – que foi advogado de José Dirceu, tem no PT a base de sua carreira jurídica e namora a advogada Roberta Maria Rangel, defensora de alguns “mensaleiros” – já foi defensor de uma tese utilizada por Marcus Valério em sua defesa no mensalão. Apesar de seu forte vínculo com o PT e com os temas relacionados ao mensalão, o ministro Toffoli tem demonstrado não se considerar impedido de atuar no processo.


                                                                      Fonte: http:www.correiobraziliense.com.br


Para dar um pouco mais de clareza aos “rolos” inerentes ao mensalão, o portal Folha.com informa que a dívida junto a Receita de alguns mensaleiros já supera R$ 64 milhões. Diz a Folha que:
A segunda instância da Receita Federal já confirmou punições contra réus e empresas ligadas ao processo do mensalão que somam pelo menos R$ 64,4 milhões. As penalidades foram mantidas pelo Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, órgão do Ministério da Fazenda, e referendam na área administrativa as acusações feitas criminalmente pela Procuradoria-Geral da República na ação no STF (Supremo Tribunal Federal). Os valores poderão ficar ainda maiores, porque devem ser atualizados pela Receita com base no ano em que os créditos deveriam ter sido pagos à União. As decisões do conselho apontam que o empresário Marcos Valério de Souza e outros réus do grupo apontado como "núcleo operacional" do esquema cometeram diversas infrações, como evasão de divisas, movimentação de dinheiro de origem não declarada e fraudes contábeis para justificar a entrada e saída de recursos. Nas empresas dos réus ocorreu o uso de notas fiscais frias e alterações irregulares em livros contábeis, além de empréstimos simulados para justificar movimentações financeiras, segundo as deliberações do conselho. Os relatórios do órgão do Ministério da Fazenda revelam também que, quando foi descoberto o mensalão, as empresas tentaram alterar sua documentação fiscal para inserir faturamento que não constava de declarações dos anos anteriores. Segundo documentos da própria Receita, o grupo mandava desde 2002 dinheiro ilegalmente ao exterior, sem passar pelo sistema financeiro nacional.

Se em valores não atualizados, a dívida desses senhores com a Receita atinge espantosos R$ 64,4 milhões, sem as devidas atualizações monetárias, não consigo imaginar os valores que possam ter sido desviados de cofres públicos, nem os valores envolvidos em eventuais negociatas com representantes dos poderes públicos. Um pouco disso tudo poderá ser deduzido do encaminhamento que será dado ao processo nos próximos dias – ninguém acredita em menos do que um mês.


Para esquecer um pouco esse corrompido mundo adulto, publico abaixo um causo, do Rolando Boldrin, sobre a pândega infância interiorana.  


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CONVERSA DOS BICHOS
                        Rolando Boldrin

O Zequinha, menino de uns 10 anos de idade, era na fazenda do meu padrinho o que se pode chamar de “charrete boy”. Na cidade tem o motoboy, não tem? Então! Nas fazendas tem – ou tinha naquele tempo, que já vai longe – o charrete boy. O menino que com a charrete do fazendeiro vai buscar as coisas ou as pessoas na cidade.

Pois naquele dia o Zequinha tinha ido buscar na cidade o Padre Antônio, que estava iniciando sua temporada por lá. Era um padre novo e tinha uma particularidade que a gente só ficou sabendo depois desse causinho que tô contando aqui e agora: ele era ventríloquo. Um dom que poucas pessoas possuem que é o de falar sem abrir a boca. Dizem que é uma técnica de emitir os sons pelo estômago. Aliás, um grande ventríloquo que existiu no Brasil foi o pai das cantoras Linda e Dircinha Batista. Chamava-se Batista Junior e se apresentava em circos e teatros. E, de lambuja, era um grande compositor.

Mas, seguindo no causo. O Padre Antônio sobe na charrete com o caipirinha Zequinha, ruma a fazenda do meu padrinho pra rezar uma missa. Logo na saída, o padre pergunta se era longe a tal fazenda, ao que o menino prontamente e muito espertamente lhe responde que levaria uns pares de horas. O que dava pra entender que era longe pra cacete e a viagem ia ser dolorosa ou dolorida para um padre que não estava acostumado a meter a bunda no banco duro de uma charrete velha conduzida por uma eguinha lerda.

PADRE – Oh, menino! Você sabia que os animais conversam?

ZEQUINHA – Entre eles, eu sabia, sim sinhô. Eles cunvérsa bastante.

PADRE – Não, filho. Estou dizendo que os animais conversam com a gente. Conosco. Mas para isso é preciso conversar com eles com muito amor. Você quer ver os animais conversando comigo?

Aí o menino, esperto, se encanta e atiça.

ZEQUINHA – Ara, sêo padre. Essa eu tô pagando pra vê. Animar conversa cum gente. Essa nunca vi não sinhô. E o sinhô me adiscurpa, mas num querdito.


PADRE (falando para a égua) – Dona eguinha! Está muito pesada a charrete? (E faz a voz da égua sem abrir a boca) Tááá...sêo padre.

O menino, num susto, pára a charrete.

ZEQUINHA(gaguejando) – Sêo...padre... a égua falo...a minha égua...respondeu pru sinhô...eu escutei...

PADRE – Todos os animais conversam com a gente. Quer ver mais?

O padre olha um urubu nos céus e fala:

PADRE – Bom dia, urubu. (E faz voz.) Bom dia, parceiro. Bom dia, sêo padre.

E assim o Padre Antônio foi se divertindo com a surpresa encantada daquele caboclinho, que viu com os próprios olhos e ouvia ali, in loco, os bichos falando com aquele padre. Com isso, a viagem, que poderia ser longa, terminou logo, logo.

ZEQUINHA – Óia, sêo Padre! O sinhô ta vendo aquela cabrita branca ali na grama? Por favor, o sinhô num querdite em nada que ela fala prô sinhô, viu!!!!!!

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Na música escolhida para esta Tertúlia, valho-me de Luiz Vieira para continuar lembrando infâncias, esquecendo as discrepâncias entre as promessas de eleição e o exercício dos mandatos. No link abaixo, o grande sucesso da década de 1950 “O Menino de Braçanã”, do pernambucano Luiz (Rattes) Vieira (Filho), assinada, também, pelo carioca Arnaldo Passos e interpretada pelo próprio Luiz Vieira.

 

Um grande abraço e até a próxima!

terça-feira, 31 de julho de 2012

ABRINDO A PORTEIRA – A FALTA DE PRIORIDADE PARA EDUCAÇÃO


A educação de um povo pode ser julgada, antes de mais nada,
pelo comportamento que ele mostra na rua.
Onde encontrares falta de educação nas ruas, encontrarás o mesmo nas casas.
(Edmondo de Amicis)



Amigas e Amigos,



Depois de merecidas – opinião própria – férias, retorno para este Blog, como renovada vontade de partilhar algumas idéias e desabafos que, se não solucionam os problemas, servem para melhorar meu humor. Antes dos vinte dias que passei viajando, os professores das Universidades Federais estavam em greve há mais de um mês. No retorno, a única mudança perceptível foi no tempo de paralisação, pois a greve dos professores já ultrapassou a marca dos 70 dias.



Não sem espanto, encontrei no portal Folha.com, no dia 25 de julho, uma frase proferida pelo ministro da Educação, com caráter de sentença definitiva: "Está na hora de os professores voltarem às aulas". Parece, pela afirmação do ministro, que greve é uma ação permitida pelo governo para durar um tempo determinado, de acordo com sua vontade. Diz a matéria do portal mencionado que:
O Ministério da Educação divulgou nota em que aponta o "grande esforço" do governo federal em aumentar a oferta de reajuste para os docentes. Segundo proposta apresentada ontem pelo Ministério do Planejamento a entidades de professores, o reajuste mínimo da categoria será de 25% – antes, o índice era de 12%. No texto, divulgado ontem pela pasta, o ministro Aloizio Mercadante (Educação) destaca o fato de que apenas os docentes receberam uma proposta concreta do governo – a presidente Dilma Rousseff enfrenta uma onda de greves no funcionalismo público. Hoje, a presidência publicou decreto para garantir a continuidade do atendimento em setores públicos essenciais em caso de greve. "Não conheço nenhuma categoria profissional, de atividade pública ou privada, que tenha recebido um aumento desse porte e conquistado uma carreira em um momento de tantas incertezas econômicas, com um cenário de crise como o que se apresenta", afirmou Mercadante por meio da nota. "Por isso mesmo, acho que está na hora de os professores voltarem às salas de aula e retomarem a rotina acadêmica." O ministro embarcou ontem para Londres, na comitiva que acompanha a presidente Dilma Rousseff rumo aos Jogos Olímpicos. Ele retorna ao Brasil na próxima sexta-feira. Mercadante participa de evento com estudantes do programa Ciência sem Fronteiras, que concede bolsas de estudo em universidades estrangeiras, ao lado da presidente Dilma.

Provavelmente, o ministro Mercadante ficou tão preocupado com a greve dos professores que viajou para assistir a abertura das Olimpíadas, como forma de relaxamento. Acredito que toda a comunidade acadêmica pense que a hora de retorno às salas de aula deveria ter sido, como mais lógico, no fim das férias, desde que tivesse seu trabalho reconhecido por seu empregador. Mas um governo preocupado com educação e cultura sabe que poderá levar seus cidadãos (às vezes visto apenas como votos) a um amadurecimento crítico. Bem melhor do que isso, segundo o pensamento passado pelos governantes, é distribuir uma infinidade de bolsas esmolas, que – muito além das propaladas inclusões – garantem eleitores dependentes, com consequente perpetuação do poder.

Esse descaso com a educação, que atinge também os técnicos administrativos das universidades federais – em greve desde o dia 11 de junho – não abala outros setores vinculados ao próprio governo. Exemplo disso são os aumentos para os exagerados salários de legisladores, nos seus diversos segmentos, bem como do judiciário, que vem sendo “costurado” sem necessidade de muito esforço por parte dos futuros beneficiados.

 Enquanto os estudantes universitários se preparam para adiar seus sonhos de formatura para uma data a ser determinada pelos governantes, vamos ouvir, esperando um mundo melhor, de Renato Teixeira, interpretada pelo próprio Renato Teixeira, “Eta mundo bão”.

 

Um grande abraço e até a próxima!