sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

FOGÃO DE LENHA - TOMATES RECHEADOS




O homem sem educação, por mais alto que o coloquem,
fica sempre um subalterno.
(Ramalho Ortigão)



Amigas e Amigos,



          Uma das grandes demandas reprimidas, no Brasil, diz respeito à educação, tratada com desleixo por nossos governantes, na maioria das vezes. A falta de investimentos nessa área é tão marcante que matéria do último dia 14, no portal "O Estado de São Paulo" (http://www.estadao.com.br), apresenta uma manifestação do Ipea sobre os insuficientes gastos do país com educação, impossibilitando o atingimento de metas e servindo de sustentação para protestos por mais investimentos. Diz o referido portal que:
Apesar da ampliação dos últimos anos, os gastos do Brasil com educação (menos de 5% do PIB) não são suficientes para ampliar o acesso ou a qualidade, metas do novo Plano Nacional de Educação (PNE). A conclusão está em estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômia Aplicada) divulgado na manhã desta quarta-feira.  "Este valor é distante daquele indispensável ao financiamento das necessidades", diz o comunicado Financiamento da educação: necessidades e possibilidadesO estudo é divulgado no mesmo dia para o qual a Campanha Nacional pelo Direito à Educação, que coordena o movimento “PNE pra VALER!”, está convocando internautas para fazer um tuitaço, destinado a deputados federais, em favor da destinação de 10% do PIB para o ensino público no novo Plano Nacional de Educação, cujo relatório prevê 8%. Na semana passada, manifestantes começaram o 'Ocupe Brasília' com a mesma meta. Pelos números do Ipea, houve uma ampliação real do gasto em educação realizado pelas três esferas de governo no período de 1995 a 2009, saindo de R$ 73,5 bilhões para  R$ 161,2 bilhões - um crescimento real de 119,4% em 15 anos, equivalente a 5,9% ao  ano. Também houve aumento dos gastos em comparação com o PIB, saindo de 4% para cerca de 5% no mesmo período. Ainda asim, para alcançar as metas do PNE, será necessário buscar outras fontes de financiamento, afirma o Ipea. O estudo apresenta cinco possibilidades:  incremento no financiamento tributário; usar recursos do pré-sal; usar a folga  orçamentária proveniente da redução de despesas com juros; captar  recursos; e a melhoria e recomposição do gasto público em educação. Para o Ipea, a política de  financiamento deveria ser precedida pelo planejamento de ações envolvendo a vasta comunidade engajada com educação.  "O número escolas disponíveis no sistema chega próximo a 180 mil. Além disso, na  educação básica estão empregados cerca de dois milhões de professores – dos quais 1,6  milhão na rede pública", diz o texto. "No ensino superior, são quase 340 mil docentes – 120 mil em  instituições públicas. Este aparato físico e humano se faz acompanhar da distribuição de  alimentos e refeições, livros e materiais didáticos, de serviços de transporte escolar e do  acesso aos meios digitais de aprendizagem e à internet para alunos da rede pública da  educação básica".

          Com toda a corrupção que nossos governos "financiam" e que nunca recuperam os seus "investimentos" feitos com nosso dinheiro, surrupiado em forma de impostos exorbitantes, fica difícil imaginar quando poderemos esperar uma preocupação de fato, e não com "jogo de palavras" como se tornou corriqueiro, com a educação nesse Brasil.

          Mas hoje é dia de Fogão de Lenha aqui no Blog e momento para uma sugestão culinária. Reparto com vocês um dos pratos que muito aprecio, Tomates Recheados, e que pode ser acompanhado de arroz branco (com ou sem o "parceiro" feijão). Hoje vi uma foto "tentadora" de tomates recheados "perdidos" em prato de spaghetti ao alho e óleo, que penso valer a pena experimentar. Vamos, então, a receita, com a foto do prato que apreciei na semana passada.



====================================================== 

TOMATE RECHEADO COM CARNE


Ingredientes

4 tomates maduros e grandes
500 gramas de carne moída
2 dentes de alho picados
1 cebola média picada
2 ovos cozidos, picados
1 colher de sopa de extrato de tomate
Azeitonas verdes (sem caroço) picadas
Azeite a gosto
Cheiro verde a gosto
Sal e pimenta a gosto

Modo de preparar
Cortar uma tampa dos tomates, retirar as sementes e parte da polpa para deixa-los ocos.
Acomode-os em um refratário untado e reserve.
Em uma frigideira grande, coloque azeite e frite, ligeiramente, a cebola e o alho.
Coloque a carne moída e frite ligeiramente.
Opcionalmente, pode-se aproveitar a polpa extraída dos tomates.
Acrescente o extrato de tomate, o sal e a pimenta.
Misture bem, sem retirar do fogo.
Acrescente os ovos, as azeitonas e o cheiro verde misture tudo, novamente.
Regue com um fio de azeite o interior dos tomates.
Divida a carne preparada pelos tomates.
Regue os tomates com um fio de azeite.
Leve ao forno médio, pré-aquecido, por cerca de 25 min.
Retirar do forno e servir imediatamente.



=====================================================


          A música para acompanhar a receita de hoje é com o saudoso José Cláudio Machado e tem por título "Cantar Galponeiro" (Oacy Rosenhaim e Nilo Brum). 




          Um grande abraço e bom apetite.


Wilmar Machado

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

GALERIA SERTANEJA - REINO ENCANTADO SEM MENSALÃO

              

Qualquer idiota pode fazer uma regra e qualquer idiota a seguirá.
(Henry David Thoreau)


Amigas e Amigos,

          A podridão relacionada ao evento do “mensalão” é perceptível por grande maioria dos brasileiros. Digo grande maioria e não ouso generalizar por não ser essa a idéia que tenho da percepção dos ministros do Supremo. Essa restrição está atrelada a toda embromação dedicada pelo STF ao caso, que nos jornais fez por merecer uma espécie de “cenas dos próximos capítulos”, como nas novelas mais antigas.

         Na página “Poder”, do portal Folha de São Paulo (http://www.folha.uol.com.br), o ministro Ricardo Lewandowski, do STF (Supremo Tribunal Federal) afirmou, ontem, que os réus do mensalão terão algumas de suas penas prescritas antes do fim de um julgamento que sequer tem data para ser concluído. Segundo a Folha:
O processo do mensalão no STF tem 38 réus. O ministro relator do caso, Joaquim Barbosa, ainda deve terminar seu relatório. Quando isso ocorrer, Lewandowski deverá revisar o processo. Só então poderá ser marcado o julgamento pelo plenário do STF. "Terei que fazer um voto paralelo ao voto do ministro Joaquim. São mais de 130 volumes. São mais de 600 páginas de depoimentos. Quando eu receber o processo eu vou começar do zero. Tenho que ler volume por volume porque não posso condenar um cidadão sem ler as provas", disse Lewandoski. [...] Questionado sobre as chances de o julgamento do mensalão acabar em 2012, Lewandoski disse: "Não tenho uma previsão clara". Ele também afirmou que "com relação a alguns crimes não há dúvida nenhuma que poderá ocorrer a prescrição". Sobre a possibilidade de alguns réus não terem nenhuma punição, o ministro afirmou que "essa foi uma opção que o Supremo Tribunal Federal fez". Segundo ele, se só os réus com foro privilegiado fossem julgados pelo STF "talvez esse problema da prescrição não existiria por conta de uma tramitação mais célere". O tribunal, no entanto, decidiu incluir em seu julgamento até os réus que não têm cargo eletivo e poderiam ser julgados pela Justiça comum.
         Provavelmente todos ainda lembram que o esquema de compra de votos de parlamentares, ou mensalão, foi o maior escândalo do governo do ex-presidente Lula e foi denunciado em maio de 2005. A Procuradoria Geral da República denunciou os 40 nomes (que também era a quantidade de companheiros ladrões, no Livro das Mil e Uma Noites, na história de Ali Baba), em junho de 2006. E o STF somente começou o julgamento – arrastado ainda hoje – em agosto de 2007.



         Apesar de todo imbróglio, o procurador-geral da República ainda acredita que não haverá prescrições de penas no caso do mensalão, o que poderia levar a confirmação do dito popular que afirma ser todo o otimista um sujeito mal informado. Ainda segundo a Folha, também no dia 14:
Gurgel se disse um "otimista" em relação à previsão inicial de julgamento no primeiro semestre do ano que vem, o que, segundo o procurador, evitaria prescrições inclusive para as penas menores. [...] A prescrição concreta é medida de acordo com a sentença definitiva dada pelo tribunal. No caso de formação de quadrilha, por exemplo, se for aplicada a pena mínima de um ano, a prescrição ocorre quatro anos depois do recebimento da denúncia. A denúncia do mensalão foi recebida pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em agosto de 2007. Gurgel também defendeu a opção de manter todos os réus no processo que tramita no STF, inclusive aqueles sem prerrogativa de foro, o que acabou deixando o processo mais lento.
         O que poderia ser acrescido a opinião do procurador é que o “mais lento” referido está muito próximo do estagnado, que deverá ser o próximo cenário, dado que muitos dos nomes envolvidos continuam com sua vidas normais, sendo eleitos e gastando o dinheiro sorrateiramente obtido. O povo brasileiro continuará pagando seus impostos absurdamente altos para que a corrupção continue grassando em nossos governos, com cada vez mais cargos para amigos e parentes, apesar de alguns discursos dissonantes.

         Na Galeria Sertaneja de hoje, recordo uma música que lembra um “tempo bom que já se foi”, talvez um tempo sem mensalão ou talvez um tempo onde, lembrando Thoreau lá no início desta postagem, menos idiotas ficavam tão apegados a regras elaboradas por quaisquer idiotas. O nome da música é "Meu reino encantado", uma bela obra de Valdemar dos Reis e Vicente Machado, gravada, entre outros por João Mulato & Douradinho, Daniel e Lourenço & Lourival.

=========================================

MEU REINO ENCANTADO
                                 Valdemar dos Reis / Vicente Machado


              Eu nasci num recanto feliz

              Bem distante da povoação

              Foi ali que eu vivi muitos anos
              Com papai mamãe e os irmãos
              Nossa casa era uma casa grande
              Na encosta de um espigão
              Um cercado pra apartar bezerro
              E ao lado um grande mangueirão
              
              No quintal tinha um forno de lenha
              E um pomar onde as aves cantava
              Um coberto pra guardar o pilão
              E as traias que papai usava
              De manhã eu ia no paiol
              Um espiga de milho eu pegava
              Debulhava e jogava no chão
              Num instante as galinhas juntava
              
              Nosso carro de boi conservado
              Quatro juntas de bois de primeira
              Quatro cangas, dezesseis canseis
              Encostados no pé da figueira
              Todo sábado eu ia na vila
              Fazer compras para semana inteira
              O papai ia gritando com os bois
              Eu na frente ia abrindo as porteiras.
                            
              Nosso sítio que era pequeno
              Pelas grandes fazendas cercado
              Precisamos vender a propriedade
              Para um grande criador de gado
              E partimos pra a cidade grande
              A saudade partiu ao meu lado
              A lavoura virou colonião
              E acabou-se meu reino encantado
              
              Hoje ali só existem três coisas
              Que o tempo ainda não deu fim
              A tapera velha desabada
              E a figueira acenando pra mim
              E por ultimo marcou saudade
              De um tempo bom que já se foi
              Esquecido em baixo da figueira
              Nosso velho carro de boi.

=========================================

           A interpretação de hoje é de João Mulato & Douradinho. O nome de João Mulato é Wilson Leôncio de Melo e ele nasceu em Passos (MG), em 1950. Já o Douradinho da dupla foi utilizado por diversos parceiros de João Mulato e da maioria se tem poucas informações; somente o primeiro é conhecido e ele se chamava Domingos Miguel dos Santos, conhecido como o violeiro Bambico, que nasceu em Umuarama (PR) e morreu em 1982, depois de gravar dois LPs com João Mulato e um trabalho solo. E é esse primeiro Douradinho que canta com João Mulato logo abaixo.


           Um grande abraço e até a próxima!

Wilmar Machado

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

TERTÚLIA NATIVA - ZÉ CLÁUDIO E O PONCHO MOLHADO



O sentir é irredutível ao dizer.
Só o estar sofrendo diz o sofrer.
(Vergílio Antônio Ferreira)

Amigas e Amigos,

            Quando abri a porteira para esta semana, na última segunda-feira, prometi uma Tertúlia com esse eterno grande nome da música regional do Rio Grande do Sul que foi enterrado ontem, após 6 meses internado no Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre (RS), para tratar de um estrago provocado pelo fumo em seu organismo. Falo, com saudade, do  cantor e compositor José Cláudio Machado, que morreu na última segunda-feira em conseqüência de um enfisema pulmonar. Recorri a alguns jornais gaúchos para prestar essa pequena homenagem.

Crédito: Andréa Graiz/Agencia RBS

           O jornal Zero Hora (http://zerohora.clicrbs.com.br), ao noticiar a morte do Zé Cláudio, informou que ele:
foi o grande vencedor da Califórnia da Canção Nativa em sua segunda edição, em 1972, época de ouro do grande festival de Uruguaiana que hoje é considerado patrimônio cultural do Rio Grande do Sul. A canção Pedro Guará, que lhe deu a Calhandra de Ouro, foi composta em parceria com Cláudio Boeira Garcia e se tornou uma das mais conhecidas de seu vasto repertório – ela deu título a um de seus álbuns mais conhecidos, gravado em 1990. O músico também ficou conhecido por interpretações como a de Pêlos, Milonga Abaixo de Mau Tempo e Campesino e pelas duas passagens pelo grupo Os Serranos, a última na segunda metade dos anos 1980, quando gravou o disco Isto É... Os Serranos. Machado também tocou com Os Tapes, Bebeto Alves, Luiz Marenco e Mauro Moraes e gravou 14 CDs, o último deles Os Melhores Sucessos de José Claudio Machado, de 2007. Foi um dos idealizadores do Parque da Harmonia, hoje identificado como reduto dos tradicionalistas sobretudo no período que antecede o 20 de setembro. – Aquilo ali era primeiro um aterro, nós íamos fazer churrasco, passar o dia, jogar bocha. Um dia saiu um acampamento. E, quando se viu, era um parque – declarou, em uma de suas últimas entrevistas.

           Zé Cláudio fica na saudade dos que tiveram oportunidade de conhecê-lo, ou de conhecer sua obra, como grande entre os grandes cantores e compositores. Mas foi muito mais do que isso e, na reportagem do portal da Zero Hora sobre o enterro deste legítimo representante da música nativista, o testemunho de Renato Borghetti, o Borghettinho, deixa bem claro a influência do Zé Cláudio como gaiteiro de mão cheia: “– Se hoje sou músico, devo isso a Machado. No final da década de 1970, eu ia ao 35 CTG com meu pai e só ficava observando-o tocar. Era um cara diferente, que centralizava as atenções. Os movimentos dele, a técnica com a gaita, tudo para mim era uma referência. Não havia aula melhor”.

           Para recordar um pouco mais a vida deste marco da música gaúcha recorro a notícia de ontem do jornal Correio do Povo (http://www.correiodopovo.com.br), que destacou ao se referir a essa grande perda para a música do Rio Grande do Sul: “Em entrevista recente, Machado disse que parou de ir a festivais por não gostar de disputas e achar os resultados duvidosos. ‘Me sinto mal ganhando e me sinto mal perdendo, sou mau ganhador e mau perdedor’, disse”.

           O Diário Gaúcho (http://www.diariogaucho.com.br), na edição de 8 de outubro de 2009, trouxe uma matéria sobre a gravação do DVD “O Melhor do Canto e Encanto Nativo – Volume 2”, no Teatro São Carlos, em Caxias do Sul (RS), onde estavam reunidos, conforme a matéria, o melhor da música gaúcha, onde destaco um trecho para lembrarmos ainda mais deste músico gaúcho: “Quando Walther Morais e Nilton Ferreira cantaram Pelos, clássico de José Cláudio Machado, o público ouviu aquele trecho “Toca, toca, êra, êra...”, e o teatro quase veio abaixo na mesma hora! O final da apresentação foi ao som de fortes aplausos da platéia”.

           Em meados dos anos 90, experimentei a alegria de freqüentar o Bar Pulperia, na Cidade Baixa, em Porto Alegre, um verdadeiro templo do Nativismo, que recebia grandes músicos gaúchos e oferecia para seus clientes uma culinária gaúcha da melhor qualidade, servida em panelas de ferro e com jeito campeiro. Foi nessa Pulperia que tive oportunidade de assistir uma interpretação que lembro até hoje da música “Poncho Molhado”, na voz e violão de Zé Cláudio. Foi de tal forma marcante essa apresentação que se me perguntarem sobre outras músicas que tenham sido apresentadas naquela noite (quase madrugada), certamente não lembrarei.

           Nesta Tertúlia, público essa bela página da música regional gaúcha, cuja letra foi escrita pelo saudoso poeta de São Borja (RS), José Hilário Ajalla Retamozzo, e musicada pelo compositor de Sananduva (RS), Ewerton dos Anjos Ferreira.

===================================

PONCHO MOLHADO
                                              José Hilário Retamozo/Ewerton Ferreira

Poncho molhado,
O olhar na tropa e no horizonte
Vai o tropeiro, devagar, estrada a fora
A chuva encharca,
Está chovendo desde ontonte
E dentro d'alma, esta demora

Irmão do gado,
Ele se sente nesta hora
E o seu destino, também vai, neste reponte
Igual a tropa, neste tranco, estrada a fora
Sempre encharcado de horizonte

A tropa segue, devagar, mugindo tonta
Talvez pressinta que seu fim é o matadouro
E o tropeiro, entristecido, se dá conta


O boi é bicho, mais tem alma sob o couro
O boi é bicho, mais tem alma sob o couro...

===================================

           Para encerrar esta homenagem simples a esse grande músico, fica sua interpretação para a música “Poncho Molhado”.


           Um grande abraço e até o próximo encontro.

Wilmar Machado

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

ORATÓRIO CAMPEIRO - SANTA LUZIA E OS VEREADORES "APAGADOS"


        
Assim tu caminharás pela estrada dos bons e seguirás as pegadas dos justos,
porque os homens retos habitarão a terra, e os homens íntegros nela permanecerão,
enquanto os maus serão arrancados da terra e os pérfidos dela serão exterminados.
(Livro dos Provérbios 2, 20-22)



Amigas e Amigos,

          Estamos na terceira semana do Advento, primeiro tempo do Ano Litúrgico e que antecede o Natal. Hoje, dia 13 de dezembro, é a Festa de Santa Luzia, da qual o próprio nome nos induz a uma associação com luminosidade.  



         Salvo engano, luz é exatamente o que está faltando na Câmara de Vereadores de Campinas (SP). Não estou falando da iluminação interna do prédio, mas da luz interior de seus ocupantes, os vereadores de uma cidade que – sem merecer e sem escolher – viu seus últimos executivos envolvidos em denúncias e escândalos por corrupção. Conforme a página de Política do portal Estadão (http://www.estadao.com.br), a noite não anda tão “calada” na referida cidade do interior paulista, pois:
Em meio a protesto de eleitores, a Câmara de Campinas aprovou na noite desta segunda-feira, 12, aumento de salário para os parlamentares de 126%. Dos R$ 6,6 mil pagos atualmente, os vencimentos chegarão a R$ 15 mil a partir de 2013, na próxima Legislatura. Dos 33 vereadores, 28 votaram a favor do reajuste e dois contrários — dois parlamentares estavam ausentes. O projeto é de autoria da Mesa Diretora da Câmara. A justificativa do presidente da Casa, Pedro Serafim (PSDB), que não votou, foi de que o reajuste refere-se à correção de todos os anos em que os salários não foram revistos, desde 1994. Durante a sessão, cerca de 200 pessoas assistiram à votação do aumento e protestaram contra o posicionamento dos parlamentares. A Guarda Municipal chegou a usar gás de pimenta para conter os manifestantes.

          Não vi qualquer notícia sobre quem seriam os manifestantes citados na matéria, mas acredito que representavam um número muito significativo de cidadãos campineiros. Devem representar, também, um bom número de trabalhadores assalariados que esperam ver seus salários reajustados por minguados índices não superiores a 1/10 do aumento edílico de 126%. Não estamos livres de, daqui a algum tempo, os abastados vereadores explicarem para os trabalhadores que eles conseguem ganhar muito dinheiro porque não ficam preocupados com picuinhas do tipo estudo e trabalho, pois “quem trabalha não tem tempo para ganhar dinheiro” (antigo aforismo).

         Mas hoje é, como citei no início, o dia de Santa Luzia, ou de Santa Lúcia, cujo significado pode ser traduzido como “a que é luzente como a aurora”, ou seja, a iluminada. A devoção a essa Santa remonta ao século V e os milagres que lhe são atribuídos fazem-na ser vista como uma das santas mais populares, sendo invocada principalmente para interceder na cura de doenças dos olhos ou da própria cegueira. Sobre a vida de Santa Luzia, o portal das Irmãs Paulinas (http://www.paulinas.org.br), diz que:
Luzia pertencia a uma rica família napolitana de Siracusa. Sua mãe, Eutíquia, ao ficar viúva, prometeu dar a filha como esposa a um jovem da Corte local. Mas a moça havia feito voto de virgindade eterna e pediu que o matrimônio fosse adiado. Isso aconteceu porque uma terrível doença acometeu sua mãe. Luzia, então, conseguiu convencer Eutíquia a segui-la em peregrinação até o túmulo de santa Águeda ou Ágata. A mulher voltou curada da viagem e permitiu que a filha mantivesse sua castidade. Além disso, também consentiu que dividisse seu dote milionário com os pobres, como era seu desejo. Entretanto quem não se conformou foi o ex-noivo. Cancelado o casamento, foi denunciar Luzia como cristã ao governador romano. Era o período da perseguição religiosa imposta pelo cruel imperador Diocleciano; assim, a jovem foi levada a julgamento. Como dava extrema importância à virgindade, o governante mandou que a carregassem à força a um prostíbulo, para servir à prostituição. Conta a tradição que, embora Luzia não movesse um dedo, nem dez homens juntos conseguiram levantá-la do chão. Foi, então, condenada a morrer ali mesmo. Os carrascos jogaram sobre seu corpo resina e azeite ferventes, mas ela continuava viva. Somente um golpe de espada em sua garganta conseguiu tirar-lhe a vida. Era o ano 304.

          Neste período político, onde tantas denúncias de corrupção envolvem os poderes instituídos de nossa nação, a sugestão deste Blog é rezarmos para a intercessão de Santa Luzia, para que uma renovada luz possa mostrar a nossos representantes nos Executivos, nos Legislativos e nos Judiciários um novo caminho para o serviço a nosso povo e a nosso país.

================================

ORAÇÃO A SANTA LUZIA

              Ó Virgem admirável,
              Cheia de firmeza e de constância,
              Que nem as pompas humanas puderam seduzir,
              Nem as promessas, nem as ameaças,
              Nem a força bruta puderam abalar,
              Porque soubeste ser o templo vivo
              Do Divino Espírito Santo.
              O mundo cristão vos proclamou
              Advogada da luz dos nossos olhos,
              Defendei-nos, pois de toda moléstia
              Que possa prejudicar a nossa vista.
              Alcançai-nos a luz sobrenatural da fé,
              Esperança e caridade
              Para que nos desapeguemos
              Das coisas materiais e terrestres
              E tenhamos a força para vencer o inimigo
              E assim possamos contemplar-vos
              Na glória celeste.
              Amém!

================================

         Para acompanhar a oração deste dia, deixo abaixo a interpretação dos primos Abel (José Vieira) & Caim (Sebastião Silva) da música “Santa Luzia”, de Yolando Mondine e Dorival Teixeira. Essa música fez parte do primeiro LP da dupla, gravado em 1967.



          Até o próximo Oratório e que a Paz de Cristo permaneça conosco!

Wilmar Machado


segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

ABRINDO A PORTEIRA - O MINISTRO DA HORA



É preciso viver como se pensa,
caso contrário se acabará por pensar como se tem vivido.
(Paul Bourget)




Amigas e Amigos,



          Enquanto a reforma ministerial não chega, faz-se de conta que tudo vai muito bem nestas terras do pau-brasil. Para exemplificar esse “país das maravilhas”, o ministro da hora, ou melhor, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, alvo de acusações de irregularidades, afirma – desde a capital portenha – que essas denúncias já fazem parte de um “episódio superado”. 
         




         O portal G1 (http://g1.globo.com/), com notícia da BBC, informou na última sexta-feira que :

Pimentel está na capital argentina acompanhado do assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, para participar de reunião sobre assuntos comerciais com o país vizinho. 'Eu estou tranquilíssimo, já dei todas as explicações que tinham de ser dadas. Eu tenho certeza de que esse episódio está superado', disse o ministro aos jornalistas brasileiros, ao chegar ao Palácio San Martín, sede do Ministério das Relações Exteriores da Argentina. Questionado se iria ao Congresso Nacional, caso fosse convocado a dar explicações sobre as acusações de irregularidades, Pimentel respondeu: 'acho que não há necessidade, mas evidentemente, se o Congresso convocar, eu tenho que ir, porque a obrigação do ministro é atender às convocações do Congresso'.


 

         Tranquila com as declarações do ministro do Desenvolvimento, a ministra Ideli Salvatti, das Relações Institucionais (seria esse um Ministério da rubrica “pagamento de dívidas eleitorais”?), afirmou hoje que Fernando Pimentel tem a confiança da presidente Dilma. Segundo o portal UOL (http://www.uol.com.br/), a ministra teria dito que:

“Nós temos, em primeiro lugar, o apoio da presidenta. Ele [Pimentel] acompanhou a presidenta em viagem importante, que aconteceu este fim de semana na Argentina. E nós temos a convicção de que o ministro Pimentel tem prestado todos os esclarecimentos. É sempre importante e relevante realçar que ele não estava exercendo nenhum cargo público quando exerceu o seu trabalho de economista prestando consultorias. Ele não era nem ministro nem prefeito. Não era deputado nem senador. Estava exercendo a tarefa profissional dele de economista”.


 

         O portal UOL, para explicar as acusações contra o ministro do Desenvolvimento, faz referência ao jornal “O Globo”, que denunciou o suposto tráfico de influencia do ministro, entre 2009 e 2010, época em que ele prestou consultoria a empresas que acabaram fechando contratos com a prefeitura de Belo Horizonte – onde Pimentel foi prefeito e é aliado do atual prefeito. Nessa época, Pimentel atuava, ainda, na coordenação da campanha eleitoral da candidata Dilma Rousseff. Ainda no referido portal, pode-se encontrar que Otílio Prado, além de sócio do ministro em uma empresa, foi assessor especial de Pimentel na prefeitura de BH e exonerado de seu cargo em dez/2008. Voltou ao cargo dois dias após a exoneração para trabalhar no gabinete do prefeito Maria Lacerda.



         Na sexta-feira passada, o portal Política Hoje (http://www.politicahoje.com.br), disse que o sócio do ministro Pimentel, Otílio Prado, entregou seu cargo na prefeitura de BH para, segundo ele, preservar a imagem do seu amigo ministro. Segundo este portal:
A queda de Otílio se deu após a revelação de que a consultoria P-21 faturou R$ 2 milhões em dois anos, sendo que R$ 400 mil foram pagos pela empresa QA Consulting, que tem entre os sócios um filho de Otílio. Na gestão de Pimentel como prefeito de Belo Horizonte, essa empresa teve contrato com a empresa pública Prodabel (processamento de dados) no valor de R$ 173,8 mil. "Compreendo que a questão assume ares que vão além das questões factuais e não quero de nenhuma forma criar constrangimento indevido à figura do prefeito, pessoa pela qual nutro o maior respeito e reafirmo a minha lealdade, e tampouco causar prejuízo à imagem dessa administração e também à figura do ministro Fernando Pimentel", escreveu ele.

         Não consegui entender como que os mesmos motivos servem, na prefeitura Belo Horizonte, para afastar o assessor especial por suspeita de envolvimento em um suposto tráfico de influência, e no governo federal, para dar tranquilidade a uma ministra que chega ao ponto de afirmar que todos os esclarecimentos estão sendo prestados. A afirmação do jornal “O Globo” sobre a atuação da P-21 poderia ser usada para comprovar um paradoxo semântico dos mais consistentes, por ser rigorosamente verdadeira, em BH, e rigorosamente falsa, no DF, considerando o mesmo tempo?

         Com pesar, registro que a música gaúcha perdeu hoje uma de suas vozes mais marcantes: José Cláudio Machado (1948-2012), que já deve ter encontrado tantos amigos lá na Estância do Alto, cujo capataz, São Pedro, é padroeiro do Rio Grande do Sul. E com Pedro (Gaurá), José Cláudio venceu a Califórnia da Canção Nativa de 1972. Na Tertúlia Nativa desta semana farei uma homenagem especial a este representante da música nativa gaúcha.


         Para concluir esta postagem desta segunda-feira, na expectativa de que ainda possamos ver um país melhor do que nos tem sido oferecido nos últimos anos, a música hoje é de autoria de Zé Mulato, com o título "Dias Melhores". A interpretação dessa querumana é da dupla de irmãos (e amigos do Canto da Terra) Zé Mulato & Cassiano.




         Um grande abraço para todos, com saudades do grande intérprete Zé Cláudio!


Wilmar Machado


PROSA DE DOMINGO - UMA ARROGANTE CONSULESA



A soberba nunca desce de onde sobe,
mas cai sempre de onde subiu.
(Francisco Quevedo)

Amigas e Amigos,

          Hoje não teve o programa Canto da Terra, que volta no próximo domingo, das 10 horas até ao meio-dia, pelo Sistema Nova Aliança de Comunicação. Por conta disso, pude assistir o “Viola, Minha Viola”, com apresentação  de Inezita Barroso, esse ícone da música caipira, e as participações de Neymar Dias, Altemar Dutra Jr. e a dupla Mococa & Paraíso.



         À noite, lendo a revista Veja, na Internet, encontrei que a consulesa de Honduras em Belo Horizonte, conforme informação de Polícia Militar, ameaçou atear fogo em um morador de rua que dormia próximo ao prédio onde ela mora. Como parece que diplomacia em Honduras tem significado distinto do que se imagina por aqui, a distinta senhora está sendo acusada, também, de agredir o citado morador de rua. O portal da revista registra que:
A mulher do cônsul honorário de Honduras em Belo Horizonte, Marília Rodrigues de Pineda, foi acusada de agredir um morador de rua que há alguns dias dorme ao lado do prédio onde ela mora em Belo Horizonte com o marido, Héctor Nery Pineda Mendoza. Segundo a Polícia Militar, a consulesa também teria ameaçado atear fogo na vítima. Ainda de acordo com a PM, a agressão ocorreu no início da noite de sábado, no bairro Funcionários, área nobre da região centro-sul da capital mineira. O morador de rua José Rubens da Silva estaria dormindo há pouco mais de uma semana no local, próximo ao edifício onde vive a família do diplomata. Pela ocorrência, encaminhada à Polícia Federal, a consulesa teria xingado e agredido Silva com a coronha de uma arma. Ela ainda teria ameaçado a vítima para que ela deixasse o local. Segundo a PM, Silva sofreu ferimentos leves. No fim da tarde deste domingo foi feito contato com o Consulado Honorário de Honduras e com a residência do cônsul, mas ninguém atendeu. Na embaixada de Honduras, em Brasília, um funcionário informou que ainda não havia chegado nenhuma notificação sobre o caso. 
         Como a relação de nosso país com Honduras é “regada” a trapalhadas, conforme os desconfortos diplomáticos patrocinados pelo então presidente Lula ao conceder abrigo a Manuel Zelaya – presidente hondurenho destituído em junho de 2009 – na embaixada brasileira em Tegucigalpa, durante mais de quatro meses.

         Outro fato marcante dessa relação diplomática desastrosa foi o incidente envolvendo a consulesa brasileira Francisca Francinete de Melo, que foi barrada no aeroporto Toncontín, da capital Tegucigalpa, em um voo comercial saído de Miami-EUA. Como esse tipo de acidente sempre pode piorar, a consulesa brasileira acabou sendo deportada para os Estados Unidos. 

          Não é difícil imaginar que daqui a pouco se escute – ou se leia em algum rótulo – o Ministério da Saúde advertindo que “relações diplomáticas com Honduras fazem mal a saúde – consuma com moderação”. Fica a dúvida sobre a continuidade da investigação da “tortuosa relação entre a consulesa e o morador de rua que, provavelmente, roncava tão alto que perturbava o descanso da nobre consulesa. Enquanto isso, o Natal está se aproximando...

          Para concluir a prosa de domingo de hoje, escolhi – lembrando da ilustre “dama” hondurenha – a música “A enxada e a caneta”, de Teddy Vieira e Capitão Barduíno, interpreta pela dupla Zico & Zeca, Irmãos de Liu e Léu e primos de Vieira e Vieirinha.




          Um grande abraço e uma ótima semana.


Wilmar Machado