quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

GALERIA SERTANEJA - REINO ENCANTADO SEM MENSALÃO

              

Qualquer idiota pode fazer uma regra e qualquer idiota a seguirá.
(Henry David Thoreau)


Amigas e Amigos,

          A podridão relacionada ao evento do “mensalão” é perceptível por grande maioria dos brasileiros. Digo grande maioria e não ouso generalizar por não ser essa a idéia que tenho da percepção dos ministros do Supremo. Essa restrição está atrelada a toda embromação dedicada pelo STF ao caso, que nos jornais fez por merecer uma espécie de “cenas dos próximos capítulos”, como nas novelas mais antigas.

         Na página “Poder”, do portal Folha de São Paulo (http://www.folha.uol.com.br), o ministro Ricardo Lewandowski, do STF (Supremo Tribunal Federal) afirmou, ontem, que os réus do mensalão terão algumas de suas penas prescritas antes do fim de um julgamento que sequer tem data para ser concluído. Segundo a Folha:
O processo do mensalão no STF tem 38 réus. O ministro relator do caso, Joaquim Barbosa, ainda deve terminar seu relatório. Quando isso ocorrer, Lewandowski deverá revisar o processo. Só então poderá ser marcado o julgamento pelo plenário do STF. "Terei que fazer um voto paralelo ao voto do ministro Joaquim. São mais de 130 volumes. São mais de 600 páginas de depoimentos. Quando eu receber o processo eu vou começar do zero. Tenho que ler volume por volume porque não posso condenar um cidadão sem ler as provas", disse Lewandoski. [...] Questionado sobre as chances de o julgamento do mensalão acabar em 2012, Lewandoski disse: "Não tenho uma previsão clara". Ele também afirmou que "com relação a alguns crimes não há dúvida nenhuma que poderá ocorrer a prescrição". Sobre a possibilidade de alguns réus não terem nenhuma punição, o ministro afirmou que "essa foi uma opção que o Supremo Tribunal Federal fez". Segundo ele, se só os réus com foro privilegiado fossem julgados pelo STF "talvez esse problema da prescrição não existiria por conta de uma tramitação mais célere". O tribunal, no entanto, decidiu incluir em seu julgamento até os réus que não têm cargo eletivo e poderiam ser julgados pela Justiça comum.
         Provavelmente todos ainda lembram que o esquema de compra de votos de parlamentares, ou mensalão, foi o maior escândalo do governo do ex-presidente Lula e foi denunciado em maio de 2005. A Procuradoria Geral da República denunciou os 40 nomes (que também era a quantidade de companheiros ladrões, no Livro das Mil e Uma Noites, na história de Ali Baba), em junho de 2006. E o STF somente começou o julgamento – arrastado ainda hoje – em agosto de 2007.



         Apesar de todo imbróglio, o procurador-geral da República ainda acredita que não haverá prescrições de penas no caso do mensalão, o que poderia levar a confirmação do dito popular que afirma ser todo o otimista um sujeito mal informado. Ainda segundo a Folha, também no dia 14:
Gurgel se disse um "otimista" em relação à previsão inicial de julgamento no primeiro semestre do ano que vem, o que, segundo o procurador, evitaria prescrições inclusive para as penas menores. [...] A prescrição concreta é medida de acordo com a sentença definitiva dada pelo tribunal. No caso de formação de quadrilha, por exemplo, se for aplicada a pena mínima de um ano, a prescrição ocorre quatro anos depois do recebimento da denúncia. A denúncia do mensalão foi recebida pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em agosto de 2007. Gurgel também defendeu a opção de manter todos os réus no processo que tramita no STF, inclusive aqueles sem prerrogativa de foro, o que acabou deixando o processo mais lento.
         O que poderia ser acrescido a opinião do procurador é que o “mais lento” referido está muito próximo do estagnado, que deverá ser o próximo cenário, dado que muitos dos nomes envolvidos continuam com sua vidas normais, sendo eleitos e gastando o dinheiro sorrateiramente obtido. O povo brasileiro continuará pagando seus impostos absurdamente altos para que a corrupção continue grassando em nossos governos, com cada vez mais cargos para amigos e parentes, apesar de alguns discursos dissonantes.

         Na Galeria Sertaneja de hoje, recordo uma música que lembra um “tempo bom que já se foi”, talvez um tempo sem mensalão ou talvez um tempo onde, lembrando Thoreau lá no início desta postagem, menos idiotas ficavam tão apegados a regras elaboradas por quaisquer idiotas. O nome da música é "Meu reino encantado", uma bela obra de Valdemar dos Reis e Vicente Machado, gravada, entre outros por João Mulato & Douradinho, Daniel e Lourenço & Lourival.

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MEU REINO ENCANTADO
                                 Valdemar dos Reis / Vicente Machado


              Eu nasci num recanto feliz

              Bem distante da povoação

              Foi ali que eu vivi muitos anos
              Com papai mamãe e os irmãos
              Nossa casa era uma casa grande
              Na encosta de um espigão
              Um cercado pra apartar bezerro
              E ao lado um grande mangueirão
              
              No quintal tinha um forno de lenha
              E um pomar onde as aves cantava
              Um coberto pra guardar o pilão
              E as traias que papai usava
              De manhã eu ia no paiol
              Um espiga de milho eu pegava
              Debulhava e jogava no chão
              Num instante as galinhas juntava
              
              Nosso carro de boi conservado
              Quatro juntas de bois de primeira
              Quatro cangas, dezesseis canseis
              Encostados no pé da figueira
              Todo sábado eu ia na vila
              Fazer compras para semana inteira
              O papai ia gritando com os bois
              Eu na frente ia abrindo as porteiras.
                            
              Nosso sítio que era pequeno
              Pelas grandes fazendas cercado
              Precisamos vender a propriedade
              Para um grande criador de gado
              E partimos pra a cidade grande
              A saudade partiu ao meu lado
              A lavoura virou colonião
              E acabou-se meu reino encantado
              
              Hoje ali só existem três coisas
              Que o tempo ainda não deu fim
              A tapera velha desabada
              E a figueira acenando pra mim
              E por ultimo marcou saudade
              De um tempo bom que já se foi
              Esquecido em baixo da figueira
              Nosso velho carro de boi.

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           A interpretação de hoje é de João Mulato & Douradinho. O nome de João Mulato é Wilson Leôncio de Melo e ele nasceu em Passos (MG), em 1950. Já o Douradinho da dupla foi utilizado por diversos parceiros de João Mulato e da maioria se tem poucas informações; somente o primeiro é conhecido e ele se chamava Domingos Miguel dos Santos, conhecido como o violeiro Bambico, que nasceu em Umuarama (PR) e morreu em 1982, depois de gravar dois LPs com João Mulato e um trabalho solo. E é esse primeiro Douradinho que canta com João Mulato logo abaixo.


           Um grande abraço e até a próxima!

Wilmar Machado

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