sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

FOGÃO DE LENHA - FICHA MUITO SUJA E UMA COSTELA LIMPA


São tão simples os homens e obedecem tanto às necessidades presentes,
que quem engana encontrará sempre alguém que se deixa enganar.
(Niccolo Maquiavel)



Amigas e Amigos,



         Ontem, 16 de fevereiro de 2012, o Supremo Tribunal Federal (STF), com a lerdice que lhe é inerente, considerou constitucional a Lei Complementar 135/10 – a popular Lei da Ficha Limpa, sancionada em 2010 – por 7 votos a 4. Ao mesmo tempo em que acredito passarmos por um momento muito importante para solidificação da democracia no Brasil, preocupo-me com essa baixa velocidade que permite aos denunciados como responsáveis por crimes rolar e enrolar seus processos enquanto lhes convém.

         Foi apresentada uma relação de políticos pelo site “Congresso em Foco” (http://congressoemfoco.uol.com.br), hoje, barrados pela Lei acima, para as eleições deste ano, como Severino Cavalcanti (PP-PE), Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), Natan Donadon (PMDB-RO), Paulo Octávio (sem partido-DF) e Joaquim Roriz (sem informação de partido-DF). O mais estranho é que Natan Donadon, que poderá ser barrado por sua “ficha suja”, já foi condenado a prisão, mas continua solto e exercendo seu mandato de deputado federal.

         A condução desse fato mostra o distanciamento entre uma decisão judicial e sua aplicação prática. O caso Donadon se arrasta desde 2010, quando o Supremo condenou o deputado e foram decorridos mais seis meses para que, em abril de 2011, fosse publicado o acórdão. Quando se poderia pensar que tudo estava resolvido, os advogados de Donadon entraram com um embargo de declaração para questionar a decisão do STF, o que levou esse recurso para a Procuradoria Geral da República de onde retornou para a ministra relatora somente em junho de 2011. Enquanto isso, e até agora, o réu em questão continua recebendo seus polpudos salários de deputado federal, com direito a um incontável número de “pequenos” adicionais.

         No último dia 14/02, o jornal eletrônico “Rondônia ao Vivo”, destacou que:
Apesar de ter conseguido um recurso de última hora que garantiu mais alguns dias no mandato, o deputado federal Natan Donadon vai ter problemas nesta quarta-feira. A 1ª Vara da Fazenda Pública de Rondônia estará encaminhando ofício a Mesa Diretora da Câmara Federal informando que existe sentença transitada em julgado em Rondônia, determinando a perda da função pública. A ação civil pública 0013457-50.1999.8.22.0001 não é passível de recurso. Resta saber como a Câmara vai proceder.  

         Ao ler a última frase da matéria acima, pensei que o procedimento da Câmara seria o de, pelo menos, afastar o deputado por não haver mais qualquer possibilidade de recurso. Ledo engano, minhas amigas e meus amigos, pois o deputado continua deputado. Fui buscar alguma luz no site “Congresso em Foco”, que acompanha o caso do deputado desde que ele foi condenado a 13 anos de prisão por desviar dinheiro da Assembléia Legislativa de Rondônia através de fraude em licitação. No dia 7/03/2011, o referido site publicava que o deputado continua no cargo, mesmo já condenado à prisão, e destacava sobre possíveis ações da Câmara:
A Constituição diz que nenhum parlamentar pode permanecer no mandato se tiver condenação contra si. Mas a Câmara ampara-se na lei para não afastá-lo. Primeiro, a instituição só cumpre a regra do afastamento depois que se esgotam todas as possibilidades de recurso na Justiça. E, ainda assim, ainda garante ao deputado uma fase de defesa para contra-argumentar a respeito de coisas que já levaram à sua condenação no STF. [...] De acordo com a Constituição e com o artigo 240 do Regimento Interno da Câmara, o deputado deverá ter amplo direito a defesa num processo dentro do Legislativo. Ou seja: apesar do que dispõe a Constituição, a prática lhe garante um novo julgamento na Câmara, com a diferença de que esse último terá, invariavelmente, um caráter político. Primeiro, o presidente da Câmara recebe a comunicação do Supremo. Depois, conforme interpretação de advogados ouvidos pelo Congresso em Foco, ele decide se a Mesa Diretora vai deliberar sobre o caso ou designar um relator para o assunto. Donadon deverá se defender perante a Mesa ou o relator. A decisão do relator ou da Mesa pode ser abrir uma representação contra Donadon ou simplesmente mandar arquivar o caso. Caso a decisão seja abrir uma representação, o caso vai parar na Comissão de Constituição e Justiça, segundo o Regimento Interno. A CCJ vai designar um relator, fazer a instrução do caso, quando serão colhidas provas e será ouvida a defesa de Donadon. O relatório será votado pela CCJ. Se a comissão decidir por dar parecer pela cassação do deputado, aí o caso vai ao plenário da Câmara. No plenário, a votação é secreta. São necessários 257 votos para cassação do mandato do deputado. Ou seja, ao final de uma decisão jurídica do Supremo, Donadon ainda terá a oportunidade de convencer os colegas e ser absolvido em plenário, mantendo-se no cargo.

         Após ler a indecência acima publicada, fiquei pensando se existe algum lugar melhor no mundo para “acomodar” marginais do que a Câmara? Desconheço outro lugar onde bandido condenado – sem qualquer possibilidade de mais algum recurso – pode continuar solto, tranquilamente, e sustentado pelo dinheiro público. Como para eleger um deputado é, aparentemente, suficiente a atuação de um “marqueteiro” e disponibilidade de verba (o que não é problema para os grandes “chefões” da contravenção) para contratá-lo, imagino que logo estarão faltando “cadeiras” para acomodar a marginália.



         Para o Carnaval que já está começando, a sugestão é um prato com sustância para superar a folia com muita resistência. Esse prato, com origem na culinária mais rural, é uma costela ao molho, com mandioca em pedaços, conforme receita abaixo.

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COSTELA COM MANDIOCA

Ingredientes:

1,5 kg de costela bovina magra
1 xícara de vinho branco
5 dentes de alho, cortados em lâminas
1 pimentas dedo-de-moça sem sementes, picada
Manjerona – ou orégano – a gosto
4 colheres (sopa) de óleo
2 cebolas médias, picadas
1 xícara de extrato de tomate
1 tablete de caldo de costela (ou de carne)
1 kg de mandioca sem casca, cortada a gosto
Água quente (quanto necessário)
Sal e pimenta do reino a gosto
1 xícara de cheiro verde, picado




Modo de preparar:

Cortar a costela em pedaços (de acordo com o tamanho do osso).

Em uma tigela grande, misturar o vinho branco com sal, pimenta dedo-de-moça, pimenta do reino, o alho e a manjerona.

Juntar os pedaços de costela a mistura.

Cobrir o recipiente e levar a geladeira.

Deixar marinando por, pelo menos, 2 horas.

Aquecer o óleo em uma panela de ferro (se possível).

Retirar os pedaços de costela do tempero e fritá-los.

Quando a carne estiver dourada, fritar a cebola.

Adicionar o tempero em que a costela ficou marinando.

Dissolver o caldo de costela em uma xícara de água quente.

Acrescentar o caldo e água quente para cozinhar a costela.

Se necessário, colocar mais água quente até a costela amaciar.

Acrescentar a mandioca e, se necessário, corrigir o sal.

Deixar cozinhando até a mandioca estar macia.

Se necessário, colocar mais água quente, cuidando para manter o molho encorpado.

Desligar o fogo e polvilhar o molho com cheiro verde.

Servir imediatamente.



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         A música escolhida para acompanhar a receita de hoje é "Fantasia de Carnavá", de José Fortuna, com a dupla Zé Fortuna & Pitangueira.


 

         Um forte abraço e um bom – e responsável – feriado  de Carnaval!
   

  

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

GALERIA SERTANEJA – O ALEMÃO, O DELEGADO E A PATUSCADA



 

A desordem é sinal de ausência de autoridade.
(Santo Atanásio)


Amigas e Amigos,

O portal G1 (http://g1.globo.com) publicou hoje, no início da tarde, mais uma notícia sobre o churrasco regado a cerveja, com muita música e banhos de piscina, promovidos por detentos da carceragem de uma delegacia do norte do estado do Paraná, no mês de dezembro de 2011.

         No momento em que essa balbúrdia foi divulgada pela RPC TV, no dia 8 de fevereiro, o delegado responsável pela carceragem, Alessandro Luz, disse não ter conhecimento da festa e que abriria um inquérito para apurar se houve ou não falhas de conduta por parte dos funcionários da delegacia. Notícias do dia 10 de fevereiro informaram que o referido delegado fora afastado de suas funções pela Secretária de Segurança Pública do estado.

         Na matéria do G1, hoje, pode-se ter uma idéia um pouco melhor da farra dos marginais realizadas na delegacia de Bandeirantes-PR com dinheiro público, dentro de uma carceragem onde os presos usam aparelhos celulares sem qualquer repressão e onde os responsáveis pelo xilindró não vêem o que acontece, não sabem o que se passa e, mesmo trabalhando, são surpreendidos por notícias televisivas sobre seu ambiente de trabalho. Só está faltando alguém denunciar que o assador e os garçons eram funcionários da delegacia. Diz o citado portal que:
De acordo com a Corregedoria, a piscina que aparece nas imagens foi usada mais de uma vez. Um dos presos disse em depoimento que ela foi comprada pela filha dele. A mangueira que encheu a piscina também entrou clandestinamente na delegacia. A corregedoria disse ainda que a festa mostrada nas imagens foi registrada na véspera do Natal. A cerveja que os presos consumiram entrou escondida em caixas de leite. Agora, a Corregedoria quer desvendar se houve falha dos carcereiros durante a revista das visitas ou se houve facilitação para que todo o material pudesse entrar na cadeia.
         Eu fico imaginando o tamanho da possível falha, investigada pela Corregedoria, conforme a notícia, que permite a entrada em uma prisão de uma piscina de 2 mil litros, de um rolo de mangueira para encher a piscina, de cerveja para uma farra, de aparelho de som (porque festa sem música é muito sem graça), de churrasqueira, carvão e carne para o churrasco e  de celulares para os detentos. E nenhum funcionário percebeu qualquer patuscada até virar notícia em um telejornal.



Nesta Galeria, a letra e música de “O Alemão e o Delegado”, de Luiz de Lara e Bruno Neher, para mostrar que uma delegacia pode ser mais inocente – sem deixar de ser divertida – do que a de Bandeirantes.

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O ALEMÃO E O DELEGADO
Luiz de Lara e Bruno Neher

Delegado de polícia conhecia a profissão
Prá ele não existia um caso sem solução
Até que um certo dia na delegacia entrou
Um alemão bem nervoso e desse jeito falou :

- Eu vim fazer um queixa, acabo de ser roubado
Só quem pode me ajudar é o senhor seu delegado
Enquanto eu trabalhava veja que um tipo qualquer
Entrou lá no meu casa e roubou o meu mulher

O delegado sorriu, desse jeito respondeu:
- Parece até uma piada todo esse problema seu
O senhor deve ser louco, nunca vi ninguém mais bobo
Quando que roubar mulher foi considerado roubo ?

- Oba oba! para ali uma veiz, espera ali seu doutor
É melhor olhar direito nesses livro do senhor
Pois eu não pode entender porque motivo e razon
Quem roubou o meu mulher não possa ir prá prison

Delegado disse assim: Vou explicar a verdade
Saiba que sua mulher não é sua propriedade
Veja se entende bem esta minha explicação
Quem roubou sua mulher, prá lei não é um ladrão

- Oba oba! Já pode parar já de novo
Me responda seu doutor,
De quem é esse relógio aí no pulso do senhor ?
É um relógio bonito muito dinheiro valeu
Como é que o senhor me prova que esse relógio é seu?

O delegado irritado já saindo do normal
Disse: O relógio é meu tenho aqui nota fiscal!
- Há há há bichon! Muito bem seu delegado,
O senhor chegou no ponto que eu queria ter chegado

Eu tenho junto comigo certidão de casamento
Vale mais que essa nota, é um grande documento
Assinada pelo juiz com a benção do vigário
Com diversas testemunhas e registrada em cartório

Aonde o meu mulher jurou comigo ficar
Até o dia em que a morte viesse nos separar
Mas como eu não morri e nem ela está morta
Se vire seu delegado, que eu quero ela de volta!

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A interpretação é do Grupo “Os Três Xirús”.


Um grande abraço e até a próxima!



TERTÚLIA NATIVA – A JUSTIÇA E O CHICO BELEZA




Quando a gente está cansado, dá uma bruta vontade de dizer que sim.
(Millôr Fernandes)



Amigas e Amigos,

Na Tertúlia Nativa, volto a comentar o estilo “caranguejo tupiniquim” de se fazer justiça neste nosso país. O fato que me levou a esse comentário inicial é a ação civil pública impetrada pelo Ministério Público Federal (MPF), em Brasília, para pedir a demissão do ex-procurador-geral de Justiça do DF, Leonardo Bandarra, e da promotora de Justiça, Deborah Guerner, acusados de envolvimento na Operação Caixa de Pandora, esquema de corrupção ligado ao governo do DF e descoberto em 2009.

O jornal O Estado de São Paulo (http://www.estadao.com.br) tem uma matéria na quarta-feira, informando sobre as pessoas citadas acima que:
No ano passado, o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) condenou-os após processo administrativo a perda dos cargos. Os dois foram punidos pelo colegiado por terem violado sigilo funcional de uma operação policial e tentarem receber, pelos dados, vantagem pecuniária de José Roberto Arruda, governador que foi cassado pelo escândalo de corrupção na capital. Eles teriam cobrado uma quantia milionária para não divulgar o vídeo em que Arruda recebe dinheiro ilegal. Além de sugerir a pena de demissão, o CNMP suspendeu Deborah por 60 dias e Bandarra por 150 dias, sem recebimento de salário ou gratificações. Atualmente o ex-procurador-geral de Justiça está suspenso até o dia 24 e a promotora, de licença médica até maio. 
O caso envolvendo os dois havia sido remetido inicialmente para o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, para propor ação. Mas, por se tratar de ação que deve ser ajuizada na primeira instância, Gurgel mandou o caso para lá dia 26 de outubro. A ação contra os dois foi ajuizada na sexta-feira, dia 10. Como foi necessário o empréstimo de provas criminais contra ele, a acusação vai correr sob segredo de Justiça. Com o simples ajuizamento da ação, a dupla sofreu o primeiro revés no bolso. Pela Lei Orgânica do Ministério Público da União, o simples ajuizamento da ação, depois da conclusão de um processo administrativo por conselho superior, é motivo suficiente para o afastamento automático dos dois dos cargos bem como da suspensão dos vencimentos até o julgamento do processo. Por causa da prerrogativa, a ação que pode levar os dois à demissão pode demorar anos. Em São Paulo, um promotor ainda ficou 15 anos no cargo até ser finalmente condenado à demissão pela Justiça. Em Brasília, outro promotor demorou 10 anos até deixar os quadros da instituição.

Depois de toda a transgressão moral propiciada pelo procurador (de encrenca, talvez) e pela promotora (quem sabe, de cenas canastras), é difícil entender como que ainda é utilizado o dinheiro público para sustentar esse tipo de gente. Mais duro, ainda, é imaginar que a “enrolação” pode perdurar por muito mais tempo, conforme a própria matéria adverte lembrando casos onde para tirar dois indivíduos de seus cargos, em situações semelhantes, levou 10 e 15 anos.



         A matéria também informa que os dois “jurisconsultos”, especialistas em baixaria, podem sofrer o primeiro revés no bolso, mas isso só acontecerá se não existir um “jeitinho jurídico” para reverter essa situação. Enquanto isso, veremos muitos desmaios cênicos e ensaios de histerismo. E os Mensalões – do DEM e do PT – entrando na fila do esquecimento, para morrerem de inanição, porque a Justiça não teve “tempo” para avaliá-los.

   
         Os fatos apresentados podem levar a um entendimento de que a justiça pouco trabalha e quando trabalha apronta "cardápios de difícil digestão". Se efetividade e eficácia andam descompassadas dos labores jurídicos, a única forma para melhorar a imagem é aproveitar o tempo momesco e ensaiar alguns "passinhos" na esperança de agradar os espectadores foliões.
   
         Para entender melhor a sugestão acima, a Tertúlia traz a obra “Chico Beleza”, de Catulo da Paixão Cearense, contando a história de um "sambadô". E esse “Cearense” é tão somente um sobrenome, pois Catulo nasceu em São Luís do Maranhão e, ainda adolescente, foi com os pais para o Rio de Janeiro.

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CHICO BELEZA
                                  Catulo da Paixão Cearense

Pulas areia da istrada,
Cum as perna já meia bamba,
Um dispotismo de gente
Vinha cantando num samba,
Fazendo grande berrêro!

Quem puxava a istruvunca
Era o Manué Cachacêro,
O mais grande dos violêro,
Que im todo sertão gimia!

E era ansim que ele cantava
E no canto ansim dizia:
"Diz os véiu de outras éra
que quando São João sintia
sôdade de Jesú Cristo
e de sua cumpanhia,
garrava logo na viola,
prá chorá sua sôdade
e a sua malincunía!
Entonce logo os apóstro,
Assombrando o istruvío,
Cada um seu pé de verso
Cantava no desafío
A Mãe de Cristo chorava
e as água que derramava
da fonte do coração,
caia nas corda santa
da viola de São João!
Pru via disto é que o pinho,
instrumento sem rivá,
quando se põe-se chorando,
se põe-se a gente a chorá".

Foi aí, nesse festêro,
que vi o Chico Sambêro,
um sambadô sem sigundo,
mas porêm feio ,tão feio,
que toda gente dizia
que foi o hôme mais feio
que Deus butou neste mundo!

Tinha cara de preguiça,
cabeça de mono véio,
e pescoço de aribú!
A boca, quando se ria,
taquarmente parecia
a boca de um cangurú!

Tinha as oreias de porco
e os dentes de caitetú!
Tinha barriga de sapo,
e o nariz, impipocado,
figurava um genipapo!

Os braços era taliquá
dois braços sirigaitado
d' um veio tamanduá!
Os óios - dois berimbau!
As pernas finas alembrava
as pernas d' um pica pau!

O queixo de capivara
tinha um bigode pru riba,
que quase tapava a cara!
O cabelo surupinho
era, sem tirá nem pô,
cabelo de porco espinho!

Im conclusão, prá findá,
tinha os dedos de gambá,
os hombros redondo e chato
e os pé que nem pé de pato!

Inda mais prá cumpletá
aquela xeringamança
e feiúra de pagóde,
o hôme quando se ria,
era um cavalo rinchando,
e quando táva suando,
tinha um ôroma de bóde.

Apois bem. Esse raboeza,
que era prú todas as bocas
chamado : Chico Beleza;
esse horríve lobizome,
que era mais feio que a fome,
mais feio que o Demo inté
quando as pernas sacudia,
sambando nargum banzé
enfeitiçando as viola,
apaixonando as muié,
trazia tôda as cabôca,
cumo um capaxo, dibaxo,
das duas sóla do pé!!!



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         Para terminar a Tertúlia, Rolando Boldrin canta (após declamar "Senhor Brasil") a sua música "Vide Vida Marvada".



         Um grande abraço e até a próxima!

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

ORATÓRIO CAMPEIRO – VÍCIOS DISTRITAIS




E Deus disse a Salomão:
“Manifestaste o desejo do teu coração: não pediste fortuna, riquezas ou glória,
nem a morte dos inimigos ou muitos anos de vida, mas sabedoria e conhecimento
para poderes governar meu povo sobre o qual te constituí rei.


Amigas e Amigos,

Na leitura matinal da edição impressa do Correio Braziliense, hoje, chamou-me a atenção, na página 14, a coluna “Visão do Correio” com o título “Distritais aumentam gastos pessoais”, que parecia trazer uma reflexão sobre o grande desperdício de dinheiro público provocado pela existência da Câmara Distrital – opinião que não consigo qualquer argumento para discordar. A referida coluna inicia dizendo que:
Surpreende a capacidade da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) de tomar decisões capazes de indignar o eleitor. A mais recente se refere ao reajuste de 77,77% no valor da verba indenizatória dos distritais. Com a iniciativa aprovada pela Mesa Diretora, cada deputado tem à disposição R$ 20 mil mensais para gastar com divulgação, combustível, consultoria, aluguel de carro e outras despesas que julgar necessárias. A mordomia tem custo alto: R$ 5,5 milhões por ano. São recursos que faltam aos setores que educam, curam e salvam vidas.

Pensei em registrar minha indignação dizendo que um aumento de quase 80% no salário indireto (ou pseudodisfarçado) dos deputados “é brincadeira”, o que não achei que traduz bem minha idéia. Acredito que será melhor substituir a expressão entre aspas por “é bandalheira”, e das grandes. É reflexo do completo descaso existente nos poderes que regem o Distrito Federal em relação a educação, a saúde e a segurança da população. Somente esse descaso permite entender como essa bandalheira dos deputados sequer incomoda os demais poderes.

Pensando no quanto não foi feito desde a criação desses “cabides” de emprego chamado CLDF, fica ainda mais difícil digerir a informação encontrada em outra parte da citada coluna do Correio onde diz que:
A superestrutura posta à disposição do parlamentar faz inveja a instituições semelhantes existentes mundo afora. Cada gabinete tem direito de abrigar 23 funcionários, contratados segundo a escolha do distrital sem obrigatoriedade de obedecer a critérios técnicos. A lotação custa aos cofres públicos nada menos de R$ 97,2 mil mensais. A CLDF despende R$ 109 mil por dia para manter as regalias.

         Acredito que só não temos maiores informações sobre danos ocorridos por cabeças se batendo dessa enorme quantidade de funcionários desqualificados porque, provavelmente, o corpo nem se preocupa em aparecer para trabalhar, pois a falta de capacitação técnica pode ser usada como desculpa para não fazer nada. Para receber o salário, como o crédito é em uma conta previamente informada, o funcionário se apresenta (no Banco).

         Os poderes constituídos são importantes para o efetivo exercício da democracia, mas quando os poderes apresentam os vícios de origem – e de continuidade – apresentados no Distrito Federal, torna-se difícil justificá-los, mesmo pensando da forma mais democrática possível. Para caracterizar isso, em outro trecho da referida coluna do Correio, li que:
Nosso Legislativo nasceu com os vícios das gaiolas de ouro espalhadas pelos 26 estados. Entre eles, nepotismo, legislação em causa própria, servidores fantasmas, medidas contrárias às necessidades da capital, iniciativas que estimulam invasões de terra, comprometem o meio ambiente, sobrecarregam o equipamento urbano. A democracia, vale repetir, é importante demais para ser deixada em mãos de quem se esquece das próximas gerações para pensar na própria eleição.

    Talvez o exacerbado interesse pela própria, ou pela próxima, eleição não permita que tenhamos segurança pública para nossa tranqüilidade, nem educação com escolas adequadas e professores remunerados com salários dignos, e nem saúde com atendimento que não irritem os usuários. Mas imaginemos que oferecer dignidade para os cidadãos impactaria negativamente os imprescindíveis 77,77% (de onde tiraram essa possível dízima periódica?) tão necessários para os tais “distritais”.
     Esquecendo um pouco os problemas particulares da capital federal, lembro que hoje é dia de dois santos irmãos: o monge São Cirilo e o bispo São Metódico, nascidos na Macedônia e educados em Constantinopla, onde Cirilo se destacou como importante mestre da Universidade, o que lhe conferiu o título de Patrono dos Professores do Grau Elementar. Quando aderiram a vida religiosa, foram pregar o evangelho na Hungria, onde desenvolveram um alfabeto eslavo, o cirílico, que lhes permitiu traduzir a Bíblica, os livros litúrgicos e os livros catequéticos. Esses trabalhos embasarem toda a literatura eslava e fez deles os pais dessa cultura.



       São Cirilo e São Metódio foram declarados com os “Apóstolos dos Eslavos” e proclamados – juntamente com São Bento – por João Paulo II (1980) como os “Patronos da Europa”. Neste Oratório Campeiro, como sugestão para inspirar as orações da semana, deixo a Oração feita por São Cirilo ao perceber que o dia de sua morte se aproximava.

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ORAÇÃO DE SÃO CIRILO

Senhor Deus,
Tu que criaste o coro dos anjos
E todas as potências celestes,
Tu que levastes todas as coisas
Do não-ser para a vida,
Escutas sempre as orações
Daqueles que fazem tua santa vontade
E, no temor de ti,
Respeitam os mandamentos.
Escuta, Senhor, minha humilde oração:
Protege o rebanho dos fiéis que confiaste a mim,
Que sou teu humilde e indigno servo.
Livra-os da malícia ímpia e pagã
Daqueles que blasfemam contra ti,
Destrói a heresia das três línguas
Faz crescer a tua Igreja
E conserva-a fortemente unida.
Une o teu povo na profissão da fé,
Inflama o coração dele pela verdade da tua Palavra.
Tu nos concedeste uma graça imensa
Chamando-nos para proclamar o Evangelho de Cristo
E o teu povo está pronto
Para concluir a tua obra de bondade.
Eu coloco nas tuas mãos os que me confiaste –
Guia-os com tua poderosa mão direita
E protege-os para que todos cantem o teu louvor
E glorifiquem o teu santo nome
Pai, Filho e Espírito Santo.
Amém!


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Para acompanhar a oração escolhida, lembrando que os santos de hoje eram irmãos, vamos ouvir o saudoso Padre Léo cantar “Na taipa do fogão”, que nos remete para um verdadeiro marco de reuniões familiares nas regiões rurais de todo o país.


Com votos de uma ótima semana, que a Paz de Cristo permaneça conosco!

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

ABRINDO A PORTEIRA - E SE FOSSE HOJE?



Experimentai a felicidade da dedicação e entrega,
a felicidade da modéstia e simplicidade e a felicidade da cooperação e solicitude!
Nenhum outro caminho vos conduz tão rápida e tão seguramente
no sentido do conhecimento da unicidade e sacralidade da vida!
(Herman Hesse)



Amigas e Amigos,

         Mais uma segunda-feira, abrindo a porteira para mais uma semana. O comentário de hoje está associado a uma matéria da Folha de São Paulo (http://www.folha.uol.com.br), de hoje, onde é feita referência a um texto – sobre um livro que faz sucesso ao listar arrependimentos de doentes terminais – publicado no site do jornal “The Guardian”, no dia 1º de fevereiro, com grande repercussão internacional.

         Na Folha, pode-se encontrar que:
Nada de desejos como pular de paraquedas ou visitar as pirâmides. Pessoas que estão prestes a morrer arrependem-se de ter trabalhado demais, não ter encontrado tempo para os amigos ou de ter deixado de viver a vida que, de fato, sonhavam. Pelo menos é o que retrata a enfermeira australiana Bronnie Ware, especializada em cuidados paliativos, no livro "The Top Five Regrets of the Dying" ("Os Cinco Maiores Arrependimentos à Beira da Morte", em tradução livre).
         Sites que comercializam o livro dizem que a autora – Bronnie Ware – buscou um trabalho que lhe trouxesse alegria ao coração após muitos anos de trabalho que não lhe satisfaziam. Mesmo sem formação ou experiência, dedicou longos anos de sua vida ao cuidado de pacientes terminais, o que acabou transformando sua própria existência. Para apresentar os arrependimentos que lhe eram expressos por aqueles que ela acompanhava, criou um blog na Internet, que acabou acessado por mais de três milhões de pessoas do mundo inteiro.







         No livro “The Top Five Regrets of the Dying: A Life Transformed by the Dearly Departing” – segundo a autora, uma consequência de solicitações dos leitores de seu blog – Bronnie  compartilha sua própria história pessoal, na tentativa de mostrar seu entendimento possibilidade de se fazer as escolhas certas para encontrar a paz de espírito antes da morte.

          A Folha apresenta um gráfico em que aparece a citação dos cinco maiores arrependimentos para antes da morte. No “The Guardian”, do dia 1º de fevereiro, esses cinco “pesares” testemunhados por Bronnie estão mais detalhados e, num pequeno resumo, são eles:
·        Eu gostaria de ter tido a coragem de viver uma vida fiel a mim mesmo, e não a vida que os outros esperavam de mim (quando as pessoas percebem que sua vida está quase no fim e olham para trás, percebem mais claramente quantos sonhos ficaram por realizar);
·        Eu desejaria não ter trabalhado tanto (testemunho dos pacientes que perceberam ter perdido a juventude de seus filhos e companheirismo da/o parceira/o);
·        Eu gostaria de ter tido a coragem de expressar meus sentimentos (as pessoas se vêem em uma existência medíocre por abafarem seus sentimentos, preocupados em uma convivência pacífica com outros);
·        Eu gostaria de ficado mais tempo com meus amigos (manifestação de arrependimentos profundos em relação ao pouco esforço e dedicação de tempo a amizades que, acreditam, mereceriam); e
·        Eu desejaria ter-me feito mais feliz (muitos, presos a velhos padrões e hábitos, não percebem que a felicidade é uma escolha pessoal).

Ainda conforme as reportagens, a autora afirmou que: "As pessoas amadurecem muito quando precisam enfrentar a morte e experimentam uma série de emoções que inclui negação, medo, arrependimento e, em algum momento, aceitação". É importante deixar bem claro que Bronnie trabalhava com pacientes terminais, com câncer, e em suas últimas semanas. Deixo tudo isso bem claro para, conforme o “The Guardian” perguntar para você que está lendo: Qual seria seu último arrependimento se hoje fosse seu último dia de vida?

         Para acompanhar a sua reflexão com a questão deixada acima, escolhi a música “A Vida do Viajante”, de Luiz Gonzaga e Hervê Cordovil, interpretada por Maria Dapaz (que eu admiro desde que ainda era Maria da Paz), no CD que carregou essa música como título e foi indicado ao Grammy Latino, como Melhor CD Regional, em setembro de 2004, em Los Angeles.



Um grande abraço e até a próxima!