Quando
a gente está cansado, dá uma bruta vontade de dizer que sim.
(Millôr
Fernandes)
Amigas e Amigos,
Na Tertúlia Nativa, volto a comentar o estilo “caranguejo
tupiniquim” de se fazer justiça neste nosso país. O fato que me levou a esse
comentário inicial é a ação civil pública impetrada pelo Ministério Público
Federal (MPF), em Brasília, para pedir a demissão do ex-procurador-geral de
Justiça do DF, Leonardo Bandarra, e da promotora de Justiça, Deborah Guerner,
acusados de envolvimento na Operação Caixa de Pandora, esquema de corrupção
ligado ao governo do DF e descoberto em 2009.
O jornal O Estado de
São Paulo (http://www.estadao.com.br)
tem uma matéria na quarta-feira, informando sobre as pessoas citadas acima que:
No ano passado, o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) condenou-os após processo administrativo a perda dos cargos. Os dois foram punidos pelo colegiado por terem violado sigilo funcional de uma operação policial e tentarem receber, pelos dados, vantagem pecuniária de José Roberto Arruda, governador que foi cassado pelo escândalo de corrupção na capital. Eles teriam cobrado uma quantia milionária para não divulgar o vídeo em que Arruda recebe dinheiro ilegal. Além de sugerir a pena de demissão, o CNMP suspendeu Deborah por 60 dias e Bandarra por 150 dias, sem recebimento de salário ou gratificações. Atualmente o ex-procurador-geral de Justiça está suspenso até o dia 24 e a promotora, de licença médica até maio.
O caso envolvendo os dois havia sido remetido inicialmente para o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, para propor ação. Mas, por se tratar de ação que deve ser ajuizada na primeira instância, Gurgel mandou o caso para lá dia 26 de outubro. A ação contra os dois foi ajuizada na sexta-feira, dia 10. Como foi necessário o empréstimo de provas criminais contra ele, a acusação vai correr sob segredo de Justiça. Com o simples ajuizamento da ação, a dupla sofreu o primeiro revés no bolso. Pela Lei Orgânica do Ministério Público da União, o simples ajuizamento da ação, depois da conclusão de um processo administrativo por conselho superior, é motivo suficiente para o afastamento automático dos dois dos cargos bem como da suspensão dos vencimentos até o julgamento do processo. Por causa da prerrogativa, a ação que pode levar os dois à demissão pode demorar anos. Em São Paulo, um promotor ainda ficou 15 anos no cargo até ser finalmente condenado à demissão pela Justiça. Em Brasília, outro promotor demorou 10 anos até deixar os quadros da instituição.
Depois de toda a transgressão moral propiciada pelo
procurador (de encrenca, talvez) e pela promotora (quem sabe, de cenas
canastras), é difícil entender como que ainda é utilizado o dinheiro público
para sustentar esse tipo de gente. Mais duro, ainda, é imaginar que a “enrolação”
pode perdurar por muito mais tempo, conforme a própria matéria adverte
lembrando casos onde para tirar dois indivíduos de seus cargos, em situações
semelhantes, levou 10 e 15 anos.
A matéria também
informa que os dois “jurisconsultos”, especialistas em baixaria, podem sofrer o
primeiro revés no bolso, mas isso só acontecerá se não existir um “jeitinho
jurídico” para reverter essa situação. Enquanto isso, veremos muitos desmaios
cênicos e ensaios de histerismo. E os Mensalões
– do DEM e do PT – entrando na fila do esquecimento, para morrerem de inanição,
porque a Justiça não teve “tempo” para avaliá-los.
Os fatos apresentados podem levar a um entendimento de que a justiça pouco trabalha e quando trabalha apronta "cardápios de difícil digestão". Se efetividade e eficácia andam descompassadas dos labores jurídicos, a única forma para melhorar a imagem é aproveitar o tempo momesco e ensaiar alguns "passinhos" na esperança de agradar os espectadores foliões.
Para entender
melhor a sugestão acima, a Tertúlia traz a obra “Chico Beleza”, de Catulo da
Paixão Cearense, contando a história de um "sambadô". E esse “Cearense” é tão somente um sobrenome, pois Catulo
nasceu em São Luís do Maranhão e, ainda adolescente, foi com os pais para o Rio
de Janeiro.
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CHICO BELEZA
Catulo da
Paixão Cearense
Pulas areia da istrada,
Cum as perna já meia bamba,
Um dispotismo de gente
Vinha cantando num samba,
Fazendo grande berrêro!
Cum as perna já meia bamba,
Um dispotismo de gente
Vinha cantando num samba,
Fazendo grande berrêro!
Quem puxava a istruvunca
Era o Manué Cachacêro,
O mais grande dos violêro,
Que im todo sertão gimia!
Era o Manué Cachacêro,
O mais grande dos violêro,
Que im todo sertão gimia!
E era ansim que ele cantava
E no canto ansim dizia:
"Diz os véiu de outras éra
que quando São João sintia
sôdade de Jesú Cristo
e de sua cumpanhia,
garrava logo na viola,
prá chorá sua sôdade
e a sua malincunía!
que quando São João sintia
sôdade de Jesú Cristo
e de sua cumpanhia,
garrava logo na viola,
prá chorá sua sôdade
e a sua malincunía!
Entonce logo os apóstro,
Assombrando o istruvío,
Cada um seu pé de verso
Cantava no desafío
Assombrando o istruvío,
Cada um seu pé de verso
Cantava no desafío
A Mãe de Cristo chorava
e as água que derramava
da fonte do coração,
caia nas corda santa
da viola de São João!
Pru via disto é que o pinho,
instrumento sem rivá,
quando se põe-se chorando,
se põe-se a gente a chorá".
e as água que derramava
da fonte do coração,
caia nas corda santa
da viola de São João!
Pru via disto é que o pinho,
instrumento sem rivá,
quando se põe-se chorando,
se põe-se a gente a chorá".
Foi aí, nesse festêro,
que vi o Chico Sambêro,
um sambadô sem sigundo,
mas porêm feio ,tão feio,
que toda gente dizia
que foi o hôme mais feio
que Deus butou neste mundo!
que vi o Chico Sambêro,
um sambadô sem sigundo,
mas porêm feio ,tão feio,
que toda gente dizia
que foi o hôme mais feio
que Deus butou neste mundo!
Tinha cara de preguiça,
cabeça de mono véio,
e pescoço de aribú!
cabeça de mono véio,
e pescoço de aribú!
A boca, quando se ria,
taquarmente parecia
a boca de um cangurú!
taquarmente parecia
a boca de um cangurú!
Tinha as oreias de porco
e os dentes de caitetú!
Tinha barriga de sapo,
e o nariz, impipocado,
figurava um genipapo!
Os braços era taliquá
dois braços sirigaitado
d' um veio tamanduá!
Os óios - dois berimbau!
As pernas finas alembrava
as pernas d' um pica pau!
dois braços sirigaitado
d' um veio tamanduá!
Os óios - dois berimbau!
As pernas finas alembrava
as pernas d' um pica pau!
O queixo de capivara
tinha um bigode pru riba,
que quase tapava a cara!
O cabelo surupinho
era, sem tirá nem pô,
cabelo de porco espinho!
Im conclusão, prá findá,
tinha os dedos de gambá,
os hombros redondo e chato
e os pé que nem pé de pato!
tinha os dedos de gambá,
os hombros redondo e chato
e os pé que nem pé de pato!
Inda mais prá cumpletá
aquela xeringamança
e feiúra de pagóde,
o hôme quando se ria,
era um cavalo rinchando,
e quando táva suando,
tinha um ôroma de bóde.
aquela xeringamança
e feiúra de pagóde,
o hôme quando se ria,
era um cavalo rinchando,
e quando táva suando,
tinha um ôroma de bóde.
Apois bem. Esse raboeza,
que era prú todas as bocas
chamado : Chico Beleza;
esse horríve lobizome,
que era mais feio que a fome,
mais feio que o Demo inté
quando as pernas sacudia,
sambando nargum banzé
enfeitiçando as viola,
apaixonando as muié,
trazia tôda as cabôca,
cumo um capaxo, dibaxo,
das duas sóla do pé!!!
que era prú todas as bocas
chamado : Chico Beleza;
esse horríve lobizome,
que era mais feio que a fome,
mais feio que o Demo inté
quando as pernas sacudia,
sambando nargum banzé
enfeitiçando as viola,
apaixonando as muié,
trazia tôda as cabôca,
cumo um capaxo, dibaxo,
das duas sóla do pé!!!
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Para
terminar a Tertúlia, Rolando Boldrin canta (após declamar "Senhor Brasil") a sua música "Vide Vida Marvada".
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