sábado, 2 de junho de 2012

GALERIA SERTANEJA – PROPAGANDA ELEITORAL. FORTUITA?



O que me impressiona, à vista de um macaco, não é que ele tenha sido nosso passado:
é este pressentimento de que ele venha a ser nosso futuro.
(Mário Quintana)




Amigas e Amigos,


Se na última semana fomos levados a refletir sobre os atentados ao estado democrático de direito levados a termo, conforme foi noticiado, pelo ex-presidente Lula em seu amigável encontro com o ministro Gilmar Mendes, essa semana parece trazer uma situação mais grave ainda. Falo aqui do aparente desafio à própria justiça com a repetição de personagem.



O portal Folha.com, publicou ontem que uma matéria sobre a transformação do Programa do Ratinho em um palanque para o candidato Haddad, em um momento em que ainda não é permitida a propaganda eleitoral. Diz o portal que:
A participação do ex-presidente Lula no "Programa do Ratinho", do SBT, se transformou em um palanque eleitoral para o pré-candidato petista em São Paulo, Fernando Haddad. "São Paulo preciesa ter alguém que tenha o entusiasmo que ele teve quando era ministro", disse o ex-presidente, ao explicar porque indicou Haddad. Em sua primeira aparição em um programa de televisão após a descoberta do câncer na laringe, Lula ficou no ar por mais de 40 minutos. [...] Na metade da participação, Haddad foi convidado por Ratinho a subir ao palco para falar. "A população votará no novo porque a população de São Paulo quer mudança", disse o ex-ministro, que ainda falou de sua gestão na Educação. O começo do programa, porém, foi marcado por uma gafe de Lula. Ao fazer referência a Haddad, Lula disse que o ex-ministro deve ser torcedor do Santos. O pré-candidato respondeu que seu time do coração, na verdade, é o São Paulo. [...] O ex-presidente afirmou que foi ao programa por conta da amizade que tem com o apresentador. "Perguntam por que escolheu o Ratinho. Porque já comi rabada na casa dele e ele na Granja do Torto", disse Lula.

          Provavelmente, sem um estudo mais detalhado e aprofundado, poucos conseguirão justificativa melhor para escolher um programa – de rádio ou televisão – do que a degustação de uma rabada. Dispensando maiores considerações sobre a “embasada” justificativa e o atentado contra a Lei eleitoral, fica a dúvida sobre a opção do candidato Haddad de recordar a sua desastrosa atuação – coroada pelas confusões no Enem (Exame Nacional de Ensino Médio) – como gestor da educação, enquanto esteve ministro. Seria propaganda ou “tiro no pé” do candidato?

Por conta do conluio entre Lula e Ratinho (não se trata de antropomorfismo), o PPS vai recorrer a Justiça Eleitoral, conforme noticiado ontem pelo Valor Econômico, que informou:
O diretório estadual do PPS em São Paulo vai recorrer à Justiça Eleitoral contra a exibição da entrevista do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva e do pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, para "Programa do Ratinho", do SBT. O partido alega que na entrevista, realizada na quinta-feira, ficou caracterizada a propaganda eleitoral antecipada. Em nota, o presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), afirmou que Lula dá uma demonstração "de seu total desprezo pelas leis e pelo Estado de Direito". Freire diz que Lula não tentou "fingir seu claro propósito" de fazer propaganda eleitoral antecipada em favor de Haddad. "O diretório do PPS de São Paulo está ingressando com medida judicial no TRE para que mais uma desfaçatez do ex-presidente Lula seja exemplarmente punida. A igualdade entre os candidatos a prefeito está ameaçada. Esperamos que a Justiça Eleitoral cumpra o seu papel com o rigor que o caso exige", declarou Freire no texto. "O que o ex-presidente e seu candidato - com o auxílio do SBT - fizeram é um ilícito eleitoral. A lei não permite que um pré-candidato, acompanhado de seu principal cabo eleitoral, transforme um programa de televisão em um palanque de campanha", continuou. O parlamentar também faz críticas ao dono da emissora, Silvio Santos, "pelo favor prestado ao PT". O presidente do PPS ressaltou o fato de a entrevista ter sido transmitida em um canal aberto de televisão - uma concessão pública. "Nunca é demais lembrar, e por isso é tudo tão previsível, que o senhor Sílvio Santos - o célebre dono do canal de televisão em tela ex-controlador do Banco Panamericano - quisesse agraciar o ex-presidente que tanto o ajudou", disse. Freire fez referência à crise desencadeada em 2010 com as notícias de que o Banco Panamericano vendeu carteiras de crédito para outras instituições financeiras, mas continuou contabilizando esses recursos como parte do seu patrimônio. O Fundo Garantidor de Crédito (FGC) do governo cobriu à época parte do rombo do Panamericano e viabilizou sua venda para o BTG Pactual.

Fica parecendo – como não existe certeza sobre o adiamento do mensalão, apesar de todas e desesperadas tentativas que estão sendo buscadas de formas com licitude, pelo menos, duvidosa – que já existe alguma preocupação com o impacto que o resultado daquele julgamento poderá provocar nas campanhas dos candidatos relacionados aos réus que porventura venham a ser condenados.

Como nem sempre as vozes do poder nos permitem entender o que se fala nesses meios, essa Galeria Sertaneja traz “Vozes Rurais”, sempre mais diretas e sinceras do que outras vozes citadas. “Vozes Rurais” é uma composição de João de Almeida de Neto.



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VOZES RURAIS
                                  João de Almeida Neto


Cada vez que um campeiro abre o peito
Num galpão interior que ele traz
Quem não quer o Rio Grande cantando
Com razões sem sentidos desfaz


Mas no meio de tantos estranhos

Momentistas e circunstanciais
Surge o forte refrão das campanhas
Entoado por vozes rurais



Dê-lhe boca essas bocas cantoras

Redentora da voz dos galpões
Dê-lhe pata e desata esse brado
Dos sagrados rituais dos fogões



E entre cantos que negam e fogem

Aos atávicos tons musicais
Estão eles de bota e bombacha
Sustentando os padrões culturais



Que não falte coragem a esses homens

Contra o tempo agüentando o repuxo
E que a estranhas tendências imponham
O autêntico canto gaúcho


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         Na Galeria Sertaneja de hoje, vamos ouvir “Vozes Rurais” com o seu autor, João de Almeida Neto.

 

         Um grande abraço e até a próxima!

quarta-feira, 30 de maio de 2012

ORATÓRIO CAMPEIRO – DROGA LEGAL. SERÁ “LEGAL”?


Ninguém te menospreze por seres jovem.
De tua parte, procura ser para os que crêem um exemplo,
pela palavra, pelo modo de proceder, pelo amor, pela fé, pela castidade.

(I Timóteo 4,12)






Amigas e Amigos,


Neste dia dedicado a Santa Úrsula Ledochowska – fundadora da Ordem das Irmãs Ursulinas do Sagrado Coração Agonizante, que tem entre suas finalidades dar assistência aos jovens abandonados – nos deparamos com uma proposta dos juristas integrantes da comissão que elabora o novo Código Penal para descriminalizar o uso e plantio de drogas.



Segundo o portal Folha.com:
Hoje, o consumo de drogas já não é crime, mas é muito raro que alguém faça isso sem também praticar uma das outras condutas criminalizadas: cultivar, comprar, portar ou manter a droga em depósito. A pena aplicada nesses casos não é de prisão. O acusado pode receber uma advertência sobre os efeitos das drogas, ser obrigado a prestar serviços à comunidade e a comparecer a curso educativo. Ele também tem o antecedente registrado. Se as propostas dos juristas forem aprovadas pelo Congresso, essas condutas também deixam de ser crime.

Chama a atenção que comprar não será crime, ainda que vender possa ser considerado como tal, mas o vendedor terá um forte argumento para aumentar seus negócios, pois o usuário poderá ser convencido a realizar uma transação comercial que não lhe oferece riscos. Um bom projeto marquetológico multiplicará os nichos para esse tipo de negócio.

Como já foi previsto pelos especialistas que poderia haver confusão entre o usuário e o traficante, deixaram tudo “claro” na nova proposta, conforme se pode observar na continuação da matéria no portal da Folha:
Para fazer essa diferenciação, a comissão estabeleceu que quem for pego com o equivalente a cinco dias de consumo será considerado usuário. Como a quantidade média diária de uso varia conforme o tipo de droga, o texto aponta que deverão ser seguidas definições da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Procurados, a Anvisa, a Polícia Federal e o Ministério da Justiça informaram que não existe, hoje, a avaliação do que seria essa média diária de consumo por tipo de droga. A comissão também propôs reduzir a pena máxima para o preso por tráfico: dos atuais de cinco a 15 anos de prisão para de cinco a dez anos.

Dada a quantidade de interpretações permitidas para o assunto a partir desse projeto, é fácil imaginar que os traficantes estejam se preparando para o boom que terão em suas principais atividades, parcialmente legalizadas e com outra parte sujeita a discussões jurídicas. Como estímulos extras, ainda receberão uma considerável redução nas penas que, na maioria das vezes, sequer cumprem.

Sobre a polêmica provocada pela proposta, o portal do Estadão apresenta a seguinte informação:
Não há consenso entre criminalistas e especialistas no combate ao uso de drogas a respeito da aplicabilidade do novo artigo, especialmente porque ele não deixa claro o que vai diferenciar um usuário e um pequeno traficante.  Para quem lida com as complicações da droga no dia a dia, o efeito pode ser contrário. "Só quem não tem problema de drogas na família pode aprovar uma loucura dessas. Em São Paulo, o tráfico já é o primeiro crime cometido por adolescentes, e a tendência é só crescer. Se o Brasil libera o consumo, terá de liberar também a venda. Como é que vou permitir à pessoa usar, se não pode comprar? Não faz sentido", diz o promotor da Infância e Juventude Tales César de Oliveira.

Se o tema já está provocando algum tumulto, imagine depois do projeto passar pelo crivo dos legisladores especialistas e representantes dos cidadãos brasileiros no Congresso.

Como sugestão de oração para esta 8ª Semana do Tempo Comum, fica o pedido da intercessão de Santa Úrsula Ledochowska, que foi ativa educadora e criadora de um novo estilo de apostolado, voltado para os mais carentes. Madre Úrsula Ledochowska nasceu em 17 de abril de 1865 no seio de uma família polonesa residente na Áustria, foi batizada como Júlia Ledochowska e adotou Úrsula quando de seus votos definitivos no Convento das Irmãs Ursulinas da Cracóvia. Morreu no dia 29 de maio de 1939 e o Papa João Paulo II, que a canonizou, disse ser seu devoto.

        
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ORAÇÃO

Ó Deus!

Que pelo amor ao ser humano,

Fizeste brilhar no mundo

A força de Santa Úrsula Ledochowska.

Fazei-nos recorrer à sua proteção

E encontrar motivos para dispensar nossos dias

Ao serviço dos mais abandonados.

Por Cristo, Nosso Senhor,

Amém!

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         A música escolhida para este Oratório é "No meu interior tem Deus", do Padre Fábio de Melo, interpretada pelo próprio autor.

 


Uma Santa e Abençoada semana e que a Paz de Cristo permaneça conosco!

segunda-feira, 28 de maio de 2012

ABRINDO A PORTEIRA – POLÍTICA COM JEITO DE NOVELA


Há muito poucas repúblicas no mundo,
e mesmo assim elas devem a liberdade aos seus rochedos ou ao mar que as defende.
Os homens só raramente são os dignos de se governar a si mesmos.
(Voltaire)





Amigas e Amigos,


A nota triste deste fim de semana passado foi, para os que acreditam em democracia, a “proposta” apresentada pelo ex-presidente Lula ao ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na absurda – e parece que na moda – tentativa de adiar o julgamento do mensalão.


O portal Folha.com, ao abordar esse inusitado encontro, informou, no dia 26/05, que:
Em troca da ajuda, Lula ofereceu ao ministro, segundo reportagem da revista "Veja" publicada neste fim de semana, blindagem na CPI que investiga as relações do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com políticos e empresários. Mendes confirmou hoje (26) à Folha o encontro com Lula e o teor da conversa revelada pela revista, mas não quis dar detalhes. "Fiquei perplexo com o comportamento e as insinuações despropositadas do presidente Lula", afirmou o ministro. O encontro aconteceu em 26 de abril no escritório de Nelson Jobim, ex-ministro do governo Lula e ex-integrante do Supremo. Lula disse ao ministro, segundo a revista, que é "inconveniente" julgar o processo agora e chegou a fazer referências a uma viagem a Berlim em que Mendes se encontrou com o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), hoje investigado por suas ligações com Cachoeira. Membro do Ministério Público, Demóstenes era na época um dos principais interlocutores do Poder Judiciário e de seus integrantes no Congresso Nacional.
Lembro do provérbio que sentencia “quem não deve, não teme” para algumas considerações. Parece-me que, se de fato, a quadrilha do mensalão não existe, quanto mais cedo tudo for esclarecido, melhor para todos os envolvidos. Outra observação é sobre as variações de carros-fortes surgidas no tempo das denúncias, como malas, cuecas e outras tantas formas filmadas e fotografadas, pois se esses “transportes” foram obras do imaginário alucinatório de boa parte da população, basta que tudo fique esclarecido para não se ter mais qualquer dúvida.

Se a figura máxima do PT, um partido que em longo tempo de oposição cresceu pautado na ética, é informada de uma ligação suspeita entre um ministro, um senador e um bicheiro e busca tirar proveito dessa relação em vez de esclarecê-la, parece que a ética de outros tempos serviu para chegar ao poder. Quando, então, teria sido esquecida...

E isso pode ser percebido na matéria da revista eletrônica Consultor Jurídico, ontem, sobre a posição de ministros sobre o comportamento de Lula:
“Se ainda fosse presidente da República, esse comportamento seria passível de impeachment por configurar infração político-administrativa, em que um chefe de poder tenta interferir em outro”. A frase é do decano do Supremo Tribunal Federal, ministro Celso de Mello, em reação à informação de que o ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, tem feito pressão sobre ministros do tribunal para que o processo do mensalão não seja julgado antes das eleições municipais de 2012. “É um episódio anômalo na história do STF”, disse o ministro. [...] Para o ministro Celso de Mello, “a conduta do ex-presidente da República, se confirmada, constituirá lamentável expressão de grave desconhecimento das instituições republicanas e de seu regular funcionamento no âmbito do Estado Democrático de Direito. O episódio revela um comportamento eticamente censurável, politicamente atrevido e juridicamente ilegítimo”. Já o ministro Marco Aurélio afirmou que pressão sobre um ministro do Supremo é “algo impensável”. Marco afirmou que não sabia do episódio porque o ministro Gilmar Mendes, como afirmou a revista Veja, tinha relatado o encontro com Lula apenas ao presidente do STF, ministro Ayres Britto. [...] Celso de Mello tem a convicção de que o julgamento do mensalão observará todos os parâmetros que a ordem jurídica impõe a qualquer órgão do Judiciário. “Por isso mesmo se mostra absolutamente inaceitável esse ensaio de intervenção sem qualquer legitimidade ética ou jurídica praticado pelo ex-presidente da República”.

Em diversas atividades, e acentuadamente na atividade sindical, os “padrinhos” exercem forte (às vezes, plena) influência sobre seus “afilhados”, que em muitas situações não tomam qualquer iniciativa sem anuência prévia de seus mentores. Provavelmente, pela experiência passada, o ex-presidente sentiu-se padrinho de alguns membros do judiciário – e por extensão “tiozão” de outros. Esses sentimentos poderiam explicar as atitudes e conversas objeto das denúncias do noticiário do fim de semana.


As confirmações e os desmentidos dos próximos dias poderão mostrar quem pode estar com o "rabo mais preso", mas acredito que conheceremos versões. A verdade continuará guardada, pois poucos são dignos de conhecê-la, segundo a provável vontade desses novos "deuses".

O portal UOL, hoje, traz uma matéria sobre a candidatura da vilã Carminha (Adriana Esteves) da novela da Rede Globo, Avenida Brasil, que se valerá da fama do marido (ex-craque de futebol) e de assistencialismo para se eleger vereadora. Além dos inúmeros golpes e maldades já cometidas para ganhar dinheiro, diz o portal que ela:
já inaugurou creche no bairro fictício do Divino, distribuiu comida aos pobres e frequenta constantemente a igreja, onde diz ser contra o divórcio e atitudes imorais. Casada com um famoso jogador de futebol, Tufão (Murilo Benício), ela quer usar a fama do marido para se eleger e move ações sociais para manter a "máscara" de boazinha. Em uma das cenas, Carminha aparece fazendo uma doação à creche que leva o nome do marido e, depois de ser aplaudida pelo ato, discursa para o padre e as crianças, defendendo a família e a educação dos pequenos. Mas, logo na sequência, ela conta para o comparsa, Max (Marcello Novaes), que desviou "o dinheiro do leitinho das crianças".

A grande vantagem da esmola como “política de inclusão”, para os politiqueiros, é que a prática do coronelismo se torna viva e garante eleições, reeleições e perpetuação no poder. Pelo exposto até aqui, pode-se ver que as máscaras de boazinha (na novela) e de bonzinho (na vida real) são, supostamente, muito parecidas. Como são muitos os agraciados com essa beneficiação, as máscaras tendem a não cair muito rapidamente em função dos que, mesmo contra as evidências, teimam em mantê-las nas falsas faces de seus portadores.

         A música para abrir a porteira de mais uma semana    que parece lembrar muito o pensamento de político depois de eleito    é "Isso aqui tá bom demais", dos pernambucanos Nando Cordel e Dominguinhos (José Domingos de Moraes), com Dominguinhos e Chico Buarque de Holanda.



Um grande abraço e até a próxima!