O que me impressiona, à vista de um macaco, não é que
ele tenha sido nosso passado:
é este pressentimento de que ele venha a ser nosso
futuro.
(Mário Quintana)
Amigas e Amigos,
Se na última semana fomos levados a refletir sobre os
atentados ao estado democrático de direito levados a termo, conforme foi
noticiado, pelo ex-presidente Lula em seu amigável encontro com o ministro
Gilmar Mendes, essa semana parece trazer uma situação mais grave ainda. Falo
aqui do aparente desafio à própria justiça com a repetição de personagem.
O portal Folha.com, publicou ontem que uma matéria
sobre a transformação do Programa do Ratinho em um palanque para o candidato
Haddad, em um momento em que ainda não é permitida a propaganda eleitoral. Diz
o portal que:
A participação do ex-presidente Lula no "Programa do Ratinho", do SBT, se transformou em um palanque eleitoral para o pré-candidato petista em São Paulo, Fernando Haddad. "São Paulo preciesa ter alguém que tenha o entusiasmo que ele teve quando era ministro", disse o ex-presidente, ao explicar porque indicou Haddad. Em sua primeira aparição em um programa de televisão após a descoberta do câncer na laringe, Lula ficou no ar por mais de 40 minutos. [...] Na metade da participação, Haddad foi convidado por Ratinho a subir ao palco para falar. "A população votará no novo porque a população de São Paulo quer mudança", disse o ex-ministro, que ainda falou de sua gestão na Educação. O começo do programa, porém, foi marcado por uma gafe de Lula. Ao fazer referência a Haddad, Lula disse que o ex-ministro deve ser torcedor do Santos. O pré-candidato respondeu que seu time do coração, na verdade, é o São Paulo. [...] O ex-presidente afirmou que foi ao programa por conta da amizade que tem com o apresentador. "Perguntam por que escolheu o Ratinho. Porque já comi rabada na casa dele e ele na Granja do Torto", disse Lula.
Provavelmente,
sem um estudo mais detalhado e aprofundado, poucos conseguirão justificativa
melhor para escolher um programa – de rádio ou televisão – do que a degustação
de uma rabada. Dispensando maiores considerações sobre a “embasada”
justificativa e o atentado contra a Lei eleitoral, fica a dúvida sobre a opção
do candidato Haddad de recordar a sua desastrosa atuação – coroada pelas confusões
no Enem (Exame Nacional de Ensino Médio) – como gestor da educação, enquanto
esteve ministro. Seria propaganda ou “tiro no pé” do candidato?
Por conta do conluio entre Lula e Ratinho (não se
trata de antropomorfismo), o PPS vai recorrer a Justiça Eleitoral, conforme noticiado
ontem pelo Valor Econômico, que informou:
O diretório estadual do PPS em São Paulo vai recorrer à Justiça Eleitoral contra a exibição da entrevista do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva e do pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, para "Programa do Ratinho", do SBT. O partido alega que na entrevista, realizada na quinta-feira, ficou caracterizada a propaganda eleitoral antecipada. Em nota, o presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), afirmou que Lula dá uma demonstração "de seu total desprezo pelas leis e pelo Estado de Direito". Freire diz que Lula não tentou "fingir seu claro propósito" de fazer propaganda eleitoral antecipada em favor de Haddad. "O diretório do PPS de São Paulo está ingressando com medida judicial no TRE para que mais uma desfaçatez do ex-presidente Lula seja exemplarmente punida. A igualdade entre os candidatos a prefeito está ameaçada. Esperamos que a Justiça Eleitoral cumpra o seu papel com o rigor que o caso exige", declarou Freire no texto. "O que o ex-presidente e seu candidato - com o auxílio do SBT - fizeram é um ilícito eleitoral. A lei não permite que um pré-candidato, acompanhado de seu principal cabo eleitoral, transforme um programa de televisão em um palanque de campanha", continuou. O parlamentar também faz críticas ao dono da emissora, Silvio Santos, "pelo favor prestado ao PT". O presidente do PPS ressaltou o fato de a entrevista ter sido transmitida em um canal aberto de televisão - uma concessão pública. "Nunca é demais lembrar, e por isso é tudo tão previsível, que o senhor Sílvio Santos - o célebre dono do canal de televisão em tela ex-controlador do Banco Panamericano - quisesse agraciar o ex-presidente que tanto o ajudou", disse. Freire fez referência à crise desencadeada em 2010 com as notícias de que o Banco Panamericano vendeu carteiras de crédito para outras instituições financeiras, mas continuou contabilizando esses recursos como parte do seu patrimônio. O Fundo Garantidor de Crédito (FGC) do governo cobriu à época parte do rombo do Panamericano e viabilizou sua venda para o BTG Pactual.
Fica parecendo – como não existe certeza sobre o
adiamento do mensalão, apesar de
todas e desesperadas tentativas que estão sendo buscadas de formas com licitude,
pelo menos, duvidosa – que já existe alguma preocupação com o impacto que o
resultado daquele julgamento poderá provocar nas campanhas dos candidatos
relacionados aos réus que porventura venham a ser condenados.
Como nem sempre as vozes do poder nos permitem entender
o que se fala nesses meios, essa Galeria Sertaneja traz “Vozes Rurais”, sempre
mais diretas e sinceras do que outras vozes citadas. “Vozes Rurais” é uma
composição de João de Almeida de Neto.
=========================================
VOZES RURAIS
João de Almeida Neto
Cada vez que um campeiro abre o peito
Num galpão interior que ele traz
Quem não quer o Rio Grande cantando
Com razões sem sentidos desfaz
Mas no meio de tantos estranhos
Momentistas e circunstanciais
Surge o forte refrão das campanhas
Entoado por vozes rurais
Dê-lhe boca essas bocas cantoras
Redentora da voz dos galpões
Dê-lhe pata e desata esse brado
Dos sagrados rituais dos fogões
E entre cantos que negam e fogem
Aos atávicos tons musicais
Estão eles de bota e bombacha
Sustentando os padrões culturais
Que não falte coragem a esses homens
Contra o tempo agüentando o repuxo
E que a estranhas tendências imponham
O autêntico canto gaúcho
=========================================
Na Galeria
Sertaneja de hoje, vamos ouvir “Vozes Rurais” com o seu autor, João de Almeida
Neto.
Um
grande abraço e até a próxima!