segunda-feira, 28 de maio de 2012

ABRINDO A PORTEIRA – POLÍTICA COM JEITO DE NOVELA


Há muito poucas repúblicas no mundo,
e mesmo assim elas devem a liberdade aos seus rochedos ou ao mar que as defende.
Os homens só raramente são os dignos de se governar a si mesmos.
(Voltaire)





Amigas e Amigos,


A nota triste deste fim de semana passado foi, para os que acreditam em democracia, a “proposta” apresentada pelo ex-presidente Lula ao ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na absurda – e parece que na moda – tentativa de adiar o julgamento do mensalão.


O portal Folha.com, ao abordar esse inusitado encontro, informou, no dia 26/05, que:
Em troca da ajuda, Lula ofereceu ao ministro, segundo reportagem da revista "Veja" publicada neste fim de semana, blindagem na CPI que investiga as relações do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com políticos e empresários. Mendes confirmou hoje (26) à Folha o encontro com Lula e o teor da conversa revelada pela revista, mas não quis dar detalhes. "Fiquei perplexo com o comportamento e as insinuações despropositadas do presidente Lula", afirmou o ministro. O encontro aconteceu em 26 de abril no escritório de Nelson Jobim, ex-ministro do governo Lula e ex-integrante do Supremo. Lula disse ao ministro, segundo a revista, que é "inconveniente" julgar o processo agora e chegou a fazer referências a uma viagem a Berlim em que Mendes se encontrou com o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), hoje investigado por suas ligações com Cachoeira. Membro do Ministério Público, Demóstenes era na época um dos principais interlocutores do Poder Judiciário e de seus integrantes no Congresso Nacional.
Lembro do provérbio que sentencia “quem não deve, não teme” para algumas considerações. Parece-me que, se de fato, a quadrilha do mensalão não existe, quanto mais cedo tudo for esclarecido, melhor para todos os envolvidos. Outra observação é sobre as variações de carros-fortes surgidas no tempo das denúncias, como malas, cuecas e outras tantas formas filmadas e fotografadas, pois se esses “transportes” foram obras do imaginário alucinatório de boa parte da população, basta que tudo fique esclarecido para não se ter mais qualquer dúvida.

Se a figura máxima do PT, um partido que em longo tempo de oposição cresceu pautado na ética, é informada de uma ligação suspeita entre um ministro, um senador e um bicheiro e busca tirar proveito dessa relação em vez de esclarecê-la, parece que a ética de outros tempos serviu para chegar ao poder. Quando, então, teria sido esquecida...

E isso pode ser percebido na matéria da revista eletrônica Consultor Jurídico, ontem, sobre a posição de ministros sobre o comportamento de Lula:
“Se ainda fosse presidente da República, esse comportamento seria passível de impeachment por configurar infração político-administrativa, em que um chefe de poder tenta interferir em outro”. A frase é do decano do Supremo Tribunal Federal, ministro Celso de Mello, em reação à informação de que o ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, tem feito pressão sobre ministros do tribunal para que o processo do mensalão não seja julgado antes das eleições municipais de 2012. “É um episódio anômalo na história do STF”, disse o ministro. [...] Para o ministro Celso de Mello, “a conduta do ex-presidente da República, se confirmada, constituirá lamentável expressão de grave desconhecimento das instituições republicanas e de seu regular funcionamento no âmbito do Estado Democrático de Direito. O episódio revela um comportamento eticamente censurável, politicamente atrevido e juridicamente ilegítimo”. Já o ministro Marco Aurélio afirmou que pressão sobre um ministro do Supremo é “algo impensável”. Marco afirmou que não sabia do episódio porque o ministro Gilmar Mendes, como afirmou a revista Veja, tinha relatado o encontro com Lula apenas ao presidente do STF, ministro Ayres Britto. [...] Celso de Mello tem a convicção de que o julgamento do mensalão observará todos os parâmetros que a ordem jurídica impõe a qualquer órgão do Judiciário. “Por isso mesmo se mostra absolutamente inaceitável esse ensaio de intervenção sem qualquer legitimidade ética ou jurídica praticado pelo ex-presidente da República”.

Em diversas atividades, e acentuadamente na atividade sindical, os “padrinhos” exercem forte (às vezes, plena) influência sobre seus “afilhados”, que em muitas situações não tomam qualquer iniciativa sem anuência prévia de seus mentores. Provavelmente, pela experiência passada, o ex-presidente sentiu-se padrinho de alguns membros do judiciário – e por extensão “tiozão” de outros. Esses sentimentos poderiam explicar as atitudes e conversas objeto das denúncias do noticiário do fim de semana.


As confirmações e os desmentidos dos próximos dias poderão mostrar quem pode estar com o "rabo mais preso", mas acredito que conheceremos versões. A verdade continuará guardada, pois poucos são dignos de conhecê-la, segundo a provável vontade desses novos "deuses".

O portal UOL, hoje, traz uma matéria sobre a candidatura da vilã Carminha (Adriana Esteves) da novela da Rede Globo, Avenida Brasil, que se valerá da fama do marido (ex-craque de futebol) e de assistencialismo para se eleger vereadora. Além dos inúmeros golpes e maldades já cometidas para ganhar dinheiro, diz o portal que ela:
já inaugurou creche no bairro fictício do Divino, distribuiu comida aos pobres e frequenta constantemente a igreja, onde diz ser contra o divórcio e atitudes imorais. Casada com um famoso jogador de futebol, Tufão (Murilo Benício), ela quer usar a fama do marido para se eleger e move ações sociais para manter a "máscara" de boazinha. Em uma das cenas, Carminha aparece fazendo uma doação à creche que leva o nome do marido e, depois de ser aplaudida pelo ato, discursa para o padre e as crianças, defendendo a família e a educação dos pequenos. Mas, logo na sequência, ela conta para o comparsa, Max (Marcello Novaes), que desviou "o dinheiro do leitinho das crianças".

A grande vantagem da esmola como “política de inclusão”, para os politiqueiros, é que a prática do coronelismo se torna viva e garante eleições, reeleições e perpetuação no poder. Pelo exposto até aqui, pode-se ver que as máscaras de boazinha (na novela) e de bonzinho (na vida real) são, supostamente, muito parecidas. Como são muitos os agraciados com essa beneficiação, as máscaras tendem a não cair muito rapidamente em função dos que, mesmo contra as evidências, teimam em mantê-las nas falsas faces de seus portadores.

         A música para abrir a porteira de mais uma semana    que parece lembrar muito o pensamento de político depois de eleito    é "Isso aqui tá bom demais", dos pernambucanos Nando Cordel e Dominguinhos (José Domingos de Moraes), com Dominguinhos e Chico Buarque de Holanda.



Um grande abraço e até a próxima!

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