É tal a falibilidade
dos juízos humanos,
que muitas
vezes os caminhos por onde esperamos chegar à felicidade
conduzem-nos
à miséria e à desgraça.
(Marquês
de Maricá)
Amigas e
Amigos,
Parece
que a cachoeira da corrupção tem mais vazão do que poderia ser imaginável. Notícias
sobre novos rumos para as gravações que envolvem o empresário zoofílico
Carlinhos Cachoeira podem levar ao relaxamento de sua prisão.
Voltando
apenas sessenta dias, pode ser encontrado no portal da revista Época, do dia 13/04/20012, notícias
sobre a legalidade das escutas contra o senador Demóstenes e Carlinhos
Cachoeira. A revista noticiou que:
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, negou o pedido feito pelos advogados do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) para desconsiderar as gravações telefônicas feitas pela Polícia Federal na operação Monte Carlo, informa o jornal O Globo. As gravações mostram a ligação entre o senador com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. [...] O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, também argumentou nesta sexta-feira (13) que as escutas feitas pela Polícia Federal são legais. Segundo Gurgel, não era necessária autorização especial do STF, porque o alvo inicial das escutas era Carlinhos Cachoeira. O senador Demóstenes jamais foi alvo das interceptações telefônicas. “As interceptações tinham por alvo Cachoeira e outras pessoas não detentoras de prerrogativa de foro e por isso podiam ser, como foram, autorizadas pela Justiça Federal em Goiás", disse. Segundo Gurgel, a descoberta da relação entre Cachoeira e Demóstenes foi um "achado fortuito".
Com toda
a coerência que se observa no tratamento dado pelos homens da justiça para
qualquer assunto, o portal R7
informou, no último dia 12/06 que o relator do processo na Justiça Federal pode
tirar o bicheiro da prisão por
considerar ilegal as gravações do Cachoeira. Informa o referido portal que:
O desembargador Tourinho Neto, da 3ª Turma do TRF (Tribunal Regional Federal) da 1ª Região, considerou nesta terça-feira (12) que são ilegais as gravações feitas pela PF (Polícia Federal) que servem como prova contra o contraventor Carlinhos Cachoeira. O magistrado sugeriu ainda que as escutas sejam retiradas dos autos do processo. [...] No voto, o relator do processo, juiz Tourinho Neto, afirmou que o direito à privacidade, que inclui o sigilo de comunicações telefônicas, é garantia constitucional pétrea, que estabelece que a interceptação telefônica só é admissível por exceção, “em situações que não estão caracterizadas no caso sob análise”. Não há prazo para o TRF-1 decidir o habeas corpus. A terceira turma se reúne semanalmente, às segundas-feiras, e, quinzenalmente, às terças-feiras, mas o desembargador Ribeiro não é obrigado a retomar o caso na próxima semana, e sim quando tiver seu voto pronto. Caso a tese de Tourinho Neto prevaleça, a interceptação telefônica contra Cachoeira será declarada nula e as provas dela derivadas, ilegais. A decisão, se confirmada, significará a liberdade imediata para o bicheiro e o enfraquecimento das acusações que há contra ele.
Acredito
que, como diz um provérbio português, “muita água passará debaixo da ponte”,
pois aparentemente a cachoeira não parará de “verter” tão cedo. E sabe-se lá o
que anda correndo nesses rios (mas deve ser muito!).
Junte-se
a isso, o verdadeiro passatempo de senadores e deputados, conhecido como CPI,
que consegue transformar nosso Congresso em algo próximo a um grande teatro de
araque, com produções mal ensaiadas e interpretações de sofríveis canastrões.
Os conluios com os governadores Marcondes e Agnelo deram o tom dos últimos
dias, comprovando a idéia do Gran Circo,
onde cada um deles compareceu com sua claque. E foi feita a festa...
Pensando
nessa “evolução espontânea” da justiça, na avaliação das gravações – a contravenção,
a apropriação de dinheiro público, o envolvimento de políticos e outros tantos –
lembrei de um causo do livro “Causos de
Fronteira”, do escritor e professor
uruguaianense Luís Alberto Ibarra, que transcrevo abaixo pelo medo que
determinadas “evoluções” provocam em algumas pessoas.
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O TREM
Luís Alberto Ibarra
O Juca
era um guri criado na campanha, que não conhecia o “povo”, isto é, a cidade.
O pai era
invernador e certa feita negociou uma ponta de bois com a Cooperativa. Como
Juca já estava taludinho, decidiu confiar ao filho a tarefa de tropear o gado,
junto com alguns peões da estância.
Mas fez
uma recomendação muito importante: cuidado quando tiver que passa os trilhos. É
muito perigoso. Antes de atravessar tem que olhar bem para os dois lados.
No dia
marcado, lá se foi o Juca e a peonada, tropeando as 200 cabeças, rumo ao
frigorífico da Cooperativa.
Bueno,
mas quando o “velho” foi acertar as contas na Cooperativa, em lugar de 200
bois, só constava 180.
Chamou o
filho e perguntou:
– Mas não
eram 200 cabeças, Juca?
– Eram,
pai, mas aconteceu o seguinte: na hora de cruzar os trilhos, cuidei, cuidei e
como não vinha nada, mandei tocar a tropa. Quando estava bem no meio apareceu
aquele baita bicho, bufando, e atropelou 20 bois. E a sorte que o bicho veio de
frente, porque se vem de lado, eram um tendal, matava toda a tropa.
Daí uns
dias, o Juca foi ao “povo” e quando passou frente a uma loja viu um trenzinho
andando numa linha de trilhos circular. Não se conteve. Entrou e pisoteou o
trenzinho, destruindo-o completamente, ante a surpresa geral.
– Mas o
que é isso? – perguntou o proprietário espantado.
– Esse
bichinho tem que matar quando pequeno, porque depois que cresce, causa um baita
estrago – respondeu o Juca.
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Para animar a Tertúlia de hoje, deixo a música "Trem do Pantanal", de Paulo Simões e Geraldo Roca, na interpretação de Almir Sater.
Um grande abraço e até a próxima!