sábado, 10 de março de 2012

COM O PÉ NO ESTRIBO - UTI NEONATAL DE CANGUÇU. DESCASO?



A saúde depende mais das precauções que dos médicos.
(Jacques Bénigne Bossuet)


Amigas e Amigos,

          Ouvindo o canto dos pássaros que vem do quintal de minha casa e tomando um chimarrão na varanda, na expectativa de uma chuva que parece já cair nas proximidades de Brasília, li o jornal “Zero Hora”, no portal do ClicRBS e chamou minha atenção a manchete sobre falta de médicos que, com o alto número de morte de bebês, provocou o fechamento da UTI Neonatal de Canguçu-RS.

         Além do fato, normalmente associado ao descaso de nossos governos com saúde pública, o meu interesse na matéria foi provocado pela lembrança de que nos distantes anos de 1974/75 tive oportunidade de trabalhar nessa cidade do interior do Rio Grande do Sul.

          Bem mais preocupante que a manchete é o conteúdo da matéria, de onde separei uma parte, conforme abaixo:
Canguçu, município com 53 mil habitantes na Metade Sul do Estado, está em choque. A UTI Neonatal do Hospital de Caridade do município — um sonho acalentado há anos pela comunidade — foi fechada após apenas três meses de funcionamento pela Secretaria Estadual de Saúde (SES). As razões: falta de médicos suficientes para manter a unidade criada para ser referência regional e uma mortalidade de bebês bem acima do usual. Nos 90 dias de funcionamento, morreram no local 12 bebês dos 45 atendidos. Conforme a Secretaria Estadual de Saúde (SES), a proporção na casa de saúde de Canguçu foi de 80 óbitos para cada mil nascimentos no hospital, no primeiro mês de vida. A média nas UTIs neonatais gaúchas, segundo a secretaria, é de 13 mortes para cada mil nascimentos. […] A unidade de Canguçu começou a funcionar com apenas dois médicos e, depois de algum tempo, contava com quatro — quando o número exigido pela Anvisa seria oito médicos para cuidar de 10 pacientes (a capacidade da unidade). Ciro Simoni relata que, para obter a autorização para o funcionamento da unidade, o hospital mostrou contratos firmados com uma empresa que empregaria os médicos na instituição […] A comoção causada em Canguçu gerou uma sessão especial da Câmara de Vereadores, promovida pelo vereador Ubiratan Rodrigues (PP), e um inquérito aberto pelo Ministério Público Estadual para investigar as mortes. Quem conduz o procedimento éa promotora Camile Balzano de Mattos, que ontem recebeu o levantamento fotógrafico da UTI. Estão sob análise as condições médico-sanitárias, higiene, espaço físico, material e equipamentos utilizados, tecnologia para diagnóstico e tratamento, além da performance da equipe de assistência médica e enfermagem e sua qualificação. Apesar das investigações, o secretário Ciro Simoni não tem dúvidas de que a unidade Neonatal será reaberta...
          Sempre que vejo esses reflexos da negligência de nossa amodorística administração pública, fico imaginando se ainda está muito distante o tempo em que descasos como esse exigirão respostas contundentes dos responsáveis por tantos desmandos.

          Não é concebível que uma unidade de saúde que necessita de, no mínimo, 8 médicos (conforme determinação da Anvisa), comece a funcionar com apenas 2. Nas desculpas preparadas para o “jogo de empurra” de responsabilidades, já foi informado que havia contratos firmados com uma empresa para empregar os médicos e que só por isso foi emitida a autorização de funcionamento.

          A existência desse citado contrato leva a imaginar que a empresa responsável por ele já tenha sido acionada judicialmente por descumprimento do mesmo. Sobre isso, não há qualquer comentário. Pode ser que o contrato não estivesse bem redigido o que implicaria em facilidades para a empresa não atendê-lo. Nesse caso, os responsáveis pela redação, aprovação e assinatura, bem como os que o validaram nas instâncias superiores, já deveriam estar respondendo a processos administrativos. Mas sobre isso, também não vi qualquer referência.

          Como sempre acontece nesses casos, não faltam políticos e advogados para buscarem alguma “promoção” pessoal em cima dos efeitos sem grande preocupação com as causas. Apesar de tudo isso, o secretário estadual de Saúde não tem dúvidas de que a unidade Neonatal de Canguçu será reaberta. Faltou dizer, apenas, em que condições.

          Essas condições não tem qualquer relação com as condições do prédio que abriga a unidade, pois ela está localizada em um tradicional hospital, mas com a forma como será conduzida a contratação de médicos.

Vale lembrar que essa unidade Neonatal ficou parada – depois de concluída as obras no hospital – por 9 meses. Foi inaugurada, as pressas, após um drama protagonizado por uma funcionária pública de Santa Vitória do Palmar-RS que precisou fazer uma viagem de 500 km para dar à luz filhos gêmeos. Esse episódio, em outubro de 2011, mostrou claramente a deficiência de leitos no Estado e acabou com um entrave burocrático de 9 meses, provavelmente, de forma precipitada – talvez, até com “dedos cruzados” para que nada desse errado. Mas deu, e aí o que se vê são como replays de filmes tantas vezes exibidos. 

A música escolhida para encerrar esta semana, desejando que o hospitaleiro povo de Canguçu logo veja superada essa confusão da área de Saúde, é “Leito de Hospital”, de Léo Canhoto e Sebastião Victor, com Tião Carreiro & Pardinho.   

 


Até a próxima e um grande abraço para todos! 
     

quinta-feira, 8 de março de 2012

TERTÚLIA NATIVA – SENADOR “CAVALO DE TRÓIA”


Os traiçoeiros são sempre desconfiados.
(John Ronald Reuel Tolkien)





Amigas e Amigos,

Vi uma matéria do jornal “O Estado de São Paulo”, sobre uma proposta de reduzir a quantidade de suplentes de senador de dois para um, cujo texto deve ser julgado até o fim deste mês, mas que ainda passará pelo crivo da Câmara.





       Enquanto lia, lembrei do famoso “Cavalo de Tróia” – não dos “trojan horses” que invadem nossos computadores, mas da lenda do grande cavalo de madeira associada a conquista da cidade de Tróia. Diz a lenda que o monumental cavalo de madeira foi presenteado aos troianos pelos gregos com soldados escondidos em seu interior que aguardaram a chegada da noite para sair do esconderijo e abrir os portões da cidade para o exército grego. O resultado foi a invasão e a dominação de Tróia.

Lembrei desse “presente de grego”, pois a figura do suplente de Senador me dá a idéia de que elegemos um senador e concordamos que ele ocupe uma cadeira no Senado. Em determinado momento, por conta de negociações não muito claras, o senador assume alguma outra função – ou foge de uma “cassação” – e somos surpreendidos com um novo senador sem votos e, não raras vezes, desconhecido da grande maioria que passará a representar. Como isso pode acontecer independente do número de suplentes, somente a ausência dessa aberração pode garantir efetiva representatividade.

Por outro lado, o suplente (ou suplentes) pode representar a própria oportunidade de eleição para o candidato a senador, pois estaria aí uma das fontes de recursos para pagamento das despesas de campanha eleitoral. Até por isso, o grupo senatorial pode até concordar em diminuir o número, mas dificilmente concordará com o fim da suplência.

Para se ter uma idéia do dramaticismo que tomou conta da condução dos trabalhos referentes a esse “Cavalo de Tróia”, o Estadão publicou que:
A discussão da emenda sobre suplentes apresentada pelo líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR), se assemelhou a uma trama policial. Os senadores abordaram o risco de assassinato deles, questionando se a medida interessaria mais ao suplente ou a outros políticos interessados na vaga do Senado. Para Jucá, o risco existe tanto da parte do suplente como de outro político. Daí porque ele prefere abolir a ideia de nova eleição e privilegiar o suplente como substituição, como ocorre hoje, no caso de o senador ser assassinado. "Estamos levando na brincadeira, mas é um assunto sério", alegou Jucá. "Estamos abrindo (a opção de mandar matar o senador) para sociedade em geral, qualquer um pode mandar matar o senador", alertou. De seu lugar na presidência da CCJ, o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) reagiu: "Eu estou é com medo", deixando claro que a ideia de ser assassinado por causa de seu mandato jamais lhe passou pela cabeça. O relator Luiz Henrique (PMDB-SC), rejeitou a emenda, lembrando que o próprio suplente pode se sentir estimulado a "a mandar matar o senador". Os senadores Pedro Taques (PDT-MT) e Demóstenes Torres (DEM-GO) reconheceram hoje que o "monopólio" de um possível assassinato cabe hoje a eles, os suplentes, mas que isso não justifica a mudança. "Vamos aprovar do jeito que está, se começar a morrer senador a gente muda", defendeu Demóstenes, apoiado pela quase totalidade de seus colegas. A outra emenda rejeitada, do ex-senador Wilson Santiago (PMDB-PB), tentava manter o atual número dois suplentes por senador.

         Como essa humilhação impingida aos cidadãos pela suplência de senador dá margem a essa verdadeira “trama policial” urdida por alguns senadores, conforme acima, acredito que uma forma de regularizar isso, não sendo possível abrir mão da suplência pelos temores evidenciados, seria a extinção do próprio senado para que o dinheiro público deixe de financiar discussões ridículas como a dessa suplência que nunca deveria ter existido.

Como hoje é dia da Tertúlia, aqui no Blog, publico uma história que, segundo o sítio Jangada Brasil (http://www.jangadabrasil.org), foi contada por um preto velho, Lúcio Lenis, de Leopoldina-MG, e que em 1961, morava em Ribeirão Claro-PR. Essa história tornou-se uma fábula brasileira, em que a onça termina em um bom local para acomodar todos os "suplentes" referidos (ainda que não nomeados) nesta postagem ou, como termina a fábula, que eles sigam seus caminhos (desde que bem longe do lugar que não conquistaram com votos).


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A ONÇA QUE PROCURA JUSTIÇA
                                 
Uma onça caiu numa cova bem funda e não podia mais sair de lá. Passou uma raposa e a onça pediu à raposa:

– Tira-me daqui!

A raposa respondeu:

– Isso não faço, se eu te tiro, tu me comes.

A onça continuou a pedir. A raposa perguntou:

– O que me fazes se te tiro?

A onça respondeu:

– Te faço justiça.

– Então, tu não me comes?

– Não, eu te faço justiça.

A raposa, então, pendurou o rabo no buraco e a onça segurou-o. E assim a onça saiu do buraco.

Mal a onça se viu livre, quis comer a raposa. E esta lhe disse:

– Ora, que justiça é esta?

A onça replicou:

– Eu tenho direito de comer, pois estou com fome.

A raposa:

– Isto não é justiça, vamos procurar justiça.

Então, foram andando e passou um cachorro. Perguntaram a ele o que é justiça e contaram o caso. Então, o cachorro disse:

– Comer o que tem.

E a raposa falou:

– Então, coma ele, ele é mais gordo do que eu.

Mas o cachorro pulou a cerca que estava perto e a onça não pôde agarrá-lo. A onça e a raposa continuaram a procurar alguém que dissesse no caso o que é justiça. Nenhum animal, porém, sabia dizer com certeza.

Então, viram pulando um sapo e indagaram dele o que é justiça. Ele declarou que precisava ver como foi a situação. A onça aí pulou dentro do buraco para mostrar como foi. E o sapo disse:

– A justiça está nisto; a onça fica onde está e a raposa segue o seu caminho.


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         Para encerrar a Tertúlia, a música "Comício no Mato", de Joaquim Augusto e Nelson Barbalho, com o saudoso Luiz "Lua" Gonzaga.

  

         Um grande abraço e até a próxima!

terça-feira, 6 de março de 2012

ORATÓRIO CAMPEIRO – A IMAGEM DA MULHER E A IMAGEM DO POLÍTICO


Quem é esta que avança como a aurora que desponta,
bela como a lua, incomparável como o sol,
terrível como um exército em linha de batalha?
(Cântico dos Cânticos 6,10)




Amigas e Amigos,

A imagem das mulheres tem sabores adocicados e perfumes inebriantes. Se esses gostos e aromas não são percebidos por muitos, são sempre identificados, pelo menos, por seu pai, por seu filho ou por seu marido. Nesta semana, em que comemoraremos o Dia Internacional da Mulher, esse Oratório dedica seu espaço para homenagear você, mulher e amiga do Canto da Terra, com um pouco da vida da Santa celebrada hoje, com a Oração a ela dedicada e com uma canção composta pelo Padre Zezinho.

Antes, porém, comento que ao contrário da imagem das mulheres, a imagem de político no Brasil tem outros – pouco atraentes – odores. Neste ano, em que teremos eleições, fico com a impressão de que não serão eleitos políticos pelo que são – ou  pelo que fazem – mas pela marca que alguma empresa publicitária criará para eles.

Lembrei disso, pela manhã, ao ler no Jornal do Brasil (edição na Internet), que o Partido dos Trabalhadores contratou uma equipe para melhorar a imagem do seu candidato a prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, que é considerado desconhecido para a maioria do eleitorado (registra menos de 4% das intenções de votos). Diz o JB que:
A pedido do publicitário João Santana, contratado para a campanha do ex-ministro, uma equipe de TV começou a gravar os eventos do petista. Um cinegrafista, um operador de áudio e um fotógrafo estiveram ontem na comitiva de Haddad na visita a um seminário em Parelheiros, zona sul da capital. O ex-ministro usou um microfone de lapela, para registrar suas falas e a de seus interlocutores. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. Trata-se de um teste para ver como o pré-candidato se porta no vídeo. Santana e a direção da campanha avaliarão como Haddad fala e se movimenta, se tem problemas de dicção, como são suas reações, de que forma manifesta emoções - ou deixa de manifestá-las - e como o povo o recebe nos eventos. O "ensaio de imagem", como é chamado, serve para corrigir eventuais erros cometidos pelo ex-ministro, que já teve a atenção chamada pelo próprio Santana há pouco mais de um mês, quando o marqueteiro avaliou que Haddad não saíra bem em fotos nos jornais.

         Parece que o pensamento dos partidos políticos é a eleição de um candidato que não necessariamente precisa existir. Um produto de mídia é muito mais importante do caráter, currículo, obras ou experiência administrativa (ficha limpa passa a ser um detalhe, naturalmente ignorado com aval de alguns jurisconsultos). Vale lembrar que o atual candidato Haddad, quando foi travestido de ministro da Educação, foi responsável por três fracassadas tentativas seguidas de aplicação da prova do Enem, o que, provavelmente, seria mais do que suficiente para desqualificá-lo, até uma reciclagem e uma sequência de experiências de sucesso, para cargos administrativos (e São Paulo é a maior cidade do Brasil para se submeter a “caprichos” eleitoreiros).

Santa Rosa de Viterbo (1234-1252)

         Retornando para nossa homenagem de hoje, vamos lembrar um pouco da vida de Santa Rosa de Viterbo, cuja festa, hoje, lembra o dia de sua morte no ano de 1252, com apenas 18 anos de idade. Mesmo sendo sua vida repleta de milagres, pouco registro oficial é encontrado sobre essa Santa, que traz entre suas histórias um milagre realizado quando tinha apenas três anos e ressuscitou uma tia materna. Desde muito cedo, Rosa – descalça e com cabelos despenteados segundo contam – se entregava a oração, principalmente diante da imagem de Nossa Senhora, a ponto de, já aos sete anos fazer penitências. Foi nesse período de sua vida que, portadora de doença grave, foi curada após uma visão da Virgem Maria, que lhe teria dito para visitar 3 igrejas e ingressar na hoje conhecida Ordem Franciscana Secular.

         No ano de 1250, Santa Rosa de Viterbo foi exilada pois as autoridades consideravam-na uma ameaça, dada a quantidade de hereges convertidos por seu exemplo e sua pregação diária pelas ruas da cidade. Entre suas histórias, contam que foi recusada no Monastério de Santa Maria das Rosas (das Clarissas Pobres), quando retornou do exílio após a morte do imperador.

         Outro fato curioso em relação a Santa Rosa de Viterbo é que ela é uma Santa cuja canonização nunca foi promulgada (mas também jamais foi negada pela Igreja), tida como uma Santa canonizada pelo povo, desde o dia de sua morte. Ela é “Padroeira das pessoas exiladas”, “Padroeira das pessoas rejeitadas pelas ordens religiosas”, “Padroeira da cidade de Viterbo(Itália)”, “Padroeira da Juventude Feminina da Ação Católica Italiana” e “Padroeira da Juventude Franciscana do Brasil”.

         A sugestão deste Oratório é que peçamos a intercessão de Santa Rosa de Viterbo pelas mulheres importantes em nossa vida. Que peçamos em nossa oração para não esquecermos a importância dessas mulheres em todos os dias de nossas vidas e que o Dia Internacional delas seja, para nós, cada novo dia.

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ORAÇÃO DE SANTA ROSA DE VITERBO

Deus, nosso Pai,
À medida que nos transcorrem os séculos,
Vemos com mais clareza a vossa ação no mundo.
Na verdade, vós sois um Deus fiel
E agis com força e poder
Dentro da história dos homens,
Abalados por tantas contradições.
Mas vós conduzis vosso povo através dos tempos.
Moveis os corações dos homens
Para que encontrem a paz.
E suscitais,
Segundo as necessidades de cada época,
Pessoas capazes de ler as entranhas dos tempos,
Pessoas fortalecidas
Com as vossas promessas antigas,
Mas sempre novas.
Por isso, Senhor,
Hoje nós vos suplicamos humildemente:
A exemplo de Santa Rosa,
Façamos de nossa vida
Um tempo de conversão,
De fidelidade a Deus e de amor à paz.
Amém!


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Para acompanhar a oração escolhida e homenagear a todas as mulheres, fica a música “Canto da Mulher Latino Americana”, do Padre Zezinho, na interpretação de Miriam Pedroso.

 

Com votos de uma ótima semana para todos e em especial para nossas amigas, que a Paz de Cristo permaneça conosco!



ABRINDO A PORTEIRA – OS DESASSOSSEGOS DA PRESIDENTE




Aquilo a que chamamos o nosso desespero
é frequentemente a dolorosa avidez de uma esperança insatisfeita.
(George Eliot)



Amigas e Amigos,


         Na semana do Dia Internacional da Mulher, abro a porteira para comentar as ondulações percebidas no “mar de conchavos” que banha o planalto central do país. Talvez a presidente já pense que está vivendo seu “inferno astral” extraordinário com data de fim marcada para o próximo dia 8 de março.



          Para ilustrar as confusões reinantes na “corte brasileira”, o Estadão informou nesta segunda-feira que a presidente viajou até São Bernardo do Campo para buscar um aconselhamento junto ao ex-presidente Lula para condução dos problemas que cercam o cenário político agravado pelo manifesto dos deputados peemedebistas – e outras siglas já ameaçam o governo – que acusam o PT de arquitetar um complô eleitoral. Diz o referido jornal que:
Em conversa de quase três horas, a presidente e seu padrinho político mostraram preocupação com o racha na base aliada do governo e com as dificuldades para agregar apoio em torno da candidatura de Fernando Haddad (PT) à sucessão do prefeito Gilberto Kassab (PSD). Os adversários do PT acusam o partido de arquitetar um plano para se tornar praticamente hegemônico no cenário político brasileiro a partir das eleições deste ano. Dilma ficou furiosa com um manifesto subscrito por 45 dos 76 deputados federais do PMDB, com críticas ao PT e ao governo, e não escondeu a contrariedade ao se encontrar com seu antecessor. A viagem oficial da presidente à Alemanha neste fim de semana vem em boa hora, para dar uma pausa na base conflagrada. Dilma embarcará sob o peso do manifesto do PMDB, contrariada com as exigências do PR, com as defecções do PSB na votação do fundo de previdência do funcionalismo público, a debandada do PDT e a ousadia do discurso crítico do presidente da Força Sindical e deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), dentro do Palácio do Planalto.

                   Ainda bem que a presidente já está na Alemanha, preocupada com o dinheiro que está sendo “injetado” na economia europeia para amenizar a crise e que pode provocar desequilíbrio na economia brasileira. Uma possibilidade – bem viável – é que ela volte tão preocupada quanto como foi, sem grandes novidades em relação aos pontos considerados problemáticos antes de sua viajem. E por aqui, o “caldo tem engrossado”, conforme outra matéria do mesmo jornal, dando conta que:
Além da crise originada pela disputa de grupos do PT pelo controle do Banco do Brasil e do fundo de pensão Previ, a presidente Dilma Rousseff tem de administrar, nos próximos dias, problemas por todos os lados. Alguns deles muito graves, como a insubordinação por parte de oficiais da reserva, que não reconhecem autoridade no ministro Celso Amorim (Defesa). O problema com os militares da reserva começou com a divulgação de um manifesto pelo Clube Militar com críticas às ministras Maria do Rosário (Direitos Humanos) e Eleonora Menicucci (Proteção à Mulher) por declarações das duas sobre a Lei da Anistia. Dilma determinou a retirada do manifesto dos militares da página do Clube Militar na internet e a punição dos autores do documento. Mas eles não se intimidaram. O general da reserva Luiz Eduardo Rocha Paiva concedeu entrevista publicada na sexta-feira pelo jornal O Globo na qual sugere que a presidente Dilma Rousseff seja convocada a prestar depoimento à Comissão da Verdade. Segundo ele, porque ela pertenceu ao grupo guerrilheiro VAR-Palmares, que seria o responsável pelo carro-bomba que matou o soldado Mario Kozel Filho.

          Como “miséria pouca é bobagem”, enquanto a presidente repensa o papel do PDT em seu governo, conforme notícia do jornal Zero Hora, e negocia com PTB e PSC alternativa para o Ministério do Trabalho que possa, ainda, tornar a base aliada mais forte. No último dia 2, foi publicado na ZH que:
A presidente cansou do PDT — mas ainda assim precisa dele. O deputado gaúcho Vieira da Cunha, que até poucos dias era o favorito para assumir o Ministério do Trabalho, revelou-se outra decepção da presidente com o partido. Agora, quem ganha força para abocanhar a pasta é um consórcio envolvendo PTB e PSC. Na terça-feira, o PRB ganhou seu primeiro ministério, com Marcelo Crivella substituindo na Pesca o petista Luiz Sérgio. Assessores do Planalto confirmam que a intenção é convencer o candidato do PRB em São Paulo, Celso Russomano, a deixar a disputa em favor de Fernando Haddad (PT). Agora, PTB e PSC também se aproximam de cargos de grande relevância. [...] Ao barganhar com tanta gente, a meta mais óbvia da presidente é garantir uma base forte. Uma base tão larga que, mesmo com eventuais dissidências na hora de votar, garanta a aprovação de qualquer projeto no Congresso. Nesse ponto, o PDT é visto como o companheiro infiel: 22 dos 24 deputados presentes na terça-feira, no plenário da Câmara, votaram contra o fundo de previdência complementar dos servidores públicos — prioridade da presidente que acabou aprovada.  [...] Discute-se a ideia de oferecer um ministério menor à legenda. Afinal, também há uma irritação crescente no PDT. Em represália à presidente, a sigla resolveu ingressar no governo de Geraldo Alckmin (PSDB), no Estado de São Paulo, indicando o secretário do Trabalho. O deputado Paulinho da Força, que é pré-candidato do PDT na eleição municipal, já negocia apoiar o tucano José Serra em um eventual segundo turno.

          Penso que o dia 8 de março – Dia da Mulher – está muito próximo e o “rolo” governamental muito amplo para qualquer novidade positiva antes dessa data. Com o crescimento das confusões e toda a pouca habilidade que vem sendo apresentada pelos que poderiam resolver – ou, pelo menos, minimizar – os problemas que proliferam em torno do Poder, acredito que a situação é muito pior do que um simples “inferno astral” pois não é vislumbrada qualquer perspectiva de renascimento e felicidade com todo o “barulho” que, parece, está apenas começando.

         Para combinar com o sentimento que deve andar permeando os pensamentos dos ocupantes dos escalões mais altos da Esplanada dos Ministérios, a música escolhida para hoje é “Desassossegos”, de Vaine Darde e João Chagas Leite, na interpretação de João Chagas Leite.

   


Um grande abraço e até a próxima!

domingo, 4 de março de 2012

COM O PÉ NO ESTRIBO - COM 15 SALÁRIOS E DE PAPO PRO AR



Um homem não é infeliz porque tem ambições, mas porque elas o devoram.
(Barão de Montesquieu)




Amigas e Amigos,

          A segunda página da edição de hoje do jornal “Correio Braziliense” chama a atenção dos leitores para a renda extra dos senadores que escapa do Leão, pois os parlamentares não têm Imposto de Renda descontado dos seus polpudos 14º e 15º salários. Diz o referido jornal que:
A farra das remunerações extras para deputados e senadores com dinheiro do contribuinte, mostrada pelo Correio, ganhou um novo capítulo ontem. Os 81 senadores, que recebem os chamados 14º e 15º todos os anos, não sofrem qualquer desconto no Imposto de Renda. A regalia faz com que a Receita Federal deixe de arrecadar R$ 8,4 milhões, considerando os oito anos de mandato de cada político. Com a verba, o governo federal, por exemplo, poderia construir 105 casas populares pelo Programa Minha Casa, Minha Vida. Por ano, cada senador deixa de pagar ao Fisco R$ 12,94 mil. No fim do mandato, ele embolsa R$ 103,58 mil. A informação foi confirmada ontem, pela assessoria de imprensa do Senado.

          Uma forma de acabar com essa bandalheira seria a suspensão desse desperdício do dinheiro público gasto com esses salários extraordinários. Para tornar a remuneração desses senhores um pouco mais justa, seria muito interessante que fosse instituída uma forma de remuneração proporcional às horas trabalhadas – bem entendido que “conversar ao celular”, “bocejar ou dormir” e “ficar de ti-ti-ti” não caracterizam trabalho.

          Tanto a chamada para essa notícia, na primeira folha do jornal, quanto o conteúdo da mesma na página 2 deve ter sido percebido pelos leitores que o assunto era muito sério. Mas, para que nossa preocupação não fosse excessiva, um senador resolveu divertir todo povo, conforme pode se ver na continuidade da matéria do Correio, onde “o Senador Ivo Cassol (PP-RO), um dos poucos que aceitou falar, defendeu o benefício e afirmou que os senadores ganham muito pouco. De acordo com o político, grande parte do rendimento é gasto com medidas assistencialistas”.

          Depois desse “elucidador” depoimento do senador, acredito que todos possam dizer que, sensibilizados, entendem o quanto deve ser dura a vida de um senador que, além de ganhar pouco, ainda se dedica a medidas assistencialistas. E a cara de pau é tanta fazem (se efetivamente o fazem) assistencialismo com dinheiro dos outros – ou seja, com nosso dinheiro, que o senador afirma (pasmem) ser dele.

          Como sugestão, se estiver muito complicado a correção dessa balbúrdia no Senado, quem sabe os salários extraordinários (14º e 15º) pudessem ser estendidos para todos os trabalhadores (e sem desconto de Imposto de Renda, é claro).



         Para fechar a semana, sem a ganância cada vez mais acentuada de boa parte de nossos legisladores, deixo a simplicidade da música “De papo pro ar”, de Joubert de Carvalho, interpretada por Inezita Barroso, acompanhada por Roberto Correa.

  


Um grande abraço e até a próxima!