sábado, 10 de março de 2012

COM O PÉ NO ESTRIBO - UTI NEONATAL DE CANGUÇU. DESCASO?



A saúde depende mais das precauções que dos médicos.
(Jacques Bénigne Bossuet)


Amigas e Amigos,

          Ouvindo o canto dos pássaros que vem do quintal de minha casa e tomando um chimarrão na varanda, na expectativa de uma chuva que parece já cair nas proximidades de Brasília, li o jornal “Zero Hora”, no portal do ClicRBS e chamou minha atenção a manchete sobre falta de médicos que, com o alto número de morte de bebês, provocou o fechamento da UTI Neonatal de Canguçu-RS.

         Além do fato, normalmente associado ao descaso de nossos governos com saúde pública, o meu interesse na matéria foi provocado pela lembrança de que nos distantes anos de 1974/75 tive oportunidade de trabalhar nessa cidade do interior do Rio Grande do Sul.

          Bem mais preocupante que a manchete é o conteúdo da matéria, de onde separei uma parte, conforme abaixo:
Canguçu, município com 53 mil habitantes na Metade Sul do Estado, está em choque. A UTI Neonatal do Hospital de Caridade do município — um sonho acalentado há anos pela comunidade — foi fechada após apenas três meses de funcionamento pela Secretaria Estadual de Saúde (SES). As razões: falta de médicos suficientes para manter a unidade criada para ser referência regional e uma mortalidade de bebês bem acima do usual. Nos 90 dias de funcionamento, morreram no local 12 bebês dos 45 atendidos. Conforme a Secretaria Estadual de Saúde (SES), a proporção na casa de saúde de Canguçu foi de 80 óbitos para cada mil nascimentos no hospital, no primeiro mês de vida. A média nas UTIs neonatais gaúchas, segundo a secretaria, é de 13 mortes para cada mil nascimentos. […] A unidade de Canguçu começou a funcionar com apenas dois médicos e, depois de algum tempo, contava com quatro — quando o número exigido pela Anvisa seria oito médicos para cuidar de 10 pacientes (a capacidade da unidade). Ciro Simoni relata que, para obter a autorização para o funcionamento da unidade, o hospital mostrou contratos firmados com uma empresa que empregaria os médicos na instituição […] A comoção causada em Canguçu gerou uma sessão especial da Câmara de Vereadores, promovida pelo vereador Ubiratan Rodrigues (PP), e um inquérito aberto pelo Ministério Público Estadual para investigar as mortes. Quem conduz o procedimento éa promotora Camile Balzano de Mattos, que ontem recebeu o levantamento fotógrafico da UTI. Estão sob análise as condições médico-sanitárias, higiene, espaço físico, material e equipamentos utilizados, tecnologia para diagnóstico e tratamento, além da performance da equipe de assistência médica e enfermagem e sua qualificação. Apesar das investigações, o secretário Ciro Simoni não tem dúvidas de que a unidade Neonatal será reaberta...
          Sempre que vejo esses reflexos da negligência de nossa amodorística administração pública, fico imaginando se ainda está muito distante o tempo em que descasos como esse exigirão respostas contundentes dos responsáveis por tantos desmandos.

          Não é concebível que uma unidade de saúde que necessita de, no mínimo, 8 médicos (conforme determinação da Anvisa), comece a funcionar com apenas 2. Nas desculpas preparadas para o “jogo de empurra” de responsabilidades, já foi informado que havia contratos firmados com uma empresa para empregar os médicos e que só por isso foi emitida a autorização de funcionamento.

          A existência desse citado contrato leva a imaginar que a empresa responsável por ele já tenha sido acionada judicialmente por descumprimento do mesmo. Sobre isso, não há qualquer comentário. Pode ser que o contrato não estivesse bem redigido o que implicaria em facilidades para a empresa não atendê-lo. Nesse caso, os responsáveis pela redação, aprovação e assinatura, bem como os que o validaram nas instâncias superiores, já deveriam estar respondendo a processos administrativos. Mas sobre isso, também não vi qualquer referência.

          Como sempre acontece nesses casos, não faltam políticos e advogados para buscarem alguma “promoção” pessoal em cima dos efeitos sem grande preocupação com as causas. Apesar de tudo isso, o secretário estadual de Saúde não tem dúvidas de que a unidade Neonatal de Canguçu será reaberta. Faltou dizer, apenas, em que condições.

          Essas condições não tem qualquer relação com as condições do prédio que abriga a unidade, pois ela está localizada em um tradicional hospital, mas com a forma como será conduzida a contratação de médicos.

Vale lembrar que essa unidade Neonatal ficou parada – depois de concluída as obras no hospital – por 9 meses. Foi inaugurada, as pressas, após um drama protagonizado por uma funcionária pública de Santa Vitória do Palmar-RS que precisou fazer uma viagem de 500 km para dar à luz filhos gêmeos. Esse episódio, em outubro de 2011, mostrou claramente a deficiência de leitos no Estado e acabou com um entrave burocrático de 9 meses, provavelmente, de forma precipitada – talvez, até com “dedos cruzados” para que nada desse errado. Mas deu, e aí o que se vê são como replays de filmes tantas vezes exibidos. 

A música escolhida para encerrar esta semana, desejando que o hospitaleiro povo de Canguçu logo veja superada essa confusão da área de Saúde, é “Leito de Hospital”, de Léo Canhoto e Sebastião Victor, com Tião Carreiro & Pardinho.   

 


Até a próxima e um grande abraço para todos! 
     

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