quinta-feira, 8 de março de 2012

TERTÚLIA NATIVA – SENADOR “CAVALO DE TRÓIA”


Os traiçoeiros são sempre desconfiados.
(John Ronald Reuel Tolkien)





Amigas e Amigos,

Vi uma matéria do jornal “O Estado de São Paulo”, sobre uma proposta de reduzir a quantidade de suplentes de senador de dois para um, cujo texto deve ser julgado até o fim deste mês, mas que ainda passará pelo crivo da Câmara.





       Enquanto lia, lembrei do famoso “Cavalo de Tróia” – não dos “trojan horses” que invadem nossos computadores, mas da lenda do grande cavalo de madeira associada a conquista da cidade de Tróia. Diz a lenda que o monumental cavalo de madeira foi presenteado aos troianos pelos gregos com soldados escondidos em seu interior que aguardaram a chegada da noite para sair do esconderijo e abrir os portões da cidade para o exército grego. O resultado foi a invasão e a dominação de Tróia.

Lembrei desse “presente de grego”, pois a figura do suplente de Senador me dá a idéia de que elegemos um senador e concordamos que ele ocupe uma cadeira no Senado. Em determinado momento, por conta de negociações não muito claras, o senador assume alguma outra função – ou foge de uma “cassação” – e somos surpreendidos com um novo senador sem votos e, não raras vezes, desconhecido da grande maioria que passará a representar. Como isso pode acontecer independente do número de suplentes, somente a ausência dessa aberração pode garantir efetiva representatividade.

Por outro lado, o suplente (ou suplentes) pode representar a própria oportunidade de eleição para o candidato a senador, pois estaria aí uma das fontes de recursos para pagamento das despesas de campanha eleitoral. Até por isso, o grupo senatorial pode até concordar em diminuir o número, mas dificilmente concordará com o fim da suplência.

Para se ter uma idéia do dramaticismo que tomou conta da condução dos trabalhos referentes a esse “Cavalo de Tróia”, o Estadão publicou que:
A discussão da emenda sobre suplentes apresentada pelo líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR), se assemelhou a uma trama policial. Os senadores abordaram o risco de assassinato deles, questionando se a medida interessaria mais ao suplente ou a outros políticos interessados na vaga do Senado. Para Jucá, o risco existe tanto da parte do suplente como de outro político. Daí porque ele prefere abolir a ideia de nova eleição e privilegiar o suplente como substituição, como ocorre hoje, no caso de o senador ser assassinado. "Estamos levando na brincadeira, mas é um assunto sério", alegou Jucá. "Estamos abrindo (a opção de mandar matar o senador) para sociedade em geral, qualquer um pode mandar matar o senador", alertou. De seu lugar na presidência da CCJ, o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) reagiu: "Eu estou é com medo", deixando claro que a ideia de ser assassinado por causa de seu mandato jamais lhe passou pela cabeça. O relator Luiz Henrique (PMDB-SC), rejeitou a emenda, lembrando que o próprio suplente pode se sentir estimulado a "a mandar matar o senador". Os senadores Pedro Taques (PDT-MT) e Demóstenes Torres (DEM-GO) reconheceram hoje que o "monopólio" de um possível assassinato cabe hoje a eles, os suplentes, mas que isso não justifica a mudança. "Vamos aprovar do jeito que está, se começar a morrer senador a gente muda", defendeu Demóstenes, apoiado pela quase totalidade de seus colegas. A outra emenda rejeitada, do ex-senador Wilson Santiago (PMDB-PB), tentava manter o atual número dois suplentes por senador.

         Como essa humilhação impingida aos cidadãos pela suplência de senador dá margem a essa verdadeira “trama policial” urdida por alguns senadores, conforme acima, acredito que uma forma de regularizar isso, não sendo possível abrir mão da suplência pelos temores evidenciados, seria a extinção do próprio senado para que o dinheiro público deixe de financiar discussões ridículas como a dessa suplência que nunca deveria ter existido.

Como hoje é dia da Tertúlia, aqui no Blog, publico uma história que, segundo o sítio Jangada Brasil (http://www.jangadabrasil.org), foi contada por um preto velho, Lúcio Lenis, de Leopoldina-MG, e que em 1961, morava em Ribeirão Claro-PR. Essa história tornou-se uma fábula brasileira, em que a onça termina em um bom local para acomodar todos os "suplentes" referidos (ainda que não nomeados) nesta postagem ou, como termina a fábula, que eles sigam seus caminhos (desde que bem longe do lugar que não conquistaram com votos).


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A ONÇA QUE PROCURA JUSTIÇA
                                 
Uma onça caiu numa cova bem funda e não podia mais sair de lá. Passou uma raposa e a onça pediu à raposa:

– Tira-me daqui!

A raposa respondeu:

– Isso não faço, se eu te tiro, tu me comes.

A onça continuou a pedir. A raposa perguntou:

– O que me fazes se te tiro?

A onça respondeu:

– Te faço justiça.

– Então, tu não me comes?

– Não, eu te faço justiça.

A raposa, então, pendurou o rabo no buraco e a onça segurou-o. E assim a onça saiu do buraco.

Mal a onça se viu livre, quis comer a raposa. E esta lhe disse:

– Ora, que justiça é esta?

A onça replicou:

– Eu tenho direito de comer, pois estou com fome.

A raposa:

– Isto não é justiça, vamos procurar justiça.

Então, foram andando e passou um cachorro. Perguntaram a ele o que é justiça e contaram o caso. Então, o cachorro disse:

– Comer o que tem.

E a raposa falou:

– Então, coma ele, ele é mais gordo do que eu.

Mas o cachorro pulou a cerca que estava perto e a onça não pôde agarrá-lo. A onça e a raposa continuaram a procurar alguém que dissesse no caso o que é justiça. Nenhum animal, porém, sabia dizer com certeza.

Então, viram pulando um sapo e indagaram dele o que é justiça. Ele declarou que precisava ver como foi a situação. A onça aí pulou dentro do buraco para mostrar como foi. E o sapo disse:

– A justiça está nisto; a onça fica onde está e a raposa segue o seu caminho.


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         Para encerrar a Tertúlia, a música "Comício no Mato", de Joaquim Augusto e Nelson Barbalho, com o saudoso Luiz "Lua" Gonzaga.

  

         Um grande abraço e até a próxima!

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