Os
traiçoeiros são sempre desconfiados.
(John
Ronald Reuel Tolkien)
Amigas e Amigos,
Vi uma matéria do jornal “O Estado de São Paulo”, sobre uma
proposta de reduzir a quantidade de suplentes de senador de dois para um, cujo
texto deve ser julgado até o fim deste mês, mas que ainda passará pelo crivo da
Câmara.
Enquanto lia, lembrei do famoso “Cavalo de Tróia” – não dos “trojan horses” que invadem nossos computadores, mas da lenda do grande cavalo de madeira associada a conquista da cidade de Tróia. Diz a lenda que o monumental cavalo de madeira foi presenteado aos troianos pelos gregos com soldados escondidos em seu interior que aguardaram a chegada da noite para sair do esconderijo e abrir os portões da cidade para o exército grego. O resultado foi a invasão e a dominação de Tróia.
Lembrei desse “presente de grego”, pois a figura do suplente
de Senador me dá a idéia de que elegemos um senador e concordamos que ele ocupe
uma cadeira no Senado. Em determinado momento, por conta de negociações não
muito claras, o senador assume alguma outra função – ou foge de uma “cassação” –
e somos surpreendidos com um novo senador sem votos e, não raras vezes,
desconhecido da grande maioria que passará a representar. Como isso pode
acontecer independente do número de suplentes, somente a ausência dessa aberração
pode garantir efetiva representatividade.
Por outro lado, o suplente (ou suplentes) pode representar a
própria oportunidade de eleição para o candidato a senador, pois estaria aí uma
das fontes de recursos para pagamento das despesas de campanha eleitoral. Até
por isso, o grupo senatorial pode até concordar em diminuir o número, mas
dificilmente concordará com o fim da suplência.
Para se ter uma idéia do dramaticismo que tomou conta da
condução dos trabalhos referentes a esse “Cavalo de Tróia”, o Estadão publicou
que:
A discussão da emenda sobre suplentes apresentada pelo líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR), se assemelhou a uma trama policial. Os senadores abordaram o risco de assassinato deles, questionando se a medida interessaria mais ao suplente ou a outros políticos interessados na vaga do Senado. Para Jucá, o risco existe tanto da parte do suplente como de outro político. Daí porque ele prefere abolir a ideia de nova eleição e privilegiar o suplente como substituição, como ocorre hoje, no caso de o senador ser assassinado. "Estamos levando na brincadeira, mas é um assunto sério", alegou Jucá. "Estamos abrindo (a opção de mandar matar o senador) para sociedade em geral, qualquer um pode mandar matar o senador", alertou. De seu lugar na presidência da CCJ, o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) reagiu: "Eu estou é com medo", deixando claro que a ideia de ser assassinado por causa de seu mandato jamais lhe passou pela cabeça. O relator Luiz Henrique (PMDB-SC), rejeitou a emenda, lembrando que o próprio suplente pode se sentir estimulado a "a mandar matar o senador". Os senadores Pedro Taques (PDT-MT) e Demóstenes Torres (DEM-GO) reconheceram hoje que o "monopólio" de um possível assassinato cabe hoje a eles, os suplentes, mas que isso não justifica a mudança. "Vamos aprovar do jeito que está, se começar a morrer senador a gente muda", defendeu Demóstenes, apoiado pela quase totalidade de seus colegas. A outra emenda rejeitada, do ex-senador Wilson Santiago (PMDB-PB), tentava manter o atual número dois suplentes por senador.
Como essa humilhação impingida aos
cidadãos pela suplência de senador dá margem a essa verdadeira “trama policial”
urdida por alguns senadores, conforme acima, acredito que uma forma de
regularizar isso, não sendo possível abrir mão da suplência pelos temores
evidenciados, seria a extinção do próprio senado para que o dinheiro público
deixe de financiar discussões ridículas como a dessa suplência que nunca
deveria ter existido.
Como hoje é dia da Tertúlia, aqui no Blog, publico uma
história que, segundo o sítio Jangada Brasil (http://www.jangadabrasil.org), foi
contada por um preto velho, Lúcio Lenis, de Leopoldina-MG, e que em 1961, morava
em Ribeirão Claro-PR. Essa história tornou-se uma fábula brasileira, em que a onça termina em um bom local para acomodar todos os "suplentes" referidos (ainda que não nomeados) nesta postagem ou, como termina a fábula, que eles sigam seus caminhos (desde que bem longe do lugar que não conquistaram com votos).
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A ONÇA QUE PROCURA JUSTIÇA
Uma onça caiu numa cova bem funda e não podia mais sair de
lá. Passou uma raposa e a onça pediu à raposa:
– Tira-me daqui!
A raposa respondeu:
– Isso não faço, se eu te tiro, tu me comes.
A onça continuou a pedir. A raposa perguntou:
– O que me fazes se te tiro?
A onça respondeu:
– Te faço justiça.
– Então, tu não me comes?
– Não, eu te faço justiça.
A raposa, então, pendurou o rabo no buraco e a onça
segurou-o. E assim a onça saiu do buraco.
Mal a onça se viu livre, quis comer a raposa. E esta lhe
disse:
– Ora, que justiça é esta?
A onça replicou:
– Eu tenho direito de comer, pois estou com fome.
A raposa:
– Isto não é justiça, vamos procurar justiça.
Então, foram andando e passou um cachorro. Perguntaram a ele
o que é justiça e contaram o caso. Então, o cachorro disse:
– Comer o que tem.
E a raposa falou:
– Então, coma ele, ele é mais gordo do que eu.
Mas o cachorro pulou a cerca que estava perto e a onça não
pôde agarrá-lo. A onça e a raposa continuaram a procurar alguém que dissesse no
caso o que é justiça. Nenhum animal, porém, sabia dizer com certeza.
Então, viram pulando um sapo e indagaram dele o que é
justiça. Ele declarou que precisava ver como foi a situação. A onça aí pulou
dentro do buraco para mostrar como foi. E o sapo disse:
– A justiça está nisto; a onça fica onde está e a raposa
segue o seu caminho.
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Para encerrar a Tertúlia, a música "Comício no Mato", de Joaquim Augusto e Nelson Barbalho, com o saudoso Luiz "Lua" Gonzaga.
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