sábado, 12 de maio de 2012

GALERIA SERTANEJA – RIO DE LÁGRIMAS... E VERBAS PERDIDAS


É mais fácil encontrar quem chore com as nossas tristezas
que quem rejubile com as nossas alegrias.
(Jacinto Benavente y Martinez)






Amigas e Amigos,

Já havia escolhido a música – “Rio de Lágrimas” – para esta Galeria Sertaneja, quando escutei na rádio CBN que o deputado Acelino Popó Freitas usou o seu gabinete político para promoção de um evento pessoal. Fica a impressão de que o mau uso da máquina pública transborda mais do que o rio de Piracicaba.

Esse – talvez não raro – uso indevido do gabinete ficou patente no e-mail oficial do deputado, convidando para a luta de sua  despedida do pugilismo, que acontecerá no cassino Conrad, em Punta Del Este (Uruguai), no próximo dia 2 de junho.




Na página de CBN, na Internet, foi publicado o e-mail enviado às 16h33, do ontem, pelo ex-pugilista e deputado, com o seguinte título: “Dep. POPÓ convida para sua Luta de Despedida”. Abaixo, segue a transcrição do teor do convite (que foi encaminhado com o cartaz do evento):
Olá Amigo,Tenho o prazer de encaminhar o CONVITE ESPECIAL para minha luta de despedida do boxe. Muito me honraria a sua presença.Informo que o meu gabinete estará dando suporte para os interessados em participar do evento. Peço a gentileza de entrar em contato com Wendell ou Alessandra pelos ramais 52576/51576.Gostaria de destacar que à empresa All in Tour é a única responsável pelas hospedagens dentro do próprio CONRAD e estará devidamente preparada para lhe atender.

Acredito que o uso indevido de crase seja o menor problema dentre os que se evidenciam com esse e-mail. Mesmo com toda a informalidade proporcionada pela Internet, um e-mail oficial de um deputado federal tem um apelo mais significativo do que seria conseguido com um e-mail pessoal.

Além disso, o fato dos dois funcionários que, prestando serviços ao gabinete e sendo remunerados com verbas públicas, estarão dando suporte pode significar – pelo extenso período que estarão a disposição do evento pessoal do deputado – que tenhamos nos gabinetes pessoal sem trabalho e ocupando vagas.

Mas a grande preocupação é com a propaganda da empresa de turismo, que foi feita de forma oficial pelo deputado para os que eventualmente queiram acompanhá-lo nessa despedida dos ringues. Segundo informação da própria CBN a empresa não seria a “única responsável pelas hospedagens dentro do próprio CONRAD” como constou no e-mail.

No cartaz da luta que acompanha o convite, aparece uma declaração de Popó, onde a sua luta de despedida é dedicada a “todo o povo brasileiro, que precisa de um ídolo, uma referência”. Mas será que esse ídolo, ou essa referência, que o povo brasileiro precisa pode ser alguém que faz esse tipo de uso do erário?


          A despedida do desportista não mereceria a mancha provocada pelo mau exercício do cargo público, mas as “tentações” propiciadas pelas certezas de impunidade para tais delitos devem ter sido difíceis de resistir.

          A música de hoje, “Rio de Lágrimas”, foi composta nos anos 60 por Lourival dos Santos (1917-1997), Tião Carreiro (1934-1993) e Piraci (1917-1974). Segundo dizia Lourival dos Santos, a inspiração para essa música foi “Marrequinha da Lagoa”, música cantada por Isaurinha Garcia.

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RIO DE LÁGRIMAS
                                  Lourival do Santos, Tião Carreiro e Piraci


O rio de Piracicaba vai jogar água pra fora
Quando chegar a água dos olhos de alguém que chora.

La na rua onde eu moro só existe uma nascente
A nascente dos meus olhos já formou água corrente
Pertinho da minha casa já formou uma lagoa
Com lagrima dos meus olhos por causa de uma pessoa.

O rio de Piracicaba vai jogar água pra fora
Quando chegar a água dos olhos de alguém que chora.

Eu quero apanhar uma rosa, minha mão já não alcança
Eu choro desesperado igualzinho a uma criança
Duvido alguém que não chore pela dor de uma saudade
Quero ver quem que não chora quando amar de verdade.

O rio de Piracicaba vai jogar água pra fora
Quando chegar a água dos olhos de alguém que chora.



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         Para encerrar a Galeria Sertaneja de hoje, fica a interpretação de “Rio de Lágrimas” com a dupla responsável pela primeira gravação (considerado o maior sucesso deles): Tião Carreiro e Pardinho.





         Um grande abraço e até a próxima!

quinta-feira, 10 de maio de 2012

TERTÚLIA NATIVA – PREFEITO DE ARAQUE


Quando vemos um gigante, temos primeiro de examinar a posição do sol
e observar para termos certeza de que não é a sombra de um pigmeu.
(Friedrich Von Hardenberg Novalis)



Amigas e Amigos,

Notícia de ontem, do portal G1, sobre a aplicação de golpes de um “falso” prefeito que teria aplicado golpe em empresários merece uma reflexão. Não penso que, no contexto apresentado, o crime de estelionato ou a assunção de cargo de maneira fraudulenta possam ser a grande inquietação.


 


Antes de continuarmos as considerações sobre essa temática, penso ser interessante publicar a informação do G1:
O homem, suspeito de aplicar golpes em empresários se passando por prefeito de várias cidades, preso nesta quarta-feira (09) em Bauru, SP, tem uma ficha criminal de mais de 10 metros. Ele já havia sido preso pelo mesmo tipo de golpe em 2006 e respondia em regime aberto quando foi flagrado cometendo o mesmo crime. O homem, de 61 anos, se apresentava como prefeito para donos de construtoras e empresas de pavimentação asfáltica. O golpista mostrava interesse em contratar os serviços, mas, em contrapartida, pedia doações em dinheiro para reformar escolas e creches. “Mas, tudo não passava de um golpe muito bem articulado. Ele sempre pedia para os empresários ligarem no celular dele porque ele estaria em viagem ou compromissos fora, para assim a pessoa não ligar da prefeitura e constatar que era um golpe e não estava realmente falando com o prefeito”, explica o delegado Jader Biazon. Imagens gravadas pela polícia durante as investigações mostram o golpista e seus comparsas sacando, no banco, o dinheiro depositado pelas vítimas. Segundo a polícia, pelo menos 50 empresários de São Paulo, Minas Gerais e Paraná caíram no golpe e doaram entre R$2 mil e R$25 mil. O golpista escolhia empresas que já tinham prestado serviços às prefeituras de grandes cidades, e se passava por prefeito de municípios vizinhos. O mapa feito pela polícia mostra a extensão alcançada pelos golpistas. Na região Centro-Oeste, eles conseguiram tirar dinheiro de empresários de Ourinhos, Marília, Assis e Agudos. Além do golpista que se passava por prefeito, mais três pessoas que faziam parte do esquema foram presas em Bauru e Agudos. Os quatro tiveram a prisão temporária decretada pela Justiça e foram encaminhados para Penitenciária de Pirajuí e vão responder pelo crime de estelionato.

Continuando essa avaliação dos fatos, chama à atenção, em primeiro lugar, a forma dos contatos iniciais com as futuras vítimas. O suspeito, ao se apresentar como prefeito mostrava interesse em contratar as empresas para obras públicas e já sinalizava com a necessidade de alguns “adiantamentos” para reformas na “sua jurisdição”.

Em segundo lugar, a escolha das vítimas, onde eram selecionadas empresas prestadoras de serviços a outras prefeituras, o que aparentemente os suspeitos consideravam com maior probabilidade de “novas oportunidades” serem bem acolhidas.

Como último ponto desta análise, a quantidade de golpes com “sucesso” não foi, aparentemente, muito pequena e a extensa delimitação geográfica de atuação do grupo (os estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná). Esses três estados já foram mapeados, mas podem surgir vítimas de outras regiões no decorrer do processo.

Com todos os fatos considerados, pode-se pensar – com preocupação – sobre a maneira das empresas acostumadas a negociar com prefeituras, no caso as escolhidas pelos suspeitos, “abraçarem” as causas do “pseudoprefeito” como uma prática natural para todos os envolvidos. A equipe das “falsas prefeituras” foi desbaratada (pelo menos até que alguma liminar os coloque novamente na ativa), mas a grande questão é se as “prefeituras de grandes cidades”, conforme aparece na notícia do G1, não mereceriam algum tipo de atenção investigativa a partir do comportamento natural das empresas com essa espécie de propina. Não parece estranho?
Com tanta possibilidade de possíveis ilícitos, a Tertúlia de hoje traz a poesia “Contrabando”, do saudoso poeta e escritor gaúcho Apparício Silva Rillo, onde Nico, um antigo contrabandista – talvez menos perigoso que alguns dos envolvidos nas situações que apareceram acima –, teve um final dramático.

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CONTRABANDO
                                  Apparício Silva Rillo


Vai a barca de farinha
cruzando o velho Uruguai.

Vaqueano dessas cruzadas
vem na popa um índio moço
manejando o varejão.

Vem atento e vem pensando:
Vou deixar do contrabando,
não é vida pra um cristão.
Hoje eu vim porque o menino
deu sumiço na chupeta
e aquele piá trompeta
saiu louco de chorão...

Sorri o moço da popa
porque no bolso da roupa
traz o bico pro piá.

Ouve um tiro, de repente,
vindo da banda de lá!
Foi tiro de sinal.

Já no mais o tiroteio
se acendeu no macegal,
pipocando seco e feio
como entrechoque de guampas
no entrevero do rodeio
no dia em que se dá sal.

Mala suerte!
O barco vinha chegando,
e a carga do contrabando
com mais dez braças de rio,
tinha subido a picada,
da picada pra carreta,
e dai pro caminhão.

Ouve um grito de: – Lá fresca,
o Nico se lastimou!
Mas ninguém botou tenência
no sentido deste grito,
porque a coisa vinha preta
sob o tendal de balaços
que a guarda ajena estendeu.

Cada bala que cruzava
debochava de assobio!

Quando o barco deu no porto
no lado de cá do rio,
o pessoal ganhou o mato,
na picada se sumiu.
O barco ficou sozinho
na madrugada e no rio.

Digo mal: ficou o Nico
sobre um saco de farinha
que um balaço espedaçou.
Tinha um lenço maragato
na brancura da farinha
onde o índio se apoiou.
Foi quando a manhã surgiu,
mostrando o sangue do Nico
pingando dentro do rio...

Menino, cala esta boca,
não demora chega o Nico,
vai-te trazer outro bico
que é pra tu não chorar mais.

Veio a manhã, veio a tarde,
veio a boieira luzir.
Veio a noite grande e morta,
A china veio pra porta,
E nada do Nico vir!

Veio um dia,
mais um dia,
veio outro dia depois.

Ao pé de uma lamparina
vela em silêncio uma china
que de chorar se cansou.
Numa cama de pelego
choraminga sem sossego
um piazito babão.

Choraminga! Choraminga!
...porque o pai não trouxe o bico,
e o que tinha se extraviou...

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         Para encerrar esta Tertúlia Nativa, do saudoso poeta e compositor Luiz Menezes, com Dante Ramon Ledesma - cantor nascido na Argentina e naturalizado brasileiro desde 1978 -, "Milonga do Contrabando".





         Um grande abraço e até a próxima!

terça-feira, 8 de maio de 2012

ORATÓRIO CAMPEIRO – ELABORAR LEIS: TRABALHO OU PASSATEMPO?


Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas!
Pagais o dízimo da hortelã, da erva-doce e do cominho,
e deixais de lado os ensinamentos mais importantes da Lei,
como o direito, a misericórdia e a fidelidade.
Isto é que deveríeis praticar, sem contudo deixar aquilo.
 (São Mateus 23,23)






Amigas e Amigos,

         Depois de ler o Jornal do Comércio, de Porto Alegre, fiquei pensando sobre o exercício do voto. O voto, independente de considerado como um direito ou como um dever, é uma oportunidade de atuação significativa nas decisões no âmbito dos municípios, dos estados e do país.
    
         No entanto, o que se pode aferir após cada nova eleição é que o voto é desperdiçado – talvez por desânimo do eleitor – e essa falta de compromisso acaba se refletindo na atuação dos agentes públicos eleitos. Como exigir comprometimento dos eleitos se os eleitores não se comprometeram com a eleição?

         Foi com o voto que se escreveu algumas das páginas mais nauseabundas da nossa recente história política, recheada de escândalos não resolvidos a partir da reciprocidade oferecida por asseclas dos suspeitos – em alguns casos, um pouco mais do que apenas suspeitos.
        
         Esse comentário surge a partir da coluna “Espaço Vital”, do mencionado Jornal do Comércio, página 27 da edição de hoje, onde se pode ler que:
Entra ano, sai ano e o Brasil continua produzindo leis inconstitucionais. É o que mostra um levantamento feito pelo Anuário da Justiça Brasil 2012. Os números apontam que 83% das leis brasileiras que foram alvo de ações no STF no ano passado acabaram sendo derrubadas. Em 2011, das 79 normas julgadas, 66 foram declaradas inconstitucionais - o número inclui matérias federais e estaduais. O “campeão” é o Estado do Rio de Janeiro, que, no ano passado, viu 100% de suas 13 leis julgadas pelo Supremo serem consideradas inconstitucionais. De acordo com o anuário, produzido pelo saite Consultor Jurídico em parceria com a Fundação Armando Alvares Penteado, os legislativos locais são os campeões no quesito produção de normas que ferem os preceitos da Constituição. O Distrito Federal aparece em segundo lugar no ranking de unidades da Federação que produziram mais legislações ilegais: entre as sete leis distritais apreciadas, seis foram anuladas pelo STF. Uma das normas distritais revogadas pelo STF é a Lei n° 3.769/06, que proibia o GDF de realizar processo seletivo para a contratação de estagiários. No julgamento, realizado em fevereiro de 2011, os ministros avaliaram que a lei feria os princípios da impessoalidade e da igualdade, uma vez que, segundo eles, o “tratamento igualitário” só pode ser promovido por meio de seleções públicas.

         Cada uma dessas leis declaradas inconstitucionais, conforme a matéria acima, consumiu significativo número de horas de trabalho de legisladores – talvez não capacitados para esse exercício – que foram remuneradas com dinheiro público. Essa lesão ao patrimônio público por ação – ou omissão – dos legisladores não deveria ser passível de ressarcimento por parte dos que se envolveram com essa negligência?

         O fato de perder tempo com a elaboração de leis inconstitucionais parece, em princípio, constituir ato de improbidade administrativa. Em sendo, deveriam todos os agentes públicos eleitos, envolvidos na lesão ao erário, serem responsabilizados e julgados por isso. A Lei nº 8.429, de 2/06/92, que dispõe sobre as sanções aplicáveis a esse tipo de irregularidade, prevê em seu Art. 12, o ressarcimento integral do dano, o pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano, a perda da função pública e a suspensão dos direitos políticos por determinado período.

         Por tudo que foi exposto, penso que não é somente o pouco valor dado ao voto que gera tanta incompetência entre uma parte de nossos eleitos. Parece que o “esquecimento” de leis que podem amenizar a incompetência e valorizar o efetivo trabalho dos legisladores funcionam, também, como motivadores para esse tipo  de passatempo, onde o tempo é desperdiçado com o faz de conta que se produz uma lei.

         Improbidade administrativa não prevê punições de caráter penal, o que deixa eventuais culpados dispensados de invocar o santo desse dia 8 de maio: São Vítor, o Mouro – o padroeiro dos prisioneiros.

         Hoje, também, se comemora mais um título da Virgem Maria. Ela é celebrada como Nossa Senhora de Lujan, a Padroeira da Argentina, cuja devoção remonta ao ano de 1630, quando duas imagens da Imaculada Conceição foram levadas de São Paulo para a Argentina. Próximo ao rio Lujan – cerca de 70 km. de Bueno Aires –, a caravana não consegui prosseguir e o local acabou dando origem a um espaço de devoção à Virgem.

                                                                                  Nossa Senhora de Lujan

         A sugestão para esta semana é nos dirigirmos à Virgem de Lujan para que ela ilumine nossos legisladores nas tarefas inerentes aos seus cargos, lembrando-os de que mandato não deve ser confundido com emprego e que remuneração justa não está atrelada a salários estratosféricos.
        
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ORAÇÃO A NOSSA SENHORA DE LUJAN

Ó Virgem Santíssima de Lujan!
A ti recorremos neste vale de lágrimas,
Atraídos pela fé e pelo amor
Que tu mesma infundiste em nosso coração.

Ó Mãe querida!
Alivia a nossa dor,
Consola as nossas angústias,
Dá-nos o pão material e o alimento espiritual
Para fortalecer o nosso corpo e a nossa alma.
Faze com que não nos falte
Um emprego estável e uma justa remuneração.
Elimina o ódio e o egoísmo
Do coração de todos os homens.

Virgem Santíssima de Lujan!
Ilumina o nosso caminho para que,
Unidos na paz e fraternidade,
Com todos os irmãos da terra,
Continuemos a marcha gloriosa para a casa do Pai.

Abençoa, ó Mãe,
A Argentina e o Brasil,
Cujos filhos cantam os teus louvores,
Agora e pelos séculos dos séculos.
Amém!

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         A música escolhida para este Oratório Campeiro é "Ave Maria da Minha Infância", do Padre Zezinho, interpretada pela Joanna.



Um grande abraço e que a Paz de Cristo permaneça conosco!

segunda-feira, 7 de maio de 2012

ABRINDO A PORTEIRA – TRÂNSITO PARA INGLÊS VER


Todas as culturas se fundam mais sobre preconceitos do que sobre verdades.
(Friedrich Durrenmatt)





Amigas e Amigos,


         Comecei o dia, hoje, escutando rádio – é um jeito de começar uma nova jornada que muito me atrai pela afinidade que tenho com esse meio de comunicação – e, entre os primeiros registros locais (em Brasília), foram noticiados diversos pontos de congestionamento com atraso em deslocamentos para trabalho e escolas, principalmente.

         Ainda no decorrer da manhã, ao ler algumas notícias no portal “Folha.com”, chamou minha atenção o tamanho das filas de carros e a lentidão do trânsito no início deste dia, em São Paulo. Dizia o referido portal que:
O trânsito piorou na cidade de São Paulo e já chegava aos 143 km de filas às 9h desta segunda-feira. O índice era o segundo maior registrado no período da manhã neste ano, ficando atrás apenas dos 168 km registrado às 9h30 do dia 27. A lentidão das 9h de hoje corresponde a 16,2% dos 868 km de vias monitoradas. A média para o horário é de 13,1%. A pior região era a zona sul, com 55 km de filas, segundo dados da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). A causa do elevado índice ainda não foi divulgado pela companhia. A via mais congestionada era a marginal Pinheiros, com 9,3 km de retenção na pista expressa, no sentido Interlagos. O problema ia da Castello Branco até a ponte Cidade Jardim. Houve um bloqueio parcial na via mais cedo, na altura da avenida do Morumbi, devido a acidente, mas já estava liberado no horário. A Radial Leste também registrava lentidão, com 4,7 km de filas no sentido centro, desde o viaduto Pires do Rio até a rua Wadenkolk. O problema era resultado da grande quantidade de veículos. Segundo o serviço da empresa MapLink, usado pela Folha, a cidade tinha 385 km de filas no horário.

         Pensei, por um momento, nas pessoas que passavam pelo drama de serem vítimas do sistema de circulação de veículos em São Paulo. Fiquei imaginando o que poderia ser feito havendo necessidade de algum deslocamento mais urgente por qualquer motivo – mais preocupante ainda seria se o motivo fosse a vida de alguém. Guardadas as proporções, as vítimas de Brasília também passavam por grande desconforto de não conseguir chegar até seus compromissos no horário planejado, provavelmente já imaginando alguma desculpa pelo atraso, que se torna cada vez mais freqüente na capital brasileira.

         Acredito que a situação nas metrópoles brasileiras não seja muito diferente das acima descritas, com diferenças apenas na intensidade de cada evento. Parece que com o passar do tempo, o exotismo da situação vai desaparecendo, tornando o congestionamento algo que deve fazer parte da experiência diária de cada um.



         Mas volto novamente às pessoas que, absolutamente impotentes, são vítimas dos congestionamentos – diários ou freqüentes – para pensar um pouco mais sobre quem são essas cidadãs e esses cidadãos. Acredito que, se não todos, a grande maioria deles está com o Imposto de Renda pago – talvez até com dinheiro recolhido a mais pelo governo que ainda demorará para devolvê-lo. Acredito, ainda, que a imensa maioria – ou todos, novamente – esteja com o IPVA também pago.

         Pois com todo esse dinheiro que, sem escolha, entregam para o governo, as mencionadas vítimas recebem em troca esse desserviço por parte dos que deveriam estar proporcionando boas condições de vida para todos. Junte-se ao dispêndio de verba de cada contribuinte o acréscimo proporcionado para alguns por eventuais pedágios – que ainda podem consumir tempo.

         A expectativa de que as obras prometidas para a Copa do Mundo no Brasil solucionem boa parte dos problemas de tráfego parecem cada vez mais distante do cumprimento dessas “promessas” – ainda que as verbas destinadas a este fim sejam, com estão sendo, totalmente consumidas (inclusive as já majoradas e as que ainda sofrerão acréscimos). Para solução dos problemas de circulação no período da Copa, o governo já acenou com a criativa solução de decretar feriados nos dias de jogos, pois em caso contrário restará a expectativa de que os ingleses venham em bom número para o evento, dada a constatação possível de que estão sendo feitas obras “para inglês ver”. 

         A música escolhida para abrir a porteira da semana é "Meu Carro Velho", de José Rico, com Milionário & José Rico. Essa música é para lembrar que novas tecnologias acabaram "aposentando" muito carro de boi, que andavam bem mais rápido do que os modernos carros de hoje que praticamente estacionam em longos "engarrafamentos".


Um grande abraço e até a próxima!