sábado, 3 de março de 2012

GALERIA SERTANEJA – A CHALANA SE VAI. JÁ OS CAÇA-NÍQUEIS...



 
Temos visto do jogo muitas e mui variadas definições.
A única porém que inteiramente nos satisfaz é a seguinte: o jogo é uma asneira.
(Ramalho Ortigão)



Amigas e Amigos,

Na Galeria desta semana, comento matéria do portal G1, sobre a prisão de suspeitos da exploração de caça-níqueis, um esquema que já  completou, pelo menos, 17 anos, sem que ninguém – considerando apenas os “peixes graúdos” – tenha sofrido qualquer repressão. Para melhor compreensão sobre como se perpetua esse tipo de esquema contravencional, é interessante a leitura das notícias sobre o assunto que, conforme o G1:
Uma operação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal prendeu 31 pessoas em quatro estados e no Distrito Federal.  O principal suspeito já foi personagem de outro escândalo, do primeiro escândalo do governo do então presidente Luís Inácio Lula da Silva [Em um vídeo, feito em 2002, Waldomiro Diniz, que era presidente da Loterj, estaria pedindo propina a Carlinhos Cachoeira. As imagens foram divulgadas em 2004, quando Waldomiro era assessor do então ministro da Casa Civil José Dirceu]. Agora, de acordo com a polícia, Carlinhos Cachoeira, empresário do ramo de jogos, comandava há 17 anos um esquema de exploração de caça-níqueis. A investigação revelou que a quadrilha explorava jogos em máquinas caça-níqueis com a proteção de policiais, a maioria de Goiás, que acabaram presos. Eram policiais militares, civis, e até delegados da própria Polícia Federal. Eles avisavam quando havia uma investigação. Em troca, recebiam propina, de R$ 200 a R$ 4 mil.

          Aparentemente, o referido esquema é mais complexo do que se possa estar imaginando, pois a operação da Polícia Federal já levou o comandante da PM de Goiânia a entregar o seu cargo, por ter o seu nome na lista de suspeitos dessa contravenção. Sobre os suspeitos, diz o G1:
Além de Carlinhos Cachoeiro, há pelo menos 19 detidos, entre eles o empresário e ex-presidente da Câmara Municipal em Goiânia, Wladimir Garcês. [...] De acordo com dados da assessoria de comunicação do MPF em Goiás, a investigação durou cerca de 15 meses. Nesse período, foram identificados como supostos integrantes do grupo criminoso infiltrados na área de segurança pública: dois delegados de Polícia Federal em Goiânia, seis delegados da Polícia Civil em Goiás; três tenentes-coronéis, um capitão, um major, dois sargentos, quatro cabos e 18 soldados da Polícia Militar em Goiás; um auxiliar administrativo da Polícia Federal em Brasília; um policial rodoviário federal, um agente da Polícia Civil de Goiás e um agente da Polícia Civil de Brasília; um sargento da Polícia Militar em Brasília, um servidor da Polícia Civil em Goiás; um servidor da Justiça Estadual de Valparaíso de Goiás.

          Parece que na Pasárgada Brasilis, os amigos do rei são numerosos, pois os advogados de Carlos Cachoeira e Wladimir Garcez vão pedir a soltura de seus clientes por acreditarem que “não há fundamento legal para prisão”. Sobre essas “fundamentadas” defesas o G1 informa que:
Segundo Cruvinel, as ligações telefônicas são indícios e não provas efetivas. "Você pode ligar para uma pessoa, conversar um determinado assunto mas não praticar o ato. Não há provas específas de qualquer atuação dele que seja criminosa ou justifique o ato de prisão". De acordo com o advogado Jeová Viana Borges Júnior, Wladimir Garcez teria todos os requisitos necessários para aguardar a conclusão do inquérito em liberdade. "Ele tem residência fixa, certidões negativas, trabalho, então a gente entende que ele tem esse direito", argumenta. "Nem denúncia houve ainda do Ministério Público", diz. O relatório do Ministério Público Federal (MPF), feito com base em investigações da PF, ao qual o G1 teve acesso, mostra conversas entre o suposto número 1 da organização criminosa e Wladimir, considerado o braço direito de Cachoeira. Em um dos diálogos ele é questionado se tem cinco máquinas caça-níqueis e responde: "Não, são dez equipamentos". Wladimir é acionado para entrar em contato com membros da cúpula da Polícia Civil de Goiás (PCGO) para paralisar operações de apreensão de máquinas. Em uma das escutas, ele retorna uma ligação para Cachoeira dizendo estar ao lado da autoridade da PCGO tentando pegar com o serviço de inteligência os endereços de operações do Grupo Tático 3 (GT3).

          Como se pode encontrar no mercado uma grande oferta de produtos para conservação de “caras-de-pau”, não se deve descartar a possibilidade de, diante do “belíssimo” currículo profissional dos gestores da contravençao, os dois advogados citados acima entrarem com um processo de beatificação de seus santos clientes. Quem sabe, daqui a 17 anos as notícias serão sobre os 34 anos da exploração de máquinas caça-níqueis sempre sob a mesma direção (afinal, esse negócio de "nova direção" é para quem não tem um bom "padrinho").


Como o momento é de Galeria Sertaneja, deixo abaixo a letra de  “Chalana”, grande sucesso de Mario Zan (Mário João Zandomeneghi, que nasceu na Itália e veio para o Brasil com 4 anos) e Arlindo Pinto. Chalana foi gravada pela primeira vez por Mario Zan, em 1954.

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CHALANA
                                  Arlindo Pinto e Mario Zan

Lá vai uma chalana

Bem longe se vai

Navegando no remanso

Do rio Paraguai


Oh! Chalana sem querer

Tu aumentas minha dor

Nestas águas tão serenas

Vai levando meu amor


E assim ela se foi

Nem de mim se despediu

A chalana vai sumindo

Na curva lá do rio

E se ela vai magoada

Eu bem sei que tem razão

Fui ingrato eu feri

O seu pobre coração


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         Na Galeria hoje, a interpretação é das Irmãs Castro, dupla sertaneja formada pelas irmãs Maria de Jesus Castro – que nasceu em Itapeva-SP, em 1926 – e Lourdes Amaral Castro – que nasceu em Bauru-SP, em 1928.

  

          Um grande abraço e até a próxima!



sexta-feira, 2 de março de 2012

TERTÚLIA NATIVA – ELES QUE VENHAM, "NÓIS SEMO MAIS HOMEM"


O homem citado recorda-nos os bárbaros das grandes ondas migradoras,
que matavam e depois faziam penitência,
e para os quais fazer penitência acabou por se tornar uma técnica facilitadora do assassínio.
(Sigmund Freud)



Amigas e Amigos,

O jornal O Estado de São Paulo traz uma notícia sobre a “bronca” da presidente Dilma nos militares, o que estaria levando a um endurecimento da reação das Forças Armadas ao Governo. Diz o Estadão que:
Não será fácil para os comandantes militares resolverem o imbróglio criado pela presidente Dilma Rousseff que decidiu punir todos os militares que assinaram o manifesto "Alerta à Nação - eles que venham, por aqui não passarão", que endossa as críticas a ela por não ter censurado suas ministras que pediram a revogação da lei de anistia. No novo documento os militares dizem ainda que não reconhecem a autoridade do ministro da Defesa, Celso Amorim. Inicialmente, o manifesto tinha 98 assinaturas e na quinta-feira, após terem tomando conhecimento da decisão de puni-los, o número de seguidores subiu para 235. [...] Nessa quinta-feira, 1º, o Ministério da Defesa passou o dia discutindo com que base legal os militares podem ser punidos. Nova reunião foi convocada pelo ministro Celso Amorim e os comandantes militares. Mas há divergências de como aplicar as punições. A Defesa entende que houve "ofensa à autoridade da cadeia de comando", incluindo aí a presidente Dilma e o ministro da Defesa. Amorim tem endossado esta tese e alimentado a presidente com estas informações. O ministro entende que os militares não estão emitindo opiniões na nota, mas sim atacando e criticando seus superiores hierárquicos, o que é crime, de acordo com o Estatuto dos Militares. [...] Nos comandos, há a preocupação, ainda, com o fato de que a lista de adeptos do manifesto só cresce, o que faria com que este tema virasse uma bola da neve. Há quem acredite que o assunto deva ser resolvido de uma outra forma, a partir de uma conversa da presidente com os comandante militares, diretamente, para que fosse costurada uma saída política para este imbróglio que, na avaliação da caserna, parece não ter fim, já que a determinação do Planalto é de que todos que já assinaram e que venham ainda a aderir ao manifesto sejam punidos.

         Talvez a não ocorrência de uma “guerrinha” para exercitar os músculos dos integrantes das Forças Armadas tenha levado alguns de seus integrantes a buscarem alguma forma de passar o tempo. Aí, surge uma explicação – não sei se plausível – para o manifesto, porque pouco, além disso, percebo.

Texto da ilustração acima: “Arrancaram-me o ramo de oliveira, razão de meu vôo... Quiseram impingir-me outro ramo de pseudo paz. Já descobri em meio ao dilúvio de ódio e de guerra, em maré crescente, minorias que cultivam oliveiras de verdade, símbolos fiéis da paz verdadeira.....”  D. Hélder Câmara

         Afinal, vivemos em um país onde a impunidade grassa, pois os responsáveis pela elaboração das leis são, cada vez mais e por nossa vontade, pouco afeitos a ética e moral. Em conseqüência disso, redigem pensando em oportunidades para escaparem de quaisquer penas que, porventura, lhes possam ser atribuídas.

         Em função das considerações acima, perderia força uma eventual justificativa para o manifesto amparada por receios de punições indiscriminadas contra militares. Por outro lado, não acredito que se reedite uma “caça às bruxas”, onde os militares poderiam ser considerados similares às objeto das perseguições religiosas dos séculos XVI e XVII.

         Ante o exposto, a justificativa para o manifesto poderia – situação mais preocupante – ser amparada por medos associados a atitudes, de alguns, onde os direitos individuais tenham sido agredidos. Seriam esses “alguns”, hoje, os mais injuriados com a possibilidade de revisão de uma anistia introduzida em uma lei por motivos nunca muito transparentes?

         Se a história da ditadura militar recente não tem máculas injustificáveis, não há necessidade de existir uma anistia. Se, por outro lado, essa história não for assim tão alva, o perdão em sentido amplo pode estar associado a uma grande injustiça com a própria sociedade. Logo, penso que uma volta à discussão sobre anistia poderia interessar a todos, tantos civis – preocupados com a transparência de seus governos – quanto militares – preocupados com sua imagem perante a opinião pública.

         Bravatas do tipo “eles que venham, por aqui não passarão” nada agregam a uma necessidade de entendimento entre todos os envolvidos neste enredo digno de uma produção da antiga “zona do lixo”.

         Como bravatas e militares já andam lado a lado desde muito tempo, lembrei de uma causo do professor, comunicador e tradicionalista Antônio Augusto “Nico” Fagundes, sobre uma figura impar ligada as forças revolucionárias de 1923, no Rio Grande do Sul, que publico abaixo.


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CANDINHO BICHAREDO
                                  Antônio Augusto Fagundes

Se eu falo no Candinho Bicharedo, primeiro, porque era contador de causo; segundo, porque ele peleou em 23, do lado dos Maragatos.

Mas era Maragato dos quatro costados! Quando cercaram Uruguaiana, no primeiro dia de abril de 23, ele se juntou com as forças de Honório Lemes.

         E no combate do Ibicuí da Armada, onde Flores da Cunha atacou com ímpeto enorme, matou tanta gente que os urubus fizeram cerimônia: só comiam de capitão pra cima...

Um piquete de Flores da Cunha aprisionou Candinho Bicharedo! Degola, não degola... disseram pro Flores degolar.

– Não, o Candinho Bicharedo! Que é isso! Vão tomar banho! O Candinho é uma glória aqui em Uruguaiana, aqui nesta região da Fronteira... Como é que vamos degolar?

– Mas, ele é um contador de causo! Muito mentiroso!

– Não, não, o Candinho é sagrado – disse o Flores – Dêem ele prum soldado cuidar.

O soldado ficou cuidando do Candinho. Todos os dias o Candinho ia ao ouvido do soldado:

– É, vocês passaram no Ibicuí da Armada (onde Honório Lemes ofereceu uma resistência muito grande), mas passaram porque tinham mais gente, mais arma. Nós semos muito mais homem que vocês!

 Com o passar do tempo, o soldado foi enchendo a paciência e não agüentou mais. Passou o Candinho pro cabo!

O cabo ouvia, todos os dias:

– É. Vocês passaram no Ibicuí da Armada. Mas, passaram porque tinham mais gente, mais arma. Nós semos muito mais homem que vocês!

O cabo não agüentou e passou o Candinho pro sargento. O sargento passou pro capitão. O Capitão passou prum major; dizem até que era o major Laurindo Ramos, lá do Itaqui, que não era de laçar com sovéu curto...

E ninguém mais agüentava o Candinho. Até que passaram pro próprio Flores da Cunha.

– Olha, Coronel Flor, não agüentamos mais o Candinho! Só o senhor, pra dar um jeito na vida dele!

– Mas, o que é que ele faz?

– Ele fica incomodando a gente, à roda do dia. Já estava com vontade de mandá degolá!

– Não, não e não! Me passem o Candinho. (O Dr. Flores da Cunha tinha sido intendente em Uruguaiana; comandava a Brigada do Oeste, na Fronteira da República, com o Coronel Neco Costa, aquela gente toda!).

Bueno, e pro flores o Candinho cevou o mate, mas um mate véio espumando como apojo de brasina! Alcançou o mate pro Dr. Flores, que era Coronel Provisório, mas todo mundo chamava de General. Diz o Candinho:

– Óia, General Flor, vocês passaram no Ibicuí da Armada, mas só passaram porque tinham mais gente, mais arma que nós. Nós semos muito mais homens que vocês!

E o Flores, que já sabia da história e que também não era de pelar com a unha, respondeu:

– Olhe, Candinho, tu é Maragato, não é?

– Sim, claro. Sou Maragato.

– Agora, tu vai vestir a farda azul dos meus Provisórios e botar um lenço branco no pescoço, jurar a Bandeira do lado do Governo, senão vou te mandar degolar. Tu sabe que essa indidada tá louca pra te degolar; eu é que não deixei!

Na voz da degola, o Candinho Bicharedo achou que já tava com idade de sentar praça! E sentou. Arrumaram uma farda azul pra ele. Aquele bonezinho, uma borda vermelha aqui em cima, e ataram um lenço branco bem nas pontas; mandaram o Candinho se apresentar pro Flores e bater continência.

O Candinho, travestido de Chimango, se apresentou ao Flores. Enquadrou o corpo, bateu continência. O Flores chasqueou:

– E agora, Candinho? O que tu acha do combate do Ibicuí da Armada?

O Candinho não se apertou:

– É, General. "Nós" passemos, mas só "passemos" porque "nós" tinha mais gente, mais arma. "Eles" são muito mais homens do que "nós"!!!


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         Para fechar a Tertúlia, fica a música "Décima do Candinho Bicharedo", de Knelmo Alves e Francisco Alves, interpretada na 5ª Califórnia da Canção Nativa, de Uruguaina, por Oristela Alves (melhor intérprete feminina) e Os Uruchês (melhor conjunto instrumental). E é essa interpretação que se pode ouvir abaixo.

 

         Um grande abraço e até a próxima!

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

ABRINDO A PORTEIRA – A IMPUNIDADE QUE SE ESPALHA


Quem perdoa uma culpa encoraja a cometer muitas outras.
(Públio Siro)


Amigas e Amigos,

         Vou abrir a porteira, esta semana, para pensar um pouco sobre a influência exercida por mazelas, associadas ao Poder, na sociedade brasiliense, tão próxima – e, paradoxalmente, tão longe dos Poderes da União. 
         Os três Poderes da república estão localizados no Distrito Federal, em prédios bem conhecidos pela população da capital. Por outro lado, os representantes que ocupam os diversos escalões desses Poderes, em sua grande maioria, têm compromissos com outras regiões. Para essas regiões dedicam a maioria de seu tempo, pensando – talvez – em próximos pleitos e na garantia dos benefícios advindos de seus cargos.

         A impunidade assume diversas formas para se fazer presente nos três Poderes, como se pode observar no caso do Mensalão, onde ninguém foi punido, pois o Judiciário trata o assunto com mais voltas do que bolacha em boca de velho (ditado gaúcho), o que vai fazendo o tempo passar, até que algum ministro aposente, o que fará o caso esperar um substituto, a ser indicado pelo Executivo que o escolherá sabe-se lá quando. Enquanto isso, as CPIs e Conselhos de Ética do Legislativo dão a impressão de brincar de detetives e vão deixando o tempo passar para o processo caducar.



         Essa impunidade acaba gerando reflexos na sociedade, conforme se pode observar no caso de Galdino Jesus dos Santos, um índio pataxó de 44 anos, que morreu com 95% do corpo queimado em abril de 1997, porque cinco rapazes de classe média resolveram fazer uma brincadeira. Na diversão dos garotos, o índio dormindo em uma parada de ônibus foi encharcado em combustível e recebeu fósforos acesos para tomar um susto. Três dos garotos responsáveis por esse crime monstruoso tinham à época 19 anos, um tinha 18 anos e o mais novo, 16 anos. Além disso, um era filho de um juiz federal, um fora criado por ex-ministro do TSE e os demais eram amigos e pertenciam a famílias influentes do DF.

         Mesmo com o Art. 5º da Constituição prevendo que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”, o que aconteceu após a identificação dos criminosos foi, conforme a Wikipedia:
Pertencentes a famílias de grande poder aquisitivo e influência, desde a prisão os criminosos contaram com regalias a que nenhum outro preso comum tinha direito. [...] G.N.A.J. [o menor] foi encaminhado para o centro de reabilitação juvenil do Distrito Federal, onde ficou preso apenas por três meses, apesar de ter sido condenado a um ano de reclusão. Os outros quatro foram condenados, em 2001, a catorze anos de prisão em regime integralmente fechado por homicídio doloso. Pela gravidade do crime não teriam direito a determinados benefícios, mas, já no ano seguinte, receberam autorização para exercer funções administrativas em órgãos públicos. Três dos cinco rapazes chegaram a ser flagrados pela imprensa local se dirigindo em carro próprio até o presídio sem passar por qualquer tipo de revista, após namorar e ingerir bebida alcoólica em um bar. Em agosto de 2004, foi concedido o livramento condicional aos quatro condenados. Esse benefício foi recepcionado pela opinião pública como um atestado do "caráter volúvel do Poder Judiciário frente à força político-econômica" e revoltou os familiares do índio assassinado. A mídia também noticiou a concessão do benefício, apesar de previsto em lei, como "certeza da impunidade" para um crime considerado hediondo pela legislação brasileira.
         Com o exemplo acima, moradores de rua foram queimados por jovens na última semana e uma das vítimas, de 26 anos de idade, não resistiu aos ferimentos e morreu          com 63% do corpo queimado. Segundo o portal G1:
De acordo com um homem que presenciou a cena, entre 22h30 e 23h um grupo de sete jovens tentou colocar fogo no sofá onde os sem-teto dormiam. A primeira tentativa não deu certo. Segundo a testemunha, cerca de uma hora depois, três jovens voltaram ao local e incendiaram o sofá. A testemunha, que ainda será ouvida oficialmente pela polícia, contou que os jovens, que aparentavam ser adolescentes, atearam fogo no sofá e fugiram. Segundo a polícia, a testemunha chamou o Corpo de Bombeiros que fez os primeiros socorros no local e levou as vítimas para o hospital. Segundo informações do agente de plantão na delegacia, os moradores de rua são conhecidos da QR 118, no conjunto H, em Santa Maria. Eles não têm passagem pela polícia e costumavam dormir no sofá que ficava embaixo de uma árvore da região que é residencial e comercial.
         Essa sensação de impunidade que grassa nos três poderes pode ser responsável, ainda, pelo brutal assassinato de um menino de 12 anos em uma briga de trânsito no Distrito Federal, conforme a informação do “Bom Dia DF”, de hoje:
O adolescente levou um tiro na região do abdômen, foi levado ao hospital, mas não resistiu e morreu no centro cirúrgico. A briga aconteceu na frente da casa da vítima, na quadra 304 de Santa Maria. A tia do menino, Fabiana Teodósio, contou que tudo começou porque o carro da família fechou a pista por alguns minutos e um outro veículo queria passar. "Quando eu estava embarcando no carro do meu esposo e ele colocando o cinto de segurança, demoramos um pouco mais a sair com o veículo. O carro de trás começou a buzinar, o meu cunhado se exaltou e perguntou por que eles estavam buzinando, e pediu pra ter um pouco de calma. Aí eles começaram um bate-boca e, poucos minutos, depois o carona do carro efetuou um disparo", relatou. Segundo a família, no carro havia três rapazes que conseguiram fugir.
         Como no caso do índio Galdino, penso que não faltarão rábulas para tentar desclassificar os crimes e transformar bandidos em “menininhos com irresponsabilidades próprias da idade”. Punições como a aplicada ao monstrengo que assassinou uma adolescente em São Paulo poderiam levar esses menininhos a pensar um pouco antes de agir de forma tão leviana.

         Até que efetivamente tenhamos algum resultado mais prático para as questões de impunidade, ainda veremos nossos três Poderes aumentarem seus (14, 15 ou 16) salários anuais muito além de qualquer índice aplicado para as classes trabalhadoras brasileiras. E a caravana passa...

         A música escolhida para hoje lembra um vagabundo que nada tem a ver com a malandragem de tomou conta da postagem de hoje. É “Malandro da Barra Funda”, um samba de Raul Torres e Carreirinho, interpretada pelo mineiro Tião Carreiro, no LP "Em solo de viola caipira", gravado em 1979. Essa música, com um arranjo diferente, fez parte da trilha sonora da novela O Rei do Gado (Rede Globo,1996-1997), gravada pela dupla Pirilampo & Saracura (Almir Sater e Sérgio Reis), com o título alterado para “Vagabundo”.

 

         Um grande abraço e até a próxima!