quinta-feira, 24 de novembro de 2011

GALERIA SERTANEJA – O GATO (E OUTROS) FÉLIX



Os que acreditam que o dinheiro faz tudo
provavelmente estão dispostos a fazer tudo pelo dinheiro.
(H. Beauchesne)


Amigas e Amigos,

               Os jornais do estado de São Paulo amanheceram com matérias sobre a prisão da mulher, filhos e cunhadas do prefeito da cidade de Limeira-SP, Sílvio Félix, na madrugada e na manhã desta quinta-feira, dia 24, em uma operação do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) e do MP (Ministério Público) daquele Estado.

               Depois das denúncias de fraudes administrativas na cidade de Campinas-SP, conforme comentado neste Blog na postagem “TERTÚLIA NATIVA - "ROLOS" E TOUROS...”, parece que os apenas 60 km que separam essas duas cidades paulistas facilitaram o alastramento da corrupção na esfera pública (por coincidência, ou não, as prefeituras são comandadas pelo PDT).

               A primeira-dama de Limeira, Constancia Berbert Dutra da Silva, conhecida como Constancia Félix, é uma das 11 pessoas que foram presas por suspeita de lavagem de dinheiro, falsidade ideológica, sonegação fiscal, furto qualificado e formação de quadrilha. A Srª. Félix, além de primeira-dama, é chefe de Gabinete do deputado de Ribeirão Preto, Rafael Silva, também do PDT.

               No portal EPTV (http://eptv.globo.com), pode-se encontrar matérias sobre as prisões de todos os suspeitos e outras informações sobre o caso como:
Os valores da lavagem de dinheiro, segundo o MP, podem ultrapassar os R$ 20 milhões. Documentos e computadores foram apreendidos nas casas dos suspeitos e todos foram levados para a Delegacia Seccional da cidade. O prefeito Sílvio Félix (PDT) disse não saber o que está acontecendo. A prefeitura de Limeira ainda não se pronunciou sobre as prisões.

               A família “nadando de braçadas” (no mar do dinheiro público) e o prefeito (provavelmente por excesso de trabalho) sem perceber qualquer “nota” suspeita no pagamento das suas contas. A dúvida sobre a população matinal dos camburões é se o número de ocupantes presos não teria aumentado caso foro privilegiado e imunidades valessem apenas para decisões tomadas no exercício do cargo. Enquanto lia a matéria acima, lembrei de um personagem de desenhos animados, criado nos tempos do cinema mudo, o Gato Félix, que também era dado a aventuras surrealistas.



               Como o dia é de letra e música aqui no Blog, escolhi uma história de um fronteriço apaixonado, que fala com carinho da própria família e que, ao contrário de felinos personagens, deve acompanhar os passos de seus familiares e não deve usar seus parentes como “laranjas” (talvez, azedas). Abaixo, publico a letra de “Barranca e Fronteira”, de autoria de Antônio A. Fagundes e Luís Telles.

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BARRANCA E FRONTEIRA



                                                  (Antônio Augusto Fagundes e Luiz Telles)



Quando chega o domingo, eu encilho o meu pingo que troteando sai

Rumo as velhas barrancas e histórias tantas do Rio Uruguai.

Eu sou fronteiriço de rédea e caniço e o perigo me atrai

Sou de Uruguaiana, de mãe castelhana igual ao meu pai.


Se a terra não é minha, se a vida é mesquinha o que se há de fazer,

Mais um sonho nasceu e o rio se fez meu e nele vou descer

Pra encontrar quem me espera, morena e sincera que é o meu bem querer

Meu momento é aí, no chão onde nasci e onde vou morrer,


Tem o verde do campo nos seus olhos

E o feitiço maleva que é puro veneno no caminhar.

Uma noite serena adormece morena em seus cabelos

E seu corpo bronzeado é um laço atirado a me pealar.


Tristeza e alegria são meu dia a dia já me acostumei,

Sou de campo e de rio, faça sol, faça frio lá domingo estarei.

Barranca e fronteira, canha brasileira assim me criei

Com carinho nos braços galopo aos meus passos e me torno um rei.


Agora o meu dia a dia só tem alegria, tristeza deixei,

Encontrei na verdade a outra metade que tanto busquei.

Barranca e fronteira, canha brasileira feliz estarei

Com carinho nos braços da prenda, os abraços e me sinto um rei.


Tem o verde do campo nos seus olhos

E o feitiço maleva que é puro veneno no caminhar.

Uma noite serena adormece morena em seus cabelos

E seu corpo bronzeado é um laço atirado a me pealar.


Agora o meu dia a dia só tem alegria, tristeza deixei

Encontrei na verdade a outra metade que tanto busquei.

Barranca e fronteira, canha brasileira feliz estarei

Com carinho nos braços da prenda, os abraços e me sinto um rei.


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               Com a letra acima, vocês podem acompanhar a interpretação desse chamamé com o Grupo Querência, que surgiu na minha cidade natal – Pelotas-RS –, no ano de 1982.



               Até o próximo encontro e um grande abraço!

Wilmar Machado

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

TERTÚLIA NATIVA - MEU CANTO, DE JAYME A ADAIR



À força de fazermos novos contratos 
e de vermos o dinheiro crescer nos nossos cofres,
acabamos por nos julgarmos inteligentes e quase capazes de governar.
(Jean de La Bruyère)

Amigas e Amigos,


               Começo a Tertúlia Nativa de hoje, com uma matéria publicada no Jornal do Brasil (http://www.jb.com.br) sobre o início do trâmite no Senado da proposta para prorrogar os efeitos da DRU (Desvinculação de Receitas da União) para permitir que o governo gaste “livre-leve-e-solto” a bagatela de R$ 62 bilhões. Essa PEC (proposta de emenda à Constituição) permitirá ao governo continuar alocando livremente 20 por cento de sua arrecadação até dezembro de 2015.

               Ao final da reportagem, o JB apresenta a ufanosa declaração do deputado Odair Cunha (PT-MG), relator da PEC: “O Parlamento brasileiro deu um sinal de responsabilidade e maturidade ao aprovar um instrumento tão importante para a gestão fiscal e orçamentária, em um momento de crise internacional”.

               Se afirmar que entendi o que deputado disse, posso concluir que não sei mais o significado de “responsabilidade”, “maturidade”, “gestão” e “crise”.

               Como frases de efeito, com conteúdo duvidoso, grassam em nosso meio político, continuo acreditando que não perdi minhas referências em relação aos significados acima referidos. Para maior segurança, eu consultei um trabalho de Fabiana Kelbert, do programa de Mestrado da Faculdade de Direito da PUCRS, apresentado na IV Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação, sobre a interpretação constitucional da DRU, onde se pode ler:
Numa época em que se admite a escassez de recursos públicos para financiar os mais diversos programas sociais, afigura-se contraditória a relação entre arrecadação e gastos públicos. Aquela impõe uma carga tributária bastante elevada, e esta se mostra insuficiente a cobrir satisfatoriamente as necessidades sociais do país. [...] Outrossim, é de considerar que as emendas constitucionais que previram a Desvinculação de Receitas da União padecem de inconstitucionalidade, que pode ser reconhecida pela ofensa de importantes princípios constitucionais fundantes do nosso sistema: a supremacia da constituição, a separação de poderes e a vinculação de todos os poderes estatais aos direitos fundamentais. No caso específico da Seguridade Social, restou comprovado pelo TCU que, não fosse a DRU, a arrecadação seria suficiente a cobrir a despesa. Isso significa, na prática, que haveria verba suficiente a cobrir o financiamento daqueles direitos, constitucionalmente assegurados. Cumpre ressaltar, por fim, o silêncio do Poder Judiciário, representado pelo STF, quanto à questão da inconstitucionalidade das emendas que previram a DRU. Tendo em conta que o desvio de finalidade de verbas públicas restringe ou inviabiliza a concretização dos direitos fundamentais sociais, é imperioso que o STF se manifeste sobre essas questões, especialmente por ser o “guardião” da Constituição.

               À luz das considerações acima, poderia perguntar ao ilustre representante do povo, se a “responsabilidade” e a “maturidade”, atribuídas ao parlamento em seu comentário, estão relacionadas a algum benefício para os que o elegeram (considerando eleger associado ao voto em eleição)?

               E poderia questionar o parlamentar, ainda, qual o seu conceito de “gestão”, pois “tapar buracos” provocados por dispêndios não planejados passa muito distante do que se poderia considerar uma boa prática de governança.

               Recordo, também, que “crise” pode ser facilmente associada a práticas de controle e não a desperdícios para acomodação de cargos e outras despesas, devidas por contas contraídas com pouca transparência.





              Como esta Tertúlia nada tem a ver com as maracutaias palacianas, trago para vocês uma poesia do saudoso payador Jayme Caetano Braun, que encontrei na 3ª edição do livro “50 Anos de Poesia”, uma antologia poética da obra do próprio Jayme, que tem por título “Meu Canto”. 

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MEU CANTO
                                 Jayme Caetano Braun

No meu canto - não escondo, 

vou dizendo - de vereda, 
sou brasa de labareda 
e ferrão de marimbondo, 
desde que o mundo é redondo 
não tem esquina nem canto! 
Amigos - eu les garanto 
quando este mundo acabar, 
com certeza - vai ficar 
a verdade do meu canto! 

Meu canto guarda o estilo 
das fontes da geografia 
quando gaúcho nascia 
abarbarado e tranqüilo; 
meu canto - é o canto do grilo, 
dos tempos de antigamente 
que pode ser estridente, 
mas - jamais - ultrapassado, 
porque o canto do passado 
é o bebedor do presente! 

Meu canto lembra o relincho 
e sanga de pedregulho; 
meu canto lembra o mergulho 
da manada de capincho! 
Meu canto evoca o bochincho 
quando o candeeiro se apaga, 
ali - onde ninguém indaga, 
nem quem foi e nem quem é, 
se é crioulo de Bagé, 
Santana ou São Luiz Gonzaga! 

Canto que evoca o rodeio 
e a ronda de uma tropeada 
e a velha gaita acordada 
resmungando num floreio; 

canto que lembra o rio cheio 

e a clarinada de um galo; 
canto que adoça o embalo 
de uma xirua que implora 
que a gente não vá simbora 
e desencilhe o cavalo... 

Canto de lida e serviço 
cheirando a chão de mangueira 
sovado uma vida inteira, 
decerto - mesmo pôr isso, 
conserva aquele feitiço 
que nós todos conhecemos, 
herança que recebemos 
e não se compra ou se vende, 
por isso - o povo me entende, 
e todos nos entendemos! 

Há os que condenam meu canto 
de cousas que já passaram, 
dizem que muitos cantaram 
e chega de cantar tanto, 
contra isso eu me levanto 
sem procurar desafetos 
não se apagam com decretos 
herança de todos nós 
- não vou matar meus avós 
pra ficar de bem com os netos!




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               Para acompanhar a poesia de hoje, uma obra homônima da poesia: “Meu Canto”, de Adair de Freitas, na intepretação do próprio autor.


               E com isso, encerramos esta Tertúlia Nativa, com um forte abraço para todas as amigas e para todos os amigos!

Wilmar Machado

terça-feira, 22 de novembro de 2011

ORATÓRIO CAMPEIRO – SANTA CECÍLIA E A CUNHADA DE CÉSAR



A honestidade é própria das classes médias.
As de baixo não a ignoram, mas não sabem para que serve.
As de cima não a ignoram, mas não sabem para que ainda serve.
(Vergílio António Ferreira)


Amigas e Amigos,


               Neste Dia do Músico, Festa de Santa Cecília, a padroeira da música e do canto sacro, comecei o dia com a leitura de jornais e acabei “ouvindo sons muito desagradáveis”...



               Lembrei que o Supremo Tribunal Federal considerou que a prática do nepotismo ofende três princípios constitucionais: o da moralidade, o da impessoalidade e o da igualdade. Além disso, tal prática tem acentuado caráter imoral.

               A lembrança acima surgiu enquanto lia, na Folha de São Paulo (http://www.folha.uol.com.br), que o presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça), ministro Ari Pargendler, vem fazendo lobby para emplacar a desembargadora Suzana Camargo, sua cunhada, em uma vaga do próprio STJ, o que tem incomodado seus colegas. Segundo a matéria:
Pargendler, que é casado com a irmã de Suzana Camargo, tem acompanhado a desembargadora em um périplo por gabinetes de deputados e senadores, em busca de respaldo político à nomeação. Apesar de a escolha caber a Dilma, a presidente costuma ouvir interlocutores antes de tomar a decisão. [...] Em 19 de outubro, Suzana Camargo e Pargendler foram juntos a uma reunião com a bancada de Mato Grosso do Sul, onde ela começou sua carreira de juíza federal. Posaram inclusive para foto, postada no site do deputado Geraldo Resende (PMDB). Depois do encontro, os congressistas do Estado mandaram cartas aos ministros Cardozo e Gleisi Hoffmann (Casa Civil), manifestando apoio a Suzana Camargo. A atuação de Pargendler incomoda membros da corte. Dois ministros disseram à Folha, reservadamente, que se sentem constrangidos. A desembargadora conta também com apoio do ex-governador Zeca do PT (MS) e do ex-ministro José Dirceu. Suzana só integrou a lista tríplice em segundo escrutínio. Na primeira votação do pleno do STJ, com 29 ministros, teve 14 votos, menos que o mínimo de 17 necessários.

               Vale lembrar que existem denúncias contra o ex-governador citado na matéria de comandar um “mensalão” no Mato Grosso do Sul e contra o ex-ministro ainda não foi julgado o processo em que ele é acusado de comandar o “mensalão” do PT. Com essa proliferação de “mensalões”, fica a dúvida sobre o que pode representar esse tipo de apoio para a candidata a ministra do STF (os processos contra os envolvidos com “mensalão” serão julgados no STF?).

               Será que a célebre frase atribuída a Caio Júlio César – “À mulher de César não lhe basta ser honesta, mas também de parece-lo” – poderia se estende para a irmã da mulher de César, sua cunhada? Ministros do STF, ou postulantes a esse cargo, não poderiam parecer um pouco mais “sérios”, considerando que sejam? Talvez algum dia as Altas Cortes se tornem mais transparentes para seus súditos. Até lá, esperemos...

               Enquanto se espera que a decisão da presidente Dilma seja sábia, externo meus votos de muita paz e muito sucesso a todos os meus amigos músicos, com a oração a Santa Cecília, que nasceu no Século II, sendo martirizada por não renegar a religião cristã.

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ORAÇÃO A SANTA CECÍLIA

Ó Virgem e mártir, Santa Cecília,
Pela fé viva que vos animou, desde a infância,
Tornando-vos tão agradável a Deus e ao próximo,
Merecendo a coroa do martírio,
Convertendo pagãos ao cristianismo,
Alcançai-nos a graça de progredir cada vez mais na fé
E professá-la através do testemunho das boas obras,
Especialmente servindo aos irmãos necessitados.


Gloriosa Santa Cecília,

Que os vossos exemplos de fé e virtude
Sejam para todos nós um brado de alerta,
Para que estejamos sempre atentos a vontade de Deus,
Na prosperidade como nas provações,
No caminho do céu e da salvação eterna.


Santa Cecília,

Padroeira dos músicos e artistas, rogai por nós.


Amém.


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               A música escolhida hoje para acompanhar essa oração em homenagem a todos os músicos é “Deus sabe o que faz”, de Charly Garcia, na interpretação das Irmãs Galvão (nome anterior da dupla “As Galvão”).



               Um grande abraço e que a Paz de Cristo permaneça conosco!

Wilmar Machado

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

ABRINDO A PORTEIRA – RESPOSTA? O QUE É RESPOSTA?



'Fui eu que o fiz', diz a minha memória.
'Não posso ter feito isso', - diz o meu orgulho e mantém-se inflexível.
Por fim - é a memória que cede.
(Friedrich Wilhelm Nietzsche)


Amigas e Amigos,

                    Após um período ausente, retorno hoje a este Canto da Terra. Justifico a ausência pela necessidade de dedicação a uma monografia de encerramento de um MBA (Master of Business Administration) em Gestão de Negócios.

                    Não raras vezes nesse período ausente aconteceram momentos de abandonar a dedicação citada acima e retornar a este espaço para registrar coisas que parecem, às vezes, só acontecerem por aqui (= nosso país ou nossa capital).

                   De todos os acontecimentos do período, os que mais chamaram a minha atenção foram os provocados pelo mistifório proporcionado pelo ministro do Trabalho, em tempo recente. Parece que o ministro está encarando com muita seriedade o amnésico papel que começou a interpretar para indignar os que ainda esperam ver um dia, nesse país, política e ética a andar juntas.



                    O jornal “Estado de São Paulo” (www.estadao.com.br), no último sábado, publicou que o ministro Carlos Lupi tenta decretar o fim da crise no Ministério do Trabalho, sem as devidas explicações, deixando aparente a certeza que se espalha entre nossos representantes, de ser imunidade semelhante a impunidade. Na matéria do Estadao, pode-se ler que:
Depois de ganhar uma sobrevida da presidente Dilma Rousseff, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, tentou ontem implantar uma agenda positiva ao anunciar os números de contratações e demissões no País. Em entrevista coletiva, falou longamente sobre os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), mas irritou-se ao ser perguntado sobre as denúncias contra ele. O ministro disse que não falaria do tema, ampliou o prazo para entregar informações prometidas ao Congresso e acabou por encerrar a coletiva sem dar explicações para as perguntas, sobretudo às relativas as suas relações com o diretor da ONG Pró-Cerrado, Adair Meira. Para tentar montar um ambiente mais favorável, a coletiva sobre emprego foi realizada no auditório do prédio da pasta e não na sala pequena ao lado do gabinete do ministro, onde acontece todos os meses. Dessa forma, Lupi pode entrar e sair escoltado por assessores sem um contato mais direto com os jornalistas. O bom humor e as piadas frequentes nesse tipo de entrevista foram substituídos por uma postura mais sisuda. Lupi entrou sem cumprimentar ninguém e antes de qualquer manifestação reclamou com a equipe por não ter uma televisão onde pudesse ver a apresentação preparada para a ocasião. Procurou depois amenizar o clima: "Eu não tive educação, me perdoem", disse, concluindo a frase com um bom-dia aos presentes.

                   E terá sido por “falta de educação” que o ministro agrediu   e continua agredindo  a população, bem como os integrantes do legislativo e do próprio executivo, com a sua conveniente memória camaleônica? E a sobrevida aludida na matéria do Estadão poderia ter algo a ver com a declaração de amor proferida pelo ministro quando de seu primeiro depoimento? Será que a presidente se emocionou com a performance de fazer inveja aos maiores canastrões da arte teatral do universo? Ainda bem que essas perguntas não estão sendo feitas para o ministro, pois ele tem demonstrado grande dificuldade para entabular respostas razoáveis.

                   Vale a pena ler, na íntegra, uma outra matéria do Estadão, do dia 17 último, comentando as perguntas sem respostas do ministro em suas idas ao Congresso. Entre as perguntas que compõem a matéria – que trata também de contradições do ministro – vale destacar algumas como:

  •    Por que o ministro diz, agora, que não tem de provar nada? As notas fiscais do pagamento de suas peripécias aéreas não apareceram ainda e a promessa de entrega-las ainda na semana passada foram apenas promessas...
  •    Por que o ministro compara uma suposta carona em um táxi aéreo com uma viagem em avião de carreira? Ninguém tomou conhecimento de que as companhias aéreas nacionais distribuam “bolsa viagem” para ministros, logo carona em táxi aéreo deve ter sido bancada por alguém (e, talvez, com alguma intenção)...
  •    Se o ministro não tinha relações pessoais com o Adair, como sabia que ele tinha aeronave pessoal? Depois da interpretação melodramática do dia 10, no depoimento da Câmara, onde papéis foram revirados para lembrar do “seu Adair”, até então um seu “ilustre desconhecido”, o ministro no Senado afirmou no dia 17, ao Senado, que teria usado uma aeronave pessoal do “seu Adair”, que conheceu por conta dos convênios do ministério, sem ter com ele qualquer relação pessoal...


                   Como o ministro está ligado ao PDT, partido fundado por Leonel Brizola e que após a morte de seu fundador passa a idéia de estar permanentemente à deriva, a historiadora Marly da Silva Motta, do Centro de Pesquisas e Documentação de História Contemporânea do Brasil, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), disse – conforme o Estadão – ser “um partido sem alma”. Não questiono a afirmativa da historiadora, mas fiquei pensando se existiria, no Brasil atual, algum partido com “alma”. Não consegui vislumbrar algum (não estou afirmando que não exista), mas acredito que, em existindo, a “alma” do mesmo deve ser do tipo “penada”.

                   A música escolhida para hoje – sem qualquer inspiração no Ministério do Trabalho, pois foi escrita bem antes das atuais dúvidas que o assolam – é de autoria dos saudosos Lourival dos Santos (de Guaratinguetá-SP) e Tião Carreiro (Montes Claros-MG), gravada por Tião Carreiro e Pardinho, e tem por título “A mentira tem perna curta”.


                    Um grande abraço para todos e até a próxima.

Wilmar Machado