quarta-feira, 29 de junho de 2011

TERTÚLIA NATIVA - "ROLOS" E TOUROS...

Rouba um prego, e serás enforcado como um malfeitor;
rouba um reino, e tornar-te-ás duque.


Amigas e Amigos,

               Na Tertúlia de hoje, um trágico – e divertido – enrosco apresentado em matérias do jornal “O Estado de São Paulo” (http://www.estadao.com.br), ontem (28/06), sobre o grampo que flagrou o lobby do Dr. Hélio (PDT), prefeito de Campinas-SP, – sob investigação de fraude em sua administração – com o publicitário João Santante, marqueteiro da presidente Dilma, em favor da Huawei que, conforme o jornal é uma “gigante chinesa que atua na área de tecnologia 3G, banda larga fixa e móvel e de infraestrutura de redes para operadoras de telefonia”. Diz a matéria que:
Na ocasião, Dilma se preparava para uma viagem à China, a primeira missão oficial de negócios desde que assumiu a Presidência. Ela e sua comitiva embarcaram dia 8. Hélio de Oliveira Santos, o Dr. Hélio, e a mulher, Rosely Nassim - a quem o Ministério Público Estadual atribui o papel de chefe de quadrilha para fraudes em licitações e desvio de recursos públicos -, também foram a Pequim e lá se integraram à comitiva. [...] Já em Pequim, Dilma encontrou-se com Ren Zhengfei, executivo principal da Huawei. No primeiro dia da visita da presidente Dilma à China, a empresa Huawei anunciou o investimento de US$ 300 milhões na construção de um centro de pesquisa em tecnologia em Campinas. Questionado pelo Estado, o Planalto informou que a audiência da presidente com representantes da empresa ocorreu "pela relevância da companhia no setor de tecnologia e pelo interesse de ampliação dos seus investimentos no Brasil".

               Sobre a crise administrativa instaurada em Campinas-SP, o Estadão esclarece que:
O apelo de Dr. Hélio ao marqueteiro de Dilma se deu em meio à crise política e policial que envolve sua administração. No final de maio, 12 pessoas acusadas de participar de um esquema de fraude em licitações em licitações da Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento S/A (Sanasa), companhia de Campinas, foram presas. Rosely Nassim, mulher do prefeito e membro da administração, ficou foragida. Em entrevista ao Estado, Dr. Hélio disse contar com a solidariedade do governo federal e citou, além de Dilma, a amizade com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-ministro José Dirceu. Naquele dia em que conversou com Santana, o pedetista estava em seu gabinete, no Palácio Jequitibás, sede do executivo municipal, cercado de aliados muito próximos e de advogados. O grupo discutia estratégia para neutralizar a ofensiva do Gaeco, braço da promotoria que combate crime organizado e corrupção. Oficialmente, o prefeito não era e não é alvo da devassa que põe sob suspeita alguns de seus mais próximos colaboradores. Quem estava na mira da promotoria era Cinthia dos Reis Paranhos, secretária particular de Dr. Hélio e de Rosely, que, então, ocupava a cadeira de secretária do próprio marido. A Justiça autorizou o grampo nas linhas usadas por Cinthia. As ligações por ela realizadas e recebidas caíram na malha do guardião. Na prática, foi Dr. Hélio o grampeado. A rede capturou 5,2 mil telefonemas em 15 dias de abril. Algumas de Dr. Hélio, tratando intensamente de negócios e dos interesses da Huawei. Ao recorrer a Santana, o prefeito não escondeu interesse direto em beneficiar a Huawei.

               Em meio a essa bagunça institucional da cidade paulista, o Estadão consegue uma entrevista – disponível no portal do referido jornal – com o advogado do Dr. Hélio que, além de parabenizar o prefeito por sua iniciativa, diz não conseguir ver “aspecto negativo” no lobby feito junto ao marqueteiro em favor da empresa chinesa. E aí, chama a atenção o nome do advogado: Dr. Alberto Rollo. Coincidência ou brincadeira do destino?



               Depois dessa “briga de cachorro grande” fico calado, como bom vira-lata, e sem qualquer outro comentário apresento a poesia escolhida para esta Tertúlia Nativa que é “Briga de Touros”, do saudoso poeta Zeno Cardoso Nunes, bacharel em Direito, jornalista e escritor – membro da Academia Riograndense de Letras. Ele nasceu em São Francisco de Paula-RS e morreu em 27 de fevereiro deste ano, na capital gaúcha.

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BRIGA DE TOUROS
                                             Zeno Cardoso Nunes

A chuva de verão passou. Veio a estiada.
O sol a pino. A terra inda molhada.

Um Zebu está esperando, no rodeio,
Outro touro, um Crioulo guapo e feio
Que sempre fora o dono da invernada,
E a passo largo vem se aproximando,
E vem cavando a terra, e vem berrando
Tão grosso que parece trovoada.

Encontram-se e peleiam com denodo
Pondo em agitação o gado todo.

As aspas do Zebu, velozes como o raio
Riscam do contendor o pêlo baio que ao sol reluz e brilha,
Enquanto os cascos de ambos, como arados,
Sulcam os pêlos verdes e molhados do lombo da coxilha.

No ardor da luta entesam os pescoços
Enrigecendo os músculos potentes em ferra contração
Depois vão se golpeando duramente,
Com orgulho de touro não vencido,
Com destreza de tigre enfurecido, com raiva e decisão.

Uma hora eles passam nessa luta de esforços colossais.
Mas, maneados nos laços do mormaço,
Sentem fraquear os músculos de aço, lutar nem podem mais.

Há pairando no ar, morno e pesado,
Forte cheiro de chifre queimado.

Os dois touros, briosos e valentes,
São iguais na coragem, no valor.
Mas no entrechoque bárbaro das guampas
O destemido filho aqui dos pampas
Começa a demonstrar que é superior.

O Zebu bem conhece a luta bruta
Lá da Índia selvagem de onde veio.
Mas não pode vencer, por mais que o queira,
O touro aqui da Terra Brasileira
Que o obriga a deixar o seu rodeio.

E triste, machucado, e abatido,
Depois de luta tão desesperada,
O pobre touro, além de ser vencido,
Indo foi pelo outro perseguido
Até sair de dentro da invernada.

Dias depois, os corvos carniceiros,
Voejando por cima do banhado,
Indicavam aos olhos dos campeiros
O lugar onde estava, entre os espinheiros,
A carniça do touro derrotado.

O seu corpo, que o sol acariciava,
Parece que tranqüilo descansava do combate fatal,
Enquanto em torno o gado, compungido,
Cheirando o chão, de um jeito comovido,
Berrava, tristemente, em funeral.

Dentre aquela sentida orquestração
Destacou-se um mugido forte e grosso
Que reboou plangente no rincão:
– era  o berro do touro brasileiro
Lamentando o destino do estrangeiro
Que quisera ser dono do seu chão.

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               E a música de hoje é "Meu mundo de domador", de Carlos Madruga e Anomar Vieira, na interpretação de César Oliveira & Rogério Melo.


               Até a próxima e um grande abraço,

Wilmar Machado


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