sexta-feira, 19 de agosto de 2011

GALERIA SERTANEJA - CORRUPTO, CADEIA E CASINHA BRANCA



A fim de que a lei seja eficaz,
em vez de ser uma simples recomendação,
deve ser acrescentado um meio-termo, o poder,
que, ligado aos princípios da liberdade, garanta o sucesso dos da lei.
(Emmanuel Kant)


Amigas e Amigos,

               Ouvi, hoje pela manhã, a entrevista do ministro-chefe da Controladoria-Geral da União(CGU), sobre as denúncias contra o Ministério da Agricultura e o efeito da renúncia do ministro daquela pasta nas investigações em andamento. Encontrei a matéria no portal G1 (http://g1.globo.com) sobre o assunto, com o seguinte teor:
O ministro-chefe da Controladoria-Geral da União, Jorge Hage, disse nesta quinta-feira (18) que as investigações de denúncias no Ministério da Agricultura vão continuar, apesar da demissão do ministro Wagner Rossi, que deixou o cargo nesta quarta-feira. "A investigação continua, independentemente da saída do ministro, porque nós não estamos investigando o ministro, estamos investigando o ministério, os fatos que aconteceram lá", disse Hage após participar de evento da Câmara Temática de Transparência da Copa de 2014, em Brasília. De acordo com o ministro, já foram confiscados computadores na pasta e ele ainda aguarda imagens do circuito interno do ministério, que requisitou a Rossi. A auditoria no ministério tem prazo de 60 dias para a conclusão. Rossi pediu demissão após semanas consecutivas de denúncias de irregularidades na pasta que comandava. A mais recente, nesta terça, dava conta do uso pelo ministro de um jatinho de uma empresa do ramo agropecuário. Hage informou também que a auditoria no Ministério dos Transportes, Dnit e Valec será concluída até o dia 31 de agosto, e a no Ministério do Turismo, em outubro. "São 20 a 30 pessoas acusadas nesses procedimentos, e todos continuam independentemente de exonerações ou afastamentos temporários." O ministro pediu mudanças na lei como uma forma de combater a impunidade em casos de corrupção. "O que é preciso é acabar com a impunidade, e isso começa com a redução dos recursos que hoje impedem que o corrupto seja posto na cadeia. O corrupto hoje não vai pra cadeia nunca" afirmou. Segundo Hage, a pena máxima para corrupção hoje no Brasil é a demissão do servidor. "Você dirá 'a pena máxima para corrupção hoje no Brasil é a demissão?' e eu direi 'na prática,é' ", afirmou o ministro.

               Conforme o portal da CGU (http://www.cgu.gov.br), a “Controladoria-Geral da União (CGU) é o órgão do Poder Executivo Federal responsável, entre outras funções, por fazer auditorias e fiscalizações para verificar como o dinheiro público está sendo aplicado”. O ministro-chefe desse órgão afirmou que “O corrupto hoje não vai pra cadeia nunca” e pediu que se mudassem as leis para acabar com a impunidade. Se a CGU tem sob sua responsabilidade auditar e fiscalizar a aplicação do dinheiro público e se, considerando o desabafo do ministro, isso não serve para nada, pois se for constatada alguma irregularidade com verbas públicas, o relatório final de auditoria dirá apenas que “amanhã será um novo dia”.



               Com todo o acobertamento que existe por parte dos diversos escalões das esferas dos poderes, é perceptível que mudanças em leis, nesse país onde os legisladores criam leis para qualquer bobagem e não demonstram grande interesse por assuntos sérios, em nada contribuiriam para minimizar a impunidade de corruptos. Lei que colocasse os corruptos desta Terra de Santa Cruz poderia servir para colocar na cadeia boa parte dos próprios elaboradores da lei. Logo, imaginem-se quando haverá leis para prender corruptos...

               Pelo exposto, pode-se esperar que tenham ainda muitas pizzas para encerrar auditorias e fiscalizações com finais muito próximos dos finais das desgastadas CPIs, “passa-tempo” da classe política. E para não azedar a Galeria Sertaneja de hoje, a música escolhida é uma obra de Elpídio dos Santos – compositor já apresentado aqui no Blog – que tem por título "Lá no pé da serra", mas é muito conhecida também como "Você vai gostar" e como "Casinha branca". 

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LÁ NO PÉ DA SERRA
                                           Elpídio dos Santos

Fiz uma casinha branca
Lá no pé da serra
Pra nós dois morar
Fica perto da barranca
Do rio Paraná.

O lugar é uma beleza
Eu tenho certeza
Você vai gostar
Fiz uma capela
Bem do lado da janela
Pra nós dois rezar.

Quando for dia de festa
Você veste o seu vestido de algodão
Quebro o meu chapéu na testa
Para arrematar as prendas no leilão
Satisfeito vou levar
Você de braço dado
Atrás da procissão
Vou com meu terno riscado
Uma flor do lado
E meu chapéu na mão.

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               A interpretação dessa música, de tantos títulos, está hoje a cargo de Renato Teixeira.


               Um grande abraço para todos e até a próxima!

Wilmar Machado

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

TERTÚLIA NATIVA - O TURISMO E UM CAUSO DO BOLDRIN


 O que tu fazes agora não é viajar, mas sim andar à deriva,
a saltar de um lado para o outro, quando na realidade o que tu pretendes
 - viver segundo a virtude - podes consegui-lo em qualquer sítio.
(Lucius Annaeus Séneca)


Amigas e Amigos,

               Na Tertúlia de hoje, comento – sem qualquer perplexidade, por estar me acostumando a devaneios – a audiência pública no Congresso que contou com a participação do ministro do Turismo, por conta das denúncias contra sua pasta.



               Sobre esse assunto, o portal UOL (http://www.uol.com.br), apresentou uma matéria que inicia com o seguinte texto:
Em sua primeira audiência pública no Congresso desde o surgimento de denúncias em sua pasta, o ministro do Turismo, Pedro Novais, negou que soubesse das irregularidades veiculadas pela imprensa sobre possíveis desvios de recursos públicos do ministério em convênios com entidades sem fins lucrativos. “Se houve deslizes por irregularidades, não sei, mas admito que, pelo que aconteceu, alguma coisa pode ter havido, mas isso esta sendo corrigido e será francamente eliminado”, disse nesta quarta-feira (17), em audiência conjunta das comissões de Fiscalização Financeira e Controle; de Defesa do Consumidor; e de Turismo e Desporto da Câmara dos Deputados.

               Mesmo consciente de já estar acostumado com os desvarios de autoridades constituídas, ainda sou surpreendido. A frase, atribuída ao ministro pelo portal, traz em seu início o conteúdo elucidativo que permitiu ao ministro tornar muito clara a sua negativa sobre as irregularidades denunciadas: “Se houve deslizes por irregularidades, não sei, mas admito que, pelo que aconteceu, alguma coisa pode ter havido...”. Ele não sabe se houve irregularidades, mas sabe o que aconteceu e esses “acontecimentos” conhecidos podem indicar irregularidades. Agora, ficou tudo claro. Ou seja, com essa frase o ministro não pode ser acusado de estar enchendo lingüiça, pois a “enrolação” é tão vazia que somente encheria o embutido de ar.

               Na intenção de entender bem a filosofia turística, continuo pensando sobre a seqüência da frase: “...alguma coisa pode ter havido, mas isso esta sendo corrigido e será francamente eliminado”. Se eu entendi bem, estão corrigindo “alguma coisa” sem saber se essa “coisa” existe – acredito que conheci hoje o supra-sumo do antecipatório. Mas, continuando até o fim da frase, uma nova surpresa, pois a desconhecida coisa – que deve estar errada – está sendo corrigida e quando tudo estiver corrigido, será (penso que aqui ficaria bem um “tchan-tchan-thcan-tchan”) “francamente eliminado”. Francamente, ministro, que frase para uma audiência, além de pública, conjunta de diversas comissões.

               Depois da brilhante embromação do ministro, lembrei de um causo do livro “Contando Causos”, do Rolando Boldrin, que faz parte do capítulo referente a “Otoridades e os tar de políticos (ou Ocê sabe cum quem tá falando!)”, que transcrevo abaixo, mostrando que para “enrolar” não é necessário ser ministro.

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NOS TEMPOS DO CANGAÇO
                                           Rolando Boldrin

               Só pra não dizer que eu só conto causos de caipira paulista – o que sou, com muita honra –, tem um lá do Nordeste, bem antigo. Dos tempos em que existiam vários bandos de cangaceiros e os dito cujos eram perseguidos pela polícia chamada de “volante”. Tem um causinho bem conhecido que serve de preâmbulo pra outro que em vou contar depois. Sobre um daqueles ataques às vilas, num entrevero com a polícia, contava um velho cangaceiro, lembrando suas façanhas: “Naquela batalha morreu tanto sordado, mas morreu tanto sordado... que urubu só comia de sargento pra cima”.

               Pois bem. O causo que eu vou contar agora aconteceu no dia em que a volante conseguiu, depois de muitos anos, prender o tão temido Capitão Ordovino. Cangaceiro dos bão. Da estirpe sanguinária do velho Lampião.

               Na frente da mesa do delegado, estava o cangaceiro de cara amarrada – pois, afinal, o dito cujo tinha se deixado apanhar e agora deveria amargar uns belos anos atrás das grades. O delegado, por sua vez, não cabia em si de tanto orgulho.

DELEGADO (se recostando na poltrona) – Muito bem, capitão Ordovino. Até que enfim, heim? Depois de tanto tempo, agora a minha polícia, sob o meu comando, consegue pegar o sinhô. Agora o sinhô vai vê o que é bom. Tantos anos saqueando, matando e zombando da gente e até do governo...

CAPITÃO (num resmungo, de cabeça baixa) – Éééé...

DELEGADO – Capitão Ordovino? Antes do sinhô ir pro xilindró, conta aqui pra gente: quantos homens o sinhô já matou nessa vida de cangaceiro?

CAPITÃO (reluta e balbucia) – É dois.

DELEGADO (não acredita no que ouve) – Como é que é? Péra aí! O sinhô não entendeu a pergunta. Eu perguntei quantos homens o sinhô já matou até hoje...

CAPITÃO (firme e articulado) – É dois.

DELEGADO – Deixa de sê cara-de-pau. Como o sinhô tem a coragem de dizer que só matou dois homens até agora?

CAPITÃO (insistente) – É dois mêmo!

DELEGADO – Olha aqui. O sinhô é tão descarado. Além de tudo, ainda mentiroso. Veja aqui (mostra um papel). Só numa lista que eu tenho aqui comigo, tá marcado que o sinhô mato 10! 10 homens. Olha aqui (mostra)!

CAPITÃO (sem ler, justifica) – Só se o sinhô tá contando aqueles 8 buliviano...­­

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               A música desta Tertúlia Nativa é “No jeitinho brasileiro”, de Berenice Azambuja e Vaine Darde, na interpretação de Berenice Azambuja, dando uma amostra de como se pode “viajar” por este Brasil sem depender de Ministério de Turismo.



               Um grande abraço e até a próxima.

Wilmar Machado

terça-feira, 16 de agosto de 2011

ORATÓRIO CAMPEIRO - ATÉ LOGO, TIO ARI!



A natureza do homem se recusa à solidão,
e parece sempre procurar um apoio:
e não o há mais doce que o coração de um terno amigo.
(Marcus Tullius Cícero)

Amigas e Amigos,

               Hoje, enquanto tento escrever, percebo as letras mais pesadas e a vista, já cansada, se mostra ainda mais embaralhada. Escrevo com o coração apertado, pois partiu lá para cima meu tio e padrinho de Batismo, Ari Ribeiro Barcellos, de cepa bajeense e aquerenciado em Pelotas desde há muito. Foi uma vida de mais de 80 anos, mas ele está naquele grupo de pessoas para os quais não existe muito tempo, mas muita saudade começando agora.



               Trabalhador dedicado e chefe responsável, e amigo, me permitem afirmar que o porto de Pelotas nunca mais foi o mesmo depois da aposentadoria do tio Ari, que, desde o dia em Deus chamou meu pai – também Wilmar Machado que sempre foi “seu Zé” para os amigos – se tornou minha maior referência como pai e avô. Os dois já devem ter se encontrado e imagino a festa no Céu para celebrar a continuação dessa grande amizade, interrompida aqui na terra desde que meu pai, muito cedo, foi morar lá no Reino eterno.

               A amizade fica na minha lembrança, desde meus tempos de guri, quando eles conversavam sobre futebol, falando dos clubes amadores – dada as suas diferenças nas equipes profissionais – aos quais estavam ligados – como líderes ou como simpatizantes – como o 99, o Fiateci ou a equipe da fábrica de bebidas Telma.

               Lembro da festa de meus 15 anos, que seria em um final de tarde, lá no início da Rua Álvaro Chaves, em uma casa com porão de quase um metro. Durante a festa o momento mais marcante foi a hora da foto com todos os amigos e familiares presentes – foto que não existe, pois no momento em que todos se concentraram em um lado da sala, o assoalho cedeu e o pessoal foi parar no porão. O assoalho não quebrou, o que fez o outro lado da sala se projetar em direção ao teto da casa – ainda bem que o pé direito de casarão tem grande dimensão – e fez uma cristaleira de meus pais, cheia de louças e copos, deslizar e transformar em cacos seu conteúdo. Fez, também, o fotógrafo ser projetado para cima e escorregar com sua máquina, fotografando o teto da casa. Apesar do susto, não tivemos vítimas. Mas com tudo isso, o que me lembro desse dia com mais carinho é de meu pai e meu tio, pela felicidade de meu aniversário, tomando vinho na hora do almoço e me permitindo experimentar a bebida. Experimentei, mas eles continuaram bebendo e foram dormir, só acordando quando os convidados já estavam chegando. A cena marcante foi propiciada pelos dois, que para não encontrarem os convidados antes de um banho recuperador, passando por uma janela que ficava a mais de dois metros do chão. E até nessa dificuldade, se divertiram juntos.

               Talvez pelo ambiente onde estejam agora conversando, lembrem o quanto suas vidas estão associadas às capelas nas comunidades onde residiram na região geográfica da Paróquia Santo Cura D'Ars, do Seminário São Francisco de Paula. Por sempre estarem focados no serviço, sem esperar qualquer reconhecimento, talvez não tenham idéia da saudade que essas comunidades sentem deles.             

               Não falei até aqui em morte ou falecimento, pois nenhum deles morreu. Eles fazem parte de um seleto grupo de pessoas que vivem para sempre na lembrança, no coração e na saudade dos amigos. Encontrei, em uma rede social, o depoimento das três netas do “seu Zé” – meu pai – sobre o tio Ari, onde fica claro como ele foi para elas o substituto perfeito para o avô que perderam muito cedo. Por isso, acredito que não cabe tristeza, mas a certeza de que Deus necessitou de mais um Santo entre seus Santos e não hesitou em chamar meu padrinho, que também intercederá por nós até que chegue o momento de nos encontrarmos.

               Como ontem foi a festa de Assunção da Virgem Maria, sobre a qual o portal das Paulinas, disponível em http://www.paulinas.org.br, diz  que “na Assunção da Virgem Maria, vemos a nossa esperança de ressurreição já realizada. Nela a Igreja atinge a plenitude do triunfo final, a vitória definitiva sobre a morte e o mal” e como Maria é mediadora de nossas vidas e de nossas aflições, a oração de hoje é dirigida a ela, pedindo sua intercessão, junto a seu Filho e a Deus Pai, pelo tio Ari e pelas almas de nossos amigos e familiares.

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ORAÇÃO A NOSSA SENHORA DA ASSUNÇÃO

Ó dulcíssima soberana, rainha dos Anjos,

bem sabemos que, miseráveis pecadores,
não éramos dignos de vos possuir neste vale de lágrimas,
mas sabemos que a vossa grandeza
não vos faz esquecer a nossa miséria e,
no meio de tanta glória, a vossa compaixão, longe de diminuir,
aumenta cada vez mais para conosco.
Do alto desse trono em que reinais
sobre todos os anjos e santos,
volvei para nós os vossos olhos misericordiosos;
vede a quantas tempestades e mil perigos
estaremos, sem cessar,
expostos até o fim de nossa vida.
Pelos merecimentos de vossa bendita morte,
obtende-nos o aumento da fé,
da confiança e da santa perseverança
na amizade de Deus, para que possamos, um dia,
ir beijar os vossos pés e unir as nossas vozes
às dos espíritos celestes,
para louvar e cantar as vossas glórias eternamente no céu.
Amém!


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               A música escolhida para acompanhar a oração neste Oratório Campeiro, "Ave Maria da Tarde", tem como autores Roque Joaquim Volkweiss, Antônio Carlos Volkweis e Marcelo Volkweiss. A interpretação é do gaúcho Wilson Paim.


               Um grande abraço e que a Paz de Cristo permaneça conosco!

Wilmar Machado  

ABRINDO A PORTEIRA - A ÁRVORE DA MONTANHA E O DESMATAMENTO

Um homem que aspira a coisas grandes
considera todo aquele que encontra no seu caminho,
ou como meio, ou como retardamento e impedimento,
 - ou como um leito de repouso passageiro.
(Friedrich Wilhelm Nietzsche)


Amigas e Amigos,

               Enquanto abro a porteira para mais uma semana, após as alegres comemorações do Dia dos Pais, deparo-me com uma matéria do jornal Valor Econômico, disponível em http://valoronline.com.br, que iniciei a ler por achar interessante e acabei de ler com alguma perplexidade. A referida matéria diz que:
O deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP) criticou nesta segunda-feira as organizações não governamentais (ONGs) internacionais. O parlamentar acusou o Greenpeace de ser uma organização aventureira e arrogante. “No alto de sua arrogância, eles [Greenpeace] quiseram intimidar publicamente o Congresso Nacional quando votamos o Código Florestal”, disse Aldo Rebelo em palestra na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). A ex-senadora Marina Silva (AC) também foi alvo de acusações do deputado, relator do projeto de reforma do Código Florestal. “Enquanto Bill Clinton (ex-presidente dos Estados Unidos), o diretor do filme Avatar (James Cameron) e a dona Marina Silva se reuniam em hotéis caros, eu descia o Rio Purus (AC) para conversar com a população local”, afirmou. O projeto de reforma do Código Florestal, cujo substitutivo foi aprovado na Câmara em maio, contou com o apoio de 410 deputados. Outros 63 foram contra. O texto aprovado prevê a anistia para desmatamentos ilegais feitos até julho de 2008 e permite o plantio em encostas e a criação de gado em topos de morro. Além disso, permite a redução de 80% para 50% da área de Reserva Legal na Amazônia em casos de regularização. Na hipótese de ser aprovado dessa forma pelo Senado, o código representará uma elevação de vegetação nativa não protegida, apenas em Mato Grosso, de sete milhões para 11 milhões de hectares.

               Simulação de virtude com motivos escusos pode ser uma definição de demagogia e essa “descida do rio Purus”, enquanto acontecem reuniões “em hotéis caros” passa a impressão de extrapolar qualquer definição conceitual relacionada a atitude demagógica. Ou será que a anistia para desmatamentos ilegais partiu de manifestações colhidas junto à população local?



               As polêmicas por conta do Código de Desmatamento Florestal já vêm de algum tempo. Em 27/05 último, a Folha de São Paulo (http://www.folha.uol.com.br), noticiou que:
Cotados para as relatorias do Código Florestal no Senado, Luiz Henrique da Silveira (PMDB-SC) e Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) já trabalham para mudar pontos polêmicos no texto aprovado pela Câmara. [...] O peemedebista adotou um discurso alinhado com os ambientalistas. "Não quero deixar margem para anistiar quem degradou as áreas para enriquecimento ilícito." O governo rejeita a anistia. O texto da Câmara legaliza todas as atividades agrícolas em APPs (Área de Preservação Permanente), como várzeas e topos de morros, mantidas até julho de 2008. Ligado aos ambientalistas, Rollemberg quer reduzir o poder dos Estados na regularização ambiental. [...]  O deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP) acusou na quinta-feira (26) parte dos pesquisadores da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) de serem financiados pelo "lobby ambientalista" formado por organizações como Greenpeace e WWF. "A SBPC, quando foi convocada pela comissão especial da Câmara, negou-se a comparecer", disse. "Quando procurada pelo lobby ambientalista, que paga a alguns dos pesquisadores --paga, porque eu sei--, a SPBC resolveu se manifestar", completou o deputado. "O lobby ambientalista internacional instalado no Brasil se habituou durante 20 anos a usurpar o direito da Câmara de legislar." O deputado classificou também a imprensa estrangeira como desinformada. "Países que fazem guerra e não preservam nada da sua vegetação nativa vêm criticar o país que mais preserva no mundo?", questionou.

               O “paga, porque eu sei” deve ter um efeito fantástico sobre a popularidade do deputado, mas que parece novamente demagógico, parece. Agora, aparentemente, o deputado resolveu atacar frontalmente a imprensa estrangeira desinformada ligada aos países que não preservam, pois doravante, se o projeto do deputado superar os obstáculos criados pelos que não entendem sua “política ambiental”, os incautos jornalistas estrangeiros não poderão acusar o Brasil de forma injusta – o desmatamento será “nosso”!

               Mas o que o deputado poderia ganhar com isso? Não faço qualquer idéia, mas a vaga para ministro do TCU está aberta e, segundo a Folha, no último dia 10/08:
O deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP) deverá contar com a pluripartidária bancada ruralista, que soma 232 deputados na atual legislatura, para vencer a eleição para ministro do TCU (Tribunal de Contas da União). Ele se aproximou desse grupo nos últimos dois anos, período em que relatou o projeto do Código Florestal, que acabou sendo aprovado pela Câmara em maio deste ano por 410 votos a 63. Integrantes de partidos com grande número de ruralistas, como o PMDB, já anunciam apoio a Aldo. "É uma perda para o Parlamento, mas ao mesmo tempo o TCU ganha uma pessoa competente", afirma o deputado Moacir Micheletto (PMDB-PR), um dos expoentes ruralistas da Câmara. [...] O DEM, também com muitos ruralistas, pode vir a fechar o apoio a Aldo. "Há uma simpatia muito grande com a candidatura dele. Grande parte de nós deve apoiá-lo, sobretudo os ligados ao agronegócio, que na nossa bancada é bem representativa", disse o vice-líder do DEM na Câmara, Pauderney Avelino (AM). Dentre os partidos médios, como PP e PR, que têm em seus quadros muitos ruralistas, acredita-se que o líder do PTB, Jovair Arantes (GO), o preferido nessas bancadas, passará a ter de dividir voto com Aldo. O PSB também sai prejudicado, pois sua candidata, Ana Arraes (PE), contava com o apoio e influência de Aldo.

               E aí? Pode ser mais importante um punhado de árvores do que um cargo de ministro do TCU? Para que se preocupar com mau uso da madeira se contar com apoio do Pauderney? Não estamos no reino da Dinamarca, mas acredito que o príncipe Hamlet pensaria que por aqui também há algo de podre. Se os ruralistas estivessem apenas satisfeitos com a atuação do deputado na elaboração do código, poderiam dar um boizinho, ou outro bichinho, de presente. Como a euforia parece levar o povo do agronegócio a uma manifestação de gratidão bem mais ampla – com o apoio maciço à indicação para o cargo de ministro – será que alguém consegue imaginar qual a grande vantagem que pode existir para o país nesse novo código?

               Na abertura desta semana, a música escolhida – enquanto o novo Código Florestal não a derruba – é de domínio público e interpretada pelo cantador e compositor mineiro, do Jequitinhonha,  Rubinho do Vale. Confira abaixo "A Árvore da Montanha".


               Um grande abraço e que tenhamos uma ótima semana, com muito verde!

Wilmar Machado