terça-feira, 16 de agosto de 2011

ABRINDO A PORTEIRA - A ÁRVORE DA MONTANHA E O DESMATAMENTO

Um homem que aspira a coisas grandes
considera todo aquele que encontra no seu caminho,
ou como meio, ou como retardamento e impedimento,
 - ou como um leito de repouso passageiro.
(Friedrich Wilhelm Nietzsche)


Amigas e Amigos,

               Enquanto abro a porteira para mais uma semana, após as alegres comemorações do Dia dos Pais, deparo-me com uma matéria do jornal Valor Econômico, disponível em http://valoronline.com.br, que iniciei a ler por achar interessante e acabei de ler com alguma perplexidade. A referida matéria diz que:
O deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP) criticou nesta segunda-feira as organizações não governamentais (ONGs) internacionais. O parlamentar acusou o Greenpeace de ser uma organização aventureira e arrogante. “No alto de sua arrogância, eles [Greenpeace] quiseram intimidar publicamente o Congresso Nacional quando votamos o Código Florestal”, disse Aldo Rebelo em palestra na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). A ex-senadora Marina Silva (AC) também foi alvo de acusações do deputado, relator do projeto de reforma do Código Florestal. “Enquanto Bill Clinton (ex-presidente dos Estados Unidos), o diretor do filme Avatar (James Cameron) e a dona Marina Silva se reuniam em hotéis caros, eu descia o Rio Purus (AC) para conversar com a população local”, afirmou. O projeto de reforma do Código Florestal, cujo substitutivo foi aprovado na Câmara em maio, contou com o apoio de 410 deputados. Outros 63 foram contra. O texto aprovado prevê a anistia para desmatamentos ilegais feitos até julho de 2008 e permite o plantio em encostas e a criação de gado em topos de morro. Além disso, permite a redução de 80% para 50% da área de Reserva Legal na Amazônia em casos de regularização. Na hipótese de ser aprovado dessa forma pelo Senado, o código representará uma elevação de vegetação nativa não protegida, apenas em Mato Grosso, de sete milhões para 11 milhões de hectares.

               Simulação de virtude com motivos escusos pode ser uma definição de demagogia e essa “descida do rio Purus”, enquanto acontecem reuniões “em hotéis caros” passa a impressão de extrapolar qualquer definição conceitual relacionada a atitude demagógica. Ou será que a anistia para desmatamentos ilegais partiu de manifestações colhidas junto à população local?



               As polêmicas por conta do Código de Desmatamento Florestal já vêm de algum tempo. Em 27/05 último, a Folha de São Paulo (http://www.folha.uol.com.br), noticiou que:
Cotados para as relatorias do Código Florestal no Senado, Luiz Henrique da Silveira (PMDB-SC) e Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) já trabalham para mudar pontos polêmicos no texto aprovado pela Câmara. [...] O peemedebista adotou um discurso alinhado com os ambientalistas. "Não quero deixar margem para anistiar quem degradou as áreas para enriquecimento ilícito." O governo rejeita a anistia. O texto da Câmara legaliza todas as atividades agrícolas em APPs (Área de Preservação Permanente), como várzeas e topos de morros, mantidas até julho de 2008. Ligado aos ambientalistas, Rollemberg quer reduzir o poder dos Estados na regularização ambiental. [...]  O deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP) acusou na quinta-feira (26) parte dos pesquisadores da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) de serem financiados pelo "lobby ambientalista" formado por organizações como Greenpeace e WWF. "A SBPC, quando foi convocada pela comissão especial da Câmara, negou-se a comparecer", disse. "Quando procurada pelo lobby ambientalista, que paga a alguns dos pesquisadores --paga, porque eu sei--, a SPBC resolveu se manifestar", completou o deputado. "O lobby ambientalista internacional instalado no Brasil se habituou durante 20 anos a usurpar o direito da Câmara de legislar." O deputado classificou também a imprensa estrangeira como desinformada. "Países que fazem guerra e não preservam nada da sua vegetação nativa vêm criticar o país que mais preserva no mundo?", questionou.

               O “paga, porque eu sei” deve ter um efeito fantástico sobre a popularidade do deputado, mas que parece novamente demagógico, parece. Agora, aparentemente, o deputado resolveu atacar frontalmente a imprensa estrangeira desinformada ligada aos países que não preservam, pois doravante, se o projeto do deputado superar os obstáculos criados pelos que não entendem sua “política ambiental”, os incautos jornalistas estrangeiros não poderão acusar o Brasil de forma injusta – o desmatamento será “nosso”!

               Mas o que o deputado poderia ganhar com isso? Não faço qualquer idéia, mas a vaga para ministro do TCU está aberta e, segundo a Folha, no último dia 10/08:
O deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP) deverá contar com a pluripartidária bancada ruralista, que soma 232 deputados na atual legislatura, para vencer a eleição para ministro do TCU (Tribunal de Contas da União). Ele se aproximou desse grupo nos últimos dois anos, período em que relatou o projeto do Código Florestal, que acabou sendo aprovado pela Câmara em maio deste ano por 410 votos a 63. Integrantes de partidos com grande número de ruralistas, como o PMDB, já anunciam apoio a Aldo. "É uma perda para o Parlamento, mas ao mesmo tempo o TCU ganha uma pessoa competente", afirma o deputado Moacir Micheletto (PMDB-PR), um dos expoentes ruralistas da Câmara. [...] O DEM, também com muitos ruralistas, pode vir a fechar o apoio a Aldo. "Há uma simpatia muito grande com a candidatura dele. Grande parte de nós deve apoiá-lo, sobretudo os ligados ao agronegócio, que na nossa bancada é bem representativa", disse o vice-líder do DEM na Câmara, Pauderney Avelino (AM). Dentre os partidos médios, como PP e PR, que têm em seus quadros muitos ruralistas, acredita-se que o líder do PTB, Jovair Arantes (GO), o preferido nessas bancadas, passará a ter de dividir voto com Aldo. O PSB também sai prejudicado, pois sua candidata, Ana Arraes (PE), contava com o apoio e influência de Aldo.

               E aí? Pode ser mais importante um punhado de árvores do que um cargo de ministro do TCU? Para que se preocupar com mau uso da madeira se contar com apoio do Pauderney? Não estamos no reino da Dinamarca, mas acredito que o príncipe Hamlet pensaria que por aqui também há algo de podre. Se os ruralistas estivessem apenas satisfeitos com a atuação do deputado na elaboração do código, poderiam dar um boizinho, ou outro bichinho, de presente. Como a euforia parece levar o povo do agronegócio a uma manifestação de gratidão bem mais ampla – com o apoio maciço à indicação para o cargo de ministro – será que alguém consegue imaginar qual a grande vantagem que pode existir para o país nesse novo código?

               Na abertura desta semana, a música escolhida – enquanto o novo Código Florestal não a derruba – é de domínio público e interpretada pelo cantador e compositor mineiro, do Jequitinhonha,  Rubinho do Vale. Confira abaixo "A Árvore da Montanha".


               Um grande abraço e que tenhamos uma ótima semana, com muito verde!

Wilmar Machado

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