quinta-feira, 15 de março de 2012

TERTÚLIA NATIVA – AMBIÇÃO DISTRITAL E GREVE DE PROFESSORES


Pouca ou nenhuma vez se realiza com a ambição coisa que não prejudique terceiros.
(Miguel de Cervantes Saavedra)





Amigas e Amigos,

Inicio esta Tertúlia comentando a greve dos professores que foi deflagrada em Brasília-DF. No Correio Braziliense de hoje, li que o governo reiterou a impossibilidade de conceder reajustes salariais em 2012, alegando respeito à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), em reunião realizada ontem, à noite, com representantes do Sindicato dos Professores. A reação natural foi de continuidade da greve, mantendo o calendário que prevê assembléia da categoria no próximo dia 20.

         No mesmo jornal, na edição de ontem, uma matéria abordava a nova Lei do Distrito Federal que possibilita a aquisição de carros de luxo para os deputados distritais – que, por tudo o que não fazem e gastam, continuam me parecendo o maior desperdício de dinheiro público. Na referida edição do Correio, pode-se encontrar que “os distritais estão legalmente liberados para comprar carros de luxo com recursos públicos. O governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), sancionou a Lei nº 4.796/2012, que acabou com o único empecilho jurídico para a prática”.

         O mesmo governo que menospreza a educação consegue dispor de verba para distribuição de carros de luxos para quem sequer merece calhambeque com tanque de combustível vazio. Se isso é o que se pode esperar de um governo de supostos trabalhadores, talvez uma liderança ociosa possa trazer mais esperanças para a educação em Brasília.

         Outro fato interessante publicado no Correio de hoje é que depois de toda a repercussão ligada à aquisição dos artigos luxuosos, os deputados não querem mais os carros. Segundo o jornal, eles se posicionaram contra à medida, mesmo que 20 – dos 24 – parlamentares tenham votado a favor dela. Depois de passado o reboliço todo que a imprensa está noticiando, imagino que existam grandes possibilidades de vermos novos carrões circulando pelas avenidas de Brasília.

Castro Alves
        
Esse 14 de março marca o Dia Nacional da Poesia e todas as rimas que penso para deputado distrital são pobres, literalmente ou de espírito. Essa data é celebrada hoje em homenagem ao nascimento do poeta Antônio Frederico de Castro Alves, o “poeta dos escravos”. Para marcar a data nesta Tertúlia, publico a poesia “As duas flores”, de Castro Alves.


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AS DUAS FLORES
Castro Alves

São duas flores unidas
São duas rosas nascidas
Talvez do mesmo arrebol,
Vivendo, no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.

Unidas, bem como as penas
Das duas asas pequenas
De um passarinho do céu...
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.

Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar...
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.

Unidas... Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!

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         Para fechar a Tertúlia, fica a música "Obras de Poeta", de Vital e Chico Lau, interpretada pela dupla de irmãos paranaenses (José Lima Sobrinho) Chitãozinho & Xororó (Durval de Lima).


 

         Um grande abraço e até a próxima!

quarta-feira, 14 de março de 2012

ORATÓRIO CAMPEIRO – O APRENDER QUE SE RENOVA



Até quando, ingênuos, amareis a ingenuidade?
Até quando os escarnecedores desejarão o escárnio para si
e os imprudentes desprezarão o conhecimento?
(Provérbios 1,22)



Amigas e Amigos,

No Oratório de hoje, deixo, inicialmente, algumas dúvidas e inquietações sobre os métodos tradicionais, e mesmo atuais, de ensinar. Minhas preocupações aumentaram com a recente notícia – que li no portal G1 – sobre a catadora que passou no vestibular, após estudar com livros encontrados no lixo.

Futura artista plástica Ercília Stanciany. Fonte: "A Gazeta", do ES.

         Antes de qualquer comentário, deixo abaixo uma parte da matéria encontrada no G1, para conhecermos um pouco mais dessa instigante história de superação de Ercília Stanciany que, aos 41 anos, foi aprovada para o curso de Artes Plásticas da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes):
Apesar de ter interrompido os estudos na infância após terminar a 4ª série do ensino fundamental, depois de adulta, ela continuou a estudar pelos livros que encontrava no lixo. A família de Ercília residia em Belo Horizonte, em Minas Gerais, mas há oito anos se mudou para o Espírito Santo. Foi nessa época que ela, sem alternativas para ajudar a sustentar a casa, resolveu ganhar a vida catando materiais recicláveis. Ela explicou que o pai a obrigou a parar de ir à escola quando criança para ajudá-lo na marcenaria que trabalhava. "Meu pai falava que de forma alguma eu iria estudar e ainda dizia que eu nunca seria nada na vida", disse. No lixo, ela encontrou muitos livros e um cartaz que anunciava um curso para jovens e adultos em escolas públicas. Ercília se matriculou e, apesar das dificuldades para ir às aulas, se formou no ensino médio. Uma conquista seguiu a outra, já que no último vestibular da Ufes a catadora foi aprovada no curso de Artes Plásticas. "Quando fui assinar minha matrícula eu tremia. Saí de lá emocionada. Cheguei no ponto de ônibus e perdi até a noção de como chegar em casa", contou. Sobre arte, Ercília é familiarizada e, desde jovem, desenvolve o talento de fazer pinturas em tecido. Sem dúvidas, a maior arte que sabe fazer é transformar a dificuldade em motivação.

         Observando essa parte da história de vida de Ercília, algumas informações podem ser destacadas. Ela tem 41 anos, idade que, não raras vezes, marca um momento de “desaceleração” para muita gente que experimentou mais oportunidades do que essa catadora. Ela ainda não sabe muito bem o que seja acesso a Internet e jamais experimentara acesso a bibliotecas ou livrarias; ainda assim, encontrou, de forma criativa, uma oportunidade na sua profissão: o aproveitamento de livros abandonados.

         A primeira lição que Ercília me passou foi a felicidade de ser catadora de lixo, quando muitas vezes somos apenas cumpridores de metas e tarefas em nossas profissões. Dedicamos boa parte de nosso tempo ao nosso trabalho e Ercília nos ensina que podemos descobrir espaços para a felicidade ou buscarmos novas oportunidades, sem deixarmos que nossas atividades se transformem em fardos cada vez mais difíceis de carregarmos.

         Mas a grande questão que passou a fazer parte de minhas reflexões foi marcada pelas grandes dificuldades enfrentadas por Ercília, insuficientes para esmorecer sua sede de saber e transformadas em oportunidades a partir do reconhecimento da riqueza transformadora oferecidas pelos livros abandonados. Essa questão se materializa nas formas adotadas para o processo de ensino e aprendizagem com indagações sobre se a tarefa do educador não deveria passar, muito além da pratica, pelo ensinar a descobrir intensas motivações para aprender. Talvez, deixar mais soltos os conteúdos, cada vez mais disponíveis na rede mundial e em publicações, e buscar despertar a fome de saber das “Ercílias” adormecidas em cada indivíduo.

Neste dia 13 de março, festejamos Santa Eufrásia (em grego, quer dizer Alegria), que nasceu na Ásia no final dos anos trezentos. Eufrásia fez parte de uma família de grande fortuna e era parente do imperador Teodósio, sem sentir-se atraída por essas facilidades. Desde os sete anos de idade, quando seu pai morreu, pediu para morar em um convento, onde acompanhava as religiosas em todas as tarefas. Santa Eufrásia, ainda jovem, morreu subitamente em 412 e tem seu culto difundido pela singeleza de sua vida e pelas graças nas quais consta como intercessora. Peçamos, por intercessão de Santa Eufrásia, que o processo de ensino e aprendizagem se transforme na ânsia de buscar homens e mulheres melhores para nosso mundo.

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ORAÇÃO A SANTA EUFRASIA

Deus, nosso Senhor e Pai,

Por intercessão de Santa Eufrásia,

Iluminai nossos educadores

Para que, inspirados por teu Espírito Santo,

Transformem e sejam transformados

Em celeiros de aprendizado

Onde a sede do saber se sobreponha

Às dificuldades de cada dia

Amém!


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Para fechar o Oratório fica a música "Famílias do Brasil", de Padre Zezinho, com o próprio autor.


 


Com votos de uma ótima semana para todos – e em especial para Ercília, seu marido Eraldo Mozer e seu filho Breno, de 6 anos –, almejo que a Paz de Cristo permaneça conosco!

segunda-feira, 12 de março de 2012

ABRINDO A PORTEIRA – DE BODOQUE E GAIOLA



O bom senso não consiste então em pensar sobre as coisas com excesso de sagacidade,
mas em concebê-las de maneira útil, em tomá-las no bom sentido.
(Luc de Clapiers Vauvenargues)



Amigas e Amigos,

         Começo a semana com uma matéria que me pareceu roteiro de comédia de baixa qualidade. Talvez, nem um péssimo roteirista conseguisse imaginar uma situação tão estapafúrdia como a ocorrida no interior do Rio Grande do Norte, onde um juiz se deparou com um agente penitenciário “cuidando” de 33 presos, “fortemente” armado com um estilingue (provavelmente de última geração, mas o único disponível para todos os agentes).   

Foto: Adriano Abreu/Tribuna do Norte/Divulgação

         Sobre o assunto, o portal G1 publicou hoje, com a afirmação feita por um juiz de que naquele local preso só não foge se não quiser, que:   
O juiz Peterson Fernandes Braga, titular da Comarca da cidade de São Paulo de Pontegi, no Rio Grande do Norte, diz que ficou surpreso quando viu que o único agente que cuidava de 33 presos no Centro de Detenção Provisória (CDP) da cidade tinha apenas uma baladeira (um estilingue, usado para caça de pássaros) para se defender e também impedir a fuga dos detentos. [...] “Eu estranhei e perguntei para o segurança onde estavam as armas. Ele falou que não tinha e que usava o estilingue”, contou o juiz ao G1. A visita ocorreu no último dia 5 e o magistrado enviou um ofício à Corregedoria Geral da Justiça e a Coordenadoria de Administração Penitenciária do Estado pedindo providências. [...] A cidade tem 15 mil habitantes e fica a cerca de 73 quilômetros da capital do estado, Natal. Segundo ele, 33 presos estão em duas celas de cerca de 9 metros quadrados cada. “Já houve várias fugas e rebeliões no CDP. A última foi no fim do ano passado, quando cinco detentos fugiram, entre eles dois traficantes perigosos que ainda não foram recapturados”, recorda o juiz. [...] A Secretaria de Justiça do Rio Grande do Norte, responsável pela administração do sistema penal, informou por telefone ao G1 que o caso não é isolado e que há carência de pessoal nas unidades penitenciárias do estado. A pasta está verificando a situação e, dentre as providências que serão tomadas, será a chamada de aprovados em um concurso público para agente e também a realização de um curso de formação de profissionais para os presídios. A secretaria diz que o sistema penal do Rio Grande do Norte não possui armas e que as utilizadas, eventualmente, são cedidas pela Polícia Militar. O Exército já aprovou a compra e o governo está fazendo um edital para aquisição das armas que serão destinadas aos presídios, disse a assessoria de imprensa da pasta.
        
         É impossível imaginar como impedir a fuga de presos com tão somente um estilingue. Se pelo menos cada agente tivesse seu estilingue, os bandidos pensariam bem antes de se propor a uma aventura de fuga, onde poderiam ser violentamente atingidos pelos “projéteis” disparados pelos briosos bodoqueiros.

         Como a Secretaria de Justiça já informou que está “verificando a situação”, acredito que os cidadãos da pequena cidade que abriga o Centro de Detenção já estejam completamente tranqüilos. Já foi adiantado, também, que serão chamados os aprovados em concurso público para agente e serão realizados cursos de formação para esses profissionais.

         Outra informação importante na matéria é que o edital para aquisição de armas para os presídios está em elaboração, o que pode nos levar a imaginar que daqui a muito tempo serão adquiridas algumas armas, talvez, obsoletas pelo tempo entre o início do processo e a conclusão da licitação. A partir disso, pode-se aferir que os cursos de especialização deverão incluir disciplinas sobre o correto manuseio de atiradeiras, únicas armas atualmente disponíveis para defesa e segurança nos presídios.

         Podemos observar que o presídio é de modo informal conhecido como “gaiola” e os malandros presos não raras vezes são chamados de “aves de rapina”. Diante do exposto, só faltava o estilingue, mas a partir do exemplo do Rio Grande do Norte, não falta mais nada.

Para animar esta postagem, escolhi o forró “Tiro de Bodoque”, de Teflon e Cito, com o grupo de paulistas, com a cantora argentina Maria Paula, “O Bando de Maria”. 

   

 Um grande abraço e até a próxima!