sábado, 5 de março de 2011

FOGÃO DE LENHA - CALDO VERDE COM BACALHAU

Amigas e Amigos,

            Ao final desta sexta-feira - iniciando os feriados momescos - acendo o Fogão de Lenha, para trazer uma receita especial para esse período que pode levar a algumas extravagâncias alimentares.

            Antes, mesmo com todo o momento festivo que toma conta das ruas e dos clubes, é difícil não comentar a "festa" que fazem na Esplanada, em Brasília, com o dinheiro do povo brasileiro. A revista Época, de 28 de fevereiro passado, trouxe uma matéria sobre uma "dificuldade financeira" de nossos ilustres parlamentares:
Obrigado pelas urnas a trocar as praias do Rio de Janeiro por (pelo menos) três dias por semana em Brasília, o deputado federal Romário (PSB-RJ) enfrenta o dilema dos parlamentares novatos. Ao chegar à capital, Romário consultou corretores sobre a possibilidade de alugar uma casa ampla no Lago Sul, área nobre da cidade. Considerou tudo caro. Preferiu fazer como a maioria e se hospedar num hotel. Agora, Romário está à espera de ocupar um dos apartamentos funcionais mantidos pela Câmara dos Deputados. Só que, além dele, há outros 279 deputados na fila. [...] A evolução dos preços no superaquecido mercado imobiliário de Brasília tornou os R$ 3 mil do auxílio-moradia menos atraentes. Muitos parlamentares consideram o valor desatualizado. [...] Os deputados estão tão ansiosos que têm tentado visitar os apartamentos. Mas não são autorizados a entrar. Assessores do deputado Romário só foram autorizados a visitar uma unidade antiga. Com os preços dos imóveis nas alturas e a disputa acirrada pelosapartamentos da Câmara, existe o risco de algum parlamentar entrar e se recusar a sair.

            Agora pergunto se isso não corta os nossos corações? Nossos ilibados representantes recebem apenas R$ 3 mil de auxílio moradia (além do vultoso salário, da verba de representatividade, das verbas não-sei-pra-que-mais e, as vezes, de uma "gorjetinha" por fora). Quem é consegue ter uma vida digna nessas precárias condições? Às vezes me pergunto se nossos parlamentares não estariam sendo punidos pela medida legislatória que elevou o Salário Mínimo ao sidéro patamar de R$ 545 (sem considerar que isso ainda poderá ser acrescido de elevados "vales transportes" e, talvez, "vales alimentações").



            Com tantas caras de pau, acredito que faltará óleo de peroba em Brasília. Por isso, para o prato de hoje, estou sugerindo azeite de oliva. Trata-se de uma variação do Caldo Verde, originária do norte de Portugal e talvez a sopa mais típica de nosso irmãos d'álem-mar, com um ingrediente também relacionado a pátria luzitana - o bacalhau. Experimentamos essa semana e eu recomendo.

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CALDO VERDE DE BACALHAU

Ingredientes


2 l. de água

500 g. de bacalhau em lascas

1 kg. de batatas

1 cebola grande picada

3 dentes de alho picados

Azeite de oliva a gosto

Sal e pimenta do reino

1 maço de couve em tiras finas



Modo de Preparo


Retirar a pele do bacalhau e cortá-lo em lascas.

Colocar em uma panela com as batatas descascadas e cortadas em cubos.
Levar ao fogo e cubrir com a água.
Ferver em fogo baixo até as batatas estarem muito macias.
Retirar as batatas (com uma escumadeira) e amassá-las bem.
Enquanto isso, colocar azeite de oliva em uma frigideira e levar ao fogo.
Quando o azeite estiver quente, colocar a cebola e em seguida o alho.
Cuidar para não dourar, somente aromatizar o azeite.
Juntar a cebola e o alho a batata amassada e retornar a mistura para a panela do caldo.
Se necessário, acrescentar mais água.
Espere levantar a fervura novamente.
Cortar a couve bem fininha e acrescentar ao caldo.
Acerte o sal e a pimenta.
Ferver por aproximadamente mais 5 minutos.
Servir regado com azeite de oliva, com fatias de pão.

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            Para acompanhamento, mesmo em tempo de folia carnavalesca, poderia ser um jogo do Benfica, mas - hoje - sugiro ouvir Daniel, cantando "Verde Vinho", de Udo Jurgens e Michael Kunze, com versão de Paulo Alexandre.


              Bom Carnaval para todos, um grande abraço e até o próximo Fogão de Lenha!

Wilmar Machado

quinta-feira, 3 de março de 2011

TERTÚLIA NATIVA - COMO SÃO POBRES...

Amigas e Amigos!

            Começo a Tertúlia Nativa de hoje com uma breve viagem no tempo – através de notícias publicadas recentemente.
            Em 12/01/2011, no jornal “Valor Econômico” (http://www.valoronline.com.br/), pode-se encontrar que:
Paulo Paim também acredita ser possível alcançar um reajuste maior para o salário mínimo, [...]. "Temos de garantir um aumento real. O valor proposto não leva em conta sequer a inflação dos últimos anos. Defendo R$ 580, mas podemos chegar a um valor intermediário", reconheceu.
            No jornal “Extra” (http://extra.globo.com/), dia 18/02/2011, foi publicado a insistência da defesa do mínimo de R$ 560 por parte do Senador Paulo Paim, conforme abaixo:
A despeito do projeto aprovado na Câmara, o senador Paulo Paim (PT-RS) voltou a defender nesta sexta-feira, em discurso na tribuna, apoio a um reajuste do salário mínimo de R$ 560. Paim insiste na antecipação de 2,75% do aumento que será concedido em 2012. O senador elogiou a política para o salário mínimo, mas também cobrou uma definição para o pagamento dos aposentados e pensionistas que ganham mais de um salário
            Na página http://www.jornalfloripa.com.br/, no dia 23/02/2011, relata que:
O senador Paulo Paim (PT-RS) justificou em Plenário nesta quarta-feira (23) sua adesão à proposta governista (PLC 1/11) de um salário mínimo de R$ 545. Ele admitiu, assim, ter desistido da luta que vinha mantendo juntamente com as centrais sindicais por um aumento maior de, pelo menos, R$ 560.
            Para chegar ao nosso destino, nesses tempos de reinado de Momo, vamos concluir nossa viagem com o Painel da Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/), onde, em matéria de hoje, se lê:
Folia Mesmo tendo votado a favor do salário mínimo de R$ 545, Paulo Paim (PT-RS) será homenageado pelo Bloco dos Aposentados, sexta-feira no Rio. O senador confirmou presença e prometeu "muito samba no pé".

            Tudo isso para – utilizando os pronunciamentos do Senador Paulo Paim somente como exemplo da “moda” de gestão política brasileira – constatar que o importante para nós brasileiros não é o que fazem nossas “autoridades eleitas”, mas tão somente o que dizem. De resto Senador, bom samba porque quando da votação, os salários dos representantes do povo já estavam, aproximadamente, duplicados. Já que aposentados e pensionistas não podem receber os nababescos salários depositados nas contas de nossos políticos constituídos, pelo menos dancem, novamente.

            No momento poético da Tertúlia de hoje, abro espaço para o poeta, escritor e compositor Luiz (de Martino) Coronel, gaúcho de Bagé e cidadão emérito de Porto Alegre e de Piratini, que magistralmente escreveu a poesia abaixo.

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COMO SÃO POBRES OS POBRES DO MEU PAÍS

Como são pobres os pobres,
os pobres do meu país.
Na pele morena da América
ferida sem cicatriz.

Como são pobres os pobres,
os pobres do meu país.
Pobres de beira de estrada
e dos degraus da matriz.

Como são pobres os pobres,
os pobres do meu país.
Na pele morena da América
ferida sem cicatriz.

Como são pobres os pobres,
os pobres do meu país.
Todo mundo oculta as culpas
só é maldito quem diz.

Como são pobres os pobres,
os pobres do meu país.

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            Para deixar musical a Tertúlia, minha sugestão é "Cordas de Espinho", de Marco Aurélio Vasconcellos e Luiz Coronel, interpretada por um de seus autores, o Marco Aurélio.


              Termino com um grande abraço para minhas amigas e meus amigos!

Wilmar Machado.

terça-feira, 1 de março de 2011

ORATÓRIO CAMPEIRO - PARABÉNS, RIO

Amigas e Amigos!

            O Rio de Janeiro - Cidade (que recomeça a ser) Maravilhosa - completa, hoje, 446 anos sob a proteção de São Sebastião, que manteve a esperança viva na alma do povo carioca quando muitos pensavam que tudo estaria perdido.




            O Oratório Campeiro desta semana parabeniza a cidade, os que lá nasceram e os que por lá moram. Para o Rio de Janeiro - com licença, Gilberto Gil - que "continua lindo", desejando que ele seja sempre o "Rio de janeiro, fevereiro e março...", "Aquele Abraço"!

            Além da homenagem ao Rio, depois de amanhã, dia 3 de março, a Igreja Católica celebra Santa Teresa Verzeri – batizada como Ana Maria Teresa Eustochio Josefa Catarina Inácia Verzeri –, que nasceu em 31 de julho de 1801, em Bérgamo, Itália, e morreu em 3 de março de 1852. Santa Teresa foi beatificada pelo Papa Pio XII, em 27 de outubro de 1946, e canonizada, há dez anos, pelo Papa João Paulo II, no dia 10 de junho de 2001.

            Santa Tereza Verzeri é fundadora da Congregação das Filhas do Sagrado Coração de Jesus, em Bérgamo, no dia 08 de fevereiro de 1831. No portal Verzeri (http://www.verzeri.org.br/) encontramos que "as Irmãs Filhas do Sagrado Coração de Jesus continuam a missão de Santa Teresa Verzeri dedicando-se à saúde, à educação, à pastoral de inserção nos meios populares e aos projetos sociais atendendo crianças, adolescentes e famílias em situação de vulnerabilidade social". O trabalho da Congregação está presente na Itália, no Brasil, na Argentina, na Bolívia, na República Centro Africana, em Camarões, na Índia e na Albânia.




            Neste ano de 2011, além de celebrar os 10 anos de Canonização de Santa Teresa Verzeri, as Irmãs FSCJ comemoram os 180 anos da fundaçãoo de sua Congregação e os 80 anos de presença delas no Brasil. Por conta desses marcantes motivos, convido a rezarmos nesta semana, também pelo aniversário do Rio, pedindo a intercessão de Santa Teresa Verzeri - conforme oração do portal citado no parágrafo anterior.

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PRECE A SANTA TERESA VERZERI

Santa Teresa Verzeri,
Ensina-nos a seguir Jesus Cristo
Na sua manifestação de amor misericordioso as pessoas,
Na simplicidade evangélica,
Na retidão de zelo,
Na acolhida confiante
E no serviço generoso aos irmãos,
Para a glória de Deus
E crescimento do reino.
Amém!

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            Para concluir a homenagem ao Rio de Janeiro, Luiz Gonzaga canta dele e de Zé Dantas, "Adeus, Rio de Janeiro", mostrando um pouco da dificuldade que é sair do Rio de Janeiro.


            Um grande abraço, até o próximo Oratório e que a Paz de Cristo permaneça conosco!

Wilmar Machado

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

ABRINDO A PORTEIRA - VINHO, CADEIA E CICLISTAS

Amigas e Amigos,

            Há pouco, lia o portal da RBS (http://www.clicrbs.com.br/) e encontrei uma manchete que dizia: "Ibravin e governo estadual acertam ação para fortalecer cadeia do vinho". Na mesma velocidade com que se lê uma manchete, se pensa um monte de coisas onde fundamento é o de menos. Pois pensei que Ibravin era o sobrenome de algum "figurão" do judiciário gaúcho e a cadeia do vinho estaria associada a prisão de motoristas embriagados. Será que isso teria alguma coisa com o atropelamento de ciclistas na última sexta-feira na capital gaúcha.

            Provavelmente essa associação desconexa foi motivada pela declaração do advogado de defesa do atropelador, em entrevista à rádio Gaúcha. Pode até que exista alguma coisa de verdade no que foi dito - além do nome do cliente -, mas parecia mais roteiro de curta metragem que não vai concorrer a prêmio algum. O roteiro, quer dizer, o depoimento está parcialmente transcrito em matéria do jornal Zero Hora:
Segundo o advogado Luís Fernando Coimbra Albino, Neis alegará legítima defesa dele e de seu filho de 15 anos. O motorista decidiu se apresentar para afirmar que investiu contra os ciclistas após se sentir ameaçado por supostos golpes contra seu Golf preto. Ao chegar à sede da polícia, o advogado afirmou que, ao se encontrar cercado por bicicletas, Neis tentou "sair para o lado", mas teve os vidros do carona — onde se encontrava o filho — quebrados: — Para preservar a integridade física dele e do filho, [Neis] tentou sair do local. Questionado sobre o motivo do abandono do veículo, Albino afirmou que seu cliente estava com medo, pois foi avisado por um parente que estaria sendo perseguido pelos manifestantes.

            Dá pra imaginar a cena: um incontável número de bicicletas "velozes e furiosas" perseguindo um pobre Golf, impotente se comparado às descontroladas "bikes". E o motorista do Golf, apavorado com a velocidade alucinante das perseguidoras bicicletas, teve sua prisão preventiva solicitada pelo Ministério Público Estadual, do Rio Grande do Sul, somente por observarem as imagens do atropelamento e por que o acuado motorista "tem multas por dirigir na contramão, em cima da calçada e outras infrações graves".



            Segundo as notícias publicadas, o grupo de ciclistas fechavam a rua, sem qualquer consulta ou permissão para tanto, e não comunicaram as autoridades a realização da manifestação. Só por isso, o passeio já poderia ser considerado um equívoco. Supondo que, além disso, também tivesse acontecido a ameaça alegada pelo motorista. Com tudo isso, não percebo qualquer justificativa para a tentativa de assassinato. E aí que iniciou a minha confusão na leitura da manchete citada no primeiro parágrafo, pois imaginei que no roteiro argumento do advogado poderia aparecer que seu cliente havia tomado uma(s) tacinha(s) de vinho, o que justificaria o ato, mas não o livraria da cadeia (talvez).

            Mas voltando para a manchete do primeiro parágrafo, ela trata de uma matéria do jornal Zero Hora, que não tem nada a ver com o bárbaro atropelamento:
Em encontro hoje com o presidente do conselho deliberativo do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Júlio Gilberto Fante, o governador Tarso Genro se comprometeu a encaminhar medidas para fortalecer a cadeia produtiva de uva e derivados no Estado. [...] A alta carga tributária encarece o vinho, favorecendo o consumo de bebidas com alíquotas menores, como cachaça, cerveja, entre outras.
            Na esperança de que os jovens ciclistas não desanimem de seus ideiais, vamos ouvir "Estrada", com Zé Geraldo.



            Deixo a porteira do Canto da Terra aberta para mais uma semana e um grande abraço!

Wilmar Machado

domingo, 27 de fevereiro de 2011

PROSA DE DOMINGO - ATÉ QUALQUER HORA, IMORTAL

Amigas e Amigos!

            O médico e escritor gaúcho Moacir Scliar estava internado desde o dia 11 de janeiro no Hospital de Clínicas de Porto Alegre-RS, onde, após passar por um cirurgia simples e sem qualquer complicação, sofreu um AVC grave e faleceu à 1h deste domingo.


            O jornal Zero Hora, de Porto Alegre, do grupo RBS (http://www.clicrbs.com.br/), noticiou que:
Aos 73 anos, o porto-alegrense Moacyr Jaime Scliar havia construído uma obra sólida, com mais de um livro publicado para cada ano de vida, em uma ampla gama de gêneros: contos, romances, literatura infanto-juvenil, ensaios. Além disso, era colunista frequente de uma dezena de publicações, de jornais diários como Zero Hora e Folha de S. Paulo a revistas técnicas. Escrevia em qualquer lugar a qualquer hora, auxiliado pela tecnologia – jamais viajava sem seu laptop. Tal dedicação à palavra e ao ofício que exercia com evidente prazer transformaram Scliar em um dos autores mais respeitados do Brasil. [..] Scliar nasceu em 1937, no bairro judaico do Bom Fim, em Porto Alegre, filho de José e Sara Scliar – a mãe, professora primária, seria a grande responsável pela paixão do escritor pelas letras: foi ela quem o alfabetizou. Formado médico sanitarista pela UFRGS, ingressou na profissão em 1962. Casado com Judith, professora, e pai do fotógrafo Roberto, Scliar havia também passado pela experiência de professor visitante em universidades estrangeiras e tinha obras traduzidas em uma dezena de idiomas, entre elas o russo e o hebraico. O trabalho como médico de saúde pública seria crucial na vida e na obra de Scliar – seu primeiro livro, publicado em 1962, foi uma coletânea de contos inspirados pela prática médica, Histórias de Médico em Formação, volume que mais tarde Scliar excluiria de sua bibliografia oficial por considerá-lo a obra prematura de um autor que ainda não estava pronto.

            Percebi, enquanto escrevia agora, a dificuldade de homenagear pessoas que muito admiramos. Parecia que tudo o que escrevesse seria pouco diante do momento de despedida que foi marcado neste domingo. Aí, busquei na própria Academia, em fragmentos do discurso de posse desse Imortal, pois acredito que ali encontrei uma forma de prestar uma pequena homenagem. Transcrevo, abaixo, esses fragmentos daquele discurso:
Foi uma longa trajetória, esta que me trouxe à Academia Brasileira de Letras, e não estou falando apenas dos mil e duzentos quilômetros que separam a cidade de Porto Alegre, onde moro, do Rio de Janeiro. Estou falando daquela trajetória que percorrem todos os escritores, uma trajetória de auto-descoberta e de auto-aperfeiçoamento e que, às vezes, chega a esta Casa. Quando isto acontece, vive-se um momento de inusitada emoção, um peculiar momento em que, de súbito, descortinamos uma imensa paisagem literária, da qual somos, mesmo na condição de humilde detalhe, integrantes. [...] Aprendemos sempre e descobrimos sempre. Uma das coisas que aprendemos é homenagear os nomes que fizeram a literatura brasileira. Neste momento cabe-me destacar, em primeiro lugar, aquele que me antecedeu na Cadeira n.° 31, o mineiro Geraldo França de Lima, figura exemplar de nossas letras. Nascido no interior de Minas Gerais [...] Como Geraldo França de Lima venho, não do eixo Rio–São Paulo, ao redor do qual, tradicionalmente, circula a vida cultural do país, mas de um Estado relativamente distante. Que, como Minas Gerais, tem uma cultura própria, expressa numa vigorosa literatura, reflexo, por sua vez, de uma história verdadeiramente épica. Conquistado aos espanhóis, o território rio-grandense foi cenário de ferozes lutas que resultaram em sua incorporação à coroa portuguesa. As vastas extensões territoriais foram divididas entre os conquistadores. Resultou daí o latifúndio, que deu à região a sua primeira riqueza: o gado, criado extensivamente no pampa. E aí surge também o gaúcho, que logo inspiraria os primeiros escritores rio-grandenses, notadamente Simões Lopes Neto. [...] O projeto de colonização judaica no Rio Grande do Sul não foi bem-sucedido. Provindos de pequenas aldeias, os emigrantes não tinham, contudo, experiência com o trabalho da terra, sobretudo numa região de escassos recursos como era então o interior do Estado; breve, eles se juntaram a outros colonos que deixavam o interior rumo à cidade. A família de meus pais, portanto, ficou em Porto Alegre. Radicaram-se no bairro do Bom Fim, onde viviam em casas minúsculas, exercendo profissões como as de marceneiro, alfaiate, vendedores ambulantes. Era uma vida difícil, de muitas carências, mas compensada pelo espírito comunitário, pela coesão familiar. Todas as noites estas famílias se reuniam para aquilo que era quase um ritual: ficavam tomando chá (logo substituído pelo chimarrão) e conversando – contando histórias, em geral sobre suas primeiras experiências de Brasil. Estas narrativas, que me encantavam, despertaram em mim a vontade de contar histórias – mas de contá-las por escrito. Porque eu era, desde cedo, um grande leitor; fui motivado a isto por minha mãe, que, com grande força de vontade, conseguiu estudar; era professora primária e grande leitora. Foi ela quem me introduziu à leitura. [...] Enfim, este é um momento de celebração. Entristecido pela ausência daqueles que não estão aqui, celebrando comigo: meus pais, José e Sara, emigrantes que lutaram duramente e que me ensinaram a lutar também, e a acreditar. Como um dia acreditou na literatura aquele gurizinho do bairro do Bom Fim que, de algum lugar do tempo, me olha com seus grandes olhos, um olhar de admiração e de espanto – espanto e admiração à qual junto, neste momento, a gratidão de toda a minha vida.
            Cabe, agora, agradecer a Moacir Scliar pela obra que nos deixou e pela pessoa que foi. Vale, também, desejar uma boa-viagem e deixar um "até qualquer hora!", pois, afinal de contas, para um Imortal não existe Adeus.
            Para concluir nossa homenagem, nessa Prosa de Domingo, trouxe dois ícones da música riograndense: Fátima Gimenez, interpretando a música "Felicidade", de Lupicínio Rodrigues.



            Grande abraço e até a próxima Prosa...

Wilmar Machado