'Fui eu que o fiz', diz a
minha memória.
'Não posso ter feito isso', -
diz o meu orgulho e mantém-se inflexível.
Por fim - é a memória que
cede.
(Friedrich
Wilhelm Nietzsche)
Amigas e Amigos,
Após um período ausente, retorno
hoje a este Canto da Terra. Justifico a ausência pela necessidade de
dedicação a uma monografia de encerramento de um MBA (Master of Business
Administration) em Gestão de Negócios.
Não raras vezes nesse período
ausente aconteceram momentos de abandonar a dedicação citada acima e retornar a
este espaço para registrar coisas que parecem, às vezes, só acontecerem por
aqui (= nosso país ou nossa capital).
De todos os acontecimentos do
período, os que mais chamaram a minha atenção foram os provocados pelo mistifório
proporcionado pelo ministro do Trabalho, em tempo recente. Parece que o
ministro está encarando com muita seriedade o amnésico papel que começou a
interpretar para indignar os que ainda esperam ver um dia, nesse país, política e ética a andar juntas.
Depois de ganhar uma sobrevida da presidente Dilma Rousseff, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, tentou ontem implantar uma agenda positiva ao anunciar os números de contratações e demissões no País. Em entrevista coletiva, falou longamente sobre os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), mas irritou-se ao ser perguntado sobre as denúncias contra ele. O ministro disse que não falaria do tema, ampliou o prazo para entregar informações prometidas ao Congresso e acabou por encerrar a coletiva sem dar explicações para as perguntas, sobretudo às relativas as suas relações com o diretor da ONG Pró-Cerrado, Adair Meira. Para tentar montar um ambiente mais favorável, a coletiva sobre emprego foi realizada no auditório do prédio da pasta e não na sala pequena ao lado do gabinete do ministro, onde acontece todos os meses. Dessa forma, Lupi pode entrar e sair escoltado por assessores sem um contato mais direto com os jornalistas. O bom humor e as piadas frequentes nesse tipo de entrevista foram substituídos por uma postura mais sisuda. Lupi entrou sem cumprimentar ninguém e antes de qualquer manifestação reclamou com a equipe por não ter uma televisão onde pudesse ver a apresentação preparada para a ocasião. Procurou depois amenizar o clima: "Eu não tive educação, me perdoem", disse, concluindo a frase com um bom-dia aos presentes.
E terá sido por “falta de educação” que o ministro agrediu – e continua agredindo – a população, bem como os integrantes do legislativo e do próprio
executivo, com a sua conveniente memória camaleônica? E a sobrevida aludida na
matéria do Estadão poderia ter algo a ver com a declaração de amor proferida
pelo ministro quando de seu primeiro depoimento? Será que a presidente se
emocionou com a performance de fazer inveja aos maiores canastrões da arte
teatral do universo? Ainda bem que essas perguntas não estão sendo feitas para
o ministro, pois ele tem demonstrado grande dificuldade para entabular respostas razoáveis.
Vale a pena ler, na íntegra, uma outra matéria do Estadão,
do dia 17 último, comentando as perguntas sem respostas do ministro em suas
idas ao Congresso. Entre as perguntas que compõem a matéria – que trata também
de contradições do ministro – vale destacar algumas como:
- Por que o ministro diz, agora, que não tem de provar nada? As notas fiscais do pagamento de suas peripécias aéreas não apareceram ainda e a promessa de entrega-las ainda na semana passada foram apenas promessas...
- Por que o ministro compara uma suposta carona em um táxi aéreo com uma viagem em avião de carreira? Ninguém tomou conhecimento de que as companhias aéreas nacionais distribuam “bolsa viagem” para ministros, logo carona em táxi aéreo deve ter sido bancada por alguém (e, talvez, com alguma intenção)...
- Se o ministro não tinha relações pessoais com o Adair, como sabia que ele tinha aeronave pessoal? Depois da interpretação melodramática do dia 10, no depoimento da Câmara, onde papéis foram revirados para lembrar do “seu Adair”, até então um seu “ilustre desconhecido”, o ministro no Senado afirmou no dia 17, ao Senado, que teria usado uma aeronave pessoal do “seu Adair”, que conheceu por conta dos convênios do ministério, sem ter com ele qualquer relação pessoal...
Como o ministro está ligado ao PDT, partido fundado por
Leonel Brizola e que após a morte de seu fundador passa a idéia de estar
permanentemente à deriva, a historiadora Marly da Silva Motta, do Centro de
Pesquisas e Documentação de História Contemporânea do Brasil, da Fundação
Getúlio Vargas (FGV), disse – conforme o Estadão – ser “um partido sem alma”. Não
questiono a afirmativa da historiadora, mas fiquei pensando se existiria, no
Brasil atual, algum partido com “alma”. Não consegui vislumbrar algum (não
estou afirmando que não exista), mas acredito que, em existindo, a “alma” do
mesmo deve ser do tipo “penada”.
A música escolhida para hoje – sem qualquer inspiração no
Ministério do Trabalho, pois foi escrita bem antes das atuais dúvidas que o
assolam – é de autoria dos saudosos Lourival dos Santos (de Guaratinguetá-SP) e
Tião Carreiro (Montes Claros-MG), gravada por Tião Carreiro e Pardinho, e tem
por título “A mentira tem perna curta”.
Um grande abraço para todos e até a próxima.
Wilmar Machado
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