O
sentir é irredutível ao dizer.
Só
o estar sofrendo diz o sofrer.
(Vergílio
Antônio Ferreira)
Amigas
e Amigos,
Quando
abri a porteira para esta semana, na última segunda-feira, prometi uma Tertúlia
com esse eterno grande nome da música regional do Rio Grande do Sul que foi
enterrado ontem, após 6 meses internado no Hospital Mãe de Deus, em Porto
Alegre (RS), para tratar de um estrago provocado pelo fumo em seu organismo.
Falo, com saudade, do cantor e
compositor José Cláudio Machado, que morreu na última segunda-feira em
conseqüência de um enfisema pulmonar. Recorri a alguns jornais gaúchos para
prestar essa pequena homenagem.
Crédito: Andréa Graiz/Agencia RBS
O
jornal Zero Hora (http://zerohora.clicrbs.com.br),
ao noticiar a morte do Zé Cláudio, informou que ele:
foi o grande vencedor da Califórnia da Canção Nativa em sua segunda edição, em 1972, época de ouro do grande festival de Uruguaiana que hoje é considerado patrimônio cultural do Rio Grande do Sul. A canção Pedro Guará, que lhe deu a Calhandra de Ouro, foi composta em parceria com Cláudio Boeira Garcia e se tornou uma das mais conhecidas de seu vasto repertório – ela deu título a um de seus álbuns mais conhecidos, gravado em 1990. O músico também ficou conhecido por interpretações como a de Pêlos, Milonga Abaixo de Mau Tempo e Campesino e pelas duas passagens pelo grupo Os Serranos, a última na segunda metade dos anos 1980, quando gravou o disco Isto É... Os Serranos. Machado também tocou com Os Tapes, Bebeto Alves, Luiz Marenco e Mauro Moraes e gravou 14 CDs, o último deles Os Melhores Sucessos de José Claudio Machado, de 2007. Foi um dos idealizadores do Parque da Harmonia, hoje identificado como reduto dos tradicionalistas sobretudo no período que antecede o 20 de setembro. – Aquilo ali era primeiro um aterro, nós íamos fazer churrasco, passar o dia, jogar bocha. Um dia saiu um acampamento. E, quando se viu, era um parque – declarou, em uma de suas últimas entrevistas.
Zé
Cláudio fica na saudade dos que tiveram oportunidade de conhecê-lo, ou de
conhecer sua obra, como grande entre os grandes cantores e compositores. Mas
foi muito mais do que isso e, na reportagem do portal da Zero Hora sobre o
enterro deste legítimo representante da música nativista, o testemunho de
Renato Borghetti, o Borghettinho, deixa bem claro a influência do Zé Cláudio
como gaiteiro de mão cheia: “– Se hoje sou músico, devo isso a Machado. No
final da década de 1970, eu ia ao 35 CTG com meu pai e só ficava observando-o
tocar. Era um cara diferente, que centralizava as atenções. Os movimentos dele,
a técnica com a gaita, tudo para mim era uma referência. Não havia aula melhor”.
Para
recordar um pouco mais a vida deste marco da música gaúcha recorro a notícia
de ontem do jornal Correio do Povo (http://www.correiodopovo.com.br), que destacou ao se referir a essa grande perda para a música do Rio Grande do
Sul: “Em entrevista recente, Machado disse que parou de ir a festivais por
não gostar de disputas e achar os resultados duvidosos. ‘Me sinto mal
ganhando e me sinto mal perdendo, sou mau ganhador e mau perdedor’, disse”.
O
Diário Gaúcho (http://www.diariogaucho.com.br),
na edição de 8 de outubro de 2009, trouxe uma matéria sobre a gravação do DVD
“O Melhor do Canto e Encanto Nativo – Volume 2”, no Teatro São Carlos, em
Caxias do Sul (RS), onde estavam reunidos, conforme a matéria, o melhor da
música gaúcha, onde destaco um trecho para lembrarmos ainda mais deste músico
gaúcho: “Quando Walther Morais e Nilton Ferreira cantaram Pelos, clássico de
José Cláudio Machado, o público ouviu aquele trecho “Toca, toca, êra,
êra...”, e o teatro quase veio abaixo na mesma hora! O final da apresentação
foi ao som de fortes aplausos da platéia”.
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Em
meados dos anos 90, experimentei a alegria de freqüentar o Bar Pulperia, na
Cidade Baixa, em Porto Alegre, um verdadeiro templo do Nativismo, que recebia
grandes músicos gaúchos e oferecia para seus clientes uma culinária gaúcha da
melhor qualidade, servida em panelas de ferro e com jeito campeiro. Foi nessa
Pulperia que tive oportunidade de assistir uma interpretação que lembro até
hoje da música “Poncho Molhado”, na voz e violão de Zé Cláudio. Foi de tal
forma marcante essa apresentação que se me perguntarem sobre outras músicas que
tenham sido apresentadas naquela noite (quase madrugada), certamente não
lembrarei.
Nesta
Tertúlia, público essa bela página da música regional gaúcha, cuja letra foi
escrita pelo saudoso poeta de São Borja (RS), José Hilário Ajalla Retamozzo, e musicada
pelo compositor de Sananduva (RS), Ewerton dos Anjos Ferreira.
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PONCHO
MOLHADO
José
Hilário Retamozo/Ewerton Ferreira
Poncho
molhado,
O
olhar na tropa e no horizonte
Vai
o tropeiro, devagar, estrada a fora
A
chuva encharca,
Está
chovendo desde ontonte
E
dentro d'alma, esta demora
Irmão
do gado,
Ele
se sente nesta hora
E
o seu destino, também vai, neste reponte
Igual
a tropa, neste tranco, estrada a fora
Sempre
encharcado de horizonte
A
tropa segue, devagar, mugindo tonta
Talvez
pressinta que seu fim é o matadouro
E
o tropeiro, entristecido, se dá conta
O boi é bicho, mais tem alma sob o couro
O boi é bicho, mais tem alma sob o couro...
O boi é bicho, mais tem alma sob o couro...
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Para
encerrar esta homenagem simples a esse grande músico, fica sua interpretação
para a música “Poncho Molhado”.
Um
grande abraço e até o próximo encontro.
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