CANTO DA TERRA: ABRINDO A PORTEIRA

Não precisas que ninguém te diga quem tu és ou o que és.

Tu és aquilo que és!

(John Lennon)

Amigas e Amigos,

Mais uma semana começando e as notícias de corrupção nos poderes constituídos permanecem como pauta principal das publicações do país. A semana inicia com uma suspeita de espionagem no Ministério Público do estado de Goiás, onde o procurador-geral é irmão do senador Demóstenes Torres.

Fonte: "Irmãos Metralha", de Walt Disney

O portal do jornal O Estado de São Paulo apresentou hoje uma matéria sobre o pedido feito por responsáveis pelo combate ao crime organizado naquele estado para que seja apurada a utilização de software para quebrar o sigilo de operações. Conforme o mencionado portal:

Promotores responsáveis pelo combate ao crime organizado em Goiás entraram com uma representação na Corregedoria do Ministério Público do Estado para investigar se um software "espião" instalado em computadores do órgão foi utilizado para quebrar o sigilo de operações. O programa foi detectado também em máquinas usadas por promotores que apuram as atividades da Delta Construções em Goiás. A representação, a que o Estado teve acesso, afirma que os computadores do órgão eram monitorados por um programa que "fotograva" a cada 30 segundos a tela. Também era possível acessar qualquer máquina a partir da sede do Ministério Público, em Goiânia, que está sob o comando do procurador-geral Benedito Torres, irmão do senador Demóstenes Torres (ex-DEM, sem partido-GO). A denúncia, encaminhada em 23 de maio passado, atesta que o programa é capaz de monitorar, sem autorização, o trabalho de promotores, assessores e servidores. O caso foi descoberto em Itumbiara, no interior de Goiás, e outros promotores, especialmente aqueles que atuavam na área de combate ao crime organizado, também identificaram recentemente o programa oculto. [...] Peritos de informática mobilizados pelos promotores confirmaram a instalação do programa, que era autoexecutável e ficava oculto em todas as máquinas. [...] Além disso, quer saber se o procurador-geral de Justiça, irmão de Demóstenes, autorizou acessos durante sua gestão, iniciada em 2011, ou teve conhecimento do uso do programa, instalado seis meses antes de sua posse, mas até hoje operante. O MP reconhece o uso de dois programas nos computadores do órgão para suporte remoto. Conforme o diretor-geral, Frederico Guedes Coelho, o serviço foi certificado conforme o ISO 9001 e todos os documentos referentes aos programas são públicos desde julho de 2010. Coelho nega uso para espionagem. [...] Em entrevista ao Estado, o procurador-geral de Justiça de Goiás, Benedito Torres, negou a possibilidade de espionagem no Ministério Público Estadual. [...] Ainda conforme o procurador-geral, o programa já existia quando assumiu o posto, em 2011. Sobre a investigação de improbidade a que responde, Torres afirma que resulta numa análise jurídica de competência.

As estranhas coincidências poderiam levar a algum relacionamento com o senador – atualmente pouco falante – Demóstenes. Os fatos ocorrem no estado de Goiás, onde surgiram suspeitas do envolvimento do Senador com a contravenção. Os promotores, alvo da mencionada espionagem, são responsáveis exatamente pelo combate ao crime organizado. A Delta aparece como empresa envolvida com o contraventor amigo do senador e os procuradores encarregados de apurar as atividades dessa empresa também tiveram suas atividades monitoradas.

É muito difícil afirmar quem seria o responsável pela espionagem, mesmo que a atividade venha a ser comprovada (mas será o Benedito?). O procurador-geral de Justiça de Goiás – a exemplo de seu irmão senador – nega qualquer possibilidade de espionagem no MP. A existência de um software de monitoramento – mesmo certificado e com documentação pública – garante que uma coisa que não pode ser afirmada é a não existência de espionagem, pois o software é altamente favorável a esse tipo de atividade por permitir suporte remoto e ter módulo autoexecutável. Não significa que houve espionagem, mas as condições eram propicias.

A música escolhida para abrir a porteira é "Disco Voador", de Palmeira, com Sérgio Reis.