sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

GALERIA SERTANEJA - PREVISÃO, EMENDAS E REMENDOS



O escravo apenas tem um senhor,
o ambicioso tem tantos quantos lhe puderem ser úteis para vencer.
(Jean de La Bruyère)


Amigas e Amigos,

Esse 2011 está “apagando suas luzes” e eu, longe de Brasília (DF), percebo pelo portal G1 (http://g1.globo.com) que, por conta do prazo para se obter “empenho” de emendas – termina às 14h do último dia deste ano –, tem muito deputado e senador pressionando para serem liberados dinheiro para obras em suas bases eleitorais. A dúvida que me persegue é quantos deixaram o ano passar sem qualquer retribuição para com os que lhes garante seus salários. Não imagino todos (mas uma boa parte).




Diz o referido portal que está acontecendo uma verdadeira romaria ao Palácio do Planalto pelos que buscam promessas de pagamento de emendas parlamentares ao orçamento da União. Segundo o portal:
As emendas parlamentares são apresentadas por deputados e senadores e incluem no orçamento projetos e obras direcionados a estados e municípios onde têm bases eleitorais. O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), escreveu em seu perfil no microblog Twitter que está no Rio de Janeiro, em férias com a família, mas permanece trabalhando, por telefone, pela liberação das emendas para o seu estado. Cada parlamentar tem o direito a R$ 13 milhões em emendas individuais e pode também incluir pedidos nas emendas reservadas às bancadas e comissões. Mesmo durante o recesso, o senador Delcídio Amaral (PT-MS) começou a visitar ministérios e o Palácio do Planalto já na segunda-feira (26). Ele disse que encontrou muitos parlamentares e assessores de gabinetes na Casa Civil. "Tem em torno de uns 40, 50 deputados esta semana trabalhando [nos ministérios]”, disse o deputado federal Darcísio Perondi (PMDB-RS), presidente da Frente Parlamentar da Saúde. Para o deputado Lázaro Botelho (PP-TO), os parlamentares da base aliada ao governo deveriam ter “tratamento diferenciado” na liberação das emendas. Em agosto, PMDB e outros partidos da base aliada se articularam para impedir a realização de votações na Câmara dos Deputados. O objetivo da paralisação foi demonstrar insatisfação com o governo, principalmente com a demora na liberação de emendas parlamentares. No início do segundo semestre, o governo chegou a anunciar que seria empenhado R$ 1 bilhão em emendas, somente em agosto.
          Quanta informação maravilhosa para nós que elegemos essas simpáticas figuras, capazes de gozar férias no Rio de Janeiro com a família e permanecer trabalhando. Imagino que, alguém que não faça nada ao longo de onze meses e receba polpuda remuneração, ao tirar seu “merecido” mês de férias – e continuar sem fazer nada – possa afirmar que está trabalhando pois suas férias estão muito semelhantes ao seu ano laboral.

          Outra coisa que me parece formidável para nós eleitores é perceber que, nos últimos dias do ano, cerca de 40 ou 50 parlamentares estão trabalhando para garantirem uma próxima reeleição por conta de distribuição de verbas para seus correligionários.

          E ver a “sensibilidade” do ilustre deputado que clama por “tratamento diferenciado” para os aliados, afinal as verbas – fruto de altíssimos impostos pagos por todos – devem beneficiar somente aqueles que moram em regiões representadas pelos parlamentares “puxa-sacos”.

          Pode-se constatar, ainda, na matéria acima que parlamentares se organizaram em agosto e paralisaram seus trabalhos – ou seja, fizeram greve branca – por estarem insatisfeitos como o Governo e a greve não foi declarada ilegal por nenhuma instância do judiciário. Será que greve ilegal só pode ser vinculada a classe que trabalhe?

          Como eu citei no início que 2011 está apagando as luzes, valho-me dos versos de Adair de Freitas, em sua música “Previsão”, que dizem “que alegria se eu previsse que a chuva do amor caísse nos ranchos do meu rincão” para desejar um Santo e Abençoado 2012 para todas as Amigas e Amigos leitores deste Blog. Segue a letra completa da música nesta Galeria Sertaneja.

=========================================
PREVISÃO
                  
Adair de Freitas

O tempo se armou de fato
Lá pra o lado do Uruguai
Vai chover barbaridade
E sem poncho ninguém sai
O tempo se armou de fato
Lá pra o lado do Uruguai
Vai chover barbaridade
E sem poncho ninguém sai.

E é por isso
Que o campeiro se agasalha
Porque sabe que não falha
Previsão de vaqueano
Mesmo aragano
Sabe que é dura a peleia
Quando o tempito se enfeia
Pro lado dos castelhanos.

O tempo se armou de fato
Lá pra o lado do Uruguai
Vai chover barbaridade
E sem poncho ninguém sai
O tempo se armou de fato
Lá pra o lado do Uruguai
Vai chover barbaridade
E sem poncho ninguém sai.

Isto é costume
Da gente lá da fronteira
Gente boa sem fronteira
Que observa a Natureza
É sutileza do peão, e está provado
Se armando pra aquele lado
Chove chuva com certeza.

O tempo se armou de fato
Lá pra o lado do Uruguai
Vai chover barbaridade
E sem poncho ninguém sai
O tempo se armou de fato
Lá pra o lado do Uruguai
Vai chover barbaridade
E sem poncho ninguém sai.

A vida é um tempo
Temporal, vento maleva
E a vida que a gente leva
Leva o tempo pela mão
Meu bom patrão,
Que alegria se eu previsse
Que a chuva do amor caísse
Nos ranchos do meu rincão.

O tempo se armou de fato
Lá pra o lado do Uruguai
Vai chover barbaridade
E sem poncho ninguém sai
O tempo se armou de fato
Lá pra o lado do Uruguai
Vai chover barbaridade
E sem poncho ninguém sai.

=========================================

          Para acompanhar a letra acima, fica aqui a interpretação do próprio autor, Adair de Freitas.


          Um grande abraço e Feliz 2012!

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

TERTÚLIA NATIVA - O CARANCHO E O ITAQUERÃO


Quando se navega sem destino, nenhum vento é favorável.
(Lucius Annaeus Seneca)


Amigas e Amigos,

          Aqui na bela capital portenha, continuo passeando muito, ganhando alguns quilos extras por conta dos maravilhosos cortes de assados. Sem perder o contato com as coisas de nosso Brasil, li no Blog do Perrone, no porta UOL (http://www.uol.com.br) que o Banco do Brasil se apresenta ao BNDES como “fiador” do Itaquerão, o estádio que o Corinthians não tem condições de construir.

          Dado a um presidente que parece ter usado o clube para buscar projeção política, e hoje se prepara para exercer um cargo “simbólico” (ou não, como diria Caetano) na CBF, e a outro presidente que resolveu assumir como capricho essa aparente vaidade pessoal em detrimento da ausência de investimentos em saúde, educação e segurança no país, saiu do papel a absurda idéia dessa construção sem qualquer sentido.

          O Perrone conclui a sua postagem dizendo que “Com o BB no circuito, o Itaquerão reforça sua vocação estatal. BNDES, prefeitura e governo de São Paulo são os outros entes públicos envolvidos na gestação do estádio corintiano. Sem falar na participação do então presidente Lula, que estimulou a Odebrecht a entrar na empreitada”. Essa vergonha toda com o dinheiro do povo só é possível em um país que não tem qualquer preocupação com a opinião do seu povo e sabe que, se der tudo errado – como é possível se esperar – bastará aumentar algum imposto ou criar alguma coisa que pague esse desmando administrativo.



          Com essa “confusão administrativa”, onde o governo assume os compromissos (ou a falta de compromissos) da iniciativa privada, lembrei de um causo contado lá no sul do Rio Grande do Sul, cujo personagem principal – o popular Carancho – assume um local que ainda não era seu. Segue abaixo, para preencher essa Tertúlia, a confusão provocada pelo Carancho.

=========================================

O CARANCHO E O CAIXÃO DE DEFUNTO
                                                                             Domínio Público

          Certa feita, num domingo à tarde, sentado nas guardas da ponte do rio Santa Maria, que banha Dom Pedrito, o nosso amigo Carancho aguardava uma carona, que o levasse até a campanha. Eis que surge a picape Willys da prefeitura municipal, levando um caixão para um defunto carente do interior. O Carancho, então, pediu uma carona e foi atendido.

          Dali a pouco começou a cair um chuvarada daquelas. Sem se apertar, o Carancho velho entrou no caixão e, mais do que depressa, fechou a tampa, protegendo-se da chuva.

         Mais adiante, outras pessoas também pegaram carona. E, uma vez em cima da picape, como é próprio do pessoal da campanha, que acredita em assombração e outros bichos mais, todos passaram a olhar, desconfiados, para aquele caixão de defunto fechado.

          Vai daí que lá pelas tantas começou a esquentar no interior do caixão, e o Carancho velho, abrindo a tampa de sopetão, perguntou:

          – E daí, indiada? Como é que tá o tempo aí fora, chê? Barbaridade!

          Foi vivente saltando pra todo o lado e se boleando pelos barrancos da estrada. Dizem que teve gente que correu mais de dez léguas, e sem parar!

=========================================

          Para continuar “combinando” com essa vertedura do dinheiro público brasileiro, a música desta Tertúlia Nativa é “O maior calote”, de Nhô Chico e Dino Franco, com João Mulato & Pardinho.


          Um grande abraço e até a próxima!

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

ORATÓRIO CAMPEIRO - SÃO JOÃO E O CORPORATIVISMO



Nada parece verdadeiro que não possa parecer falso.
(Michel Eyquem de Montaigne)


Amigas e Amigos,

          Estou passando ferias em Buenos Aires e, direto da capital federal da Argentina, renovo para todos vocês meus votos de que a alegria do menino Deus, que novamente nasceu entre nós, se faça felicidade em um Santo e Abençoado 2012.

          Para não perder contato com o que acontece aí no Brasil, tenho a Internet como canal de informação. Hoje, lendo o portal do jornal “O Estado de São Paulo” (http://www.estadao.com.br), encontrei que o novo presidente do TJ de São Paulo, desembargador Ivan Ricardo Garisio Sartori, comparou os atos do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) aos da ditadura. Diz o referido portal que Sartori:
É uma voz poderosa a atacar a devassa do CNJ sobre juízes e servidores de todo o País. As investigações do órgão de fiscalização do Judiciário sobre irregularidades nos Estados foram bloqueadas pelo Supremo Tribunal Federal. A decisão ampliou a polêmica em torno da ministra Eliana Calmon, corregedora nacional de Justiça, que já havia descontentado a classe ao apontar ‘bandidos de toga’ no Judiciário. Na semana passada, no último dia de funcionamento do STF em 2011, os ministros Marco Aurélio Mello e Ricardo Lewandowski atenderam a pedidos de associações de juízes e deram liminares suspendendo investigações do CNJ. Uma dessas apurações é sobre o suposto favorecimento irregular a magistrados do TJ de São Paulo, que teriam recebido de uma só vez benefícios de uma decisão judicial sobre auxílio-moradia, em detrimento de colegas que obtiveram o pagamento em parcelas. Sartori disse que determinou a elaboração de um levantamento sobre os pagamentos realizados desde 1996 para verificar se há "fundamento" nos repasses antecipados a determinados juízes. Para ele, o desrespeito à "fila" teria justificativa em caso de doença grave do beneficiário ou de um parente. Caso se constate a irregularidade dos pagamentos, o futuro presidente do TJ, que tomará posse na segunda-feira, defende a imposição de descontos nos vencimentos dos juízes favorecidos como forma de compensar os repasses antecipados.
          É difícil imaginar a quem se deseja enganar com um discurso carregado de ressentimentos pela agressão cometida contra “sua classe”. O que se pode esperar desses  “levantamentos”, ou outras “práticas investigativas” promovidas pela Justiça, é que sejam esquecidos pelo tempo que (en)rolarão pelos tribunais. 

          As atitudes corporativas, como as promovidas pelos ministros do Supremo e pelo futuro presidente do TJ-SP, estão bem mais distantes do que se poderia considerar democracia do que as investigações do CNJ, em um momento em que a suspeita de corrupção se faz presente nos mais diversos escalões dos poderes constituídos. E, não havendo qualquer irregularidade, porque não mostrar isso de forma transparente para a sociedade brasileira, responsável pelos altos salários desses injuriados senhores?




          Nesta última terça-feira de 2011, celebramos a festa de São João Evangelista, “o apóstolo que Jesus amava”, que esteve com o Mestre até a sua morte na cruz. São João era considerado inculto e não lhe fez falta a cultura para ser amado por Jesus, pois de nada lhe valeria ser douto se ficasse preocupado em acobertar irregularidades que houvessem entre os que lhe eram próximos, como se poderia imaginar na notícia acima.

          Neste momento de tantas “roupas sujas” sendo lavadas, em público, por representantes de diversas áreas do judiciário brasileiro, invoquemos São João para que este apostolo interceda a Jesus pelo discernimento dos magistrados.

=========================================

ORAÇÃO DE SÃO JOÃO EVANGELISTA

Ó São João Apóstolo e Evangelista,
Fostes o mais íntimo confidente das palavras de vida
Que brotavam dos lábios de Jesus;
O mais próximo de sua glória, no Tabor;
De seu coração, na Ceia;
De sua Cruz, no Calvário.
Ó Apóstolo do Amor,
Sois por excelência a testemunha da fé,
Da verdade e da caridade.
Pelo amor e fidelidade ao Mestre,
Sois o protetor de todos os cristãos;
Dos sacerdotes: vivestes o sacerdócio em toda a sua plenitude;
Da virgindade: sois o apóstolo virgem;
Das mães, merecestes ser dado por filho a Mãe de Deus;
Das crianças e dos jovens: fostes o mais moço dos apóstolos;
Dos velhos: é como ancião que vos apresentais na Epístolas;
Dos que sofrem: padecestes ao pé da Cruz;
Das almas contemplativas: estivestes no Tabor;
Dos pobres: por eles trabalhastes nas minas de Patmos;
Dos doentes: curastes os enfermos;
Dos males do corpo e do espírito: após traçar o sinal da cruz bebestes do cálice com veneno e ressuscitastes os mortos;
De todas as pessoas que querem dedicar-se aos seus irmãos e amá-los em Deus: a caridade não pode ter ideal mais puro que o do amigo de Jesus.
Ó Apóstolo, orador da divindade,
Pela grandeza de vossa vida
E pelos dons que recebestes, sem cessar,
Intercedei por nós ao Pai, Filho e Espírito Santo,
Agora e sempre e por todos os séculos dos séculos.
Amém!
=========================================

          A música deste Oratório é “No meio de nós”, de Ronaldo Monteiro de Souza e Paulo Barros, interpretada por Padre Fábio de Melo, com Zezé Di Camargo & Luciano.


          Um Feliz 2012 e que a Paz de Cristo permaneça conosco!
 

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

GALERIA SERTANEJA - AMAR COMO JESUS AMOU



A ganância do ter não só engoliu o ser e a convivência pacífica,
mas até privou a maior parte dos homens do ter indispensável,
para acumular nas mãos de uns poucos o que a todos pertence.
(Cardeal Paulo Evaristo Arns)


Amigas e Amigos,

          Está prestes a nascer, mais uma vez, o salvador menino em nosso conturbado mundo. A Boa Nova que chega não será diminuída pelos que – sorrateiramente – se esforçam para anulá-la. Pois parece que nessa linha de conflito podemos enquadrar algumas medidas ao “apagar das luzes” de 2011.

          Segundo o portal da Empresa Brasil de Comunicação (http://agenciabrasil.ebc.com.br), o salário mínimo passa para R$622 em janeiro e novas tarifas de pedágios começam a valer nos próximos dias. Se a greve nos aeroportos dificulta a viagem de boa parte da população, uma outra parte  (bem maior) terá dificuldades para “absorver” os pedágios em minguados salários.

          Sobre o salário mínimo, o referido portal diz, em matéria de hoje, que:
A presidente Dilma Rousseff assinou hoje (23) o decreto que determina o valor de R$ 622,00 para o salário mínimo a partir de janeiro de 2012. O reajuste representa aumento de 14,13% em relação ao valor atual, de R$ 545,00. O decreto será publicado no Diário Oficial da União de segunda-feira, dia 26. O método de reajuste do salário mínimo foi definido no início de 2010 por meio de uma medida provisória aprovada pelo Congresso. O valor é calculado com base na inflação dos dois anos anteriores, acrescido do percentual de crescimento da economia do ano anterior de sua validade.
          A matéria sobre as novas tarifas de pedágios, também hoje, é apresentada no portal da EBC com o texto abaixo (excerto):
A partir do dia 29 de dezembro, quem passar pela BR-116, que liga São Paulo a Curitiba (Rodovia Régis Bittencourt), vai pagar R$ 1,80 pelo pedágio, que atualmente custa R$ 1,70. [...] A ANTT também autorizou o reajuste das tarifas de pedágio das rodovias que integram o Pólo Rodoviário de Pelotas (BR-116, 392 e 293/RS). A partir do dia 1º de janeiro de 2012, a tarifa passará dos atuais R$ 7,80 para R$ 8,40 nas cinco praças de pedágio: Retiro, Capão Seco, Glória, Pavão e Cristal. Recentemente, a agência também autorizou reajustes para os pedágios de outras rodovias do país. Desde o dia 19 de dezembro, os motoristas que passam pela BR-381, no trecho entre Belo Horizonte e São Paulo, pagam R$ 1,40 em oito praças de pedágio. [...] Quem passar pela BR-116, no trecho entre Curitiba e a divisa de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul, vai pagar R$ 3,30 pelo pedágio. Na BR 153/SP, trecho entre a divisa dos estados de Minas Gerais e São Paulo e a divisa de São Paulo e Paraná, a tarifa aumentou no dia 18 de dezembro. A tarifa para automóveis é de R$ 3,20 nas praças de pedágio de Onda Verde, José Bonifácio, Lins, e Marília, todas no estado de São Paulo. Desde o dia 14 de dezembro estão valendo as novas tarifas para o sistema rodoviário composto pelas rodovias BR-116 e BR-324, na Bahia e as rodovias BA-526 e BA-528, no trecho da divisa entre Bahia e Minas Gerais e o acesso à Base Naval de Aratu. Para as praças da BR 116, o valor do pedágio é de R$ 3 e a tarifa na BR-324 é de R$ 1,70.
          Nesta última notícia, o que mais me chamou a atenção foram os exorbitantes valores cobrados no Pólo Rodoviário de Pelotas. Na BR-116, que liga Pelotas a Porto Alegre, têm-se duas das citadas praças (Retiro e Cristal), a R 8,40 cada uma, e neste trecho, além desses dois, existem mais três pedágios. O absurdo fica maior se considerarmos os 250 km que separam as duas cidades. Mas, além disso, essas 5 praças de pedágios “enchem as burras” de governo e concessionárias para que os motoristas circulem em cerca de 230 km de estradas não duplicadas, cheia de curvas e, em alguns trechos, com grandes desníveis para os acostamentos. E, talvez, as “ameaças” de duplicação dessa estrada já tenham enriquecido alguns “sortudos” escolhidos.

          Mas o salário mínimo será de R$ 622... Dá para pagar os pedágios durante uma semana entre Pelotas e Porto Alegre, mas só os pedágios (combustível e óleo ficam por conta de outros salários mínimos).



          Para esta Galeria, antes do Natal, a música escolhida é “Amar com Jesus Amou”, de autoria do Padre Zezinho (José Fernandes de Oliveira) que, há mais de 45 anos é um dos autores católicos mais lido e cantado, com mais de 1.500 canções.

=========================================
AMAR COMO JESUS AMOU
                                                  Pe. Zezinho

Um dia uma criança me parou
Olhou-me nos meus olhos a sorrir
Caneta e papel na sua mão
Tarefa escolar para cumprir
E perguntou no meio de um sorriso:
O que é preciso para ser feliz?

// Amar como Jesus amou
   Sonhar como Jesus sonhou
   Pensar como Jesus pensou
   Viver como Jesus viveu
   Sentir o que Jesus sentia
   Sorrir como Jesus sorria
   E ao chegar ao fim do dia
   Eu sei que dormiria muito mais feliz //

Ouvindo atentamente, ela me olhou
E disse que era lindo o que eu falei.
Pediu que eu repetisse, por favor,
Mas não dissesse tudo de uma vez.
E perguntou no meio de um sorriso:
O que é preciso para ser feliz?

// Amar como Jesus amou
   Sonhar como Jesus sonhou
   Pensar como Jesus pensou
   Viver como Jesus viveu
   Sentir o que Jesus sentia
   Sorrir como Jesus sorria
   E ao chegar ao fim do dia
   Eu sei que dormiria muito mais feliz //

Depois que eu acabei de repetir
Seus olhos não saíam do papel
Toquei no seu rostinho e a sorrir
Pedi que ao transmitir fosse fiel
E ela deu-me um beijo demorado
E ao meu lado foi dizendo assim:

// Amar como Jesus amou
   Sonhar como Jesus sonhou
   Pensar como Jesus pensou
   Viver como Jesus viveu
   Sentir o que Jesus sentia
   Sorrir como Jesus sorria
   E ao chegar ao fim do dia
   Eu sei que dormiria muito mais feliz //
=========================================

          A interpretação de hoje é com a dupla de amigos Beto (Sebastião José de Oliveira) & Betinho (Hermelino José de Oliveira), irmãos nascidos em Botuporã (BA), que começaram a cantar juntos em 1972, na capital de São Paulo. Essa dupla já fez muita bagunça no programa Canto da Terra em passagens aqui por Brasília.


          Um grande abraço e até a próxima!


quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

GALERIA SERTANEJA - NA PAZ DO GALPÃO



Nenhum animal entende tão pouco a natureza humana como o cão.
(Emanuel Wertheimer)



Amigas e Amigos,

          Hoje, lendo o portal G1 (http://g1.globo.com) pensei no quanto “perde” nosso meio jornalístico com o recesso dos três poderes (isso sem pensar na falta de assunto para os responsáveis pelo humor nosso de cada dia, tão beneficiados por “piadas prontas” dessas comunidades).

          Mereceu destaque no referido portal que uma cachorrinha, Maila, da raça pinscher em Piraquara, região metropolitana de Curitiba (PR), foi sorteado com um “kit churrasco”, mas a dona do animal não conseguiu receber o prêmio porque o gerente achou que não seria bem visto pelos demais clientes. Disse o portal que:
A dona de casa Maria Joana Lamberti disse ao G1 que participa com frequência da promoção de um kit churrasco e sempre coloca o nome de familiares. Como nunca ninguém havia sido sorteado, decidiu colocar o cupom no nome da cachorrinha, que vai fazer um ano em janeiro. [...] A dona de casa disse que foi comprar pão e decidiu conferir o resultado do sorteio. Na hora ela ligou para o marido para contar a novidade. Assim que tentou receber o prêmio, surgiram os empecilhos. A gerência do supermercado informou que ela não poderia retirar o kit, porque conforme o regulamento da promoção, o prêmio é direcionado para cliente. “É norma do mercado, fazer o quê?”, lamentou. De acordo com o gerente da unidade do supermercado, José Joel de Lima, a dona de casa desprezou o concurso e não preencheu corretamente o cupom. “O que você sentiria se um cachorro fosse sorteado? Perante os outros clientes, não ficaria legal”, disse. Além disso, acrescentou José de Lima, ela colocou no cupom apenas o nome da cadela e o telefone. Não havia o número de RG, que é necessário para a entrega do prêmio. [...] Maila deixou de ganhar três quilos de filé mignon, um quilo de linguiça, um pacote de carvão, uma caixa de cerveja em lata, dois refrigerantes dois litros, um quilo de batata, um quilo de cebola, um quilo de tomate, um pacote de sal grosso, um tempero completo 300 gramas, um pacote de farofa pronta e um pote de sorvete de um quilo.
          Não consigo pensar em qualquer tipo de revolta contra a não entrega do prêmio porque, aparentemente, a vencedora pouco usufruiria do mesmo. Mas a senhora Maria Joana deve estar pensando que essa brincadeira teve um final pouco feliz. Como canta Zeca Pagodinho, “brincadeira tem hora”, Dª Maria!





          Para esta Galeria, a música escolhida foi “Na Paz do Galpão”, de Gujo Teixeira (Paulo Henrique Teixeira de Sousa, de Porto Alegre-RS) e Marcello Caminha (Marcello de Macedo Caminha, de Bagé-RS). Abaixo, está publicada a letra e, em seguida, a interpretação da música.

=========================================

NA PAZ DO GALPÃO
                                Gujo Teixeira e Marcello Caminha

A tarde cai, eu camboneio um mate
Junto ao braseiro do fogo de chão
O pai-de-fogo, puro cerne de branquilho
Queimando aos poucos na paz de um galpão

O mesmo inverno coloreando o poente
Final de lida, refazendo o dia
Lá no potreiro meu baio pastando
No cinamomo um barreiro em cantoria

Por certo a tarde em outros ranchos da campanha
Por serem humildes tenham a paz que tenho aqui
Pois só quem traz sua querência dentro d'alma
Sabe guardar toda esta paz dentro de si

Encosto a cuia junto ao pé do pai-de-fogo
Chia a cambona repontando o coração
Nas horas mansas que a guitarra faz ponteio
Numa milonga pra espantar a solidão

É lento o tempo na paz de um galpão
Ainda mais quando a saudade bate
A soledade vou matando aos poucos
Na parceria da guitarra e do mate

Então a noite se acomoda nos pelegos
Povoando os sonhos de ilusão e calma
Toda essa paz é um bichará pro inverno
Faz bem pro corpo e acalenta a alma

Por certo a tarde em outros ranchos da campanha
Por serem humildes tenham a paz que tenho aqui
Pois só quem traz sua querência dentro d'alma
Sabe guardar toda esta paz dentro de si

Encosto a cuia junto ao pé do pai-de-fogo
Chia a cambona repontando o coração
Nas horas mansas que a guitarra faz ponteio
Numa milonga pra espantar a solidão.

=========================================

          A interpretação de hoje é do saudoso “cantor símbolo da Califórnia”, César (Osmar Rodrigues Escoto) Passarinho, de Uruguaina (RS).



          Um grande abraço e até a próxima!


quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

TERTÚLIA NATIVA - PAPAI NOEL SEM PREVISÃO DE CHEGADA




Ao tratar com pessoas astuciosas, devemos considerar sempre os seus fins
para por eles interpretar os seus ditos, e é bom dizer-lhe poucas coisas,
e destas as que eles menos esperam. 
(Francis Bacon)



Amigas e Amigos,

           O fim de 2011 está próximo e, como sempre, as pessoas começam a se deslocar para passar o período de festas com seus parentes ou com seus amigos (melhor ainda quando se concilia os dois). Em alguns casos, a idéia é aproveitar o período para descansar em algum lugar tranqüilo ou buscar a agitação de localidades conhecidas por festas marcantes. Tudo isso significa que chegou o tempo de viajar. Tempo muito propício para... O quê? Para greve de aeroviários e de aeronautas.

           Pois é uma greve destas categorias que está sendo anunciada para iniciar às 11 horas da noite de amanhã, sem previsão de término. Notícia sobre a paralisação é o destaque da Folha de São Paulo (http://www.folha.uol.com.br):
Os trabalhadores reivindicam aumento de 8% nos salários, correspondente à reposição de inflação e ganhos de produtividade. As empresas concordaram em conceder 6%. Na tarde de quinta-feira (22), haverá uma assembleia entre os funcionários para que se estabeleçam os termos da greve. Segundo um representante do Snea (Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias), não se descarta a possibilidade de haver um acordo ainda na quinta. O Sna (Sindicato Nacional dos Aeronautas) informou que 20% dos funcionários estarão trabalhando, conforme estabelece a legislação. No total, serão 12 mil funcionários, se revezando em escalas. As empresas aéreas deverão escolher em quais voos e trajetos os funcionários disponíveis deverão trabalhar. A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) afirmou estar acompanhando a negociação entre os trabalhadores e as companhias e acreditar "no bom senso entre as partes para que os passageiros não sejam prejudicados". Segundo a agência, será cobrada das empresas aéreas a execução dos planos de contingência elaborados para períodos de maior fluxo de passageiros, como neste final de ano. Também será intensificada a fiscalização das operações para que sejam mantidos os direitos dos passageiros e a segurança dos voos, disse a Anac. Em Brasília, a Infraero (empresa que administra os aeroportos) informou que os voos pousam e decolam normalmente nesta quarta-feira.

           Considerando que se tudo permanecesse normal, poderíamos esperar os tradicionais tumultos desta época, com a possibilidade de greve, o tumulto pode ir bem além do esperado. O difícil para quem for viajar é entender o quanto impacta nos salários um aumento de 6% (proposta das empresas) ou de 8% (reivindicação dos trabalhadores) e qual a dificuldade para encontrar um número mágico entre 6 e 8 que satisfaça as duas partes. Ou seria essa mais uma das tantas greves com motivação somente “politiqueira” como as que vêm acontecendo nos últimos tempos, onde os trabalhadores são usados por grupos que não se sentem “prestigiados” por seus “companheiros”?





           Na Tertúlia, às portas do Natal, temos hoje uma história de João Simões Lopes Neto, do seu livro "Contos Gauchescos".


===================================



O “MENININHO” DO PRESÉPIO

                                      João Simões Lopes Neto


          — Olhe! Aí está um peão do major Vieira; jogo o pescoço se ele não traz invite pra ir lá, hoje, festejar o Natal, na estância!...
          Eu sei!... Aquele é gauchão buenaço!
          Eu, se fosse o patrãozinho, ia Iá, só pra ver o que é uma gente de devoção.
          E é que o seu major Vieira não era assim, não; pro caso que ele, em moço, até que era um virado, da gente se benzer três vezes!
          O major Vieira quando era cadete haraganeava muito pela rancheria dos postos.
          A estância era grande, e entre agregados e posteiros havia um povaréu; o patrão velho, pai dele, era mui esmoleiro e não gostava de, perto dele, ver ninguém com cara de fome.
          Mas o diacho era que o que o velho fazia com as mãos o cadete desmanchava co'os pés...
          O mocito era abusador, e mais duma feita saiu ventando de certos ranchos daqueles pagos... Sim, que um pai cria uma filha não é pra carniça de gaudério!.. Por isso é que já os antigos inventaram o casamento.
          A divisa da estância, no fundo, faz uma quebrada forte, assim como o cotovelo do meu braço; nesta ponta aqui, onde está a minha mão, fica o Lagoão das Lontras, e mais pra cá passa a estrada real.
          Em certos tempos a gadaria pegava a costear o lagoão e andando, andando, entrava na estrada e… adeus!
          Assim perdeu-se numa primavera uma ponta de novilhos que se evaporaram como sereno.
          Foi um estafaréu, na estância, por causa disto; o patrão velho ficou buzina com o capataz, que relaxou os repontes, e quase mandou lonquear um certo Miguelão, que passava todo o santo dia lagarteando na reserva do rancho, e de noite nunca parava em casa...
          Parece que eu estou lhe enredando o rastro, mas não ‘stou, não; vancê escuite.
          É que este Miguelão não era trigo limpo; e tinha uma filha que era uma criatura boa como uma santa, morocha linda como uma princesa. E vai, o desgraçado obrigou a menina a casar-se com um sujeito sem eira nem beira, e que diziam à boca pequena que era parceiro nas velhacadas do Miguelão.
          Era um mais que mouro, e meio corcunda, e tinha um lanho grande entre a orelha e a nuca; e mal encarado, era.
          Amigo! A quincha dos ranchos esconde tanta cousa como os telhados dos ricos!...
          Marido e mulher davam assim uma idéia esquisita: vancê já reparou quando abre um cacho de flor num jerivá velho, de casca esbranquiçada, cheio de talos secos pendurados e um que outro pendão esfiapado, que já deu coquinhos?...
          O jerivá é uma árv’e tristonha, mas quando bota um cacho de flor fica alegre, de enfeitada, Aquele pendão amarelo, lá em cima, chama os olhos da gente, parece um favo de cera, de tão limpo e dourado; chama as mandaçaias, os passarinhos, os mangangás, as joaninhas; dá cheiro que é doce; é uma boniteza pra todos os viventes.
          Assim era aquele casal: ele como o jerivá velho, ela como um cacho de flor. Ela chamava-se nhã Velinda: e chorava muito, às vezes.
          Por quê? Quem sabe lá…
          Depois daquele sumiço dos novilhos, o cadete Vieira passou a recorrer o campo por aquelas bandas; a bolear avestruzes por aquelas várzeas; a correr veados por aqueles meios; a caçar mulitas naquela costa; e até numa noite de breu arranjou uma perdida —. ‘magine! mais vaqueano que sono! — mas perdida foi que soube rumbear sobre o rancho do Miguelão...
          Cousas de rapaz; que a nhã Velinda, essa, era de confiança.
          Lá porque era moça, quase uma criança perto do marido, lá por isso não era motivo pra qualquer um chegarse de buçalete em mão, como se faz pra uma redomona, pra amanusear-lhe desde a tábua do pescoço até as ancas...
          Mas o cadete gostava da moça numa paixão de verdade, diferente de quantas cavaleiradas estava avezado a fazer.
          Era uma adoração, quase um medo de ofender a querida do seu coração; perdia a voz pra falar com ela, enredava-se nas esporas, perdia o entono de todo o seu jeito, e todo ele vivia só nos olhos quando atentava na formosura do seu rosto.
          Entrementes foi acabando o ano e já era sobre o Natal.
          E vai a família do patrão velho armou um presépio na sala grande da estância; e ele mesmo mandou avisar o vizindário todo que a sia-dona convidava para se cantar um terço de festa, na noite santa.
          E veio tudo, velhada e crianças, moçada, namorados, e até alguns andantes, que estavam de pouso, ficaram, todos, pra louvar a Deus na noite mais pequena do ano.
          O cadete andava no meio do povo caçoísta, dançarino e pisa-flores, mas no que chegou a gente do Miguelão, já se foi pondo como um céu amontoado, emburrado, de dar nas vistas.
          Houve jantarola e doçaria, na sombra das figueiras.
          Escureceu; a sala grande estava fechada, e as moças da estância lá dentro, preparando as luminárias; enquanto o velho e a sia-dona pauteavam com a gente sisuda, embaixo da ramada grande, em frente da casa, a gurizada corria na pega dos vaga-lumes, rodando por cima dos cachorros ou fazendo provas de burlantins, nos cabeçalhos das canetas; do galpão vinha o zunzum da peonada; na sombra do campo não se via nada, mas de lá vinham relinchos e mugidos, cracrás das corujas e uais!.. dos graxains.
          E no ar, como uma cerração que não se via, andava o fartum dos churrascos.
          Por um segredo do destino a sia-dona mandou o cadete ver se as luminárias estavam ou não prendidas; e vai, o moço, no entrar a porta, topou de cara a cara com a nhã Velinda que saia, justamente para vir chamar os donos da casa; toparam-se as criaturas e miraram-se, num clarão que só elas viram...
          As mãos se encontraram. .. e num de-repente, num silêncio, num tirão das suas almas, na pressa e no luscofusco, perto da gentama, numa relancina de corisco, as duas bocas famintas se encontraram…e um beijo, um beijo que jurou pelos dois, para toda a vida, um beijo só derrubou todas as negaças, como uma represa de açude aluída é derrubada por uma muita descida de águas...
          Vê vancê, a gente sabe falar, dizer muitas enredices adocicadas, mas às vezes a palavra nem dá pra partir… e caladito no mais, um simples beijo, largado de tronco, chega ao laço, folheirito, de rebenque alçado!
          Pobres! Nesse passo cruzou na mesma porta o Miguelão e bispou o caso, e decerto já lo foi xeretear ao genro, e atossicá-lo, suscitando-lhe maldades...
          Mas logo escancararam as janelas e a claridade da sala alumiou o terreiro; foi um alarido de contentamento, todos se ajuntaram e a sia-dona, puxando a ponta, entrou, para principiar o rosário. E aquele bandão de gente entrou e foi-se acomodando, olhando com ar de riso pasmado, toda só dizendo: o presépio! o presépio! o presépio!
          Fazia a modo uma ramada no alto de uns cerritos, e fingindo grotas e sangões e umas reboleiras; havia esparramados uns “alimais” entre boizinhos e ovelhas de brinquedo e outros enfeites; e mais uns figurões mui calamistrados, de coroa, que pareciam reis, e, pro caso, um, que era negro retinto, era o mais empacholado. E perto destes, sobre a ponta do presépio, estava então a Senhora Virgem e o Senhor São José, e entre eles, acamado numas palhinhas de milhã e uns musgos e umas penugens, estava o Menininho Jesus, ruivito e rosado, nuzinho em pêlo, pro caso como uma criancinha que não tem pecado por mostrar as vergonhinhas do seu corpinho de inocente.
          Todos se ajoelharam de roda, mas foi nessa ponta do presépio que a nhã Velinda ajoelhou-se; e no costado dela, como um precipício ou um encorrentado, aí amoitou-se o cadete Vieira, talvez até para dar o seu peito em resguardo dalgum perigo...
          Não lhe conto nada!... Quando pegou a cantoria do rosário e no cantante da reza a gente se foi enquartelando e emparelhando as vozes, que era uma boniteza de ouvir, por aí os olhos dela estavam como amarrotados no presépio, mas os olhos dele estavam no rosto dela, como se ai estivesse o próprio presépio, com as suas velinhas e prateados e bichinhos mimosos...; era até um pecado do inferno, aquela maneira de adorar gente, ali assim, nas barbas dos santos e da Senhora Virgem e do seu Menino!...
          Mas porém, lá da porta, outro olhar, raiado de sangue, estava vendo tudo; por certo que alguma loucura de cabeça atacou aquele cristão velho, porque, num soflagrante, sem um deus-te-salve! — o aflito aquele meneou os passos, derrubando gente, e logo o facão relampeou na direitura do coração de nhã Velinda!...
          Houve um grito d’espanto pro mode o desaforo do desatinado.
          — Jesus!... foi o grito de todas as bocas.
          Ah! patrãozinho!... Olhe que às vezes, na luz das velas bentas, se passam cousas de deixar um golpeado qualquer mais, mais aplastado que mancarão reiúno em mão de recruta...
          Quando a ponta do ferro matador estava a uma mão atravessada… a quatro dedos só da carne macia, aí — credo! louvado seja Deus! — aí rolou da sua caminha de milhã... rolou e caiu no boleado do seio da moça, na canhadita dos dois, caiu no regaço de nhã Velinda o Menininho Jesus, como uma defesa… e aí no regaço delicado ficou, como um dono na sua casa...
          E o facão matador sentou, tironeado... depois recuando, “minuindo”, caiu mermado, mal seguro na mão sem força, do braço sem vontade, e o cuerudo aquele deu costas e se botou porta fora e o Miguelão com ele, boquejando.
          Tempos depois se soube que lo mataram, num entrevero, numa bochinchada de carreiras.
          Jerivá torto não dá ripa!...
          Os velhos lá ouviram do cadete e de nhã Velinda o que havia, e lá arrumaram as cousas.
          O que le conto é que o seu major Vieira, ainda em cadete, se casou com a nhã Velinda, e que aquele tal Menininho Jesus ainda hoje é o figurão do oratório e é o mesmíssimo do presépio que, há mais de cinqüenta anos, se arma sempre na estância, na festa do Natal.
          — Não lhe parece que houve um milagre? Claro! Foi por causa do Menininho que... Se o diabinho é tão milagroso!...

 ===================================

           Para acompanhar o conto de hoje, a música escolhida é "Bate o Sino" ("Jingle Bells"), na interpretação de Osvaldir & Carlos Magrão (do CD "Natal no Sul").


           Renovo meus votos de Feliz Natal com um grande abraço para todos.