Amigas e Amigos,
Neste domingo, com muito sol e muita (mas muita, mesmo) chuva em Brasília-DF, apresentei o programa Canto da Terra, pela manhã, nas Rádios Nova Aliança (http://www.novaalianca.org.br) e, no período da tarde, após o futebol na televisão, encontro uma matéria, pelo menos, instigante. Pareceu-me que ainda existem muitas “viúvas” da ditadura militar, que sobrevivem com o vazio psicológico provocado pela ausência do poder absoluto experimentado.
Não tenho nada contra (e também não lembro nada muito a favor) de novelas televisivas. Como toda a expressão que envolve arte, acredito existirem novelas bem feitas e outras de duvidosa elaboração, mas nem sempre esses critérios impactam diretamente o sucesso ou insucesso da obra. Não penso, agora, em qualquer reflexão sobre novelas, autores, produtores, diretores, técnica ou atores, nem sobre o “aproveitamento” dado pelas emissoras a esses espaços, com propagandas ou apresentações de idéias, nem sempre bem entendidas. Penso sempre que a audiência pode levar emissoras e patrocinadores a algum tipo de reflexão.
Fazendo um elo entre os parágrafos acima, reproduzo a matéria publicada na página “Na Telinha”, do portal UOL (http//www.uol.com.br), sobre um abaixo-assinado (nem tudo está tao perdido, pois o número de adesões é muito baixo) que o portal militar promove para cancelar a novela “Amor e Revolução”, do SBT, que, segundo o portal Terra (http://www.terra.com.br) “tem boa história e nenhuma dramaturgia”. Diz o “Na Telinha” que:
Desta vez, um portal militar resolveu fazer um abaixo-assinado contra a novela de Tiago Santiago, que aborda o período da ditadura militar no Brasil. Os donos do site querem que a trama seja proibida de ir ao ar no SBT. No texto, os autores dizem que "é óbvio que o governo federal através da comissão da verdade, recém criada, está participando do acordo em exibir a novela Amor e Revolução no SBT. Parece-nos que se trata de um acordo firmado com o empresário Silvio Santos, visando o saneamento do Banco Panamericano do próprio empresário. As forças armadas não devem permitir, dentro da legalidade, que tal novela seja exibida, pelos motivos óbvios abaixo declarados. Convém salientar que as forças armadas já se manifestaram negativamente a respeito da novela Amor e Revolução". E completam: "sendo assim, o efetivo da forças armadas, tanto da ativa como inativos e pensionistas, vêm respeitosamente através desse abaixo assinado, como um instrumento democrático, solicitar do digno Ministério Público Federal, representado acima, providências em defesa da normalidade constitucional, vista o cumprimento da lei de anistia existente, conforme já decidiu o Supremo Tribunal Federal. Nestes termos pede deferimento em caráter urgentíssimo". Procurado pelo NaTelinha, o novelista Tiago Santiago falou sobre o protesto: [...] “achei uma iniciativa despropositada, que interessa apenas aos criminosos, torturadores e assassinos, que violaram as Convenções de Genebra, nos chamados ’anos de chumbo’ da ditadura militar". A colaboradora de Tiago Santiago em "Amor e Revolução", Renata Dias Gomes, também falou com o NaTelinha. Ela comentou que "felizmente a ditadura e a censura acabaram e hoje a gente pode contar uma história sem medo. Ou deveria poder".
É interessante observar o perfil (poder-se-ia considerar doentio?) semelhante aos dos personagens dos Anos de Cumbo, ao imaginarem – com duvidosa criatividade – situações que, rapidamente, viram verdades em “cérebros pouco privilegiados”. Visitei o portal militar e essas verdadeiras “preciosidades” me chamaram a atenção: o “é óbvio” seguido de uma bobagem como se fosse uma verdade; e o citado “acordo firmado” é tão perceptível como “chifre em cabeça de cavalo”. Mas o ranço ditatorial fica evidente ao se evidenciar a “normalidade constitucional” para tentar uma violência bárbara contra a própria constituição.
Não vi nenhum capítulo dessa novela e nem estou defendendo a história retratada, até por desconhecê-la completamente. Mas penso que a liberdade de expressão deve estar acima das baboseiras que tanto nos privaram em um período recente de nossa história – ainda bem que, a inteligência de nossos artistas conseguiram inúmeras vezes burlar a ignorante censura de alguns ignorantes. E só assim, poderemos garantir o direito de criar – assistir ou não é decisão de cada um.
Para concluir esta Prosa com muita esperança de que o Brasil coloque esse abaixo-assinado em seu lugar devido – que pode ser abaixo da terra, devidamente enterrado na mesma cova da ditadura que alguns ainda tentam ressuscitar –, sugiro a música “Brasil Poeira”, de Almir Sater e Renato Teixeira, na interpretação de Almir Sater, com sua inconfundível viola.
Até a próxima Prosa, aqui no Canto da Terra, e um grande abraço!
Wilmar Machado
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