O valor de um ser
humano reside na capacidade de ir além de ele próprio,
de sair de dentro de
si próprio, de existir dentro de si próprio e para as outras pessoas.
(Milan Kundera)
Amigas e Amigos,
Ao abrir a porteira para mais uma semana, deparo-me com
manifestações de rigoroso (des)controle do dinheiro público por parte dos poderes
constituídos em terras brasileiras.
A primeira notícia relacionada ao assunto diz respeito a
devolução das 27 fazendas, com 450 mil cabeças de gado, ao banqueiro Daniel
Dantas (investigado por crimes de lavagem de dinheiro e evasão de divisas),
alvo da operação Satiagraha (que não tem qualquer relação com o "se eu pego", do M. Teló), da Polícia Federal contra o desvio de verbas
públicas, corrupção e lavagem de dinheiro. Essa operação foi desqualificada pelo
Superior Tribunal de Justiça.
A outra decisão judicial de grande repercussão foi a que
determinou a reintegração de posse de um terreno (1,3 milhão de metros
quadrados), na comunidade Pinheirinho, em São José dos Campos-SP, da massa
falida da empresa Selecta S.A., do empresário Naji Nahas, também alvo da
operação Satiagraha, que deu origem a uma verdadeira batalha campal na região, conforme se percebe na foto abaixo.
Para reavivar a memória, recorri a uma matéria do jornal O
Globo (http://oglobo.globo.com), de
8/07/2008, sobre uma entrevista coletiva do procurador da República Rodrigo de
Grandis esclarecendo que “Daniel Dantas e Nahi Nahas comandavam duas
organizações distintas, porém ambas voltadas a crimes no mercado financeiro”.
Nesta mesma matéria, o delegado Protógenes Queiroz afirmava que essa situação era
“perniciosa para o nosso país” e acrescentava:
“Ficamos assustados com a estruturação
das duas organizações e o nível de intimidação e poder de corromper delas [...]
as investigações levaram a um desdobramento mostrando que eles também teriam
participação no Mensalão”.
Na página “Terra Magazine” (http://terramagazine.terra.com.br),
de 11/07/2008, foi registrada uma declaração interessante de Daniel Dantas,
logo após serem liberados – habeas corpus do presidente do Supremo, Gilmar
Mendes – outros dois presos na mesma operação, o megainvestidor Naji Nahas e o
ex-prefeito, de São Paulo, Celso Pita. O banqueiro teria dito ao delegado
Protógenes que iria contar tudo, com as seguintes palavras: “...vou contar tudo sobre todos. Como paguei
um milhão e meio para não ser preso pela Polícia Federal em 2004... tudo sobre
minhas relações com a política, com os partidos, com os políticos, com os
candidatos, com o Congresso... tudo sobre minhas relações com a Justiça, sobre
como corrompi juízes, desembargadores, sobre quem foi comprado na imprensa...”.
Coincidência, ou não, após os solavancos provocados pela
declaração acima, as “melancias” foram se acomodando nos “caminhões” dos
Poderes. E essa acomodação – que culmina com essa “devolução” de bens, talvez
não devidos, ao banqueiro e ao megainvestidor, com ações violentas – começou já
na primeira semana após a publicação da declaração acima, conforme se pode
encontrar em matéria da Folha de São Paulo (http://www.folha.uol.com.br), de
17/07/2008, dando conta que:
Apesar de ter dito publicamente que Protógenes Queiroz devia continuar na Operação Satiagraha, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalizou na segunda-feira o afastamento do delegado da investigação sobre o banqueiro Daniel Dantas [...] Segundo reportagem, mesmo com o esforço para aplacá-la, a crise acabou chegando à ante-sala do presidente, com conversas gravadas do advogado e petista Luiz Eduardo Greenhalgh com o chefe-de-gabinete de Lula, Gilberto Carvalho. A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, também teria manifestado irritação com a exposição de seu nome no caso. Em conversa com o presidente, o ministro Tarso Genro (Justiça) afirmou que ele e o diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, consideravam "insustentável" a permanência de Queiroz, apesar da eficiência técnica do inquérito que culminou na prisão de Dantas.
Fica a vontade de que o propalado “ordenamento legal” e que as
“decisões revestidas de densa fundamentação jurídica” não se percam por
falácias. Fica, também, a expectativa de que todo o impacto provocado nos cofres públicos e nas divisas brasileiras sejam, devidamente, recuperados. E que tudo seja apenas uma coincidência de fatos dentro de uma
ordenação temporal histórica. Mas, como se diria no linguajar gaúcho: Que baita coincidência, tchê!
Para acompanhar esse início de semana, a música
escolhida, para não esquecermos a imensa diferença existentes entre as classes
sociais de nosso país, é “Operário, Vida, Viola”, de Antônio Victor, com a
interpretação de Chico Rey & Paraná.
Um grande abraço e até a próxima!
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