sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

GALERIA SERTANEJA – BAILE DO CANDIEIRO E CONTRATOS NO ESCURO


Os abusos, que destroem as boas instituições,
têm o privilégio fatal de fazer subsistir as más.
(Pierre-Édouard Lémontey)



Amigas e Amigos,

A má vontade para tratar assuntos relacionados à saúde, à educação e à segurança é extremamente maior do que apregoada falta de recursos para essas necessidades.

         Além do desperdício com uma “máquina” governamental inchada, para “acomodar” cabos e promessas, e além dos desvios para sustentar a corrupção institucional que geram CPIs que jamais levam a qualquer lugar, mas que desviam deputados e senadores de seus afazeres para ocuparem canais midiáticos, aparece hoje uma notícia mostrando o que se pode fazer com dinheiro público para empregar amigos e ignorar a própria lei.

         A Folha de São Paulo, hoje, destacou em seu caderno sobre “Poder”, que a TV do governo quer jornalistas em todos os continentes. Diz a matéria que:
O governo quer contratar jornalistas em todos os continentes para abastecer com informações oficiais seus veículos de comunicação. A meta está prevista no plano de trabalho da EBC (Empresa Brasil de Comunicação) apresentado pela nova direção da estatal que assumiu em dezembro e controla uma TV, uma agência de notícias e uma rádio. O primeiro passo foi dado na última semana quando a empresa reativou a cobertura na África, enviando um correspondente para Maputo, capital de Moçambique. O custo de manter um repórter para abastecer a TV, que tem audiência próxima a zero, e os demais veículos é de R$ 543,21 mil anuais. Com 192 jornalistas concursados e quatro anos de existência, a EBC informou que optou por contratar um profissional porque "não possui jornalista com a qualificação necessária para desenvolver o trabalho". A EBC só conta com repórteres próprios no Brasil em três Estados (RJ, SP e MA) e no DF, onde é a sua sede. O contrato com o repórter de Moçambique foi assinado sem licitação, na semana passada, com empresa que tem cinco meses de existência. Emerson Penha, dono da empresa, foi escolhido, de acordo com a EBC, "por ter realizado inúmeras coberturas internacionais", entre as citadas, nenhuma na África. Até janeiro, Moçambique foi o destino de apenas 0,96% das exportações brasileiras para a África. A EBC diz que Moçambique é o maior país de língua portuguesa na África e abriga empresas brasileiras importantes como a Vale. Segundo a EBC, o plano de trabalho é para 2012, mas o envio de pessoal para os demais continentes irá ocorrer "assim que o orçamento permitir essa expansão". A empresa mantém também posto em Buenos Aires, "onde os serviços das agências de notícias não costumam ter eficiente qualidade". O orçamento da empresa pública para este ano é de R$ 416,5 milhões. No Brasil, atinge 1.700 dos 5.565 municípios. Ainda na cobertura internacional, a nova direção da EBC abriu licitação de R$ 800 mil para contratar uma empresa que ofereça serviços de produção de TV e transmissão de sinal via satélite em viagens de autoridades. Justifica que a agenda da presidente Dilma no exterior é fechada de última hora, o que torna a negociação com as emissoras locais "sempre problemáticas".

         Dos 192 jornalistas concursados nenhum tem qualificação para ser correspondente em um local que praticamente não tem qualquer repercussão internacional e para uma TV cuja audiência é muito próxima do zero. Supondo que, como acontece em alguns órgãos do governo, o concurso para jornalistas tenha sido um processo sem muita transparência, onde não foi considerada a função a ser desempenhada pelos aprovados e nem tenha lembrado de formação ou de experiência. Ainda assim, seria tudo isso suficiente para que um profissional – com o número de jornalistas existente no mercado – fosse contratado sem licitação simplesmente por... (imagine uma justificativa para completar a frase).


           Apesar de que o pessoal do Planalto sabe "preparar" uma licitação de forma muito particular, conforme noticiado na Folha de São Paulo, nesta quinta-feira, sobre editais da Presidência e do Ministério de Minas e Energia para aquisição de tablets contendo especificações exclusivas do iPad2 e com o Governo, na maior cara-de-pau, dizendo existirem vários fornecedores, o que estaria mantendo o princípio da concorrência. Diz a Folha que: 
Órgãos do governo federal têm montado editais de licitação para a compra de tablets copiando do site oficial da Apple especificações técnicas exclusivas do iPad 2, produzido pela empresa. A atitude, cuja legalidade é questionada por especialistas, acarreta na exclusão automática de tablets produzidos por outros fabricantes. Hoje existem mais de dez fabricantes dos aparelhos com atuação no Brasil. A Lei de Licitações prevê que, nos processos de compras públicas, os bens a serem adquiridos devem conter especificações técnicas, mas sem indicação de marca.  […] O exemplo mais claro de favorecimento ao produto da Apple vem do Planalto. Numa licitação realizada em outubro para a compra de 42 tablets para serem distribuídos entre autoridades e assessores palacianos, a Presidência fez praticamente um "copiar e colar" do site da Apple. Até mesmo uma chamada para uma nota de rodapé presente na página da empresa foi mantida no edital da Presidência. Prática semelhante ocorreu no Ministério de Minas e Energia, que abriu há alguns dias uma licitação para a compra de até 665 tablets.

         Pouco criativa, também, é a desculpa utilizada pela EBC para gastar R$ 800 mil com produção e transmissão de viagens de autoridades – será que as negociações problemáticas serão substituídas por propagandas governamentais de viagens pagas com dinheiro público para justificar algum tipo de turismo institucional. Mas com um orçamento de mais do que R$ 400 milhões – para uma audiência zerada – é preciso inventar (e muito) formas de distribuí-lo.



         Enquanto não se acende, pelo menos, um candeeiro para iluminar as contas dessa empresa de comunicação e as licitações do Planalto, a letra para hoje é de “Baile de Candieiro”, de Sérgio Napp e Albino Manique.     


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BAILE DE CANDIEIRO
                                  Sérgio Napp e Albino Manique

Camisa branca lenço colorado

E uma bota nova e calça de riscado

Pelos cabelos muita brilhantina

Que tem bate coxa no salão da esquina.

E vou chegando meio ressabiado

Pelo lusco-fusco deste candieiro

E no entreveiro busco a tal morena

Por quem me deixei assim enfeitiçado.

E já nos tocamos pro meio do baile

E mais uma volta e uma volta e meia

Toca mais um xote mais uma vaneira

Que eu mostro o meu valor.

E eu me apeio pelo seu cangote

E o seu perfume me deixando tonto

Mais uma volteada que eu não abro mão

De quem é o meu amor.

Ai, meu candieiro

Se apaga teu lume agora

Eu pego esta flor de morena

Encilho o meu pingo e me vou mundo afora.

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         Nessa Galeria, a interpretação hoje é do grupo "Os Mirins".





          Um grande abraço e até a próxima!

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