Cuidai de
vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo
vos
estabeleceu como guardiães, como pastores da Igreja de Deus que ele adquiriu
com o seu sangue.
(Atos dos
Apóstolos 20,28)
Amigas e
Amigos,
O dia de
hoje carrega a marca da morte de Sepé Tiarajú, líder e herói maior do povo Guarani,
ocorrida no ano de 1756. O missioneiro Sepé Tiarajú está inscrito no Livro dos
Heróis da Pátria, conforme Lei nº 12.032, de 21 de setembro de 2009, ao lado de
nomes como Tiradentes e Zumbi dos Palmares.
Pela
época de seu nascimento e por estar em um país influenciado pelo catolicismo, o
único documento que possibilitava a cidadania era a certidão de batismo, até
hoje não encontrada, o que permitiria tornar conhecido o nome de seus pais, a
data e o local de seu nascimento. Diversos escritores, em romances abordando a
vida deste herói, citam que seu nascimento – sem qualquer comprovação – teria ocorrido
na cidade missioneira de São Luís Gonzaga, onde teria vivido com os pais até os
8 anos de idade, quando estes morreram.
O orgulho
de gozar da mesma cidadania de Sepé é tão grande em São Luís Gonzaga que a
falta de comprovação é só um detalhe. Essa certeza extrínseca fez com que os
são-luisenses erguessem um monumento de dois metros de altura na entrada da
cidade, em homenagem ao assumido concidadão.
Em uma
entrevista publicada em maio/2010 na Revista do Instituto Humanista Unisinos (http://www.ihuonline.unisinos.br), o
Irmão marista, formado em Letras Clássicas e em Direito pela PUC-RS, Antônio
Cechin – fundador da CPT RS (Comissão de Pastoral da Terra do Rio Grande do
Sul) e da ONG Movimento Sócio-Ambiental Caminho das Águas – definiu que “Sepé é Santo porque ele nasce num povo
organizado e santo. Foi o próprio Jesus Cristo quem disse: ‘Não há maior prova
de amor do que dar a vida por aqueles a quem se ama’”.
Na
publicação citada acima, o Irmão Cechin descreve Sepé, enquanto líder máximo da
causa indígena no país e símbolo da resistência, com as seguintes palavras:
Diante da extraordinária figura do herói-santo, o índio missioneiro guarani Sepé Tiaraju, nossas gerações do presente e do futuro, a exemplo das passadas, devem se inclinar reverentes. [...] O Rio Grande do Sul não necessita criar uma figura imaginária. Pode oferecê-la ao Brasil, em carne e osso, na sua realidade histórica. Ela é tão grande, que sua grandeza sobressaiu da história para entrar na lenda, e não saiu da lenda para entrar na história. Sepé Tiaraju perece às portas dos Sete Povos das Missões Orientais do Uruguai, à vanguarda dos índios missioneiros, enfrentando os exércitos imperialistas de Espanha e Portugal, em defesa do território da Pátria natural, ainda quase virgem do pé civilizado do europeu, madrugando para a América; pátria telúrica, politicamente indefinida, mas pátria; terra onde nascera, chão nativo, onde plantara seu rancho e acendera seu fogo. Sepé é o primeiro pronunciamento de uma consciência rio-grandense. Morreu lutando contra a Espanha e Portugal, por que a terra que defendia era sua e de seus irmãos, tinha dono, fora de seus pais e seria de seus filhos.
Ainda na revista do IHU, o Irmão
Cechin, questionado sobre a influência do provo guarani na constituição da
cultura gaúcha, disse que:
O Povo de Deus, na Bíblia, num de seus poemas que são os salmos, canta: “Jerusalém foi construída sobre o monte santo... De Jerusalém (Sião), será dito: Todo homem aí nasceu!... E cantarão: Em ti se encontram todas as minhas fontes!”. O Povo de Deus hoje, do Rio Grande do Sul, que são todas as pessoas de fé, deve também dizer e cantar: “Nas Missões dos Sete Povos, não só nasceu São Sepé Tiaraju, mas também todos nós nascemos!” Aí estão nossas raízes da melhor cidadania com a possibilidade de um projeto de nação eminentemente solidária. A Constituição Brasileira afirma com todas as letras que o nosso Brasil é uma nação multi-étnica. O povo-raiz, para grande orgulho nosso é o povo guarani, o povo missioneiro. Nossos caminhos vão sendo iluminados por Tiaraju, o “Facho de luz”. É uma lástima que o “gauchismo” que anda por aí substituindo Sepé e as Missões Jesuíticas, nosso glorioso nascimento, pela revolução farroupilha que foi uma guerra entre os grandes fazendeiros em que o povo nada teve a ver, esteja tomando o lugar nobre de nossas origens. Aos poucos, com a força dos movimentos populares, estamos colocando as coisas no seu devido lugar. Se Deus quiser, faremos a reconciliação de nosso Rio Grande consigo mesmo que é a reconciliação com a cultura guarani de nossos primórdios, guarani e missioneira.
A história de Sepé Tiaraju confunde-se
com a própria história do Brasil colonial e vivifica o sentido de pátria no
nascedouro dos países sul-americanos. É perceptível o nascimento do patriotismo
no pensamento indígena e é também certo que ao longo do tempo a idéia de
inferioridade dos índios mantém-se como pensamento inalterado ao longo da
história. Ao não ser promovida a inclusão dos que já habitavam essas terras
antes dos colonizadores pode ter resultado em um sentimento de amor pátrio
desprovido de alguns fundamentos originais, presentes no pensamento guarani.
Estamos no mês de fevereiro, iniciado
com muita festa para Nossa Senhora. No último dia 2, festejamos a Mãe de Deus –
padroeira da Arquidiocese de Porto Alegre-RS – com o título de Nossa Senhora
dos Navegantes – padroeira da cidade de Porto Alegre-RS – e, como sugestão,
fica hoje em nosso Oratório, uma Oração a Senhora dos Navegantes.
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ORAÇÃO A NOSSA SENHORA DOS NAVEGANTES
Ó Nossa Senhora dos Navegantes,
Mãe de Deus, Criador do céu, da
terra,
Dos rios, dos lagos e dos mares,
Protegei-me em todas as minhas
viagens.
Que ventos, tempestades,
borrascas, raios e ressacas
Não perturbem minha embarcação
E que nenhum incidente imprevisto
Cause alteração e atraso à minha
viagem
Nem me desvie da rota traçada.
Virgem Maria, Senhora dos
Navegantes,
Minha vida é a travessia de um
mar furioso.
As tentações, os fracassos e as
desilusões
São ondas impetuosas que ameaçam
Afundar minha frágil embarcação
Nno abismo do desânimo e do
desespero.
Ó Nossa Senhora dos Navegantes,
Nas horas de perigo eu penso em
vós,
E o medo desaparece,
O ânimo e a disposição de lutar e
de vencer
Tornam a me fortalecer.
Com a vossa proteção
E a benção de vosso Filho,
A embarcação da minha vida
Há de ancorar segura e tranqüila
No porto da eternidade.
Amém!
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Para
acompanhar o Oratório Campeiro desta semana, escolhi no DVD "O Campo", de César Oliveira & Rogério Melo, a música "De São Miguel a Mercedes", onde os artistas recebem o autor Mano Lima, que prestou bonita homenagem a Sepé Tiaraju.
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