O que o povo chama vício é eterno;
o que chama virtude, é apenas moda.
(George Bernard Shaw)
Amigas e Amigos,
O ministro das Relações Exteriores, Patriota, disse ontem que o Brasil
pedirá esclarecimentos à Embaixada do Irã sobre a suspeita do abuso de crianças
realizado por um diplomata daquele país. Com essa “ameaça” toda, a Embaixada do
Irã demonstra estar “preocupadíssima” com a anunciada interpelação, pois,
segundo já está sendo falado, o diplomata suspeito de pedofilia (ou seria o
pedófilo suspeito de diplomacia) já nem está mais em território brasileiro.
Além disso, no melhor
estilo corporativista e inspirado em políticos brasileiros acusados de
corrupção, a Embaixada Islâmica referida já disse que tudo é um mal entendido e
que a culpa é da Imprensa. E enviou uma declaração à Imprensa com seguinte
texto:
Em virtude da difusão de algumas inverdades levantadas sobre atitude de um diplomata da República Islâmica do Irã relacionada às algumas cidadãs brasileiras e em seguida polemizá-la com um tratamento intencional por parte de alguns veículos de comunicação, são necessários os seguintes esclarecimentos para a opinião publica brasileira: Uma das causas mais importantes é a falta de conhecimentos sobre as virtudes e as diferenças entre as culturas e o mal entendimento e as suas consequências decorrentes que isso pode causar. Sendo nas demais sociedades estas virtudes e valores relativos, podem provocar dificuldades e uma séria de incompreensão para as pessoas que estão vivendo num ambiente alienígena as suas características culturais. Paralelamente a este tópico, o papel e uma reação midiática não propicia e provocante, pode ajudar ainda a criação do cinismo na sociedade brasileira que possui identidades culturais diferentes, introduzindo uma polêmica gratuita, sobretudo quanto fosse tendencioso politicamente. Estimular a sensação pública, por sua vez irá desviar a atenção para que possa procurar a veracidade dos fatos e causa uma desinformação ainda maior. Essa Missão Diplomática declara que a acusação levantada contra o diplomata iraniano é exclusivamente um mal entendimento decorrente das diferenças nos comportamentos culturais. Nesse sentido também expressamos energicamente o nosso protesto e indignação relativo ao tratamento e na maneira de como a mídia geralmente tendenciosa sobre as coisas relativas a alguns países entre eles o Irã, tem encarado com a cobertura dessa noticia, afirmando ainda que a transmissão do assunto, se demonstra nitidamente um comportamento intencional, propositado e imparcial.
Penso que se um brasileiro
em território iraniano falasse o monte de asneira contra qualquer classe
daquele país, como as impropriedades escritas pela missão diplomática conforme
acima, o sujeito já seria uma peneira ou teria explodido na forma de bomba
humana. Mas por aqui, tudo é permitido, até dizer que não entender um tarado
que “bolina” crianças (o que é, segundo eles, uma “virtude”) só pode ser
desconhecimento de diferenças de identidades culturais. Desconhecimento, mesmo,
é o que a nota, se de fato foi escrita como divulgada, demonstra em relação à
língua portuguesa.
A notícia, que a referida
missão diplomática classificou como tendenciosa, foi – segundo o portal G1 –
sobre o comportamento de um diplomata iraniano no último sábado. Disse o portal
que:
Um diplomata é suspeito de ter abusado sexualmente de crianças e adolescentes no Distrito Federal. Ele teria abordado meninas de 9 a 14 anos em um clube na Asa Sul. O conselheiro de missão diplomática do Irã, em Brasília, tem 51 anos e vive no Brasil desde fevereiro de 2010. A Embaixada do Irã não quis se pronunciar sobre o caso.Testemunhas relataram que o suspeito nadava em uma piscina do clube, na tarde do último sábado (14), quando teria acariciado as partes íntimas das vítimas. Cerca de dez meninas estavam na piscina quando foram abordadas pelo diplomata. As crianças ficaram assustadas e denunciaram o abuso para o salva-vidas, em seguida para os familiares. O pai de uma das meninas, de 11 anos, contou que a filha ficou desorientada, sem saber o que fazer. “Ele mergulhava e passava a mão no peito de uma, nas nádegas de outra, na genitália. E ai elas saíram pra chamar a gente”, disse o pai de uma das vítimas, que não quis se identificar. Um outro pai, de uma adolescente de 14 anos, afirma que o homem só parou de mexer com as meninas depois que a filha começou a gritar. “Estou revoltado. Como um homem mexe com meninas de 9 a 14 anos, que estão se formando, que não tem malícia”, protestou um pai, que também pediu para não ser identificado. O caso foi parar na delegacia. Os pais das crianças registraram um boletim de ocorrência na 1ª Delegacia de Polícia, mas o conselheiro da embaixada do Irã não pôde ser ouvido e acabou liberado. O delegado Sérgio Ricardo Mattos explicou que o suspeito tem imunidade diplomática.
Espero que, nesse caso, a justiça não se deite sobre sua injustificada morosidade e busque, com a celeridade exigida, uma definição pela gravidade da situação. Em se comprovando os
fatos relatados pelas crianças e por seus pais, além do empolgado diplomata, todos os seus “defensores” que
não pensaram muito para publicar a indignada nota “elucidativa” deveriam ser
banidos – definitivamente – do país, pois canalhas estão na lista de coisas que
não necessitamos “importar”. E o que ministro Patriota continue demonstrando sua preocupação com esse desagradável incidente.
No folclore brasileiro,
também encontramos figuras que se julgam capazes de ignorar os costumes dos
lugares em que vivem, pensando ser superiores a tudo e a todos. É o caso de Dom
Lobo, personagem de um conto recolhido pelo saudoso folclorista, historiador,
antropólogo, advogado e jornalista Luís da Câmara Cascudo (Natal-RN, 1898 –
Natal-RN, 1986). Câmara Cascudo, no livro “Contos Tradicionais do Brasil” (de
1946), diz que esta história lhe foi contada por uma empregada natural de
Oeiras-PI, da qual ele só lembrava o
nome – Antônia. Transcrevo abaixo o conto retirado das páginas 306-307, da 18ª edição
(Ediouro, 2003).
================================
AS PERGUNTAS DE DOM LOBO
Um moço trabalhador e
direito morava com sua mãe, labutando pela vida com muita dificuldade. Uma
feita disse:
– Minha mãe! Não podemos passar o resto da vida nesta miséria, quase sem
ter o que comer. Fique minha mãe com o roçado, as cabeças de ovelhas, e bote
sua benção que vou pelo mundo ver o que posso fazer.
A mãe abençoou-o e o rapaz foi-se embora pelo mundo. Onde chegava, trabalhava uma
semana e ia para diante. Tempos depois chegou a um reinado bonito mas sem
gente. As ruas limpas de povo, as casas fechadas, tudo calado, sem um choro de
menino ou voz de homem, parecia um descampado. O rapaz procurou a casinha de um
velho e pediu agasalho. O velho recebeu-o muito bem e deu de cear. Quando
estavam comendo o rapaz perguntou por que o reinado era assim triste. O velho
explicou que, por mal dos pecados do povo, aparecera ali um homem encantado, de
nome Dom Lobo, dono de um palácio, que botara para obrigação comer o coração de
uma pessoa todo dia. Pega a criatura e faz três perguntas. Se a criatura
responder, pode fazer outras três a Dom Lobo, mas não nasceu ainda esse cristão
para adivinhar as perguntas de Dom Lobo. Não responde e Dom Lobo mata e come o
coração dos pobres. Por isso é que toda a gente vivia escondida e tremendo de
medo.
O rapaz dormiu e na manhã do outro dia saiu para a rua perguntando onde
era o palácio de Dom Lobo. O povo ficava espantado com o atrevimento dele mas
ensinava. O moço chegou perto de umas pedras grandes e lá em cima estava o
palácio que era um monarca de grande, por um portão de ferro. O rapaz tocou-se
para o palácio com coragem. Chegou, bateu, e as portas se abriram por si mesmo.
O moço enfiou-se por dentro, sobe aqui, desce ali, até que chegou num salão que
era uma beleza. Aí apareceu Dom Lobo, um homem alto, forte como um touro, todo
cabeludo, com olhos de gato e uns dentes de onça-tigre. Quando viu o rapaz deu
uma gargalhada de estrondar o mundo. Falou, com voz grossa de bicho encantado,
mandando o rapaz sentar. Depois perguntou:
– Que é que tanto mais velho mais forte fica?
– É o vinho, respondeu o moço.
– Que é que tanto se tira mais fica?
– Água do mar!
– Qual é o lugar onde todos vão e ninguém quer ir?
– O cemitério!
– Acertou, cabra danado! Faça as três perguntas que quiser!
– Quem é que nasceu de uma virgem, batizou-se num rio e morreu numa
cruz?
O homão rangeu os dentes como um desesperado porque não podia dizer o
santo nome de Jesus Cristo. Deu um estouro que estremeceu tudo e subiu aquela
bola de fumaça cobrindo o mundo. Quando clareou, o rapaz estava em cima das
pedras. O palácio e Dom Lobo tinham se sumido. O povo estava todo reunido
batendo palmas e levou o moço em charola para o rei. Deram uma casa com todos
os preparos, fazenda de gado, muito dinheiro. O rapaz mandou uma carrugem
buscar sua mãe e viveu muito bem e satisfeito.
================================
A música escolhida para hoje é de Dalvan, interpretada pela dupla Duduca & Dalvan, com o título "A pequitita", para refletirmos sobre quem este tipo de diplomata molesta.
Um grande abraço e até um próximo encontro!
Nenhum comentário:
Postar um comentário