Os homens, tão enfadonhos quando se trata das manobras da ambição,
são atraentes ao agirem por uma grande causa.
(Charles André Joseph Marie de Gaulle)
Amigas e Amigos,
Ontem, o clima – mesmo com temperaturas mais baixas –
esteve quente na Capital Federal, onde prefeitos de diversos municípios
brasileiros encontraram a presidente da República. Como por ironia, o
“incêndio” começou com petróleo.
Matéria do portal Folha.com informou que:
A presidente Dilma Rousseff foi vaiada nesta terça-feira (15) pelos prefeitos que participavam da 15ª edição da Marcha dos Prefeitos, em Brasília. A vaia ocorreu no momento em que a presidente decidiu falar sobre a redistribuição dos royalties do petróleo. Ao final do discurso de Dilma na abertura do evento, os prefeitos pediram que a presidente se manifestasse sobre o assunto e Dilma respondeu: "Vocês não vão gostar do que eu vou dizer". Em seguida, a presidente declarou: "Não acreditem que vocês conseguirão resolver a distribuição de hoje pra trás. Lutem para resolver a distribuição daqui pra frente". Os prefeitos não gostaram da fala de Dilma e vaiaram a presidente.
A posição da presidente foi firme e transparente –
duas qualidades que, aparentemente, incomodam boa parte de nossos políticos – e
ela não fugiu do que poderia parecer – ou foi – uma provocação.
Na continuidade dos fatos, a presidente
demonstrou despreparo para discutir ideias que divirjam das suas. Conforme
notícias de hoje, além de demonstrar irritação com o que considerou uma “cobrança
pública” do presidente da Confederação Nacional dos Municípios, chegou a ser
vista de dedo em riste no decorrer de uma conversa nada amistosa com o
mencionado presidente.
Penso que falte discernimento para a presidente
entender que ideias diferentes podem contribuir para discussões que
enriquecerão qualquer assunto. Por outro lado, entendo que o presidente da CNM
não demonstrava qualquer outro tipo de preocupação que não fosse desestabilizar
sua interlocutora (o que, pela reação foi muito fácil), pois ao defender a
redistribuição dos royalties do petróleo (conforme a continuidade da matéria da
Folha):
O presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, fez um discurso com uma série de reivindicações dos prefeitos ao governo federal e ao Congresso. Uma das reclamações tratava sobre a falta de recursos das prefeituras para pagar o piso nacional de determinadas profissões. Ziulkoski citou como exemplos o piso dos professores e dos agentes comunitários: "Ninguém é contra o piso. Só que tem que ter um piso que dê para cumprir", disse o presidente. Paulo Ziulkoski disse ainda que o prefeito que não pagar o piso será punido pela Lei de Responsabilidade Fiscal e, por isso, poderá ser considerado ficha-suja. "O promotor lá na base ele pega o prefeito. O andar térreo é fácil. Do governador pra cima, o tratamento já é diferente", disse. Dilma disse que ficou "muito preocupada" com o relato sobre o cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal e prometeu que a União irá auxiliar nessa discussão. "Seria fundamental discutir o que é de fato que produz um desrespeito à Lei de Responsabilidade Fiscal, que não é fruto da capacidade do prefeito. [... ] Nós queremos auxiliar em tudo para que não fiquem vulneráveis do ponto de vista jurídico à Lei de Responsabilidade Fiscal", afirmou Dilma. E completou: "o governo vai ser parceiro nisso. O governo vai separar o joio do trigo".
Parece que o Sr. Ziulkoski apresenta diferentes justiças, uma que pune quem deve ser
punido – como a que ele chama “lá na base” e que pune prefeitos que não cumprem
leis – e outra que trata “do governador para cima” com uma cegueira
diferenciada – provavelmente sem condenações por irresponsabilidades. Ele pede
que essa “justiça parceira”, mais
confortável, seja estendida para os prefeitos. O mais surpreendente é a
presidente Dilma afirmar que “o governo vai ser parceiro nisso”.
Fonte: Portal Folha de Dona Inês
Outra matéria
da Folha, ainda abordando o encontro dos prefeitos com a presidente da
República, pode dar uma ideia melhor de quem seja o presidente da Confederação Nacional dos Municípios. Diz a matéria que:
Paulo Ziulkoski, pediu nesta terça-feira (15) à presidente Dilma Rousseff que sancione o novo Código Florestal, aprovado pelo Congresso. [...] "Nós temos 4.400 municipios agropecuarios no país, estamos pedindo pra senhora que sancione o novo Código Florestal aprovado na Câmara. Esses municípios não podem terminar", afirmou Paulo Ziulkoski durante a abertura da 15ª edição da Marcha dos Prefeitos, em Brasília.
O veto do Código Florestal, ou mesmo a criação de um
Código Florestal preocupado com questões ecológicas fundamentais, pode acabar
com 4.400 municípios agropecuários, segundo o Sr. Ziulkoski. Constatável na
afirmação desse senhor, provavelmente, será somente a quantidade de municípios
agropecuários, pois o apoteótico final aludido não deve estar embasado em
qualquer estudo. Acredito que esse patético apelo não terá qualquer efeito na
decisão da presidente Dilma que vem demonstrando seu desconforto com o formato
tomado pelo Código Florestal a partir de interesses pessoais de deputados.
A fala fácil do Senhor Ziulkoski, associada a um aparente
descompromisso com fatos, me lembrou dum caso de Rolando Boldrin, que
transcrevo abaixo.
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NOS TEMPOS DA REVOLUÇÃO
Rolando
Boldrin
Vejam só: até dos tempos da marfadada revolução tem
causos pra gente contar. Esse que conto agora é dum camarada muito boateiro que
tinha num bairro de São Paulo. O homem fazia boato de tudo. E isso era sempre
num botequinho que ele freqüentava. Inventava coisas do governo militar, coisas
de autoridades, zombava disso e daquilo outro.
Acontece que, desse barzinho gostoso de se trocar umas
conversas de fim de tarde, um coronel que estava sempre à paisana era também um
grande freguês. E, portanto, sabedor e até ouvinte assíduo do boateiro. Ninguém
naquele boteco sabia que o coronel era coronel do nosso glorioso Exército...
isso porque o dito cujo não fazia propaganda da farda. Era um cabra até que bem
humilde e bom de papo.
Mas os boatos do tal amigo foram de certa forma
chegando ao exagero e, com isso, no bom palavreado, foi enchendo o saco do bom
militar. Daí o tal coronel resolve fazer uma brincadeira corretiva com o
boateiro. E, pra isso, simula uma operação militar com jipes, metralhadoras e
pessoal fardado, tudo combinado para simplesmente pregar uma boa peça no moço
dos boatos, pois os vários boatos já estavam deixando a situação dos militares
um pouco chata.
Pois bem. Era de tardezinha, nosso amigo dos boatos
falava mal dos fardados e eis que, de repente surge aquela operação militar de
araque.
CORONEL (fardado e bravo) – O senhor está preso.
Coloquem este indivíduo no camburão. O senhor vai ser julgado por júri militar
e condenado, por causa dos boatos referentes ao Exército.
Levam o dito cujo, simulam um júri e a condenação:
morte por fuzilamento.
Pois bem. Isso posto, lá está o nosso amigo num
paredão e na sua frente 5 fuzileiros apontando armas (com festim, é claro).
CORONEL – Apontarrr.... fogo!
Disparam as armas e o susto foi o pretendido pelo
coronel, que se aproxima do boateiro, ainda bravo:
CORONEL – Isso é só pro senhor aprender a não falar
mal das Forças Armadas. Entendeu? Fora daqui, sêo desocupado (e dá-lhe um
último empurrão).
No outro dia, lá está o nosso querido boateiro,
chegando à porta do mesmo botequim, para as conversas de sempre, regadas duma
boa cachacinha.
Alguns clientes e amigos que tinham presenciado a
prisão do nosso amigo no dia anterior se aproximam para saber das novidades,
sobre o efeito da bronca do nosso militar.
FREGUÊS – Então, Justino! Como foi lá no quartel?
Conta aí pra gente as novidades...
O nosso amigo boateiro chama todos para perto de si
para cochichar um último e criativo boato:
BOATEIRO (falando baixinho) – Olha, pessoal. Não
contem pra ninguém. Mas o nosso Exército está totalmente sem munição...
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Fechando
a Tertúlia de hoje (lembrando que os "interesses" dos senhores perfeitos serão um dia avaliados), fica a música “O Último Julgamento”, de Léo
Canhoto, com Milionário e José Rico.
Um
grande abraço e até a próxima!
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