quarta-feira, 20 de outubro de 2010

TERTÚLIA NATIVA - Saudade

     A enciclopédia livre Wikipédia, na Internet, ao tratar de Tradicionalismo Gaúcho, diz que:

Em 1947 um moço, nascido em Santana do Livramento, chamado João Carlos D'Ávila Paixão Côrtes, estudante do Colégio Estadual Júlio de Castilhos viu um pano colorido, já desbotado, rasgado e sujo, sevindo de cortina em um bar de quinta categoria. Desconfiado, puxou uma das pontas: era a admirada bandeira do Rio Grande do Sul! Dizem que foi essa a única vez na vida em que Paixão Côrtes chorou. Então, como o governo do Estado ia trazer de Santana do Livramento os restos mortais do herói farroupilha David Canabarro, ele conseguiu reunir mais sete companheiros, cavalos e arreios e assim, bem pilchados e de-a-cavalo, oito rapazes deram escolta gauchesca de honra aos gloriosos despojos. Na Praça da Alfândega, onde fizeram um alto para uma cerimônia, aproximou-se deles um guri tímido, tipo precoce: Luiz Carlos Barbosa Lessa, de Piratini, por coincidência também estudante do “Julinho”. Logo depois, no mesmo lugar, outro moço, já mais velho, de óculos e poeta conhecido: Glaucus Saraiva. Assim se reuniu, meio por acaso, a Santíssima Trindade do Tradicionalismo gaúcho: Paixão, o dínamo propulsor. Lessa, o estudioso, o teórico. Glaucus, o organizador, o disciplinador. Poucos dias depois, sempre por iniciativa do Paixão, realizou-se no Colégio Júlio de Castilhos a primeira Ronda Crioula do Tradicionalismo. E a mais longa de todas: durou 12 dias, desde que um piquete de cinco cavalarianos recolheu no Altar da Pátria, na hora da extinção, a zero hora de 8 de setembro de 1947, uma “mudinha” da chama simbólica. Em rápida galopeada, queimando as mãos, os cinco levaram essa chama para inflamar o Candeeiro Crioulo armado no “Julinho”, onde ardeu até 20 de setembro, o Dia do Gaúcho, data magna do Rio Grande do Sul. Durante essa primeira Ronda Crioula houve festa com música, poesia, fandango, concursos e discursos. Verificado assim o enorme êxito, no que ajudou o convite que os rapazes fizeram a homens maduros, como Manoelito de Ornellas, Amândio Bicca e Valdomiro Souza, os moços resolveram fundar uma entidade permanente para a defesa das tradições gauchescas.

     Resgatei um pouco da história recente (pode-se dizer que ainda ontem, ou talvez anteontem, estávamos em 1947) do Rio Grande do Sul para mostrar em que momento Amândio Bicca inicia sua contribuição mais efetiva para com as tradições gaúchas.

     De Amândio Bicca foi a poesia que enriqueceu a nossa Tertúlia Nativa do último domingo e que, a seguir, publico na expectativa de que, independente de ter escutado durante o programa, vocês gostem desta bonita obra:



SAUDADE

Saudade é armada de laço
que aos poucos vai apertando,
enquanto a gente sonhando
com a liberdade passada,
não sente o aperto da armada
que aos poucos nos vai matando.

É tapera abandonada
no fundo de algum rincão.
Saudade é água passada
que deixa valos no chão,
é cruz de angico cravada
no alto de um coxilhão.

Saudade é coice certeiro
do tordilho de confiança,
cornada de vaca mansa,
punhalada traiçoeira
que embora a gente não queira
deixa a marca por lembrança.

A brasita que se esconde
entre as cinzas do fogão
conserva quente o galpão
onde o passado se apeia.
Saudade é brasa vermelha
nas cinzas do coração.

     O moço citado no início do texto da Wikipédia (João Carlos D'Ávila PAIXÃO CÔRTES) foi entrevistado pelo Canto da Terra no primeiro ano do programa, quando esteve em Brasília para participar de uma bonita festa folclórica no Teatro dos Bancários.

     Aguardo seus comentários sobre a poesia e sugestões para nossas próximas Tertúlias Nativas.

    Grande abraço para você, minha amiga, e para você, meu amigo!

Wilmar Machado

Um comentário:

  1. Esta poesia há de varar os séculos no altar da Tradição Gaúcha. Pela beleza dos versos nascidos do coração de um verdadeiro poeta nativo, sincero e simples como é a natureza do gaúcho. Jamais será esquecida, tal como os versos inigualáveis de Piazito Carreteiro e Última Lembrança do saudoso Luiz Menezes. Que se divulgue mais, que se recite mais vezes um poema tão lindo como esse. Para ver se a brasa quase morta da nossa mais legítima Tradição não se apague.

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