quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

TERTÚLIA NATIVA - O NATAL EM UM GALPÃO

Amigas e Amigos!

          A semana do Natal faz com que se acredite que o mundo vai mudar a partir de agora. E o Ano que vem, nessa mesma época, estaremos com esse mesmo pensamento porque acreditamos que a mudança deva ser feita pelos outros: pelos governantes, pelos legisladores, pelos magistrados, pelos...

          A pergunta a ser respondida é sobre quem são essas pessoas a quem atribuímos a possibilidade de transformar nosso mundo, às vezes, tão sofrido. Se conseguirmos fechar o escopo a ser trabalhado para essa resposta, se tivermos uma noção exata (ou muito próxima) do contexto que devemos utilizar, possivelmente percebermos que a resposta está no espelho colocado à nossa frente. Só nós mesmos podemos iniciar essa mudança e agora pode ser o melhor momento para esse início.

          Por isso, nossa Tertúlia de hoje traz um poema que muito representa a mensagem do Natal. É do payador Jayme Caetano Braun, saudoso poeta da Bossoroca-RS (acredito que a época de seu nascimento ainda era São Luiz Gonzaga-RS), a poesia "Natal Galponeiro", que tive oportunidade de declamar na Rádio Aliança FM, de Porto Alegre-RS, quando seu autor ainda vivia, e de homenageá-lo, algum tempo depois, declamando no programa Canto da Terra, em Brasília-DF.



          Espero que vocês apreciem tanto quanto eu - e se emocionem também como eu me emociono a cada vez tenho oportunidade de ler ou recitar essa poesia.

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NATAL GALPONEIRO
                                                              Jayme Caetano Braun

A cuia do chimarrão,

É o cálice do ritual,

E o galpão é a Catedral

Maior da terra pampeana,

Que de luzes se engalana,

Para esperar o NATAL.



A cuia aquece na palma

Da mão da indiada campeira,

Dentro da sua maneira,

Rezando e chairando a alma,

Para recuperar a calma,

Que fugiu do mundo inteiro.

Enquanto o estrelão viajeiro,

Já vem rasgando caminho,

para anunciar o "Piazinho",

A Virgem e o Carpinteiro.



Em nome do Pai,

Do Filho e do Espírito Santo,

É o chimarrão que levanto,

E o vento faz estribilho,

A prece do andarilho,

Ao Piazito Salvador,

Filho de Nosso Senhor,

Do Espírito e do Pai,

De volta a terra aonde vai,

Falar de novo em amor!



Tem sido assim - dois mil anos,

Ninguém sabe - mais ou menos,

Vem conviver com os pequenos,

De todos os meridianos,

E repetir aos humanos,

As preces de bem querer.

Quem sabe até - pode ser,

Que um dia seja atendido,

E o mundo velho perdido,

Encontre paz para viver.



Ele sabe da apertura,

Em que vive o pobrerio,

A fome - a miséria - o frio,

Porque passa a criatura,

Mas que - inda restam - ternura,

Amizade e esperança,

É que pode, a cada andança,

Mesmo nos ranchos sem pão,

Aliviar o coração,

Num sorriso de criança!



Pra mim - que ouvi na missões,

Causos de campo e rodeio,

Do "Negro do Pastoreio",

Cruzando pelos rincões,

Das lendas de assombrações,

E cobras queimando luz.

Foste - Menino Jesus,

O meu sinuelo de fé,

Juntando ao índio Sepé,

O Nazareno da Cruz!



E a Santa Virgem Maria,

Madrinha dos que não tem,

Fez parte - sempre - também,

Da minha filosofia,

Eu que fiz de Sacristia,

Os ranchos de chão batido,

E que hoje - encanecido,

Sou sempre o mesmo guri,

A bendizer por aí,

O pago que fui parido!



E o Nazareno que vem,

Das bandas de Nazaré,

Chasque divino da fé,

Rastreando a luz de Belém,

Ele que vai morrer também,

Pra cumprir as profecias.

É Natal - nasce o MESSIAS,

Salve o Menino Jesus!

Mas o que fogem da luz,

O matam todos os dias.



Presentes - "Papais Noéis",

Um ano esperando um dia,

Quando a grande maioria,

Sofre destinos cruéis.

O amor pesado a "mil-réis",

E mortos vivos que andam,

Instituições que desandam,

Porque esqueceram JESUS,

O que precisa, é mais luz,

No coração dos que mandam!



Que os anjos digam amém,

Para completar a prece,

Do gaúcho que conhece,

As manhas que o tigre tem.

Não jogo nenhum vintém,

Mesmo sendo carpeteiro,

Mas rezo um Te-Déum campeiro,

Nessa Catedral selvagem,

Pra que faça Boa Viagem,

O enteado do Carpinteiro!
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          Quem conhece a obra do Jayme sabe da qualidade de tudo que esse grande representante da poesia gaúcha produziu. Mas, na minha opinião de admirador dessa obra, deseja boa viagem para "o enteado do Carpinteiro" é o ponto máximo. É aquele trecho que todo o escritor lê - ou ouve - e reflete silenciosamente: "Como não pensei nisso antes?".

          Para fazer par com a poesia de hoje, escolhi a música do saudoso compositor e cantor nativista Leonado (Jader Moreci Teixeira), que tem por título "O Homem do Pala Branco", na interpretação do próprio Leonardo.


          Na esperança de que o clima de Natal nos acompanhe ao longo do próximo Ano, e em todos os dias de nossa vida, deixo um grande abraço para vocês e até nossa próxima Tertúlia!

Wilmar Machado

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