Amigas e Amigos!
O Brasil perdeu, ontem, um (dos poucos) político honesto e ético – José Alencar Gomes da Silva –, responsável pelo grupo Coteminas S.A., um dos mais importantes de nosso País. José Alencar padeceu anos, lutando bravamente contra uma doença que se alastrava por seu corpo e que não conseguia derrotá-lo, nem experimentou o prazer de vê-lo se entregar. E deve ter padecido muito, dada sua índole, ao ver a classe política da qual fez parte se envolver em “mensalões” e acobertar fortes indícios de corrupção.
Na Tertúlia Nativa de hoje, lembrando que o ex-Vice-Presidente começou o grande grupo econômico que hoje é administrado por sua família com uma loja em Caratinga, fui buscar no livro “Rapa de Tacho 2” (p. 39-41), do poeta, escritor e pesquisador Apparício Silva Rillo, a história de um bolicheiro (dono de armazém que comercializa quase tudo que se imagine), contada de forma muito engraçada.
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SEU ATAÍDE, O BOM PAPO
Apparício Silva Rillo
Na São Borja de trinta e alguns anos atrás, o mulato Ataíde estabeleceu-se com bolicho próximo ao cemitério, na saída para os rincões do Magrulho e de Santana. Anos após, com uns trocos juntados, transferiu sua casa de negócios – agora misto de bar e armazém – para ponto mais central da cidade.
A gauchada do interior mostrava decidida preferência por seu bolichão. O ponto mudara, mas a freguesia não. Sortiam os fregueses suas malas de garupa, tomavam canha não batizada e, sobretudo, encantavam-se com a maneira característica de falar do bolicheiro que, estranhamente, sabia ler soletrado mas não escrevia nada mais além do nome e dos números nas cadernetas dos clientes mais antigos. Seu Ataíde “bolava as trocas” no seu linguajar. Era um Cícero às avessas.
– E aí, Seu Ataíde, tudo bem com sua saúde?
– Negativamente, “conspico” amigo. Semana passada me deu uma “hemorróide” nos dentes que quase me leva à breca. Sangue, barbaridade. Me receitaram umas injeção mas eu refuguei no partidor. Tenho “energia” por injeção. Por sorte que com duas dúzias de “esprimidos” a “hemorróide” transitou em julgado, com lá dizem os “bacharelos”...
.o.O.o.
Tarde de após Gre-Nal. O bolicho cheio. Seu Ataíde, colorado doente, amargava a derrota do seu clube para o Grêmio.
– Ganho o Grêmio, seu Ataíde?
– E como não haverá de ganhar, excelência? Puseram um gato felino de “refer” e ele marcou uns “pênis” contra nós no último minuto.
.o.O.o.
Chega um guri no bolicho:
– Tem ovo, seu Ataíde?
– Menino, não diga ovo, diga ovos. Aprenda a falar a língua brasileira.
– Bueno, seu Ataíde. Então me dê um ovos.
.o.O.o.
O povinho apelidou de caminhão os primeiros ônibus que faziam a linha cidade-interior. Seu Ataíde se rebelava contra essa afronta ao “vernácul”.
Aparece um gurizote da campanha em seu bolicho. Viera fazer compras na cidade e levava duas malas de garupa gordas como barriga de prenha.
– O caminhão para o Mangrulho já passou, seu Ataíde?
– Passa logo, logo. Mas aprenda a falar, mocinho. Não diga caminhão, que está errado. Veículo que carrega gente se chama “ônis”...
.o.O.o.
Um seu amigo abatera a tiros um desafeto, na “casa da Morena”. Constava que arranjara uns pilas com seu Ataíde e se mandara rolar.
– E o Pulchério, seu Ataíde? Que fim levou o índio?
– Acabou servindo de “bode respiratório” numa briga onde entrou para apartar a cachorrada. Segundo “resumo”, matou na boa lei. Mas pra se livrar do “flamejante policial” bandeou o rio Uruguai um dia desses. Tá “forrageado” na Argentina.
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A música desta Tertúlia é "Bolicho", de Cenair Maicá e Gilberto Carvalho, na interpretação de Cenair Maicá.
Um grande abraço e até a próxima Tertúlia!
Wilmar Machado
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