quinta-feira, 5 de maio de 2011

TERTÚLIA NATIVA - DON PANCRÁCIO & "DONA" RORIZ

Os homens são como as moedas;
devemos tomá-los pelo seu valor, seja qual for o seu cunho.
Carlos Drummond de Andrade


Amigas e Amigos,

               Foi publicado hoje no portal G1 (http://g1.globo.com), uma matéria abordando o laudo da Polícia Federal sobre o vídeo com aparentes indícios de prevaricação envolvendo a deputada Jaqueline Roriz e o “magnânimo mecenas” do Mensalão Candango, Durval Barbosa. Pode-se ler na matéria que:
O Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados deve receber nesta quarta-feira (4) cópia do laudo da perícia feita pela Polícia Federal no vídeo em que a deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF) aparece, ao lado do marido, Manoel Neto, recebendo dinheiro de Durval Barbosa, pivô do escândalo do mensalão do DEM de Brasília. Em nove páginas, a análise confirma a autenticidade da gravação ao afirmar que “não houve edição” nas imagens. [...]Desde que o escândalo estourou, a própria deputada do PMN admitiu ter recebido dinheiro de Durval Barbosa em “três ou quatro oportunidades”. O dinheiro, segundo Jaqueline Roriz, teria sido utilizado para custear a campanha eleitoral de 2006, quando ela se elegeu deputada distrital. Os recursos não teriam sido informados na prestação de contas entregue à Justiça Eleitoral. Além de confirmar a autenticidade das imagens, a PF faz a degravação dos diálogos do encontro entre Jaqueline, o marido Manoel Neto e Durval. O documento vai subsidiar o trabalho do relator do processo de cassação no colegiado, deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP).

               Como a quantidade de “rabos presos” na Câmara é aparentemente muito maior do que se possa imaginar, é possível que as explicações e dissertações, orientadas por “bons” advogados, sejam mais convincentes do que os próprios fatos expostos e siga “tudo como dantes no quartel d’Abrantes”.

               Essa falta de decência me fez lembrar de um causo do livro “Rapa de Tacho 3” (p.42-43), de Apparício Silva Rillo, da “Tchê! Editora”, onde a figura principal de história, por muito menos, recebeu exemplar punição imediatamente após o “escorregão” ético. Essa é a história publicada abaixo


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DON PANCRÁCIO, CORRENTINO
                                           Apparício Silva Rillo

               Há dez anos ainda o vi na cidade de Santo Tomé, fronteira à São Borja, do outro lado do Uruguai. Realizava-se, em dezembro, o Festival de Foclore da Província de Corrientes e meu herói, Don Pancrácio Tê, empinava uma boteja de vinho tinto. Como quem bebe água – sem outro gesto que não fosse o de, quando em quando, enxugar como o dorso da mão os bigodes grisalhos umedecidos pela bebida.

               Não sei se ainda vive. Seus causos, seus repentes e tiradas – estes permanecem na tradição oral dos santo-tomenhos e dos pequenos contrabandistas do chamado “comércio formiga” domiciliados na costa brasileira do Uruguai, em pobres ranchos debruçados sobre águas do rio.

               Do Ruivo Chando, um desses chibeiros – assim chamados na linguagem característica dos municípios que fazem fronteira com a Argentina –, escutei, em noites de violão e trago em seu bolicho nas proximidades do porto, vários e divertidos causos que tiveram Don Pancrácio Tê como personagem.

               Em moço, Don Pancrácio integrou a Gendarmeria Argentina. Já com galões de anspeçada, primeiro posto após o de soldado raso, algumas vezes tocou-lhe a missão de substituir o sargento comandante de um dos postos próximos à cidade.


               Numa dessas feitas emborrachou-se na noite de sábado e, domingo cedo, ainda bastante mamado, abandonou o comando provisório do posto e, de carona numa carroça de lenheiro, a espada de sargento pendurada no cinturão, foi bater com os costados na cidade, mais exatamente na praça San Martin, frente à igreja matriz. Segundo a tradição oral, Don Pancrácio, o anspeçada, com a gorra desabada sobre os olhos, túnica aberta mostrando o peito cabeludo, desembainhou a espada do sargento que lhe confiara o posto e, para espanto dos fiéis que abandonavam a igreja após a missa, riscava a calçada com a ponta da arma e gritava de toda a goela:

               – Siempre que me dou cuenta de que sou oficial de la Gendarmeria de mi pátria, hasta yo tengo miedo de mi mismo!

               Foi parar na cadeia, levou um chá de casca de vaca, acabou expulso da corporação.

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               Para a parte musical de nossa Tertúlia de hoje, escolhi a música de Gildo de Campos e Berenice Azambuja, “É disso que o velho gosta”, sem qualquer alusão a algum pensamento que possa ter passado pelo pensamento (?) do pai da deputada que aparece no vídeo analisado pela PF. E a interpretação da música fica por conta da própria autora Berenice Azambuja.


                Termino por aqui, com um forte abraço para todos!

Wilmar Machado

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