segunda-feira, 20 de junho de 2011

ABRINDO A PORTEIRA - MIGRAÇÃO, MISÉRIA E GRITOS SILENCIOSOS

O luxo arruína o rico e aumenta a miséria do pobre.
(Denis Diderot)


Amigas e Amigos,

               Abro a porteira para mais uma semana, lembrando que encerrou ontem, domingo, a Semana do Migrante (com o tema “Migrações e Mudanças Climáticas: o que temos a ver com isso?”), sem muito para comemorar, mas com muitas preocupações para aprofundamento e propostas de ação.



               No Texto Base para essa 26ª Semana do Migrante (editado pelo SPM-Serviço Pastoral dos Migrantes), consta, na página 13, que:
São muitos e variados os gritos dos excluídos urbanos e rurais, são centenas de milhões de gritos dos cinco continentes. Gritos de todos os tamanhos, dores e cores. Gritos que não acordam os que dormem em berço esplêndido. Gritos silenciosos de bocas sem força. Gritos que não querem calar e ainda assim ecoam ao vento, que também grita a seu modo, dotando de febre o planeta. O clima, os padrões globais de produção e o consumo e a intolerância cultural são marcas fortes do novo milênio, que já começou. [...] Migrantes “econômicos” e “climáticos” são pessoas que sofrem violações aos direitos humanos, agravamento das desigualdades e empobrecimento, em escala global.

               São números globalizados que aparecem no texto acima. Esses números são, também, bem significativos e, pela abrangência, podem nos dar idéia de estarem distantes do nosso dia a dia. As desigualdades e o empobrecimento que geram os “gritos silenciosos de bocas sem força”, aparentemente, também podem ser encontrados em terras brasileiras, apesar das malas, sacolas e bolsas distribuídas – que podem, às vezes, se extraviar em algum tortuoso caminho.

               Comentei os gritos silenciosos próximos a nós pela matéria publicada pelo jornal “O Estado de São Paulo” (http://www.estadao.com.br/), hoje, sobre dados do Censo-2010, destacando que cerca de 10 milhões de brasileiros vivem em condições de extrema miséria. Diz a reportagem que:
Uma população estimada em 10,5 milhões de brasileiros - equivalente ao Estado do Paraná - vive em domicílios com renda familiar de até R$ 39 mensais por pessoa. São os mais miseráveis entre 16,267 milhões de miseráveis - quase a população do Chile - contabilizados pelo governo federal na elaboração do programa Brasil sem Miséria. Dados do Censo 2010 recém-divulgados pelo IBGE que municiaram a formatação do programa federal oferecem uma radiografia detalhada da população que vive abaixo da linha de pobreza extrema, ou seja, com renda familiar de até R$ 70 mensais por pessoa - que representam 8,5% dos 190 milhões de brasileiros. A estimativa dos que sobrevivem com até R$ 39 mensais per capita é a soma dos 4,8 milhões de miseráveis que moram em domicílios sem renda alguma e 5,7 milhões de moradores em domicílios com rendimento de R$ 1 a R$ 39 mensais. Estima-se que outros de 5,7 milhões vivem com renda entre R$ 40 e R$ 70 mensais por pessoa da família. Os números calculados pelo Estado são aproximados e levam em conta o número médio de 4,8 moradores por domicílio com renda familiar entre R$ 1 e R$ 70 mensais.

               Considerando o grupo que está em “melhores” condições entre os classificados como miseráveis pelo Censo, pode-se detalhar um pouco mais e perceber que R$ 70 por mês equivalem a R$ 2,33 por dia para alimentação, vestuário e, com a sobra, algum lazer. O grupamento intermediário, que percebe R$ 39 por mês, tem que se virar com R$ 1,30 por dia. Está na hora de refletirmos sobre nossa responsabilidade de “gritar” por eles, pois com a renda percebida o grito dos miseráveis estará, a cada novo dia, mais abafado pela falta de força e de ânimo.

               Como agravante, fico imaginando quantos desses miseráveis, do Censo e do Brasil, são portadores de título de eleitor e se tornam “presas fáceis” da corrupção eleitoral. Mesmo acreditando – e acredito mesmo – que a urna eleitoral brasileira é extremamente segura, não consigo passar a mesma crença para alguns candidatos que, posteriormente, tornam-se políticos (apesar de crimes cometidos antes da eleição que não lhes podem ser imputados dada a imunidade parlamentar – haja bandalheira – adquirida.
  
               A música de hoje é “O Grito dos Livres”, de José Fernando Gonzales, na interpretação de João de Almeida Neto.

               Uma boa semana, um grande abraço e até a próxima.

Wilmar Machado

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