quarta-feira, 24 de agosto de 2011

TERTÚLIA NATIVA – SURRUPIADO É SURRUPIADO, E PONTO.



Muitos ensinam o que adquiriram com o estudo, não com a conduta,
e assim o que pregam com a palavra destroem com o seu modo de vida.
(São Gregório Magno)



Amigas e Amigos,


               A Tertúlia Nativa inicia com uma notícia do portal “Congresso em Foco” (http://congressoemfoco.uol.com.br), sobre o pífio salário recebido pelo nobre presidente do Senado. Segundo o referido portal:
Alguns parlamentares acumulam o que recebem no Congresso com aposentadorias, que fazem com que os R$ 26,7 mil sejam ultrapassados em muito. É o caso do próprio presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). No salário dele, ninguém mexeu. [...] Uma ação do Ministério Público afirma que o próprio presidente do Senado, José Sarney, recebe acima do teto constitucional. [...] Segundo o MP, Sarney recebe duas aposentadorias, como ex-governador do Maranhão e como servidor do Tribunal de Justiça daquele estado, além do salário de senador em Brasília. Em 2009, o jornal Folha de S.Paulo mostrou que as duas aposentadorias de Sarney somavam R$ 35.560,98, em valores de 2007. Com o salário de senador da época – R$ 16.500 – ele ganharia R$ 52 mil. Como o salário de senador hoje é de R$ R$ 26.723,13, a remuneração de Sarney seria agora de pelo menos R$ 62.284,11, considerando-se os documentos noticiados pelo jornal e ignorando-se eventuais reajustes nas aposentadorias. Assim, a assessoria do Senado disse que nenhum senador ganha mais que o teto, pelo menos pelo que consta na folha de pessoal da Casa. O salário de R$ 26.700 foi definido pelos próprios senadores e deputados no ano passado, quando também elevaram para o mesmo valor a remuneração da presidente da República, de seu vice e de seus 38 ministros de Estado. Na ação contra Sarney na 21ª Vara, o procurador Vollstedt pede que a União e o governo do Maranhão suspendam os pagamentos ao senador que estourem o teto. O procurador pede que o parlamentar escolha qual fonte de rendimentos vai utilizar para se manter dentro do limite de R$ 26.700. E pede ainda que Sarney seja condenado a devolver aos cofres públicos tudo o que ganhou além do permitido nos últimos cinco anos.

               O objeto da notícia é o salário do parlamentar e não considera as mordomias acumuladas à guisa de verbas de representatividade e outras rubricas, que elevam esse valor divulgado para patamares estratosféricos. O assunto é sério e a notícia abordada, também, de forma muito séria, mas terminei de ler às gargalhadas, com o pedido do procurador para que haja uma condenação provocando a devolução aos cofres públicos do que foi abocanhado além do permitido. Depois dos “mensalões” pluripartidários, dos ministérios envolvidos nos mais diversos embustes e de outros escândalos envolvendo dinheiro público, devolução desse tipo de roubo, por aqui, nem um mês depois de confirmada a prisão do Zorro pelo Sargento Garcia.

               Além dos salários astronômicos e das sombrias verbas adicionais, a aposentadoria nesse patamar apresentado transforma a “carreira” política – para a qual não há necessidade sequer de alfabetização – no emprego dos sonhos. E esse emprego dos sonhos ainda tem como atrativo a dispensa do trabalho para os mais dedicados a mancomunação. Uma boa parte dos políticos são profissionais da política (e da politicagem), que não retornam jamais para qualquer outro emprego por não ser oferecido pelo mercado nada que se compare as facilidades do exercício de cargos eletivos públicos (inclua-se nisso a sempre bem recebida por eles imunidade, que acaba sendo associada a impunidade).



               Como imaginei que um dos motivos de tanto apego aos cargos possa estar ligado ao esquecimento de como voltar a vida privada, lembre de um causo que contei no programa Canto da Terra do último domingo, do livro Balaio de Causos, do radialista e poeta Leonel Colvero, que transcrevo abaixo.

==============================================

GATO DO ARMAZÉM
                                  Leonel Colvero

               Chateado com as queixas da freguesia, o bolicheiro resolveu se livrar do gato de estimação da casa.

               O bichano estava tão abusado e confiante, que vivia lambendo queijo, salame e tudo que encontrasse em cima do balcão da venda.

               O bolicheiro soube que alguns fregueses tinham deixado de freqüentar o seu estabelecimento, por causa da falta de higiene daquele felino abusado.

               Pegou o bicho, colocou dentro de um saco e atou-o bem na boca.

               Tomou um ônibus e foi soltar o gato no Passo da Ferreira, na saída para São Pedro do Sul, na entrada do Distrito da Boca do Monte.

               Quando chegou de volta ao Itararé, lá estava o gato que chegara de volta, antes dele.

               Atou novamente a boca do saco, com o gato dentro e se mandou para o Camobi, no outro extremo da cidade.

               Largou o animal nos fundos do Aeroporto, no começo da estrada para o Arroio do Só.

               Ao retornar para casa, lá estava de novo o gato que chegara mais uma vez antes dele.

               Passou o resto do dia visitando os distritos do município de Santa Maria.

               Foi até Santa Flora, na saída para São Sepé; foi ao Itaara, na saída para Júlio de Castilhos e sempre o gato chegava de volta em casa antes dele.

               De tardezinha foi para a Vila Norte, depois andou pela Caturrita, a pé, com o saco atado na boca, para confundir o gato.

               Subiu o morro da televisão, andou pela casinha branca, voltou para a chapada, e, quando já era noite estava nos peraus de Santo Antão, totalmente perdido.

               Não tinha a mínima noção de onde estava nem para onde ir naquelas “bibocas”.

               Foi aí que ele se deu conta de que só lhe restava uma saída:

               SOLTAR O GATO E SEGUI-LO PARA ACHAR O CAMINHO DE VOLTA PARA CASA.

==============================================

               A música para encerrar a Tertúlia é “Barranca e Fronteira”, de Antônio Fagundes e Luís Telles, na interpretação de Alex Hohenbergger (CD “As melhores canções gaúchas”, vol. 1).

  

               Um grande abraço para todos!

Wilmar Machado

Nenhum comentário:

Postar um comentário