O amor é estarmos
sempre preocupados com o outro.
(Marcel Achard)
Amigas e Amigos,
Ao abrir a porteira para
mais uma semana, a última do tempo de Advento antes do Natal, presto uma homenagem, simples, a este que foi pleno na
identificação entre o programa que apresentava pela TV Brasil, há mais de 10
anos, com sua própria vida. Falo de “Arte” e falo de Sérgio Brito, que morreu
na manhã do último sábado (no Rio de Janeiro, onde desde novembro estava
hospitalizado por problemas cardiorrespiratórios), aos 88 anos. Desses 88 anos,
apenas os 20 e poucos primeiros não foram totalmente dedicados a Arte, que
entrou definitivamente em sua vida após a conclusão do curso de Medicina.
Por ter vivido completamente
envolvido pelas mais diversas formas de manifestações artísticas e apaixonado
pelo Teatro, penso que o melhor adjetivo para Sérgio Brito seja o de “monstro
sagrado”. Ele, que nasceu em 29 de junho de 1923, começou sua carreira no ano
de 1945. Mesmo tendo participado de uma histórica montagem de “Hamlet”
(tragédia de Shakespeare), com a inovadora interpretação de Sérgio Cardoso, em
1948, ano do famoso filme baseado nesta peça e estrelado por Laurence Olivier
(Oscar de melhor filme e de melhor ator), Sérgio Brito declarou a Folha (http://www.folha.uol.com.br) que “só
começou a se considerar ator em 1953, com as estripulias de Uma Mulher e Três
Palhaços”, peça de Marcel Achard, com as participações de Eva Wilma, José
Renato e Vicente Silvestre.
O “monstro sagrado” parece
que não se contentava em ser mais um, como se pode conferir no arquivo de
Memórias da TV Globo (http://memoriaglobo.globo.com),
onde é destacado que a primeira novela desse canal – Ilusões Perdidas – foi dirigida
por Sérgio Brito (que substituiu Líbero Miguel) e apresentada entre abril e
julho de 1965.
A melhor idéia da
importância de Sérgio Brito para o Teatro brasileiro pode ser conferida através
de alguns depoimentos, publicados por jornais no último fim-de-semana.
Juca de Oliveira, ao
lamentar a perda, emocionado afirmou que “Sérgio Brito foi a maior vocação do
teatro brasileiro. Há pessoas que têm talento, mas não tem a paixão, o amor, a
presença definitiva dele com relação ao teatro. Ele deixa uma obra
impressionante. Um dos maiores atores dos últimos tempos.Nesta fase da vida do
Sérgio, sua falta será exatamente na transmissão do ensinamento. Essa era uma
função poderosíssima desse grande mestre. Ele remodelava o teatro a cada
instante” (Globo News).
Renata Sorrah, lembrando que
estreou no Teatro dos Quatro com Sérgio Brito, disse que “Ele formou muitas
pessoas. Foi meu mestre, meu colega em cena, meu amigo, vai fazer muita falta.
Temos que seguir seu exemplo” (Agência Estado).
As diretoras do documentário
sobre a paixão de Sérgio Brito pelo teatro, Célia Freitas e Isabel Cavalcanti,
falaram que ele nunca perdeu a esperança de voltar aos palcos. Célia disse que “Ele
voltou da internação muito transformado, muito afetuoso. Ficou um vazio, a
visão fora afetada, mas ele nunca desistiu” e Isabel acrescentou “Ele percebeu
que teria que ter paciência para se recuperar e voltar ao trabalho. Mas desde
antes, toda a sua postura foi muito positiva, transformando as impotências da
idade em potência, com um despudor grande em relação ao corpo e à velhice”
(Agência Estado).
Walmor Chagas, ao comentar a
paixão de Sérgio Brito pelo teatro, afirmou que “O Brasil perdeu um grande
homem. Nunca conheci ninguém que se dedicasse e amasse tanto o teatro quanto
Sérgio Britto” (Globo News).
Fernanda Montenegro, que com
Nathália Thimberg, Ítalo Rossi e Sérgio Brito formou um grupo de amigos
inseparáveis, disse: “Eu não perdi um amigo, eu perdi o irmão. Estávamos há 65
anos trabalhando juntos. Ele é uma peça que não tem reposição. Era um homem que
fomentava a cultura. [...] Sobramos somente eu e Natália. Enquanto vivermos
somos sonhadoras. [...]Ele foi excepcional. Soube lidar com as desavenças e,
nesse país com problemas caóticos no campo da ética, conseguiu ter uma grande
vida” (UOL).
Nathália Thimberg,
emocionada, declarou que "A minha relação com Britto tem mais de meio
século. Perdemos o homem do teatro. Me sinto morrendo um pouco. Foi um amigo
fiel e um crítico sério" (UOL).
O jornal Estado de Minas (http://www.em.com.br) destacou, ontem, que
Sérgio Brito foi um mestre para o grupo mineiro Ponto de Partida:
No fim dos anos 1980, o Ponto de Partida era apenas mais um grupo de teatro do interior. Decididos a ter como professor Sérgio Britto, seus integrantes suaram a camisa para conseguir que ele fosse a Barbacena. Ivanée Bertola, um dos fundadores, entrou em contato com o ator, na época em cartaz no Rio com uma peça ao lado de Nathália Timberg. Ia todo dia ao teatro, e Britto dava sempre uma negativa. Mas a insistência foi tanta que o ator concordou, desde que quando chegasse à cidade o grupo apresentasse, imediatamente, uma peça. Pois isso ocorreu às três da manhã de uma quarta-feira e quando Britto chegou, avistou todo o grupo a postos, de figurino, em frente ao único auditório da cidade. “A partir daí, a gente entrou na vida um do outro para sempre”, comentou Regina Bertola, diretora do Ponto de Partida. Bastante emocionada, ela afirmou ontem que o ator considerava o grupo como sua família. “Ele vinha passar todos os natais comigo. Só não veio no ano passado, desmarcou na última hora, porque sua família, no Rio, achou que ele estava muito velhinho para viajar.” São várias as histórias que ela guarda da vivência do ator junto ao grupo. Além de ser o responsável pela formação de vários dos integrantes, Britto dirigiu um de seus maiores sucessos, o espetáculo Nossa cidade (1992). “Essa montagem foi emblemática. Estivemos com ela no Festival Internacional de Pelotas (RS) e ganhamos oito dos oito prêmios”, disse o violonista Gilvan de Oliveira, autor da trilha sonora do espetáculo, ao lado de Fernando Brant. “Levo para a minha vida a generosidade, inteligência e irreverência do Sérgio”, acrescentou ele. Um dos exemplos disso vem de temporada que o grupo fez durante um mês em Montevidéu, no Uruguai. “Ele resolveu ir com a gente para preparar Nossa cidade. Reservamos para ele um hotel muito confortável, mas ele preferiu ficar na casa que alugamos para o grupo. Saía com a gente, ‘filipetava’ na rua, conversava com os outros sobre teatro”, contou Bertola. O diretor Pedro Paulo Cava, que trouxe Britto a Belo Horizonte para falar sobre teatro, lembrou-se bem da sensação que tinha sempre que o via nos palcos. “Era uma figura inesquecível, o que chamo de animal teatro, coisa rara de acontecer.” Em duas décadas ao lado do Ponto de Partida, não passou um ano sem que Britto se encontrasse com o grupo. Foi a Barbacena unicamente para dirigir Regina Bertola no espetáculo O tear - Histórias de amor (2000), quando a diretora teve que subir ao palco para substituir uma atriz. Ele foi meu mentor, diretor, amigo, companheiro, pai. Quem conheceu o Sérgio pessoalmente sabe que ele foi um homem muito coerente. Sempre montou os textos que acreditava, não tinha medo de experimentar. E, depois de mais velho, dizia que não tinha que fazer concessão nenhuma”, concluiu ela.O sentimento colocado nas declarações dos integrantes do Ponto de Partida mostra um pouco do porque de tanta emoção de todos os que comentam a vida e a obra deste homem do Teatro.
Dia 17, sexta-feira, nos deixaram também Joãosinho Trinta (João Clemente Jorge Trinta, nascido em São Luís, no dia 23 de novembro de 1933), o artista plástico que mudou o Carnaval no Brasil, e Cesária Évora (que nasceu em Mindelo, no dia 27 de agosto de 1941), "a diva dos pés descalços", a cantora cabo-verdiana que recebeu o maior reconhecimento internacional.
Para concluir esta postagem, a interpretação de hoje é de Cesária Évora em um dueto emocionante com Marisa Monte para a composição dos saudosos Dorival Caymmi e Jorge Amado (do início dos anos 40), "É Doce Morrer no Mar". Essa música fecha o CD "Café Atlântico", de Cesária Évora, indicado para o Grammy de 2000, na categoria World Music.
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