segunda-feira, 26 de março de 2012

PROSA DE DOMINGO - CHICO ANYSIO, A SAUDADE NÃO SERÁ "VAPT-VUPT".


O que me levou a esta atividade foi o fato de gostar de contar histórias,
pois antes de tudo, o que eu faço de melhor é exatamente contar uma história.
(Chico Anysio)



Amigas e Amigos,

No próximo dia 12 de abril, ele acrescentaria mais um aniversário aos oitenta que teve oportunidade de festejar. Mas sua passagem aqui pela terra foi interrompida para o Céu ficar mais animado. Morreu Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, um marco do humor conhecido, e reconhecido, com Chico Anysio.

E o Brasil – que segundo Chico só tinha três problemas: o café, o almoço e o jantar – perdeu uma de suas principais alavancas para alguns momentos de alegria no meio de toda a corrupção e impunidade consentida, que tanto entristece aos que acreditam em um país melhor.

          A morte de Chico Anysio deixa o Brasil com sentimento de pesar, ainda que somente o Ceará (onde nasceu) e o Rio de Janeiro (para onde se mudou aos seis anos) tenham decretado luto oficial de três dias, pois durante os períodos em que esteve hospitalizado ficava sempre a expectativa de sua cura e de um retorno do seu bom humor, sempre reinventado e renovado.



          Mas desta vez, ele não voltou e fiquei imaginando a expressão de São Pedro ao chamar “- O próximo é... Chico Anysio.” e ao levantar os olhos perceber que Chico Anysio não era apenas o próximo, mas os 209 próximos. Entre os 209 estava Professor Raimundo, esperando, até o fim, um salário melhor que não pode receber por haver muitas “licitações” e muitos políticos sustentados pelo desperdiçado dinheiro público.

          Lembrei-me de Chico Anysio sendo aguardado aos domingos no Fantástico, onde fazia um momento de diversão para as famílias, com um humor jamais substituído. Era um quadro com conteúdo, dinâmica e alegria, que não precisava qualquer rótulo, sendo simplesmente o Chico no show da vida. Com o passar do tempo, o que ele fazia desde os anos 70 passou a ser conhecido como stand up comedy, como se alguém tivesse inventado um novo jeito de fazer as pessoas rirem. Foi nesse quadro que surgiram personagens de Chico e, talvez o mais marcante, tenha sido o malandro Azambuja que, por volta de 1975, ganhou vida e chegou a ter um programa só seu.

          Nestas últimas horas, foram muitas homenagens. O futebol, uma paixão de Chico marcada pelo personagem Coalhada, também abriu espaço para exaltá-lo, e, no “melhor estilo”, seus times em São Paulo – Palmeiras – e no Rio – Vasco, sua grande paixão – entraram em campo com nomes de seus personagens nas camisas dos jogadores, fazendo “graça”: o Palmeiras perdeu e o Vasco só conseguiu um suado empate. Ainda bem que Chico foi homenageado também em outros campeonatos por todo o Brasil.

          Na última sexta-feira, fui assistir a peça “A mecânica das borboletas”, de Walter Daguerre, com direção de Paulo Moraes, no Centro Cultural Banco do Brasil, aqui em Brasília. No elenco, Ana Kutner, Otto Júnior, Suzana Faini e Eriberto Leão que, ao final do espetáculo pediu uma salva de palmas para homenagear Chico Anysio. Foi emocionante ver toda a plateia, em pé, aplaudir durante um bom tempo.
          O velório de Chico Anysio, sábado, foi no Teatro Municipal do Rio de Janeiro e nessa sua última passagem por esse templo da arte foi marcada por aplausos de tantos quantos por lá passaram. Maior ainda, acredito, foi o aplauso silencioso no coração de tantos que admiraram esse artista tão importante para arte brasileira e notadamente para o humor dessa nossa terra.

          Chico foi humorista, ator, dublador, escritor, compositor e pintor brasileiro. Nos anos 70, formou com o saudoso Arnaud Rodrigues (Antônio Arnaud Rodrigues) o grupo “Baiano & Os Novos Caetanos”, do qual fazia parte, também, Renato Piau (Renato Costa Ferreira). Do primeiro LP do grupo, onde Chico era o “Baiano” e Arnaud, o “Paulinho Boca de Profeta”, escolhi para esta homenagem a música “Selva de Feras”, de Arnaud Rodrigues e Orlandino.

   

          Um grande abraço para todos!

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