O falhado é um homem que errou
mas não é
capaz de converter o seu erro em experiência.
(Elbert
Hubbard)
Amigas e
Amigos,
Um shopping em Brasília-DF foi palco de uma ocorrência no último domingo,
29/04, que, pelas informações disponíveis até agora, somente provocou todo o
constrangimento noticiado pela impunidade que beneficia os delinqüentes nessas
Terras de Santa Cruz. Um médico, identificado como Heverton Octacílio de Campos
Menezes, de 62 anos, teria ofendido uma funcionária da bilheteria da área de
cinemas do shopping por que ela não foi conivente com a intenção dele de “furar
a fila”.
A funcionária da bilheteria, falando
para diversos meios de comunicação, informou que o médico teria dito que ela “era
muito grossa que era por isso que tinha essa cor, que estava no lugar errado,
que ali não era seu lugar, que não devia estar lidando com gente, devia estar
lidando com animal. E disse também que não deveria estar morando aqui que deveria
estar morando na África, cuidando de orangotangos”.
As câmeras de segurança do shopping mostram o referido médico saindo do cinema e descendo as escadas rolantes como se fugisse de algo. Existem relatos publicados de que a forma ostensiva com que o médico agrediu a funcionária acabou provocando uma reação contrária entre as pessoas que aguardavam na fila – as que o médico queria “passar para trás” – e que solicitaram mais respeito por parte do descontrolado cidadão.
Hoje, lendo a edição impressa do
Correio Braziliense, encontrei uma entrevista do medico Campos Menezes, em que
ele nega todas as acusações de discriminação racial contra a funcionária da
bilheteria, Marina Serafim dos Reis, de 25 anos, dizendo ainda que em nenhum
momento insultou a atendente. Segundo o Correio, o médico alegou:
ter dito apenas que ela estava sendo “descortês”. “Não entendo por que a palavra ‘descortês’ causou tanto mal entendido”. Questionado pelo Correio por qual motivo então teria fugido correndo, já que as imagens feitas pelo circuito de câmeras do shopping mostravam claramente isso, ele respondeu que, por conta do nervosismo da funcionária, as pessoas que estavam na fila ficaram muito exaltadas e ficou com medo de um linchamento. “No Brasil é muito comum as pessoas, a polícia, matarem ou baterem. Quis apenas preservar a minha integridade física”, disse.
Fico pensando que, mesmo para um grande
mestre do surrealismo, seria muito difícil pintar um “quadro” melhor do que a
alegação publicada pelo jornal. O “equilibrado” médico da alegação acima, ainda
conforme o Correio, “acumula, em 18 anos,
outras nove acusações na Polícia Civil do Distrito Federal. Entre as queixas
estão injúria discriminatória, desacato, agressão e lesão corporal”.
Em não havendo exagero nas informações
publicadas, talvez você também esteja com a mesma dúvida que me assola: como
que um indivíduo descontrolado como esse ainda não foi julgado por tantos
descalabros?
E tem mais uma informação preocupante,
publicada ontem no portal G1, informando que Campos Menezes:
atuava como psicanalista, em uma clínica no Lago Sul, área nobre de Brasília, mas, segundo a Sociedade de Psicanálise de Brasília, ele não tem formação na área. Segundo um representante do grupo, ele passou por três entrevistas e pelo exame de currículo, mas foi reprovado. Ele resolveu então criar uma entidade, a Associação da Refundação Psicanalítica Internacional, onde dava aulas.
Com todas essas versões para uma mesma história – onde, aparentemente, a
única coisa certa é a presença da arrogância e sua consequência primeira,
caracterizada pela sensação de superioridade em relação aos demais – lembrei de
uma história do livro “Contando Causos”, do múltiplo artista Rolando Boldrin
sobre uma versão carregada de fantasia para uma história de caçador.
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O MEDO DA ONÇA
Rolando Boldrin
Dentre todos os mentirosos que eu conheci, o mais engraçado deles era o
Zé Farol. Esse tinha um jeito especial de inventar suas histórias incríveis.
Como todo mentiroso, causo de onça era o que não faltava ao Zé Farol.
Tinha um punhado de mentira, cada uma melhor do que a outra.
Nesse causo que passo a contar agora, ao contrário de todo mentiroso que
começa contando vantagem, ele começou contando pra gente assim:
Zé Farol – Óia, gente. Esta que eu vou contar agora foi fogo,
porque eu sempre tive muito medo de onça. E num é que justamente uma das
grandes foi a que apareceu um dia que eu fui caçá? Apois bem: quando eu vi a
marvada, carpi os pé. Larguei espingarda, larguei tudo ali mêmo e saí
desembestado mata afora.
Ouvinte 1 – E daí, Zé? Conseguiu se livrar da onça?
Zé Farol – Que nada. Pois num é que a mardita garrô corrê atráis de
mim feito uma doida. E eu lá no meio daquele mato... correndo. E a onça atráis
pega num pega... tava chegando nos meu carcanhá.
Ouvinte 2 – Conta logo, Zé! Quero vê como ocê se livrô dessa
bitela...
Zé Farol – Carma, gente. Eu chego lá. Pois bem, corre que corre, a
onça quase me arcançando... De repente, eu trupiquei nuns graveto e tium... Caí
de boca no chão. Daí, eu desesperado me virei de barriga pra riba, pra móde num
morrê cumo um covarde de bruço pro chão. A onça veio vindo... vindo... me
oiando... me oiando... e quando chegou pertinho de mim, que tremia... ela ponhô
a pata direita em riba do meu peito... abriu aquele bocão bem na minha cara e
roncô bem arto... ansim: GREEEEEEEEEEEE (Zé imitando a onça). O barulho
do ronco bravo dela acho que dava para ouvi no arraia.
Todos (muito interessados) – E daí, Zé? O que que ocê fez?
Zé Farol – Me borrei tudo. Me sujei na carça.
Ouvinte 1 – Pois agora gostei de vê, Zé. Agora ocê provou que num
mente. Pois, com uma onça dessas com a pata no meu peito, até eu borrava. Me
sujava as carça também.
Zé Farol (calmo) – Não gente. Eu tô falando que me borrei, mas foi
agora que eu imitei o ronco arto da onça: GREEEEEEEEEEEEEEEEE...
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A música para esta Tertúlia traz uma história de um doutor que também deixou o título "subir à cabeça". Escrita por Edward de Marchi e interpretada pela dupla Biá & Dino Franco, pode-se ouvir, abaixo, "Lição de Moral".
Um grande
abraço e até a próxima!
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