sexta-feira, 29 de junho de 2012

GALERIA SERTANEJA – AUÊ UÊ UÊ Ê BOI!


O homem poderoso que junta a eloquência à audácia
torna-se num cidadão perigoso quando lhe falta bom senso.
(Eurípedes)



Amigas e Amigos,


O controle de salários da classe política brasileira lembra a fábula portuguesa sobre a raposa no galinheiro. Como a remuneração é definida pelos próprios beneficiados, é humanamente explicável a tentação imposta a esses setores pela própria circunstância. Isso é motivo para mais um aumento esdrúxulo proporcionado em benefício próprio pelos vereadores da cidade de Cravinhos-SP.





É interessante pensar sobre o salário médio dos professores do ensino fundamental de Cravinhos, como na maioria das cidades brasileiras, deve estar por volta de R$ 1.500,00. Se os professores pensarem em um aumento de 1% (R$ 15,00) ou 2% (R$ 30,00), provavelmente nenhum dos vereadores de Cravinhos ficará sensibilizado com essa ideia. Os professores, conforme temos visto em situações semelhantes, entrarão em greve, que somente terminará quando eles não aguentarem mais tanta indiferença e voltarão para o trabalho com algumas promessas e sem nada de concreto.

Assim como os professores, nenhuma classe trabalhadora pode definir seus aumentos salariais. Isso deveria ser estendido para todos os que são remunerados, principalmente para os que recebem a partir de verbas públicas, para se evitar notícias pouco agradável como a publicada pelo portal Folha.com, nesta quinta-feira, informando que:
A Câmara de Cravinhos (292 km de São Paulo) aprovou nesta quarta-feira (27) um reajuste salarial de 44% nos salários dos vereadores para o próximo mandato, passando dos atuais R$ 4.147 para R$ 6.000.O projeto de lei que estabeleceu o aumento foi protocolado na segunda-feira (25) e votado dois dias depois. De acordo com o presidente do Legislativo, Éder Agrella Alves (PSDB), a proposta foi aprovada por unanimidade.Segundo Alves, o índice foi discutido antes de o projeto ser apresentado, sendo estabelecido um consenso entre os nove parlamentares. "Todos concordaram com o novo valor", disse. Para justificar o aumento, ele afirma que os vereadores não tiveram reajustes na atual legislatura. "Se dividir esse reajuste aprovado [de 44%], dá 11% ao ano, que é um bom índice." Alves disse não considerar a decisão abusiva. "É justo sim. Trabalhamos muito, dia e noite. É uma atuação de responsabilidade e merece essa remuneração", afirmou.Em 2010, os vereadores de Cravinhos já haviam aumentado o número de vagas na Câmara para a próxima legislatura, de nove para 13 cadeiras. Reajustes de salários e do número de vereadores causaram polêmicas em outras Câmaras da região de Ribeirão Preto. Houve recuo em decisões tomadas em Ribeirão Preto, Jaboticabal, Franca, Araraquara, Bebedouro e Guariba.


Além do abuso – ou mau uso – de verbas públicas, as justificativas apresentadas parecem navegar entre o deboche e o cinismo. A aprovação por unanimidade, a concordância de todos os beneficiados com o novo valor e a explicação econômica para explicar como o índice de quase 50% não foi abusivo são verdadeiras pérolas, presentes em tantas situações semelhantes. Agora o trabalhar muito – dia e noite – extrapola qualquer texto que pudesse ser pensado para um roteiro cômico de sucesso.


Com essa carga de informações, lembrei de um personagem de uma música do saudoso compositor paulista Teddy Vieira (de Azevedo). E essa história, de um boiadeiro, penso que deixaria muitos que afirmam trabalhar muito - dia e noite - envergonhados (se ainda souberem o que significa vergonha). Para conferir, a letra está publicada abaixo.

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BOIADEIRO ERRANTE
                                  Teddy Vieira

Eu venho vindo de uma querência distante.
Sou um boiadeiro errante,
Que nasceu naquela serra.
O meu cavalo corre mais que o pensamento,
Ele vem no passo lento
Porque ninguém me espera!


Tocando a boiada – Auê  uê uê ê boi! –
Eu vou cortando estrada – Uê boi!
Tocando a boiada – Auê-uê-uê-ê boi! –
Eu vou cortando estrada!

Toque o berrante com capricho, Zé Vicente,
Mostre para essa gente
O clarim das alterosas.
Pegue no laço, não se entregue companheiro,
Chame o cachorro campeiro
Que essa rês é perigosa!

Olhe na janela – Auê uê uê ê boi! –
Que linda donzela – Uê boi!
Olhe na janela - Auê uê uê ê boi! -
Que linda donzela!

Sou boiadeiro, minha gente o que é que há?
Deixe o meu gado passar,
Vou cumprir com a minha sina.
Lá na baixada quero ouvir a siriema,
Prá lembrar de uma pequena
Que eu deixei lá em Minas!

Ela é culpada – Auê  uê uê ê boi! –
De eu viver nas estradas – Uê boi!
Ela é culpada – Auê  uê uê ê boi! –
De eu viver nas estradas!

O rio tá calmo e a boiada vai nadando.
Olhe aquele boi berrando,
Chico Bento corre lá!
Lace o mestiço, salve ele das piranhas,
Tire o gado da campanha
Pra viagem continuar!

Com destino a Goiás – Auê  uê uê ê boi! –
Deixei Minas Gerais – Uê boi!
Com destino a Goiás – Auê  uê uê ê boi! –
Deixei Minas Gerais – Uê boi!


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Na Galeria Sertaneja de hoje, a interpretação de “Boiadeiro Errante” é da dupla que gravou essa música em 1959, os irmão Liu e Léu.


         

 Um grande abraço e até a próxima!

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