quarta-feira, 27 de outubro de 2010

TERTÚLIA NATIVA - O começo da briga

     Minha amiga e meu amigo!

     Na nossa Tertúlia de hoje, vamos apresentar um causo do saudoso Aparício Silva Rillo. Rillo nasceu em Porto Alegre, no dia 8 de agosto de 1931[1] e faleceu em 1995, em São Borja[2].  No Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, sobre ele, encontramos que:
É considerado um dos grandes poetas da cultura nativa do Rio Grande do Sul. Entre suas obras publicadas destaca-se o clássico "Rapa de Tacho". Teve diversos sucessos em parceria com Luis Carlos Borges e Mário Barbará Dornelles. Pedro Ortaça gravou inúmeras de suas composições, entre as quais "Milonga dos ancestrais", "Décima do sorro", "Changueiro" e "Surungo no campo fundo", parceria dos dois. Entre suas composições destacam-se ainda "Vidro dos olhos", "Noite, penas y guitarra" e "Xote do sul".[3]
     Aparício Silva Rillo é o autor do causo de publicamos abaixo, deixando claro que não encontramos qualquer relação entre o mesmo e a forma como tem sido apresentado o horário de propaganda eleitoral gratuita nessas últimas semanas. Deixando de história, vamos ao “causo”!

O COMEÇO DA BRIGA

      O delegado fala ao depoente: 
     - O senhor foi intimado para depor sobre a violenta briga acontecida ontem no seu armazém, lá no interior de São Borja . Cinco mortos, oito feridos, uma barbaridade... 
     - No meu bolicho, seu delegado? Quem sou eu para ter armazém? Armazém é do turco Salim, que foi mascate. Por sinal que... 
     - Não desvie do assunto. Como e porque começou a briga? 
     - Bueno, pois então, historiemo a coisa. Domingo, como o senhor sabe, o meu bolicho fica de gente que nem corvo em carniça de vaca atolada. O doutor entende: peonada no más, loucos por um trago, por uma charla sobre china. A minha canha é da pura, não batizo com água de poço como o turco Salim. Que por sinal... 
     - Continue, continue, deixe o turco em paz.
     - Pois, então, bamo reto que nem goela de joão-grande. Tavam uns trinta home tomando umas que outras, uns mascando salame pra enganar o bucho, quando chegou o Taio Feio. O senhor sabe, o índio é mais metido que dedo em nariz de piá; deu um planchaço de adaga no balcão e perguntou se havia home no bolicho. [...] O Lautério - que não é flor de cheirar com pouca venta - disse que era com ele mesmo; deu de mão numa tranca e rachou a cabeça do Taio Feio. Um contraparente do Taio Feio não gostou do brinquedo e sentou a argola do mango no Lautério. Pegou no olho - lá nele - e o Lautério saiu ganiçando como cusco que levou água fervendo pelo lombo. Um amigo do Lautério se botou no contraparente do Taio - que já tava batendo a perninha - e enfiou palmo e meio de ferro branco no sovaco do cujo, que lhe chamam Pé de Sarna. Um irmão do Sarna, chateado com aquilo, pegou um peso de cinco quilos da balança e achatou a cabeça do homem que faqueou o Sarna. Os óio saltaram, seu doutor! E eu só olhando, achando tudo aquilo um tempo perdido. Um primo do homem do ferro branco rebuscou um machado no galpão e golpeou o irmão do Sarna. Errou a cabeça, só conseguiu atorar o braço do vivente. Aí eu fui ficando nervoso, puxei meu berro pro mole da barriga, pronto pra um quero. Meu bolicho é casa de respeito, seu delegado, e a brincadeira já tava ficando pesada. Mas bueno, foi entonces que o Miguelão se alevantou do banco, palmeou uma carneadeira, chegou por trás do homem do machado, pé que te pé, grudou ele pelas melena e degolou o vivente num talho, a coisa mais linda! O sangue jorrou longe [...]. Aí eu e mais uns outros - tudo home de respeito - se arrevoltemo com aquilo. Brinquedo tem hora, o senhor não acha? 
     - Acho, sim. Mas e ai? 
     - Pois, como lhe disse, nós se arrevoltemo e saquemo os talher. E foi aí que começou a briga, seu delegado...

       No espaço abaixo, Osvaldir e Carlos Magrão cantam, de Aparício Silva Rillo e Pedro Ortaça, o "Surungo no Campo Fundo", que foi citada no início desta postagem. Se você já conhecia, pode ouvir de novo. Se você não conhecia, é uma oportunida para conhecer um pouco mais da obra deste poeta, compositor e escritor gaúcho.


     E por aqui, encerramos a nossa Tertúlia Nativa desta semana! Aguardamos seus comentários e suas críticas para continuarmos, juntos, melhorando nosso blog.

     Um grande abraço!

Wilmar Machado

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