Amigas e Amigos,
Nesta Galeria Sertaneja, por mais que eu procure falar de qualquer outro assunto, não tem como deixar de comentar a tragédia ocorrida, hoje, em uma escola no Rio de Janeiro-RJ. Até o momento em que estou escrevendo, foram constatadas 12 mortes de adolescentes com idades entre 12 e 15 anos, baleados por um transtornado jovem assassino de 24 anos, na escola municipal Tasso da Silveira, em Realengo, na zona oeste do Rio.
A notícia se espalhou pelo mundo, por não ser o Brasil um país onde esse tipo de crime em colégios apresentasse registros anteriores. A violência contra menores por aqui acontece escondida dentro das próprias residências, mas – como racismo, homofobia e outras vergonhas que carregamos – preferimos “fazer de conta” que está tudo bem por aqui.
O momento não é de buscarmos culpados – o criminoso está morto – mas de refletirmos sobre o que pode ser feito para diminuir esses desatinos. O sofrimento dos familiares e amigos dessas crianças não pode ser em vão. A presença de armas em escolas é muito comum, mas servem, na maioria das vezes para uma ameaça ou alguma outra demonstração de “poder”, tolerada pela sociedade – por nós –, acreditando que está muito distante de nossas vidas.
Se pensarmos nas leis de nosso país, não conseguiremos, provavelmente, imaginar como uma arma poderia parar na mão do responsável pelo massacre de Realengo (e ele tinha dois revólveres). Um potencial desequilibrado (segundo depoimento de parentes) armado e sabe-se lá desde quando. Necessitamos, cada vez mais, desarmar a população. Mas necessitamos, e muito, de um judiciário que troque declarações rebuscadas e enroladas por práticas que garantam bandidos em cadeias e cidadãos circulando sem tanto medo. Penas leves e diminuídas – com indultos dos mais diversos – incentivam, e muito, a violência pela certeza de impunidade.
Para externar a nossa solidariedade a todos os familiares das pequenas vítimas da chacina de Realengo, fui buscar no cancioneiro gaúcho das Califórnias da Canção, de Uruguaiana, a música de João Batista Machado e Júlio Machado da Silva Neto, na interpretação do saudoso Cezar Passarinho, “Guri”.
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GURI
Composição: J.B.Machado e J.M.S.Neto
Intérprete: Cezar Passarinho
Das roupas velhas do pai queria que a mãe fizesse
Uma mala de garupa e uma bombacha e me desse
Queria boinas e alpargatas e um cachorro companheiro
Pra me ajudar a botar as vacas no meu petiço sogueiro
Hei de ter uma tabuada e o meu livro "Queres Ler"
Vou aprender a fazer contas e algum bilhete escrever
Pra que a filha do seu Bento saiba que ela é meu bem querer
E se não for por escrito eu não me animo a dizer
Quero gaita de oito baixos pra ver o ronco que sai
Botas feitio do Alegrete e esporas do Ibirocai
Lenço vermelho e guaiaca compradas lá no Uruguai
Pra que digam quando eu passe saiu igualzito ao pai
E se Deus não achar muito tanta coisa que eu pedi
Não deixe que eu me separe deste rancho onde nasci
Nem me desperte tão cedo do meu sonho de guri
E de lambuja permita que eu nunca saia daqui
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Abaixo, uma interpretação do Cezar Passarinho, acompanhado pelo Borghettinho, no programa Galpão Crioulo, na RBS, de Porto Alegre-RS.
Um grande abraço e até a próxima!
Wilmar Machado
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