Quando o homem aprender a respeitar até o menor ser da criação,
seja animal ou vegetal, ninguém precisará ensiná-lo a amar seus semelhantes.
Amigas e Amigos,
Em nota no “Cotidiano”, na Folha de São Paulo (http://www.folha.uol.com.br), hoje, aparecem fortes indícios do envolvimento do MEC na distribuição de um kit pornográfico, com oportunista razão de ser anti-homofobia, para as escolas. O ministro Fernando Haddad, da Educação, nega – na mesma linha de um outro governante com o qual trabalhou e que sempre se deu bem, negando até mesmo quando as evidências não permitiam – que o MEC seja responsável pela distribuição do referido kit.
Na matéria da Folha, tem-se que:
Se aprovado pelo ministério, o Kit ( três vídeos sobre transexualidade, bissexualidade e meninas lésbicas) poderá ser repassado para estudantes do ensino médio das escolas públicas. Segundo o ministro, o kit foi entregue ontem a pasta e será avaliado pela comissão de publicação do órgão, que vai ouvir secretários estaduais e municipais sobre o conteúdo. Também serão chamados para discutir o kit deputados da bancada evangélica, católica e da frente parlamentar de defesa da família. O ministro foi chamado hoje às pressas para explicar o kit para as bancadas religiosas da Câmara que haviam anunciado ontem que "não votariam" nenhuma matéria caso o material não fosse recolhido. Parlamentares da bancada evangélica sustentam que o material já está sendo divulgado. Haddad disse que o MEC não distribuiu o material, mas não quis apontar o vazamento. Deputados que participaram da reunião disseram que no encontro o ministro atribuiu a divulgação do Kit, que não estaria pronto, à empresa responsável pela produção. O ministro disse à Folha que o material que não seria do MEC contém cenas de sexo explícito. Na reunião, deputados mostraram uma cartilha que tem o símbolo do MEC que fala, por exemplo, de masturbação e ainda uma cartilha com símbolo do Ministério da Saúde com ilustrações com cenas de sexo entre dois homens.
A partir da ação atabalhoada do ministro, ficou-me a questão sobre até que ponto o tal kit pode ser relacionado à educação, ou mais especificamente, à formação dos alunos. Ensina-los respeito e ética, e torna-los agentes de inclusão, passa por um trabalho muito além de demagógicas campanhas.
Um projeto sério para a educação no país e pessoas comprometidas – sem demagogias – com uma mudança cultural, pode levar a um renovado país em que a partida de uma comunidade pobre, de uma região discriminada, não seja tão triste como a apresentada por Antônio Gonçalves da Silva – o Patativa do Assaré – na poesia abaixo, que virou música na voz e sanfona de Luiz Gonzaga, o mestre Lua.
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TRISTE PARTIDA
Patativa do Assaré
Meu Deus, meu Deus...
Setembro passou / Outubro e Novembro
Já tamo em Dezembro / Meu Deus, que é de nós,
Meu Deus, meu Deus / Assim fala o pobre
Do seco Nordeste / Com medo da peste
Da fome feroz / Ai, ai, ai, ai...
A treze do mês / Ele fez experiência
Perdeu sua crença / Nas pedras de sal,
Meu Deus, meu Deus / Mas noutra esperança
Com gosto se agarra / Pensando na barra
Do alegre Natal / Ai, ai, ai, ai...
Rompeu-se o Natal / Porém barra não veio
O sol bem vermeio / Nasceu muito além
Meu Deus, meu Deus / Na copa da mata
Buzina a cigarra / Ninguém vê a barra
Pois a barra não tem / Ai, ai, ai, ai...
Sem chuva na terra / Descamba Janeiro,
Depois fevereiro / E o mesmo verão
Meu Deus, meu Deus / Entonce o nortista
Pensando consigo / Diz: "isso é castigo
não chove mais não" / Ai, ai, ai, ai
Apela pra Março / Que é o mês preferido
Do santo querido / Senhor São José
Meu Deus, meu Deus / Mas nada de chuva
Tá tudo sem jeito / Lhe foge do peito
O resto da fé / Ai, ai, ai, ai...
Agora pensando / Ele segue outra tria
Chamando a famia / Começa a dizer
Meu Deus, meu Deus / Eu vendo meu burro
Meu jegue e o cavalo / Nós vamos a São Paulo
Viver ou morrer / Ai, ai, ai, ai...
Nós vamos a São Paulo / Que a coisa tá feia
Por terras alheia / Nós vamos vagar
Meu Deus, meu Deus / Se o nosso destino
Não for tão mesquinho / Cá e pro mesmo cantinho
Nós torna a voltar / Ai, ai, ai, ai...
E vende seu burro / Jumento e o cavalo
Inté mesmo o galo / Venderam também
Meu Deus, meu Deus / Pois logo aparece
Feliz fazendeiro / Por pouco dinheiro
Lhe compra o que tem / Ai, ai, ai, ai...
Em um caminhão / Ele joga a famia
Chegou o triste dia / Já vai viajar
Meu Deus, meu Deus / A seca terrível
Que tudo devora / Lhe bota pra fora
Da terra natá / Ai, ai, ai, ai...
O carro já corre / No topo da serra
Oiando pra terra / Seu berço, seu lar
Meu Deus, meu Deus / Aquele nortista
Partido de pena / De longe acena
Adeus meu lugar / Ai, ai, ai, ai...
No dia seguinte / Já tudo enfadado
E o carro embalado / Veloz a correr
Meu Deus, meu Deus / Tão triste, coitado
Falando saudoso / Seu filho choroso
Exclama a dizer / Ai, ai, ai, ai...
De pena e saudade / Papai sei que morro
Meu pobre cachorro / Quem dá de comer?
Meu Deus, meu Deus / Já outro pergunta
Mãezinha, e meu gato? / Com fome, sem trato
Mimi vai morrer / Ai, ai, ai, ai
E a linda pequena / Tremendo de medo
"Mamãe, meus brinquedo / Meu pé de fulô?"
Meu Deus, meu Deus / Meu pé de roseira
Coitado, ele seca / E minha boneca
Também lá ficou / Ai, ai, ai, ai
E assim vão deixando / Com choro e gemido
Do berço querido / Céu lindo azul
Meu Deus, meu Deus / O pai, pesaroso
Nos filho pensando / E o carro rodando
Na estrada do Sul / Ai, ai, ai, ai...
Chegaram em São Paulo / Sem cobre quebrado
E o pobre acanhado / Procura um patrão
Meu Deus, meu Deus / Só vê cara estranha
De estranha gente / Tudo é diferente
Do caro torrão / Ai, ai, ai, ai...
Trabaia dois ano, / Três ano e mais ano
E sempre nos prano / De um dia vortar
Meu Deus, meu Deus / Mas nunca ele pode
Só vive devendo / E assim vai sofrendo
É sofrer sem parar / Ai, ai, ai, ai...
Se arguma notícia / Das banda do norte
Tem ele por sorte / O gosto de ouvir
Meu Deus, meu Deus / Lhe bate no peito
Saudade lhe molho / E as água nos óio
Começa a cair / Ai, ai, ai, ai...
Do mundo afastado / Ali vive preso
Sofrendo desprezo / Devendo ao patrão
Meu Deus, meu Deus / O tempo rolando
Vai dia e vem dia / E aquela famia
Não vorta mais não / Ai, ai, ai, ai...
Distante da terra / Tão seca mas boa
Exposto à garoa / À lama e o paú
Meu Deus, meu Deus / Faz pena o nortista
Tão forte, tão bravo / Viver como escravo
No Norte e no Sul / Ai, ai, ai, ai...
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E a música de hoje, para mostrar que inclusão pode ser feita com bom humor, independente do nojento “politicamente correto” que acompanha sempre os mau humorados e azedotes mal amados, é de Juraíldes da Cruz, compositor e cantador do Tocantins, e tem por título “Nóis e Jeca mais é jóia”.
Um grande abraço e até a próxima,
Wilmar Machado
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