quarta-feira, 18 de maio de 2011

TERTÚLIA NATIVA - TRISTE PARTIDA E NÃO MENOS TRISTE KIT

Quando o homem aprender a respeitar até o menor ser da criação,
seja animal ou vegetal, ninguém precisará ensiná-lo a amar seus semelhantes.

Amigas e Amigos,

                Em nota no “Cotidiano”, na Folha de São Paulo (http://www.folha.uol.com.br), hoje, aparecem fortes indícios do envolvimento do MEC na distribuição de um kit pornográfico, com oportunista razão de ser anti-homofobia, para as escolas. O ministro Fernando Haddad, da Educação, nega – na mesma linha de um outro governante com o qual trabalhou e que sempre se deu bem, negando até mesmo quando as evidências não permitiam – que o MEC seja responsável pela distribuição do referido kit.

                Na matéria da Folha, tem-se que:
Se aprovado pelo ministério, o Kit ( três vídeos sobre transexualidade, bissexualidade e meninas lésbicas) poderá ser repassado para estudantes do ensino médio das escolas públicas. Segundo o ministro, o kit foi entregue ontem a pasta e será avaliado pela comissão de publicação do órgão, que vai ouvir secretários estaduais e municipais sobre o conteúdo. Também serão chamados para discutir o kit deputados da bancada evangélica, católica e da frente parlamentar de defesa da família. O ministro foi chamado hoje às pressas para explicar o kit para as bancadas religiosas da Câmara que haviam anunciado ontem que "não votariam" nenhuma matéria caso o material não fosse recolhido. Parlamentares da bancada evangélica sustentam que o material já está sendo divulgado. Haddad disse que o MEC não distribuiu o material, mas não quis apontar o vazamento. Deputados que participaram da reunião disseram que no encontro o ministro atribuiu a divulgação do Kit, que não estaria pronto, à empresa responsável pela produção. O ministro disse à Folha que o material que não seria do MEC contém cenas de sexo explícito. Na reunião, deputados mostraram uma cartilha que tem o símbolo do MEC que fala, por exemplo, de masturbação e ainda uma cartilha com símbolo do Ministério da Saúde com ilustrações com cenas de sexo entre dois homens.

                A partir da ação atabalhoada do ministro, ficou-me a questão sobre até que ponto o tal kit pode ser relacionado à educação, ou mais especificamente, à formação dos alunos. Ensina-los respeito e ética, e torna-los agentes de inclusão, passa por um trabalho muito além de demagógicas campanhas.



                Um projeto sério para a educação no país e pessoas comprometidas – sem demagogias – com uma mudança cultural, pode levar a um renovado país em que a partida de uma comunidade pobre, de uma região discriminada, não seja tão triste como a apresentada por Antônio Gonçalves da Silva – o Patativa do Assaré – na poesia abaixo, que virou música na voz e sanfona de Luiz Gonzaga, o mestre Lua.

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TRISTE PARTIDA
                                              Patativa do Assaré

Meu Deus, meu Deus...


Setembro passou / Outubro e Novembro 
Já tamo em Dezembro / Meu Deus, que é de nós, 
Meu Deus, meu Deus / Assim fala o pobre 
Do seco Nordeste / Com medo da peste 
Da fome feroz / Ai, ai, ai, ai...


A treze do mês / Ele fez experiência 

Perdeu sua crença / Nas pedras de sal, 
Meu Deus, meu Deus / Mas noutra esperança 
Com gosto se agarra / Pensando na barra 
Do alegre Natal / Ai, ai, ai, ai...


Rompeu-se o Natal / Porém barra não veio 

O sol bem vermeio / Nasceu muito além 
Meu Deus, meu Deus / Na copa da mata 
Buzina a cigarra / Ninguém vê a barra 
Pois a barra não tem / Ai, ai, ai, ai...


Sem chuva na terra / Descamba Janeiro, 

Depois fevereiro / E o mesmo verão 
Meu Deus, meu Deus / Entonce o nortista 
Pensando consigo / Diz: "isso é castigo 
não chove mais não" / Ai, ai, ai, ai


Apela pra Março / Que é o mês preferido 

Do santo querido / Senhor São José 
Meu Deus, meu Deus / Mas nada de chuva 
Tá tudo sem jeito / Lhe foge do peito 
O resto da fé / Ai, ai, ai, ai...


Agora pensando / Ele segue outra tria 

Chamando a famia / Começa a dizer 
Meu Deus, meu Deus / Eu vendo meu burro 
Meu jegue e o cavalo / Nós vamos a São Paulo 
Viver ou morrer / Ai, ai, ai, ai...


Nós vamos a São Paulo / Que a coisa tá feia 

Por terras alheia / Nós vamos vagar 
Meu Deus, meu Deus / Se o nosso destino 
Não for tão mesquinho / Cá e pro mesmo cantinho 
Nós torna a voltar / Ai, ai, ai, ai...


E vende seu burro / Jumento e o cavalo 

Inté mesmo o galo / Venderam também 
Meu Deus, meu Deus / Pois logo aparece 
Feliz fazendeiro / Por pouco dinheiro 
Lhe compra o que tem / Ai, ai, ai, ai...


Em um caminhão / Ele joga a famia 

Chegou o triste dia / Já vai viajar 
Meu Deus, meu Deus / A seca terrível 
Que tudo devora / Lhe bota pra fora 
Da terra natá / Ai, ai, ai, ai...


O carro já corre / No topo da serra 

Oiando pra terra / Seu berço, seu lar 
Meu Deus, meu Deus / Aquele nortista 
Partido de pena / De longe acena 
Adeus meu lugar / Ai, ai, ai, ai...


No dia seguinte / Já tudo enfadado 

E o carro embalado / Veloz a correr 
Meu Deus, meu Deus / Tão triste, coitado 
Falando saudoso / Seu filho choroso 
Exclama a dizer / Ai, ai, ai, ai...


De pena e saudade / Papai sei que morro 

Meu pobre cachorro / Quem dá de comer? 
Meu Deus, meu Deus / Já outro pergunta 
Mãezinha, e meu gato? / Com fome, sem trato 
Mimi vai morrer / Ai, ai, ai, ai


E a linda pequena / Tremendo de medo 

"Mamãe, meus brinquedo / Meu pé de fulô?" 
Meu Deus, meu Deus / Meu pé de roseira 
Coitado, ele seca / E minha boneca 
Também lá ficou / Ai, ai, ai, ai


E assim vão deixando / Com choro e gemido 

Do berço querido / Céu lindo azul 
Meu Deus, meu Deus / O pai, pesaroso 
Nos filho pensando / E o carro rodando 
Na estrada do Sul / Ai, ai, ai, ai...


Chegaram em São Paulo / Sem cobre quebrado 

E o pobre acanhado / Procura um patrão 
Meu Deus, meu Deus / Só vê cara estranha 
De estranha gente / Tudo é diferente 
Do caro torrão / Ai, ai, ai, ai...


Trabaia dois ano, / Três ano e mais ano 

E sempre nos prano / De um dia vortar 
Meu Deus, meu Deus / Mas nunca ele pode 
Só vive devendo / E assim vai sofrendo 
É sofrer sem parar / Ai, ai, ai, ai...


Se arguma notícia / Das banda do norte 

Tem ele por sorte / O gosto de ouvir 
Meu Deus, meu Deus / Lhe bate no peito 
Saudade lhe molho / E as água nos óio 
Começa a cair / Ai, ai, ai, ai...


Do mundo afastado / Ali vive preso 

Sofrendo desprezo / Devendo ao patrão 
Meu Deus, meu Deus / O tempo rolando 
Vai dia e vem dia / E aquela famia 
Não vorta mais não / Ai, ai, ai, ai...


Distante da terra / Tão seca mas boa 

Exposto à garoa / À lama e o paú 
Meu Deus, meu Deus / Faz pena o nortista 
Tão forte, tão bravo / Viver como escravo 
No Norte e no Sul / Ai, ai, ai, ai...


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                E a música de hoje, para mostrar que inclusão pode ser feita com bom humor, independente do nojento “politicamente correto” que acompanha sempre os mau humorados e azedotes mal amados, é de Juraíldes da Cruz, compositor e cantador do Tocantins, e tem por título “Nóis e Jeca mais é jóia”.



                Um grande abraço e até a próxima,

Wilmar Machado

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