sexta-feira, 17 de junho de 2011

GALERIA SERTANEJA - MEU CÉU E POBRE DA MINHA TERRA

Olhe para a pessoa que lhe causa aborrecimento
e tire proveito da oportunidade para controlar a própria ira e desenvolver a compaixão.
Entretanto, se o aborrecimento for muito grande
ou se você achar a pessoa tão desagradável que seja impossível agüentá-la,
talvez seja melhor sair correndo!
(Dalai Lama)

Amigas e Amigos,

               Na Galeria Sertaneja de hoje tem música de Zé Mulato (que no próximo domingo se apresenta com seu irmão Cassiano no projeto Itaú Cultural, na Avenida Paulista, em São Paulo-SP) em parceria com o saudoso Xavantinho (da saudosa dupla Pena Branca & Xavantinho).



               Antes de apresentar a música de hoje, quero comentar duas notícias publicadas em um intervalo inferior a um mês. Começo pela matéria do dia 20 de maio passado do portal ADITAL (http://www.adital.com.br), sobre reforma agrária: 
Conforme previsto no Orçamento 2011 do governo federal, a presidenta Dilma Rousseff autorizou, esta semana, a liberação de R$ 530 milhões, até julho, em recursos para compra de terra para reforma agrária. O valor, no entanto, será insuficiente. É o que avalia José Batista Oliveira, membro da coordenação do Movimento dos Trabalhadores(as) Rurais Sem-terra (MST). José Batista relata que, se forem contabilizadas as terras com processo já pronto para desapropriação no Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), seria necessário um recurso entre 800 milhões e 1 bilhão de reais. "Tem processo pronto para publicar o decreto e pagar e, se não for feito, pode caducar e vamos perder todo o procedimento”, explica. O coordenador avalia que, apesar de considerar a liberação dos recursos uma conquista, os movimentos de luta no campo terão que pressionar o governo para complementar o orçamento e contemplar mais famílias. "Hoje, só os trabalhadores organizados no MST somam 100 mil famílias acampadas”, ressalta. Batista acredita que a efetivação do recurso prevista no orçamento abre caminho para a negociação. [...] Sobre o Plano Safra, José Batista acredita que, apesar da existência dos recursos, é preciso atentar para outro problema: o endividamento dos assentados. "O Plano funciona para quem já tem um nível de produção avançado. Mas para famílias descapitalizadas, que acabaram de ser assentadas, tendo deixado a lona do acampamento, é difícil acessar o recurso”, avalia. Ele afirma que o governo sinalizou a iniciativa de realizar um estudo para identificar os fatores de inadimplência. Os anúncios do governo federal foram feitos por ocasião do Grito da Terra, mobilização anual organizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), que se realiza esta semana em Brasília. Para José Batista, apesar de algumas especificidades, a pauta de luta das questões do campo se aproximam. "Se temos problemas de orçamento ou de estruturação do Incra, isso afeta todos os movimentos”, cita como exemplo. A Jornada de Lutas do MST, por sua vez, é realizada tradicionalmente no mês de abril.

               Eu não consigo achar natural essa forma, aparentemente leviana, de tratar o dinheiro público, considerando somas estratosféricas como se fosse merreca. Vendo que o dinheiro insuficiente é para atender “demandas reprimidas” do MST, aproveito para destacar, a seguir, a matéria publicada no portal Terra (http://www.terra.com.br), hoje:
O chefe da Delegacia de Polícia Federal de Presidente Prudente (a 558 km de São Paulo), Ronaldo de Góes Carrer, que coordenou a operação que prendeu nesta quinta-feira nove pessoas ligadas ao movimento dos trabalhadores sem terra, divulgou nesta quinta-feira que os motivos das prisões seriam crimes de estelionato, extorsão, peculato, apropriação indébita, crimes contra o meio ambiente e formação de quadrilha. A Operação Desfalque prendeu cinco homens, entre eles, entre eles, o líder dissidente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), José Rainha Júnior, e quatro mulheres. Eles serão mantidos presos temporariamente por pelo menos cinco dias, período que pode ser revogado (SIC)  por mais cinco, até a conclusão do inquérito. [...] De acordo com a Polícia Federal, as nove pessoas são investigadas sob a acusação de fazerem parte de uma organização criminosa que estaria usando a bandeira da reforma agrária para vantagens próprias. Através de pessoas jurídicas, eles teriam montado associações, cooperativas e institutos, que seriam presididos por pessoas de confiança dos líderes para gerir os recursos. De acordo com as investigações, essas pessoas ficavam encarregadas de receber o benefício dos programas sociais do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) que deveriam ser repassados aos assentados, o que não acontecia. Os líderes teriam se apropriado da maior parte dos recursos, configurando apropriação indébita. Ainda conforme a PF, o crime ambiental é por conta da Extração irregular de eucalipto e pinos em uma área de preservação permanente na região de Araçatuba. A madeira teria sido vendida e o dinheiro embolsado pelos líderes. Já o crime de extorsão se deve a denúncia de que alguns líderes teriam ameaçado fazendeiros de áreas invadidas para fazer-lhe ameaças de mais danos, condicionando o fim das ações ao pagamento de certa quantia, que seria retido pela liderança. De acordo com a denúncia, eles ainda se apropriavam do dinheiro enviado pelo Incra para bancar as invasões sob a condição do movimento apoiar a manutenção de um servidor no cargo de chefia do Instituto. Ainda durante as investigações, a PF descobriu que os integrantes da liderança recebiam cestas básicas do governo federal que deveriam ser repassadas aos acampados. No entanto, os alimentos teriam sido vendidos aos assentados.

               Em sendo verdade tudo o que foi publicado até aqui, pode-se multiplicar por 100, ou até por mais, as quantias citadas na primeira matéria e, ainda assim, o Brasil estará muito distante de um eficiente reforma agrária, pois bandidos estarão desviando dinheiro que poderia estar contribuindo para uma nova realidade rural em nosso país.

               Com todos esses imbróglios instituídos, só é possível acreditar que a produção, no campo, ainda tem jeito se pensarmos no relacionamento entre o sertanejo e a terra, que pode ser percebido pelo ode de amor a uma localidade encontrado na música “Meu céu”, de Zé Mulato e Xavantinho.

=================================

MEU CÉU

                                 Zé Mulato e Xavantinho


Armo a rede na varanda afino minha viola
Sabiá canta comigo mando a tristeza embora
No lugar aonde eu moro solidão não me amola
Quando eu faço um ponteado a cabocla cantarola

Não é o céu conforme eu aprendi
Mas se Deus achar por bem
Pode me deixar aqui

Quando vai chegando a noite e a natureza desmaia
O sereno vem caindo na folha da samambaia
Eu vou na biquinha d'água e tiro suor do rosto
Esperando a comidinha temperada com bom gosto

Não é o céu conforme eu aprendi
Mas se Deus achar por bem
Pode me deixar aqui

Chamo a lua pra cantiga ao som da modinha boa
E misturo a cantoria com os bichos da lagoa
Urutau canta doído, sapo-boi marca o compasso
Afinados no bordão da viola nos meus braços

Não é o céu conforme eu aprendi
Mas se Deus achar por bem
Pode me deixar aqui

Noite alta vou dormir para acordar bem cedinho
Pois não perco a alvorada no cantar dos passarinhos
Pra me desejar bom dia coroar o meu sossego
Eu recebo a visita do cuitelinho azulego

Não é o céu conforme eu aprendi
Mas se Deus achar por bem
Pode me deixar aqui

=================================

A música de hoje traz a interpretação da dupla Zé Mulato & Cassiano.


Um grande abraço e até a próxima postagem,

Wilmar Machado

Nenhum comentário:

Postar um comentário