O mistério da encarnação repete-se em cada mãe:
toda criança que nasce é Deus que se faz homem.
(Simone de Beauvoir)
Amigas e Amigos,
Para a Tertúlia de hoje, escolhi um causo – fictício – que ficou até meio sem graça quando encontrei na página de Notícias do portal UOL (http://noticias.uol.com.br), um causo – real – com um enredo de fazer inveja a qualquer ficcionista. A manchete no citado portal diz que um pai-de-santo foi preso agora, 22 anos após um homicídio, em ritual de magia negra, pelo qual foi condenado.
Com essas informações do título da matéria, pensei que finalmente haviam conseguido prender um bandido foragido após um longo período na clandestinidade. Porém, quando o assunto tem a ver com justiça, lógica é uma parte da filosofia que carece de fundamento.
A matéria associada a manchete referida diz que:
O pai de santo Willian Domingos da Silva, condenado por matar um menino de quatro anos durante um ritual de magia negra, foi preso 22 anos depois de cometer o crime. Ele foi acusado pelo Ministério Publico de sacrificar Michel Mendes em abril de 1989, no Setor Rio Formoso, em Goiânia (GO). O inquérito ficou parado desde o fato até 1998, quando foram retomadas as investigações. Silva foi julgado pelo 1º Tribunal do Júri de Goiânia e condenado, em janeiro de 2009, a 19 anos de prisão por homicídio triplamente qualificado: crime cometido por motivo torpe, com uso de meio cruel e de recurso que impossibilitou a defesa da vítima. Logo depois da condenação, começaram os recursos. O último pedido ao STF (Supremo Tribunal Federal) foi negado, e agora o réu terá de cumprir a pena. Willian ainda acredita que não deveria ter sido condenado, pois as motivações do crime foram além das vontades dele, que teria sido guiado por entidades superiores. O pai de santo ficou em liberdade e na direção do terreiro de candomblé onde ocorreu o fato, que permaneceu aberto durante todos estes anos. Segundo ele, o que resta agora é cumprir a pena. “Já que fui condenado, vou cumprir o que foi determinado”, afirmou.
Nessa primeira parte da matéria, pode-se ver que o assassinato de um menino de quatro anos, que não apresentava condições de qualquer tipo de resistência, aconteceu em abril de 1989. Quase dez anos depois – 1998 – o inquérito estava parado.
Depois desses quase 10 anos parados, em “apenas” onze anos o 1º Tribunal do Júri julgou e condenou o assassino. Quase vinte anos após o execrável crime, saiu uma sentença e começaram os recursos.
Passados mais dois anos, o último pedido ao STF foi negado. Nesses 22 anos após cometer esse torpe crime, o ordinário assassino continuava dirigindo seu terreiro e, sabe-se lá, se não repetiu semelhantes rituais de magia negra (ou de outros tons escuros) no período, de forma mais bem planejada e executada.
Na continuação da matéria, aparecem detalhes sobre o crime que levou a essa condenação com toda a “agilidade” possível:
Na denúncia do Ministério Público, consta que a criança foi morta em um ritual no terreiro de candomblé Axé Ilê Oxalufá. Laudos cadavéricos e o depoimento de uma testemunha que já morreu incriminaram Silva. A esteticista Elsa Soares da Silva, que teria sido a mandante do crime, foi condenada a 18 anos de prisão. Contra ela, pesou o fato de terem sido encontrados em sua residência objetos iguais aos usados durante o ritual. O processo foi desmembrado antes do julgamento, para não haver conflito na defesa dos dois. Elsa mora no exterior, e aguarda em liberdade o resultado dos recursos. Segundo o MP, Elsa estaria decepcionada com sua vida amorosa, por isso teria recorrido ao pai de santo para que um ex-namorado tivesse problemas com o novo relacionamento. Willian teria recorrido à magia negra e pedido à esteticista que lhe entregasse um menino. Elsa teria apontado Michel, que na época morava com uma tia, vizinha da esteticista. O garoto então foi sacrificado em um ritual de magia negra coordenado por Willian com o objetivo de resolver os problemas amorosos dela. Raptado, o menino foi amordaçado e passou, entre outras crueldades, por espancamento, retirada de três dentes, amputação de todos os dedos das mãos para, ao final, ser decapitado. O corpo foi encontrado 13 dias depois, no dia 8 de abril de 1989, pela polícia, enterrado em uma cova rasa próxima ao terreiro de candomblé. A defesa dos réus tentou alegar que o Ministério Público não teria apresentado provas contra o pai de santo e a esteticista. Para o promotor do caso, Milton Marcolino, a sentença foi justa. "A Justiça atendeu a todos os pedidos feitos pelo MP". Os outros acusados de participação no crime, Alexandre dos Santos Silva Neto e a faxineira Eva dos Santos Marinho morreram antes de serem julgados.
Dada a velocidade dos trâmites seguidos, uma testemunha e dois envolvidos já morreram. Mas a mandante do crime continua por aí, viva e, talvez, tenha levado outros chutes e recorridos a outros rituais como vingança. Essa autora intelectual do crime está no exterior enquanto seus recursos vão postergando o seu momento de adentrar um presídio.
Nessa parte da matéria, tem-se uma idéia da forma hedionda utilizada para sacrificar a criança de quatro anos. E tudo isso aconteceu há 22 anos, sem que os culpados, identificados, tenham passado por qualquer dificuldade para “curtirem” o convívio livre na sociedade. Seria ridículo, se não fosse tão trágico.
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O CAUSO DA MULA
Seu João pensou melhor e decidiu que os ferimentos que sofreu num acidente de trânsito eram sérios o suficiente para levar a transportadora (dona de uma picape) para o Tribunal.
No tribunal, o advogado da transportadora começou a inquirir seu João:
– O Senhor não disse na hora do acidente: "Estou bem"?
Seu João responde:
– Bem, vou lhe contar o que aconteceu, seu dotô, eu tinha acabado de colocar minha mulinha favorita na caminhonete...
– Eu não pedi detalhes – interrompeu o advogado – só responda a pergunta. O Senhor não disse na cena do acidente: "Estou bem"?
– Bem, eu coloquei a mula na caminhonete e estava descendo a rodovia...
O Advogado interrompe novamente e se dirige ao juiz:
– Meritíssimo, estou tentando estabelecer os fatos aqui. Na cena do acidente, este homem disse ao patrulheiro rodoviário que estava bem. Agora, várias semanas após o acidente ele está tentando processar meu cliente. Isso é uma fraude. Por favor, poderia dizer a ele que simplesmente responda a pergunta.
Mas a essa altura, o Juiz já estava muito interessado na resposta de Seu João e disse ao advogado:
– Eu gostaria de ouvir o que ele tem a dizer.
Seu João agradeceu ao Juiz e prosseguiu:
– Como eu estava dizendo, eu coloquei a mula na caminhonete e estava descendo a rodovia quando uma picape atravessou o sinal vermelho e bateu na minha caminhonete bem na lateral. Eu fui lançado fora do carro para um lado da rodovia e a mula foi lançada lá no outro lado. Eu estava muito ferido e não queria me mover. De qualquer forma eu podia ouvir a mula zurrando e grunhido e, pelo barulho, eu pude perceber que o estado dela era muito ruim. Logo após o acidente, o patrulheiro rodoviário chegou ao local. Ele ouviu a mula gritando e zurrando e foi até onde ela estava. Depois de dar uma olhada nela ele pegou a arma e atirou bem entre os olhos do animal. Então, o policial atravessou a estrada com sua arma na mão, olhou para mim e disse:
“Sua mula estava muito mal e eu tive que atirar nela, como está se sentindo?”
Após um pequeno silêncio, Seu João complementou:
– Queria que eu respondesse o quê, doto?
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A música escolhida para “amadrinhar” essa Tertúlia é “A Moda da Mula Preta”, de Raul Torres, na interpretação da saudosa dupla Raul Torres (de Botucatu-SP) e Florêncio (de Barretos-SP) - volume 2, da coleção "Meio Século de Música Sertaneja".
E por aqui, vou concluindo esta Tertúlia, deixando um grande abraço.
Wilmar Machado
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